1-No princípio todos os sonhos eram possíveis . Muitos portugueses até pensavam que Portugal podia ser campeão do Mundo de futebol. Sempre que há um campeonato da Europa ou do Mundo a festa começa cedo. Há espectáculo por todo o lado , agitam-se bandeiras e vestem-se camisolas da selecção . Mas quando se deitam foguetes antes da festa é certo e sabido que os sonhos se vão transformar em desilusão . Foi o que aconteceu mais uma vez a Portugal neste campeonato do Mundo . A selecção portuguesa entrou cautelosa logo no primeiro jogo e não arriscou nada. O resultado foi um empate sem golos com a Costa Rica. Com a Coreia do Norte tínhamos mesmo que ganhar para garantir a permanência no campeonato e fomos forçados a jogar deliberadamente ao ataque. O resultado excedeu as expectativas e goleámos os coreanos. Mas foi sol de pouca dura. Com o Brasil voltámos a ser uma equipa receosa mais preocupada em defender do que atacar. O empate servia e não nos preocupámos em ser o primeiro do grupo. Era previsível que viéssemos a jogar com a Espanha e foi isso que veio a acontecer. E aqui terminou o nosso sonho. Aguentámos bem o primeiro tempo mas na segunda parte a Espanha teve o controlo e a posse de bola e nós limitámo-nos a ver jogar. A questão que se coloca é a de saber por que não jogámos taco a taco com os espanhóis . Quando a passagem à fase seguinte se decide num só jogo não se pode jogar para o empate.
2-Fazendo um balanço e uma retrospectiva de outros campeonatos verificamos que Portugal claudica sempre nos momentos decisivos. Parece que nos falta força física e anímica para a alta competição. Pessoalmente tenho que reconhecer que não percebo nada de futebol. De qualquer forma dá para entender que os treinadores não são capazes de delinear a táctica mais adequada para cada jogo e por outro lado não conseguem incutir nos jogadores o espírito de vitória. Há assim uma tripla vertente que é fundamental para se ganharem jogos : preparação física , força anímica e uma boa táctica. É isso que tem faltado à nossa selecção e um bom treinador tem que ter em conta esses objectivos.
3-Já depois da equipa portuguesa se ter despedido do campeonato os espectáculos de rua da RTP continuaram com o slogan “ Força Portugal “ Segundo percebi tratava-se agora de apoiar os que na Ciência , na Arte e nas Letras têm dignificado o nosso país. Acho muito bem alimentar o ego dos portugueses mas não é com festas e agitando bandeiras que conseguimos ultrapassar a crise em que estamos mergulhados. Sem trabalho, iniciativas empresariais, investimentos em produtos de qualidade que possam ser exportados não vamos a lado nenhum.
Em 1498 dobrámos o Cabo das Tormentas que depois se passou a chamar Cabo da Boa Esperança. Mas as esperanças de Portugal, na realidade, não se concretizaram. Comercializaram-se as especiarias da Índia e com o ouro do Brasil construíram-se belos monumentos e palácios sumptuosos . Mas por aqui se ficou. Vendemos as matérias-primas e importámos quase sempre os produtos manufacturados. As indústrias manufactureiras ou não existiram ou pouco ou nada contribuíram para o desenvolvimento do país. Faltou a Portugal uma revolução industrial tal como aconteceu na Inglaterra nos séculos XVIII e XIX.
4-E que tem tudo isto a ver com o futebol, perguntarão .Por analogia podemos dizer que temos bons jogadores que são a matéria- prima com que se constrói uma boa equipa. A maior parte deles quando têm qualidade são vendidos pelos clubes para equipas estrangeiras. Mas sempre que jogam na selecção ficam-se pela mediocridade. Quais as razões que justificam este duplo comportamento ? De duas uma : ou se aplicam mais nos clubes para merecerem o dinheiro que ganham ou o seleccionador nacional não consegue arranjar um esquema táctico onde os jogadores possam tirar partido dos seus talentos. Tudo é possível e tem de haver uma explicação.
E não faltam as desculpas esfarrapadas dos que dizem que Portugal é um país pequeno e não podia ir mais além. Só não compreendo como é que ainda antes do campeonato começar estávamos em 3º lugar no ranking internacional das melhores equipas. Não nos podemos esquecer que a Grécia também é um país pequeno e já ganhou um campeonato da Europa. A Holanda que é mais pequena que Portugal também já ganhou um campeonato.
O problema não está na nossa pequenez. Falta-nos a autoconfiança e normalmente quando partimos para os jogos já vamos derrotados porque não acreditamos nas nossas capacidades. Neste campeonato do Mundo a disputar na África do Sul jogámos quase sempre para não perder e o medo levou-nos a adoptar tácticas defensivas. E quem joga para empatar quase sempre perde. Foi o que nos aconteceu.
Daqui a dois anos temos um campeonato da Europa e em 2014 o campeonato do Mundo. O que se pede é mais trabalho e menos espectáculo de rua. As estrelas, os craques ,de nada valem se não formos capazes de construir uma equipa.
FRANCISCO MARTINS
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