1-Karl Popper nasceu em Viena de Áustria em 28 de Julho de 1902. Quando era jovem passou esporadicamente pelo marxismo e veio a doutorar-se em filosofia no ano de 1928. O primeiro livro que escreveu e publicou em 1934 foi “Logik der Forschung “. Mais tarde foi publicado em inglês com o título “ Logik of Scientific Discovery “ ( Lógica da descoberta científica ) Na sequência desta publicação recebeu convites de várias universidades inglesas para fazer palestras. Em 1936 partiu para a Nova Zelândia onde leccionou em Canterbury University College de Christ Church. Aproveitou a tranquilidade do sítio em que vivia para escrever mais dois livros: “ A pobreza do historicismo “ e “ A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos “,entre 1938 e 1943. Em 1945 recebeu um convite, que aceitou, para leccionar na London School of Economics . Permaneceu em Londres até ao final da vida. Veio a falecer em 1994 no Sul de Londres.
2-Dos livros que escreveu o mais conhecido e o que lhe deu maior notoriedade foi “ A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos “. É sobre esse livro ( 2 vols ), publicado pelas edições 70 que irei fazer alguns comentários. Karl Popper é um grande filósofo que escalpelizou os temas de forma exaustiva, documentando-os também com muitas notas e adendas explicativas.
3- Sociedade aberta. Para Karl Popper a sociedade aberta é precisamente o contrário da sociedade tribal ou fechada. Na sociedade fechada todos obedecem a um chefe ou Rei. Há tabus a respeitar e muitos comportamentos são dominados pela magia. Predomina o espírito colectivo ou guerreiro. As instituições incluindo as castas são sacrossantas . “ Os governantes, a escravatura, a casta e o governo de classe são naturais, no sentido de serem inquestionáveis “ ( pag 222 1º vol. ) . Esta foi a sociedade que existiu em Esparta antes da Guerra do Peleponeso . No século V antes de cristo, Péricles e a Constituição de Atenas abriram as portas à democracia ocidental e à sociedade aberta. Na sociedade aberta “ os indivíduos são confrontados com decisões pessoais ... A nova fé da sociedade aberta, a fé no homem, numa justiça igualitária e na razão humana, começava talvez a ganhar forma ; mas ainda não foi formulada ( pag 218 e 235 1º vol )
Para concluir podemos dizer que hoje a sociedade aberta ocidental se pauta pelas seguintes normas : livre expressão do pensamento, livre circulação de pessoas, liberdade crítica, capacidade para alterar leis e costumes através da crítica racional.
4- Inimigos da Sociedade aberta
Segundo a teoria de Karl Popper os principais inimigos da sociedade aberta são : o historicismo, o colectivismo, o relativismo e ainda três personalidades : Platão, Hegel e Marx.
a-historicismo. Um dos principais inimigos da sociedade aberta é o historicismo. Por historicismo entende-se a atitude que consiste em dar à história um sentido predeterminado ao qual não é possível fugir ou alterar. A este respeito Karl Popper diz o seguinte: “ o historicista não reconhece que somos nós quem seleciona e ordena os factos da história e crê, pelo contrário que é a “ própria história “ ou “ história da humanidade que nos determina com as suas leis intrínsecas e determina os nossos problemas, o nosso futuro e até o nosso ponto de vista... o historicista acredita que pela contemplação da história podemos descobrir o segredo, a essência do destino humano “ ( p 320 2º vol ).
b-colectivismo. Outro inimigo da sociedade aberta é o colectivismo que consiste em dar mais importância ao colectivo do que ao individual. A vontade individual deve submeter-se à vontade do todo que é o Estado ou Nação. “ A sociedade é tudo e o indivíduo nada, ou qualquer valor que um indivíduo possa ter resulta do colectivo, verdadeiro veículo de todos os valores.” ( p 271 2º vol ). O colectivismo abre assim as portas à tirania e às políticas totalitárias.
d-relativismo intelectual. Karl Popper afirma que a principal doença do nosso tempo é o relativismo intelectual e moral, ou seja, não há verdade objectiva e é arbitrária a escolha entre duas afirmações ou teorias.
Há também três filósofos que Popper considera inimigos da sociedade aberta. São eles: Platão, Hegel e Marx.
e- Platão.Para Platão a pessoa mais indicada para governar é o Rei-filósofo. Os guerreiros e os governantes não devem ter acesso à propriedade privada nem devem constituir família. A tese do programa político de Platão é puramente totalitário, segundo Karl Popper. Assim “ a verdadeira felicidade só se alcança pela justiça, ou seja, com cada um a manter-se no seu lugar. O governante tem de encontrar a sua felicidade no governar, o guerreiro no guerrear e, devemos concluir, o escravo na sua escravidão “ ( p 241 2º vol ). Diz Popper que Platão considera “ justo “ o privilégio de classe, enquanto nós chamamos justiça precisamente à ausência de tais privilégios “ ( p 122 1º vol )” E mais à frente acrescenta: “O código moral de Platão é estritamente utilitário ; é um código de utilitarismo colectivista ou político. ( p 140 1º vol. ). O critério da moralidade é portanto o interesse do Estado.
f-Hegel Para este filósofo todas as coisas têm uma essência, alma razão ou espírito. Sendo um idealista, a História é para ele um movimento dialéctico da razão ou Espírito. Este movimento conduz ao Espírito Absoluto que ele identifica com o Estado Absoluto Prussiano. A filosofia de Hegel leva à identificação da razão com o real e do real com o poder. Esta identificação abre o caminho ao historicismo e à ideologia totalitária. A este respeito diz Popper: “ a única maneira de obter o conhecimento das instituições sociais como o Estado é estudar a sua história ou a história do espírito. O Espírito da Nação determina o seu destino geral oculto e qualquer Nação que deseje emergir para a existência tem de afirmar a sua individualidade ou alma entrando no “Palco da História” isto é, combatendo as outras Nações; o objectivo desse combate é o domínio do mundo.. Por aqui podemos ver que Hegel, como Heráclito, acredita que a guerra é o pai e rei de todas as coisas. E como Heráclito acredita que a guerra é justa. A filosofia da identidade de Hegel, ao contribuir para o historicismo e para a identificação entre poder e razão, encorajou o pensamento totalitário ( pag 365 2º vol )
g- Marx Foi Marx que pôs a dialéctica de Hegel a andar com os pés no chão e não de cabeça para baixo. Como Marx é um materialista o movimento dialéctico faz-se na matéria e não no campo das ideias e da razão como queria Hegel. O grande motor da História é a economia, as forças de produção e a luta de classes. A História termina com uma sociedade sem classes e com o fim do Estado. Apesar de Karl Popper reconhecer algum mérito a Marx pois denunciou as desigualdades sociais do seu tempo e a exploração capitalista, considera-o , no entanto , um falso profeta. E acrescenta “ foi um profeta do curso da História e a sua profecia não se realizou, mas não é esta a minha principal acusação.É muito grave que tenha levado muita gente intelectual a acreditar, erradamente, que a profecia histórica é uma maneira científica de abordar os problemas sociais. Marx é responsável pela influência devastadora do método do pensamento historicista nas fileiras daqueles que desejam o avanço da causa da sociedade aberta.” (p 101, 1º vol v ). A profecia utópica que a história caminha inexoravelmente para o socialismo e para uma sociedade sem classes nunca chegou a realizar-se.
4-Conclusão:
Karl Popper foi um dos maiores filósofos do século XX. O seu estudo incidiu particularmente na área da metodologia das Ciências e na História do Pensamento Político. Criticou de forma dura as utopias e todas as falsas ideologias totalitárias como o fascismo e o comunismo. Para karl Popper, a engenharia social utópica de querer resolver todos os problemas de uma sociedade de forma global e de uma só vez deveria ser substituída por uma engenharia social parcelar em que os problemas seriam solucionados de maneira progressiva e sectorialmente. E para melhor compreensão concretiza: “ São planos para instituições singulares, para seguros de saúde e de desemprego, por exemplo tribunais arbitrais, ou orçamentos antidepressão, ou reformas educativas. Se cometermos erros o prejuízo não é grande nem muito difícil o reajustamento”. Assim a engenharia social e o reformismo devem ser os métodos de trabalho de uma sociedade aberta.
Francisco José Santiago Martins
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