NENHUM CAMINHO SERÁ LONGO
Este é o título de um livro escrito pelo cardeal José Tolentino de Mendonça que actualmente desempenha o cargo de Arquivista e Bibliotecário da Santa Sé. É especialista em estudos bíblicos e tem-se distinguido também como poeta e ensaísta.
O tema que serviu de base ao livro e desenvolveu ao longo de 21 capítulos é o da Amizade. Logo nas primeiras páginas esclarece que hoje se fala mais em Amor do que em Amizade. Mas o termo mais apropriado nas relações pessoais e práticas afectivas será o de Amizade. A grande diferença entre amor e amizade reside no facto do amor tender sempre para o ilimitado, para a perfeição que nem sempre conseguimos. Mesmo a nossa relação com Deus devia ser organizada em termos de amizade. No fundo persistimos numa imagem de Deus que exige de nós sacrifícios, quando o Deus de Jesus Cristo quer uma vida justa, plena, levada à sua alegria. Na amizade, aceitamos do outro o que ele dá ou pode dar, e fazemos disso um ponto de partida alegre. Também é preciso amar a Deus sem ser por nada. O cardeal Tolentino diz-nos também que temos de ultrapassar uma determinada concepção do cristianismo como máquina de fabricar castigos e recompensas. Os santos ensinaram-nos o mistério da amizade divina : aceitar o que Deus me quer dar, aceitar a morte e o nada, o silêncio e a demora, aceitar a graça e a fraqueza. O que a experiência da amizade traz de iluminante para estruturar a nossa relação com Deus é o seguinte: aceitação do outro, o reconhecimento sereno dos limites, a ausência de domínio, a liberdade, a gratuitidade. Como figuras bíblicas da amizade destaca : Abraão, Moisés, Lázaro e São Paulo.
Na filosofia é importante referir Aristótoles que na Ética a Nicómano distingue várias formas de amizade : 1- A amizade útil fundada no interesse que nos pode abrir a uma relação onde existe partilha mútua ; 2-A amizade aprazível estabelecida sobretudo no prazer que a companhia nos dá ; 3-A amizade virtuosa que procura antes de tudo o bem do outro. No Evangelho de São João ( 15, 12-15 ) Jesus faz um discurso-chave « Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei . Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos se fizerdes o que Eu vos mando. A vós chamei-vos amigos porque vos dei a conhecer o que ouvi a meu Pai. » No momento em que assistimos a um enfraquecimento institucional das Igrejas é fundamental que se dê testemunho de uma vida com simplicidade e alegria no seguimento de Cristo.
Passando para a Amizade Espiritual podemos dizer que a Amizade é antes o próprio lugar de encontro entre o homem e o divino ou seja um lugar “teofânico “. A amizade coloca-nos dentro de Deus.« Basta que um ser humano se torne amigo de outro para se tornar imediatamente amigo de Deus ». Devemos amar um amigo não pelo que ele possui ou pelo que ele nos pode dar, mas pelo que ele é. A amizade é também uma fonte de alegria. A alegria nasce do acolhimento. A alegria nasce quando eu aceito construir a minha vida numa cultura de hospitalidade. A alegria é um dom de amizade acolhida. São Paulo é também considerado o « teólogo da alegria » . Das 326 vezes que o vocabulário da Alegria aparece no Novo Testamento, 131 vezes é em textos do Apóstolo. Na Epístola aos Romanos São Paulo diz: Que o Deus da Esperança vos encha de toda a alegria e paz( R15,13 ). Há no entanto casos em que debaixo da capa da amizade se encontra a traição. Temos como exemplo Judas que em hebraico significa « Predilecto » e que acabou por trair Jesus.
Todos nós na nossa vida passamos por momentos de solidão. A solidão pode ter origem em situações de sofrimento ou humilhação, mas também pode ser provocada por nós para meditação e encontro com outros e com Deus. Para o Mestre EcKart, a perfeição depende somente de acolher a pobreza, a miséria, as durezas, os desapontamentos e tudo o que couber no deserto de uma vida, livremente, avidamente até à morte, como se a pessoa estivesse preparada para tal. Em silêncio e sem perguntar porquê. Quem sabe usar o silêncio sabe usar o tempo. É importante não perder o tempo com trivialidades e banalidades.
E o cardeal Tolentino termina dizendo que a despedida talvez seja a parte mais difícil da amizade. A dor da separação é maior do que qualquer palavra, mas as palavras como que nos seguram enquanto certas despedidas desprendem o seu vazio lentíssimo.
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