1-A fome tem sido cíclica ao longo da História. Na Idade Média houve períodos de fome que tiveram a sua origem em secas e em doenças como a peste negra que em 1348 dizimou milhares de pessoas em toda a Europa. Os processos rudimentares de cultivo da terra e o nível insuficiente de braços para o trabalho agrícola contribuíram largamente para o deficit alimentar. As invasões francesas e mais tarde a 1ª e a 2º Guerra Mundial ajudaram também a agravar o ciclo de fome e de miséria. Em Portugal chegou mesmo a haver racionamento de alimentos dada a escassez de muitos bens essenciais.
A fome esteve durante largos períodos estreitamente ligada às doenças e às guerras. Estas calamidades reduziram drasticamente a população activa com reflexos negativos na produção agrícola. As doenças são também muitas vezes resultado da má nutrição com consequências graves na mortalidade infantil e na redução do período de vida das pessoas.
Mas o que se passa hoje para se falar tão insistentemente em crise alimentar? Será que a Terra não dispõe de recursos para acabar com o flagelo da fome? Os especialistas na matéria dizem que embora haja motivos para preocupação tudo se resolve se forem de imediato tomadas as medidas que se impõem. Há até quem fale de um Plano Marshall de ajuda financeira aos países subdesenvolvidos de forma a promoverem medidas estruturais de ajuda à produção cerealífera.
2-As causas que estão na origem da crise alimentar são múltiplas: crescimento demográfico, secas, inundações, abandono de terras,desvio de campos para a produção de biocombustíveis, alterações climáticas, etc. As estatísticas dizem-nos também o seguinte:
-850 milhões de pessoas passam fome,
-3 milhões de pessoas no mundo vivem de com menos de 2 dólares por dia.
-Em Portugal 10% da população com menos rendimentos gastam em alimentos 24,3% do seu rendimento enquanto os 10% mais ricos gastam apenas 10% ( dados do INE )
Estes números dão que pensar e ajudam a compreender, em parte, o problema da fome. Se as pessoas ganham pouco têm naturalmente de reduzir ao mínimo o consumo alimentar. A fome pode ser conjuntural ou estrutural. A primeira é temporária e tem a ver com situação económica de um país num determinado período; a segunda é crónica e está ligada ao subdesenvolvimento.
O aumento da classe média e o maior consumo da carne pode também explicar a falta de cereais uma vez que estes são necessários para alimentar o gado. Há ainda que ter em conta os especuladores que açambarcam os produtos para fazer subir os preços e ter mais lucros. Por outro lado enquanto os países mais ricos subsidiam os agricultores para os preços não aumentarem, nos países pobres os agricultores deixam de produzir porque os custos lhes trazem prejuízos.
Em Portugal verifica-se um abandono progressivo dos campos devido ao envelhecimen- to da população e também à fuga para a cidade dos mais novos à procura de emprego. Terras que outrora produziam centeio, hoje estão de relva.
As alterações climáticas com secas persistentes estão a desertificar determinadas regiões do globo tornando-as estéreis e improdutivas. No Bangladesh são as cheias que inundam e arrastam tudo deixando os agricultores na miséria.
3-As consequências de tudo isto já estão à vista com desordens e tumultos em várias regiões do Mundo. Com a fome vêm as doenças: o raquitismo, a tuberculose, a cegueira que andam associados a carências alimentares são hoje frequentes nos países subdesenvolvidos.
4-Para fazer face a esta situação que começa a ser preocupante, a Comunidade Internacional tem que agir rapidamente. Em primeiro lugar os países poluidores terão que reduzir os gases de estufa responsáveis pelas alterações que se estão a verificar de ano para ano. Depois há que ajudar em dinheiro e tecnologia os países pobres de forma a produzirem os cereais que precisam para sobreviver. É necessário também que lhes sejam fornecidos a preços razoáveis as sementes, fertilizantes e pesticidas sem os quais dificilmente sairão do marasmo em que se encontram. Todos sabemos que o mundo global se rege pelas leis do liberalismo económico e este tem como objectivo a maximização do lucro. Se não houver lugar para a solidariedade estaremos a construir uma sociedade desumanizada e sem futuro.
Francisco Martins
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