Segunda-feira, 25 de Janeiro de 2010
Manuel Alegre afirmou estar disponível para se candidatar à Presidência da República. A decisão final não vai tardar. O Bloco de Esquerda pela voz de Francisco Louçã já confirmou o seu apoio incondicional a Alegre e outra coisa não seria de esperar. O Partido Socialista vai assim ficar entre a espada e a parede sendo a margem de manobra para escolher outro candidato muito reduzida. Uma boa escolha seria António Guterres mas duvido que deixe o trabalho na ONU, onde granjeou fama e prestígio, para se voltar novamente para a política.
Ninguém põe em causa que Manuel Alegre tem um bom currículo político para ser Presidente da República. Foi antifascista no período da ditadura e deputado pelo PS, durante largos, anos na Assembleia da República. Além disso é poeta e um homem de grande cultura humanística. Mas é preciso não esquecer que deixou anti-corpos no PS quando entrou em rota de colisão com Mário Soares nas últimas presidenciais. Por outro lado tem um perfil marcadamente ideológico e colado à esquerda mais radical como é o caso do BE. Diria ainda que é um utopista, dos que acreditam que quanto mais Estado melhor.
No regime semi-presidencialista que temos cabe ao Presidente da República o papel de árbitro e moderador de conflitos, quando eles existam. A ele pertence a responsabilidade de garantir o bom funcionamento das instituições democráticas. Se um governo é maioritário o Presidente da República tem o seu papel mais facilitado. Mas quando não há uma maioria no parlamento, como é o caso do momento que estamos a viver, então a situação complica-se, e aqui sim, o mais alto magistrado da nação pode ter mesmo de aconselhar e até de intervir para que os partidos se entendam
O que o Presidente da República não pode fazer é governar. Por isso seja qual for o candidato que vier a ganhar as presidenciais jamais poderá imprimir ao governo uma orientação política de esquerda ou de direita. Uma coisa é certa, o candidato que o PS escolher terá de ir buscar votos ao centro se quiser ganhar as eleições. Manuel Alegre não me parece que vá conseguir esse objectivo por se encontrar demasiado colado ao BE. Pior do que isso, é ainda o facto de haver muita gente no PS que não vai votar nele. As guerras fratricidas do passado vão levar tempo a sarar. Sendo assim Alegre tem poucas possibilidades de fazer o pleno da esquerda nas próximas eleições presidenciais.
Francisco Louçã já disse à comunicação social que Manuel Alegre não é um candidato do BE e que a sua candidatura é supra-partidária. É essa a imagem que se vai querer passar durante a campanha presidencial. Há muita gente que se encontra desiludida com os partidos políticos e ,agora mais do que nunca, devido à crise económica e ao desemprego que não pára de aumentar e já atinge níveis preocupantes. Então é bom criar a ilusão de que um presidente da república, acima dos partidos políticos poderá ser o Messias que vai salvar o país e resolver todos os problemas. Mas o regime que temos não é presidencialista e por isso toda a argumentação utilizada não passa de pura retórica para atrair eleitores. No tempo de Sá Carneiro o slogan que convinha usar para dar estabilidade governativa era a trilogia: Um presidente, um governo e uma maioria. Hoje ainda há quem pense da mesma maneira, embora esse objectivo seja difícil de alcançar. Mas se a democracia não funcionar com o regime parlamentar que temos , então a melhor maneira é alterar a Constituição e passarmos para o regime presidencialista. Será preferível do que andar a criar ilusões aos eleitores.
FRANCISCO MARTINS