Como este ano se comemora o IV Centenário de Blaise Pascal decidi escrever um texto sobre este cientista e filósofo que foi também um cristão convicto.
1-Blaise Pascal nasceu em Auvergne em 1623 e faleceu em Paris em 19-8-1662. A mãe morreu muito cedo e o pai deu-lhe apoio pedagógico e teve influência na sua orientação científica. Aos 16 anos redigiu um Essai pour les Coniques em que manifesta já a maneira figurativa e sintética de encarar a realidade. Em 1642 e 1643 devido ao conhecimento que tem da geometria, da física e da mecânica constrói uma máquina aritmética para efectuar adições e subtrações. Em 1646 desperta para a vida espiritual e converte-se. Nesse mesmo ano repete as experiências de Torricelli sobre o vácuo. A partida da irmã Jacqueline para Port-Royal afecta-o profundamente e entrega-se por algum tempo às distrações da vida mundana. Mais tarde apodera-se dele um desprezo pelo mundo e inicia a sua vida espiritual. Decide renunciar ao mundo e a tudo o que não seja Deus. Tudo isto é contado num pergaminho designado Memorial. Em 1656 inicia a publicação de uma série de cartas ( Provinciais ) onde se coloca do lado dos Jansenistas de Port-Royal contra os Jesuítas. Os Jansenistas desvalorizavam os poderes da natureza humana e estavam constantemente em guerra com os Jesuítas por causa do valor que estes atribuíam ao livre-arbítrio. Após a morte da irmã abandonou todas as disputas que podiam separá-lo da Igreja e do seu chefe o Papa e passou a viver na pobreza e na caridade.
2-
Aqui entra em funcionamento o espírito de finesse. O homem é presa fácil do mundo que o rodeia. É dominado por paixões que perturbam os sentidos, por impressões falsas e pelo amor próprio que nos leva a odiar a verdade. Mas o homem também é grande pelo pensamento que o eleva acima da natureza. Os dogmas do cristianismo são obscuros e inquietantes para a razão mas a sua negação é fonte da maior obscuridade. Para os que não acreditam em Deus Pascal sugere o cálculo das probabilidades Há duas hipóteses possíveis: ou Deus existe ou Deus não existe. Se acreditares em Deus e Ele existir ganharás a felicidade eterna. Se não acreditares em Deus e Ele não existir não ganhas nem perdes nada
A realidade apresenta três ordens ou domínios heterogéneos: 1-A ordem do sensível ( dos corpos ) ; 2-a ordem do intelegível ( dos espíritos ); 3-a ordem do sobrenatural ( da graça )
Na ordem do sensível as diferenças saltam aos olhos: força, riqueza, poder financeiro, etc.. Na ordem do espírito é com olhos da alma e através da inteligência que podemos ver as diferenças . Na ordem do sobrenatural ou do coração podemos registar o amor ao próximo, a compaixão e a caridade.. Para Pascal a mais importante é a ordem do coração pois esta leva a melhor sobre tudo o resto
Conclusão:
Pascal não nos deixou na Filosofia uma obra estruturada mas uma miríade de pensamentos variados. Para ele a Revelação e a Fé cristã estavam acima da Filosofia.
Ao contrário de Descartes que considerava a razão como uma luz inata e imutável utilizada na prática para fazer deduções sucessivas e chegar ao saber definitivo e absoluto ( Cogito ergo sum-Penso logo existo ), Pascal concebe a razão humana como qualquer coisa de finita e aberta que se vai adaptando e alargando à realidade.
Pascal foi também um mestre do aforismo e muitos dos seus adágios tornaram-se citações conhecidas. Vou dar alguns exemplos:
O coração te razões que a razão desconhece
Nada mais cobarde do que armar em fanfarrão ;
O nariz de Cleópatra : Se tivesse sido mais curto toda a face da Terra teria mudado;
Por que será que um coxo não se irrita e um espírito coxo nos irrita ? Porque um coxo reconhece que andas direito, enquanto um espírito coxo diz que somos nós que coxeamos e assim não fosse teríamos pena e não raiva
Dou como certo que se todos os homens soubessem o que dizemos uns aos outros, não haveria quatro amigos no mundo ;
Que é o homem na natureza ? Um nada em vista do infinito, um todo em vista do nada e um meio entre nada e tudo
O Deus dos cristãos é um Deus de amor e de consolação ; é um Deu
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