1-A última encíclica do Papa Bento XVI tem como tema central o desenvolvimento nas suas diversas vertentes : humana, económica e dos povos. Em correlação com o tema são abordados outros assuntos dos quais podemos destacar os seguintes: trabalho, religião, família, sexualidade, turismo social, bioética, aborto, planificação eugénica dos nascimentos, etc.. A encíclica é um documento extenso, escrito por um grande teólogo e filósofo e por isso a linguagem utilizada pode não ser muito clara para o comum das pessoas. A encíclica Caritas in Veritate vem na sequência de outras como a” Populorum Progressio” , à qual Bento XVI dedica um capítulo, e insere-se no que podemos designar por doutrina social da Igreja.
Para o Papa todo o desenvolvimento para ser autêntico tem de orientar-se pela ética e pelos princípios do humanismo cristão. A caridade e a Verdade do Evangelho têm de estar presentes nos dias de hoje pois é nesta base que se poderá trabalhar pela justiça e pelo bem comum. Por outro lado, um verdadeiro desenvolvimento implica também partilha de bens e de recursos.
No capítulo II o Papa enumera tudo aquilo que constitui um verdadeiro entrave ao desenvolvimento humano no nosso tempo: corrupção e ilegalidades nos países e ricos e também nos países pobres ; empresas transnacionais que não respeitam os direitos humanos ; crescente mobilidade dos capitais financeiros para as áreas em que se produz a baixo custo ; desregulamentação do mundo do trabalho e das redes de segurança social.
O Papa diz ainda que o homem é o principal protogonista , o centro e o fim de toda a vida económica e social e que a melhor ajuda aos países pobres tem de começar por eliminar as causas estruturais que impedem o desenvolvimento, investindo em infra-estruturas.
No capítulo dedicado ou desenvolvimento económico e sociedade civil, Bento XVI esclarece que a teria económica não é eticamente neutra nem de natureza desumana e anti-social e que a doutrina social da Igreja sempre defendeu que a justiça diz respeito a todas as fases da actividade económica. Afirma ainda que a globalização, “ a priori “ ,não é boa nem má. Será aquilo que as pessoas fizerem dela. O que é preciso é orientá-la em termos de relacionamento e de partilha.
Para o desenvolvimento dos povos é necessário respeitar o meio ambiente. Diz o Papa que quando a natureza, a começar pelo ser humano, é considerado um fruto do acaso ou do determinismo a noção de responsabilidade debilita-se nas consciências. Apela ainda às pessoas para reverem o seu estilo de vida, que em muitas partes do mundo pende para o hedonismo e o consumismo, sem olhar aos danos que daí derivam. Um outro aspecto a ter em conta é que os homens actuem como constituindo uma só família. A globalização deve ser orientada pelos princípios da subsidiariedade e da solidariedade . Entende ainda que as Nações Unidas devem ser reformadas e que faz falta a criação de uma Autoridade Mundial que garanta o desarmamento, a segurança, a paz, a salvaguarda do meio ambiente e regule os fluxos migratórios.
Na parte final o Papa relaciona o desenvolvimento com a técnica. O desenvolvimento tecnológico pode levar as pessoas à auto-suficiência ou absolutização da técnica. Ora, “ a razão sem fé está destinada a perder-se na ilusão da própria omnipotência, enquanto a fé sem razão corre o risco de alheamento da vida concreta das pessoas. E acrescenta ainda “ não há desenvolvimento pleno nem bem comum universal sem o bem espiritual e moral das pessoas, consideradas na sua totalidade de alma e corpo. “
Bento XVI conclui a sua encíclica afirmando que ao serviço do desenvolvimento deve estar um humanismo cristão. O humanismo que exclui Deus é um humanismo desumano.
2-Num texto publicado no Diário de Notícias o padre e filósofo Anselmo Borges também se refere à encíclica de Bento XVI e levanta as seguintes questões: Será possível um desenvolvimento sem limites num Mundo limitado ? Não é verdade que se torna cada vez mais claro que o trabalho se tornou definitivamente um bem escasso e que é preciso partilhá-lo, com todas as consequências ? Questiona ainda o que acontecerá se os três mil milhões de chineses e indianos quiserem e obtiverem os padrões de vida e consumo ocidentais.
Estas questões dão que pensar e obrigam-nos a reflectir sobre problemas reais como a moderação do consumo, a mudança de estilo de vida e a partilha do trabalho. Naturalmente que é preciso que uns consumam menos para que outros tenham tenham um modo de vida decente. É também necessário que as grandes empresas e as multinacionais não sacrifiquem postos de trabalho para obterem mais lucros. Os bens do planeta Terra foram criados por Deus para serviço e proveito de todos os homens e não de alguns privilegiados. Se a humanidade compreendesse isto o mundo seria bem melhor.
FRANCISCO MARTINS
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