O Minotauro Global de Yanis Varoufakis
1-Quando entro numa livraria procuro nas secções especializadas os livros que mais me agradam e as novidades que vão aparecendo. Da última vez deparei com o livro “ Minotauro Global “ de Yaniis Varoufakis cujo título espicaçou a minha curiosidade. O Minotauro é uma lenda grega que irei resumir em poucas palavras:
Ao rei de Creta, Minos , foi enviado por Posídon ( deus do mar ) um lindo touro, comprometendo-se a sacrificá-lo em honra do deus. Minos resolveu poupar o animal cativado pela sua beleza. Como vingança Posidon levou a rainha Pasifae, esposa de Minos, a cair em tentação com o touro. Ao engravidar nasceu uma criatura híbrida com cabeça de touro e corpo de homem ( Minotauro). Quando Minotauro cresceu tornou-se incontrolável e o rei Minos pediu a Dédalo que construísse um labirinto subterrâneo onde o monstro foi guardado. O Minotauro recebia como alimento sete rapazes e sete raparigas, tributo humano imposto por Minos à cidade de Atenas. O príncipe ateniense Teseu decidiu combatê-lo e acabar com a infeliz sorte dos jovens devorados. Uma vez no labirinto matou o Minotauro e graças ao rolo de fio que lhe deu por amor Ariadne filha de Minos e Pasifae, conseguiu reencontrar o caminho de saída. O abate do Minotauro por Teseu filho do rei Egeu de Atenas pôs fim à hegemonia de Creta em relação a Atenas.
2-Varoufakis compara o Minotauro da lenda grega ao monstro que se gerou com os fluxos de capital que foram enviados para Wall Street durante várias décadas, até 1970, para tapar o défice orçamental dos Estados Unidos. O monstro foi engordando até que em 2008 acabou por explodir.A engenharia financeira bancária e os derivados tóxicos baseados nas hipotecas subprime contribuíram para a derrocada com o contágio sistémico a bancos de outros países.
O livro de Varoufakis faz uma análise detalhada do capitalismo global com gráficos e dados estatísticos para provar que nada acontece por acaso e que em economia há riscos a ter em conta quando se ultrapassam certos limites.
Em 1929 as economias capitalistas geriam uma moeda como é hoje o euro nos países da zona Euro. Vigorava o padrão divisa-ouro e viveram-se tempo de recessão económica. Os bancos estavam a falir, o desemprego era assustador e não havia dinheiro para investimentos. Em 1933 o Estado americano começa investir na economia para impor a ordem. Aparece a Lei Glass Steagall que obrigava à separação entre bancos normais que aceitavam depósitos dos cidadãos e bancos de investimento que podiam jogar com acções mas estavam impedidos de aceitar depósitos. Os bancos normais eram impedidos de apostar o dinheiro dos outros, ao contrário dos de investimento que podiam correr todos os riscos. No fim da 2ª guerra mundial em 1944 realiza-se a conferência de Bretton Wood que reconhece o dólar como unidade central do sistema bancário internacional. Os estados Unidos para criar confiança no sistema internacional comprometeram-se a agregar o dólar ao ouro sendo a taxa de câmbio 35 dólares por onça de ouro e garantiram a conversibilidade para quem quisesse trocar dólares por ouro. Na conferência de Bretton Woods foram ainda criadas duas instituições: o FMI ( fundo monetário internacional ) e o BIRD( banco internacional para a reconstrução e desenvolvimento )
3-O estado desolador em que ficou o mundo após a 2ª grande guerra mundial levou os EUA a desenvolver um Plano Global de desenvolvimento. Em 1947 entra em funcionamento o Plano Marshall.Os EUA fazem grandes investimentos na Alemanha desenvolvendo as indústrias e gerando procura de produtos fabricados tanto europeus como americanos. Em 1951 o Plano Marshall começou a perder fôlego e nasceu então a CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço ) que além da Alemanha incluía ainda a França, Itália, Bélgica, Luxemburgo e Holanda. Esta instituição foi a precursora da actual União Europeia.
Mas os EUA investem também em força no Japão aproveitando tal como na Alemanha as bases industriais sólidas e a mão de obra qualificada. O Plano Global durou entre 1950 e 1971. Este período foi caracterizado por um movimento de reciclagem dos excedentes globais( MREG ). Assim, os EUA com os seus excedentes de pos-guerra transferiram os lucros para os protegidos na forma de investimento directo, ajuda e assistência o que lhes permitiria também comprar produtos americanos
4-A partir de 1971 tudo mudou e os EUA deixaram de ser um país excedentário. O Plano Global estava morto e uma nova besta indisciplinada “ O Minotauro Global viria ocupar o seu lugar. Ao contrário da Lenda grega o tributo prestado ao Minotauro não foi imposto por ninguém mas sim um acto voluntário dos países capitalistas. A guerra no Vietname fez aumentar assustadoramente a dívida dos EUA que no início de 1971 era de 70 mil milhões de dólares havendo apenas 12 mil milhões de dólares em ouro para os garantir. Os dólares inchavam os mercados mundiais gerando pressões inflacionistas em França e na Grã Bretanha e estes países foram obrigados a aumentar a sua taxa de câmbio em relação ao dólar. Em Agosto de 1971 Georges Pompidou ordenou a um navio de guerra que navegasse até Nova Jérsia para resgatar dólares por ouro. O governo britânico de Edward Heatth exigia também o ouro equivalente a 3 mil milhões de dólares mantidos pelo banco de Inglaterra. Face a isto o presidente Nixon foi obrigado quatro dias depois em 15 de Agosto de 1971 a anunciar o fim efectivo de Bretton Woods e deste modo o dólar já não era convertível em ouro. Tudo isto aconteceu porque os decisores políticos dos EUA em vez de reduzirem os défices( orçamental e comercial ) que vinham acumulando desde 1960 decidiram aumentá-los.As economias excedentárias do Mundo( Alemanha, Japão e China ) produziram bens que os americanos devoraram. Quase 70% dos lucros obtidos a nível mundial por esses países eram transferidos de volta para Wall Street. Como diz Varoufakis : “o défice orçamental serviu de íman que estimulou os influxos de capital necessários para manter Wall Street.
5-Os fluxos de capital eram transformados em investimentos directos, acções, obrigações contendo derivados tóxicos baseados em hipotecas subprime, formas de empréstimos e num bom rendimento para os próprios banqueiros. A desregulamentação bancária e a colaboração das agências de notificação que consideravam seguros investimentos de risco levou à explosão bancária que começou nos EUA em 2008 e contaminou outros bancos na Europa. Em Outubro de 2008 os EUA e a Grâ –Bretanha entraram em recessão. Assim, 4 milhões de americanos perderam o emprego e entre 2008 e 2010 250 000 famílias perderam as suas casas. E já não havia ninguém a cumprir a sua função comercial de manter os défices duplos dos EUA e a absorver os excedentes comerciais. Neste período em que os bancos para não cairem em falência foram predadores do Estado deu Varoufakis o nome de Bancarrotocracia.
6-Na parte final do livro Varoufakis afirma que a solução para corrigir os desequilíbrios económicos globais está na criação de um MREG( mecanismo de regulação de excedentes económicos globais) multilateral, ou seja, e passo a citar: “ um sistema de reciclagem de excedentes que não dependesse de alguns funcionários brilhantes e do sector financeiro sem responsabilidades de um único país como era o Minotauro , mas sim de uma organização global que conscientemente e de forma transparente definisse os parâmetros para a reciclagem de bens, poupanças e procuras “ ( pag254) ). Em relação à crise na zona Euro que tem a ver com os Estados endividados e com o sector bancário, Varoufakis propõe as seguintes medidas:
1-O perdão de uma parte significativa da dívida dos países deficitários pelos bancos que são assistidos pelo BCE
2-Taxas de juro mais baixas garantidas pela emissão de obrigações do BCE de forma a que o Estados membros da CE possam pagar parte das suas dívidas
3-Utilização dos excedentes provenientes de países europeus e não europeus que o BEI ( banco europeu de investimento ) com a ajuda do BCE pediria emprestado para fazer investimentos nas regiões deficitárias da Europa.
Como não sou economista não sei se estas medidas são possíveis e iriam resolver a crise nos países com dificuldades económicas e financeiras da Europa. Tenho também muitas dúvidas sobre se os países excedentários como a Alemanha dariam o seu aval a este tipo de solução. A verdade, porém, é que se nada for feito o desenvolvimento de países como Portugal vai ficar muito condicionado pelo pagamento dos juros da dívida pública.
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