Sábado, 4 de Agosto de 2018
Estamos a viver numa época global em que as notícias correm céleres e os acontecimentos podem ser vistos no momento em que passam. As ideologias espalham-se rapidamente de uns países para os outros e vão deixando marcas. Os refugiados que fogem à guerra e às perseguições e os imigrantes que não têm condições para viver nos países de origem procuram refúgio e trabalho na Europa e até nos Estados Unidos da América. Surgem então partidos populistas, racistas e xenófobos a fechar as portas e as fronteiras às pessoas que precisam de ajuda e que são tratadas como animais. Algumas democracias degeneraram e passaram rapidamente para regimes autocráticos e ditatoriais. É o que está a acontecer na Hungria, na Polónia e na Turquia.
Num artigo publicado na revista “ Visão “ traduzido da Time magazine, o americano James Stavridis diz o seguinte : “ Os ditadores surgem porque os governos eleitos têm dificuldade em enfrentar novos desafios: migrações globais, avanços tecnológicos, terrorismo transnacional e instabilidade internacional. A maioria dos países mais industrializados do mundo continuam a ser constituídos por democracias sólidas designadamente o Japão, o Canadá, a França, a Austrália e a Alemanha “
A sociedade global tem coisas boas mas também aspectos negativos. É certo que tirou da pobreza extrema muitas pessoas em países como a China e a Índia. Este é o lado bom. Acontece porém que a deslocalização de algumas empresas para os países de mão de obra barata atirou para o desemprego noutros lugares milhares de trabalhadores. As democracias liberais capitalistas que têm em vista a maximização do lucro pouco se importam com a justa distribuição da riqueza e com o respeito pelos direitos humanos. As estatísticas mostram que mais de 80% da riqueza mundial está concentrada nas mãos de 1% da população. Uma pergunta que se impõe é esta: Haverá alguma esperança no futuro desta sociedade global ? Será que se pode fazer alguma coisa para a melhorar ?
Num livro que tinha na minha estante com o título “ Religiões no Mundo “ e que só agora li, o padre e teólogo Hans Kung diz o seguinte: “ Não há sobrevivência no mundo sem um etos mundial. A nova constelação mundial exige uma nova ordem mundial que não pode ser alcançada pelas nações se não contarem com o apoio das religiões. E acrescenta; “ As Nações Unidas muitas vezes criticada e mais vezes ainda ignorada e entregue à sua própria sorte, encontra-se diante de tarefas imensas neste milénio: a vertiginosa globalização da economia, tecnologia e média exige uma direcção global por uma política global. Mas uma política global precisa de estar fundamentada numa ética global, numa ética mundial que possa ser sustentada e vivida pelos homens de todas as culturas e religiões, por crentes e não crentes. O nosso globo encontra-se ameaçado a partir de dentro. Ele pode explodir. Mas o novo globo também pode voltar a ser são, mais pacífico, mais humano se as pessoas em vez de se ameaçarem e se combaterem, dialogarem umas com as outras, se tolerarem e se respeitarem mutuamente. E termina com uma visão realista de esperança:
“ Não haverá sobrevivência da humanidade sem paz entre as nações
Não existirá paz entre as nações sem paz entre as religiões
Nem paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. “
Resta saber se políticos como Trump, Puttin, Kim Jong-un, Herdogan serão capazes de entender estas verdades e de as pôr em prática.