1-A suspensão do PEC4 na Assembleia da República veio inevitavelmente empurrar o país para um pedido de ajuda externa. É verdade que José Sócrates procedeu muito mal pois não deu conhecimento ao Presidente da República das medidas que ia tomar. De qualquer maneira a situação delicada do país exigia uma atitude mais responsável do PSD, partido que poderá formar um novo governo se ganhar as próximas eleições. Ao reprovar o PEC4, Passos Coelho entrou de imediato em contradição. Achou as medidas demasiado pesadas para os portugueses mas, mais tarde, veio dizer que elas eram insuficientes e que, entre outras coisas , se devia aumentar o IVA. Tudo isto revela imaturidade política pois, ou não tinha a lição bem estudada ou quis arranjar pretexto para provocar a queda do governo e assim chegar mais rapidamente ao poder. Só que este comportamento irresponnsável veio originar aquilo que já se previa. As agências de rating baixaram o nível atribuído a Portugal e os juros dos futuros empréstimos subiram em flecha tornando insustentável a nossa situação, sem o recurso a ajuda externa. O pior é que um governo de gestão não tem a força nem o peso necessários para negociar o dinheiro que precisamos para as necessidades imediatas, nem por outro lado o PSD se quer comprometer com medidas impopulares que lhe podem roubar votos nas próximas eleições . Caberá ao Presidente da República chamar os partidos à razão e levá-los as perceber que os interesses do país estão acima das querelas partidárias.
2-A crise que Portugal está a viver é grave e não tem solução à vista. O corte nas despesas públicas e o aumento dos impostos têm os seus limites, desencadeando efeitos nefastos na recuperação económica. Serão sempre uma terapêutica de emergência. Ou seja, poderão reduzir o défice orçamental mas só por si não chegam a resolver o problema do nosso endividamento interno e externo. Para conseguir esses objectivos é preciso reanimar a nossa economia ajudando e apoiando as empresas exportadoras. Não é uma tarefa fácil mas não nos podemos esquecer que também temos casos de sucesso na indústria do calçado. Precisamos que ser competitivos e inovadores e isso vai levar o seu tempo. O facto de pertencermos à zona euro acaba por nos ser prejudicial pois não podemos desvalorizar a nossa moeda, o que permitiria a competitividade dos nossos produtos. Assim, temos que esperar mais alguns anos até que a viragem se concretize.
3-A delegação que veio a Lisboa para financiar o Estado Português em 80 000 milhões de euros, vai certamente exigir medidas ainda mais rigorosas do que as que estavam previstas no PEC4. O primeiro-ministro José Sócrates já deu a entender que um governo de gestão não pode assumir sozinho essa responsabilidade. Por outro lado o líder do PSD Passos Coelho talvez não queira dar aval a medidas impopulares com medo de perder votos nas próximas eleições legislativas. Se isto acontecer as negociações serão difíceis e complicadas e caberá ao Presidente da República um papel activo que possa ajudar a ultrapassar o impasse. De qualquer forma é triste ver que a Europa está a desagregar-se e a caminhar para a exclusão dos países mais fracos. Precisávamos de uma Europa federal em que os governos mais ricos fossem solidários com os mais pobres e criassem condições para se desenvolverem, emprestando dinheiro com juros baixos e com pagamentos dilatados no tempo , conforme as capacidades e os recursos financeiros de cada país. É fácil verificar que as agências de rating agem de acordo com os especuladores financeiros e estão ao serviço dos poderosos. Mas também é verdade que a situação crítica a que chegámos foi fruto de gastos além das nossas possibilidades em auto-estradas, em projectos como o TGV e o novo aeroporto , em estádios de futebol que hoje estão às moscas, etc,etc.. Temos que ter isso em conta no futuro pois não nos podemos comparar com os países mais ricos da Europa.
4-A inclusão de Fernando Nobre como cabeça de lista dos deputados por Lisboa do PSD colheu de surpresa todo o país. O facto de já anteriormente ter apoiado o BE, Durão Barroso e Mário Soares mostra bem a sua versatilidade dado que ainda nas últimas eleições presidenciais se apresentou como candidato independente. É o que vulgarmente se costuma designar por “cata-vento “ ou de “ pau para toda a colher”. Um outro traço da personalidade de Fernando Nobre é a sua incoerência. Numa entrevista que deu à televisão afirmou que jamais aceitaria fazer parte de uma lista de deputados à Assembleia da República. Passados poucos meses faz precisamente o contrário. Isto não abona nada a seu favor. É certo , e ninguém o nega , que Fernando Nobre é um homem que gastou parte da sua vida em acções humanitárias. Mas para cargos públicos de responsabilidade são necessários políticos experientes e com provas dadas. Compreendo que o PSD queira refrescar as suas listas introduzindo homens independentes. Mas um independente está sempre coarctado na sua autonomia pois há regras partidárias que têm de ser cumpridas e às quais não se pode fugir. O futuro dirá se a escolha foi ou não acertada.
FRANCISCO MARTINS
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