1-Depois de um longo período de reflexão o Partido Socialista escolheu Manuel Alegre para as presidenciais. Este já era aliás desde longa data o candidato oficial e dilecto do Bloco de Esquerda. O que terá levado Sócrates e o P.S a tomarem esta decisão ? A hipótese mais provável é que não tenha conseguido convencer ninguém no P.S. nem tão- pouco um independente com o perfil necessário para derrotar Cavaco Silva. Daí esta opção tardia e que à primeira vista não parece a mais acertada. Não vou dizer como o dr. Mário Soares que pode ser uma opção fatal. Atendendo porém ao distanciamento de Manuel Alegre em relação ao P.S. não me parece que haja o mínimo de coerência da parte de José Sócrates ou do partido ao apoiar o candidato do Bloco de Esquerda. Mas parafraseando Pascal diria que a política tem razões que a razão desconhece.
2-Embora o Prof. Cavaco Silva ainda não tenha anunciado a sua recandidatura é muito provável que isso irá acontecer muito em breve. À partida e partindo do pressuposto que não vai aparecer mais nenhum candidato, o presidente em exercício terá fortes probabilidades de ganhar as eleições. Cavaco Silva irá juntar toda a direita à sua volta e por isso será o candidato natural e preferido do PSD e do CDS. Houve no entanto alguns erros cometidos pelo actual presidente que lhe podem custar alguns votos. Todos se lembram bem das intervenções que fez ao longo do seu mandato: umas vezes actuou tarde demais e noutras não esclareceu devidamente os assuntos deixando dúvidas e críticas nos portugueses que o ouviram. Estou a lembrar-me das alterações ao Estatuto dos Açores em que o Presidente tinha razão porque lhe estavam a usurpar poderes mas que não era assunto para tratar em directo na televisão dada a sua complexidade e não ser de grande interesse para os portugueses do continente. Ultimamente o facto de não ter vetado o casamento entre homossexuais também gerou algumas críticas nos católicos embora o veto não fosse impedir a a aprovação da Lei na Assembleia da República. Pessoalmente entendo que por uma questão de coerência devia levar a sua posição até ao fim. Apesar dos erros cometidos, e ninguém é perfeito, parece-me que Cavaco Silva é um candidato forte para ganhar as próximas presidenciais.
3-Manuel Alegre pelas posições que tem tomado pertence à ala mais radical do Partido Socialista. Sem exagero diria até que está mais próximo da família do Bloco de Esquerda. É um poeta e homem de cultura mas isso não é à partida uma garantia de que vai ganhar as eleições. Na primeira república tivemos sem dúvida presidentes da república que foram escritores como Teófilo Braga e Manuel Teixeira Gomes. Mas essa mais-valia pouco ou nada serviu para serenar os ânimos nos tempos conturbados e anárquicos do republicanismo nascente. Hoje além da cultura é necessário que um candidato a Presidente da República tenha também alguma experiência na Administração Pública o que não me parece ser o caso de Manuel Alegre.
Numa entrevista à televisão o candidato oficial do BE e do PS disse não querer ser presidente para governar o país. É óbvio que o Presidente da República não pode governar nem interferir na esfera governativa. Mas tem um papel importante que a Constituição lhe confere: ele é o árbitro em situações de crise e o garante da estabilidade democrática. Nos casos de governo minoritário, como agora acontece, a acção do presidente pode ser preciosa ajudando a criar alternativas ou soluções que contribuam para viabilizar a democracia. Se Manuel Alegre não quer governar os outros candidatos devem pensar da mesma maneira, até porque a Constituição não o permite. Por isso é falacioso exprimir uma intenção do que é obrigatório cumprir. Aliás em períodos de normalidade o presidente pode até ter um papel discreto e não dar nas vistas.
Manuel Alegre fala do presidente Lula que é um homem de esquerda e que implementou reformas sociais no Brasil que deram os seus frutos. Esquece-se porém que no Brasil o regime é presidencialista e aí sim o o presidente pode governar. Em Portugal é ao governo e ao Parlamento que compete dirigir as linhas de orientação política e as reformas sociais. Não é pelo presidente ser de esquerda ou de direita que as coisas vão melhorar ou piorar. E o resultado está à vista. Desde o 25 de Abril até hoje tivemos presidentes mais à esquerda ou mais à direita e as grandes reformas do país continuam por fazer.
4-Quem irá ganhar as próximas eleições presidenciais ? O Prof. Cavaco Silva apesar de alguns erros que cometeu irá possivelmente congregar os votos da direita.
Manuel Alegre deixou anti-corpos no PS e com certeza que os Soaristas não lhe irão perdoar o facto de nas últimas eleições presidenciais se ter candidatado contra Mário Soares. Por outro lado encontrando-se demasiado colado ao BE vai certamente perder votos da facção mais moderada do PS.
O independente Fernando Nobre irá com toda a certeza recolher votos de todos os que não se revêem nas candidaturas de Cavaco e de Alegre.
Penso que serão as eleições mais disputadas de sempre e que só numa segunda volta se vai decidir o candidato vencedor.
5-O primeiro-ministro José Sócrates regozijou-se com o facto de ser finalmente aprovada a Lei que permite o casamento entre homossexuais. Ouvi-o na televisão e não posso precisar os termos exactos com que se exprimiu mas ficou-me no ouvido que os homossexuais não podiam ficar privados de um direito que pertence a todos os cidadãos.
Em primeiro lugar não me parece acertado tratar situações diferentes de forma igual. Depois e citando o Prof. Freitas do Amaral , “ o contrato civil de casamento não visa conferir direitos, privilégios ou benesses, mas sobretudo impor aos pais deveres, encargos e responsabilidades parentais “ ( revista Visão de 07-01-2010 )
Para o primeiro-ministro José Sócrates o casamento entre homossexuais é uma vitória da modernidade. Se em matéria de betão e de auto-estradas já estamos bem classificados na Europa no que diz respeito a casamentos de gays e lésbicas já ultrapassámos países bem mais desenvolvidos que nós como a França, Grã Bretanha e Alemanha. Dá para concluir que modernismo e progressismo são conceitos ambíguos e quase sempre associados ao relativismo moral muito em voga nos nossos dias.
FRANCISCO MARTINS
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