Num discurso recente o senhor Presidente da República disse que Portugal não devia trabalhar para as estatísticas. Será que esta advertência tem algum fundamento ? A realidade e os números dizem-nos que Portugal é dos países da UE que tem
- mais quilómetros de auto-estrada por habitante.
- mais casas para habitação própria por habitante.
Quando organizámos o Campeonato Europeu de Futebol em 2004 verificou-se que construímos estádios a mais. O estádio do Algarve que poucas vezes tem sido utilizado é uma prova disso. Por outro lado se o campeonato tivesse sido organizado em parceria com a Espanha a poupança teria sido significativa. Na cidade de Milão existem dois clubes de futebol de grande nomeada ( Inter e AC Milan ) que não se sentem desprestigiados por partilharem o mesmo estádio. Quer isto dizer que os portugueses, de uma maneira geral, sempre tiveram a mania da grandeza e de quererem parecer mais do que realmente são. Aconteceu assim com o ouro do Brasil que foi gasto em palácios e monumentos de grande pompa e não em benefícios do povo, que vivia sabe Deus como. Em Portugal não houve nada parecido com a revolução industrial inglesa iniciada no século XVIII , que abriu as portas ao progresso e ao desenvolvimento de alguns países europeus.
O primeiro-ministro José Sócrates diz que o país não pode ser governado através de recados e remoques. Concordo inteiramente e comungo do mesmo pensamento. Infelizmente há muita gente que só sabe criticar e dizer mal de tudo. Não faltam por aí pessoas que fazem diagnósticos perfeitos da grave situação económica do país mas que são incapazes de apontar soluções credíveis para minorar ou atacar a crise. Fazer diagnósticos sem adiantar a terapêutica apropriada para erradicar a doença é tempo gasto inutilmente e só serve para baralhar ainda mais as coisas. Muitos pensam erradamente que ao Estado compete fazer tudo. Mas não é bem assim. Ao Estado compete apoiar os projectos empresariais que sejam viáveis. Se não houver empresários com iniciativa e ideias inovadoras a economia irá estagnar e ficará sem meios para competir com outros países dentro do mercado global . Penso que qualquer pessoa de bom-senso estará de acordo com as medidas propostas pelo primeiro-ministro, designadamente com as que visam o desenvolvimento tecnológico, das energias renováveis, o melhoramento das escola e do ensino. Não concordo, no entanto, com o dinheiro gasto no TGV e com auto-estradas cujo movimento não justifique a sua construção. A estrada que liga Bragança à A25 precisa a apenas de uma ampliação no troço entre Cruz da Galega e Celorico da Beira. O dinheiro poupado na construção do TGV e noutras auto-estradas poderia ser aplicado com mais proveito em escolas, centros de saúde e para rectificar as estradas que realmente o necessitem. Por outro lado não é nada bom agravar ainda mais a dívida externa de Portugal que já vai em 100% do PIB.
A informatização dos serviços públicos veio melhorar a qualidade e a produtividade dos mesmos. Mas trouxe também efeitos perversos. Aos funcionários foram impostos objectivos que por vezes não podem cumprir. Aos inspectores e responsáveis pela modernização dos serviços públicos interessa mais a rapidez e a quantidade do que a qualidade do trabalho. Por vezes chega-se ao exagero de exigir o cumprimento de objectivos para serviços que ainda nem sequer estão a funcionar. Ora, quando um trabalho é feito à pressa, sob pressão e com atendimento do público em simultâneo é natural que surjam erros. Em casos destes quem é o responsável ? Obviamente que é o chefe da repartição e não o Estado como pela lógica deveria ser.
A iliteracia dos nossos alunos e os fracos resultados em Matemática mostram que há muito a fazer para melhorar o ensino nas nossas escolas. Mas não é simplificando as provas de aferição que se vai resolver o problema. Se isso acontecer estaremos a melhorar as estatísticas mas ao mesmo tempo a enganarmo-nos a nós próprios.
FRANCISCO MARTINS
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