O novo Acordo Ortográfico é um assunto polémico e controverso. A língua é um elemento dinâmico e como tal não é de admirar que tenha evoluído ao longo dos séculos. Hoje não se escreve e lê como no tempo do Fernão Lopes. O latim que no tempo dos romanos se disseminou por toda a Europa, hoje é considerado uma língua morta, utilizada apenas pelo Vaticano em documentos oficiais. O português que hoje falamos é o resultado de inúmeras alterações semânticas, fonéticas e ortográficas. Para acompanhar este ritmo surgem periodicamente acordos ou reformas. Desde 1911 até agora foram feitos vários reajustamentos ortográficos tendo em 1945 sido concluído um acordo com o Brasil que este acabou por não ratificar.
Este ano volta a falar-se de um novo Acordo Ortográfico. Mas será que este é absolutamente necessário.? As opiniões dividem-se : uns são a favor e outros discordam e entendem que não se justifica. Para os primeiros é mais fácil escrever o português aproximando a linguagem fonética da ortográfica. As consoantes mudas deviam por isso ser eliminadas. Para os que são contra, as novas regras poderão facilitar a escrita mas vão descaracterizar a língua. O étimo é um elemento importante para compreender o sentido da palavra e não deve ser desprezado.
Embora não seja um especialista na matéria penso que devíamos continuar como estamos. Não lucramos nada por andar a reboque dos brasileiros. Os portugueses entendem perfeitamente a grafia brasileira e vice versa. Os livros escritos no Brasil são lidos facilmente em Portugal o mesmo acontecendo na situação inversa. As alterações ortográficas a verificarem-se terão mais implicações em Portugal do que no Brasil que apenas terá que fazer pequenos ajustamentos. Os grandes sacrificados seríamos nós e mesmo assim duvido que o Brasil cumpra à letra o novo acordo.
Nos dias de hoje a aprendizagem do português na escola do ensino básico já não se faz pelo método fonético mas pelo método global. Parte-se da palavra que se decompõe em sílabas até chegar ao fonema. A simplificação ortográfica não faz qualquer sentido. Estou a lembrar-me que os ingleses escrevem farmácia e filosofia com ph ( pharmacy, philosophy ) , respeitando assim a origem grega das palavras. Se quisessem simplificar a grafia poderiam escrevê-las como nós com um (f ). Há também palavras em que a consoante ( r ) não se pronuncia mas ela está lá e ninguém até hoje se lembrou de a eliminar. Isto são apenas exemplos de que a tradição e a origem das palavras têm muita força e nem sempre acompanham o ritmo do modernismo. Confesso que me vai ser difícil escrever ata em vez de acta, recetor em vez de receptor, ou ainda andamos em vez de andámos. Não vai ser fácil deitar para o caixote do lixo hábitos adquiridos durante toda a minha existência.
Este novo acordo ou reforma ortográfica nunca deveria ser implementada sem um estudo prévio feito por linguistas e entendidos na matéria. Só no caso de uma maioria qualificada se pronunciar favoravelmente é que se avançaria para a ratificação. Quanto a mim penso que me vai ser difícil adaptar a estas novas regras. Mesmo com a uniformização ortográfica continuarão a existir diferenças substanciais na língua portuguesa ao nível das variantes. No caso de ter de se ensinar português na Inglaterra ou na América,em escolas inglesas ou americanas, qual a variante que iria ser adoptada? O português do Brasil ou o de Portugal ?
Antes de se tomar uma decisão definitiva sobre a reforma ortográfica deveria reflectir-se sobre o impacto que a mesma vai ter para evitar consequências indesejáveis. Prudência e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
Francisco Martins
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