Durante muitos anos li a Bíblia, sobretudo o Antigo Testamento, e confesso que muitas coisas fugiam à minha compreensão ou eram para mim obscuras. Expressões como “ passar ao fio da espada e incitamentos à guerra e à violência não se coadunavam com a ideia de um Deus bondoso e cheio de misericórdia ou da doutrina de Jesus que mandava perdoar setenta vezes sete. Também não compreendia a criação do Mundo em sete dias como vem no Génesis quando a Ciência nos diz que tanto a Terra como o Homem foram o resultado de milhões de anos de evolução. Como era possível Josué mandar parar o Sol, para vencer o inimigo, quando a teoria heliocêntrica nos diz que o Sol está parado e é a Terra que gira à volta do Sol.
Tudo isto espicaçava a minha curiosidade de saber mais e por isso dediquei algum tempo a ler os comentários à Bíblia do prestigiado teólogo Padre Carreira das Neves e a análise de temas religiosos escritos por Frei Bento Domingues e pelo Padre e professor de filosofia Anselmo Borges. Comecei então a ver tudo mais claro e a minha fé ficou também mais esclarecida. Compreendi, então, que a Bíblia não pode ser interpretada à letra e os textos têm de ser lidos dentro do contexto histórico e cultural da época em que foram escritos. Fiquei a saber que para o povo hebraico a doença era uma consequência do pecado e de um castigo de Deus. Aprendi ainda que a Bíblia não é um livro de ciência nem um relato fotográfico de acontecimentos históricos. Se os autores foram inspirados por Deus isto não quer dizer que os textos tenham sido ditados à letra para serem escritos. O que a Bíblia nos transmite é que Deus acompanhou sempre o seu povo ao longo da História , nos bons e nos maus momentos.
No Antigo Testamento Deus é exclusivo do povo judeu. Mas com Jesus Cristo ninguém é excluído do Reino de Deus : os pagãos ( não judeus ) e os pecadores que se arrependessem. Também no Novo Testamento, e aqui passo a citar o Padre Carreira das Neves , aparecem textos que “ não foram pronunciados por Jesus mas pela Igreja de Jesus . Isto não significa que tais textos deixem de ser palavra de Deus, significa apenas que devem ser entendidos à luz da intenção do próprio texto, a intenção do narrador. “ Os evangelistas não foram testemunhas presenciais de Jesus e escreveram os textos com base na tradição oral e de pequenos fragmentos escritos que certamente circulavam de mão em mão. Para concluir diria que a Bíblia é um livro em que Deus está presente na História desde o começo do Mundo até ao Juízo Final. Ele é o alfa e o ómega
Ao longo dos anos e à medida que aprofundei os meus conhecimentos e a minha fé tornou-se mais esclarecida. A razão também deu uma boa ajuda. Pensar nas maravilhas do Universo, apreciar um concerto musical ou olhar deslumbrado para uma bela pintura tudo isto me encaminha inevitavelmente para o Supremo artista que é Deus.
A este propósito queria aqui referir um livro que apareceu recentemente nas livrarias : “ Deus ( não ) existe , do filósofo inglês Antony Flew. Este autor foi durante 50 anos ateu, escrevendo e argumentando contra a existência de Deus. Uma das razões que o conduziu ao ateísmo foi o problema do mal. Assim, não entendia que um deus omnipotente e perfeitamente bom fosse compatível com os males e imperfeições do mundo. Por outro lado a defesa do livre-arbítrio não desresponsabilizava o Criador dos óbvios defeitos da criação. Mas os avanços da ciência e acreditando nos progressos da filosofia e no princípio que Platão no livro República pôs na boca de Sócrates, segundo o qual devemos seguir a razão para onde quer que ela nos leve, Antony Flew mudou de opinião e passou a admitir a existência de Deus.
Quais foram os avanços da Ciência que o levaram à descoberta de Deus ? É o que passaremos a analisar.
Em primeiro lugar o material sobre o ADN mostra uma complexidade inacreditável de combinações necessárias para produzir vida. Isso leva a considerar que uma inteligência teve de estar envolvida para que todos esses elementos funcionassem em conjunto. A forma com esses elementos interagem leva a essa conclusão. A possibilidade de uma combinação casual é mínima. Por outro lado a selecção natural de Darwin não produz seja o que for. Apenas elimina ou tende a eliminar o que não é competitivo. Em relação à teoria do gene egoísta de Dawkin, o filósofo Antony Flew diz que os genes não governam nem podem governar a nossa conduta, não são capazes de cálculo e discernimento necessário para arquitectar qualquer conduta.
Para explicar a origem do Universo a Ciência aponta para a teoria do Big Bang ou seja de uma grande explosão. Se tudo começou assim há que admitir um “ princípio antrópico “ segundo o qual as leis da natureza foram cuidadosamente desenhadas para o aparecimento e a manutenção da vida. É que se a velocidade da luz ou massa de um electrão fosse ligeiramente diferente, nenhum planeta capaz de dar lugar à evolução humana poderia ter-se formado. Ainda relativamente à Ciência, Antony Flew põe em destaque três dimensões da natureza que apontam para Deus :a primeira é o facto da natureza obedecer a leis ; a segunda é a existência de seres vivos organizados e com propósito que surgem da matéria ; a terceira tem a ver com a existência da própria natureza. Estas questões suscitam três tipos de perguntas :
1-Como surgiram as leis da natureza ?
2-Como é que o fenómeno da vida surge da não vida ?
3-Como é que o Universo ou a Natureza física começou a existir ?
Na sua argumentação cita outros cientistas um dos quais Gerard Schroder que diz o seguinte “ a existência de condições favoráveis à vida não chegam para implicar a origem da vida. A vida só consegue sobreviver dadas as condições favoráveis do nosso planeta ; mas não há lei da natureza que dê instruções à matéria para produzir entidades dirigidas para fins e que se auto-reproduzem “
Na parte final do seu livro Antony Flew chega às seguintes conclusões : “ as leis da natureza, a vida e a sua organização teleológica ( orientada para fins ) e a existência do Universo podem apenas ser explicados à luz de uma Inteligência que explica tanto a sua própria existência como a do mundo. Uma tal descoberta do Divino não provém de experiências científicas ou de equações , mas de uma compreensão das estruturas que elas revelam e mapeiam. Volto a dizer que a viagem da minha descoberta do Divino foi até aqui uma peregrinação da razão. Segui a razão até onde ela me levou. E levou-me a aceitar a existência de um Ser auto-existente ,imutável ,imaterial, omnipotente e omnisciente.
Também para mim a Fé não é superstição nem crendice. É pela razão que chego ao transcendente. Deus é para mim uma questão racional.
Francisco Martins
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