Este é o título de um livro escrito por Tomás Halik, filósofo, sociólogo, teólogo e sacerdote. É agora professor da Universidade Charles de Praga e capelão da Paróquia Académica. Desde 1989 tem sido orador regular e professor convidado de diversas universidades estrangeiras como Oxford, Boston e Havard.
Logo no início do livro diz, citando o Papa Francisco, que «Este nosso tempo não é uma época de mudanças mas de mudança de época.» A secularização acabou por não provocar o fim da Religião, mas antes a sua transformação. Para Tomás Halik a Igreja Católica encontra-se hoje numa situação semelhante àquela que tinha anterior à Reforma. Os casos de abuso sexual abalaram a credibilidade da Igreja e suscitaram muitas questões acerca de todo o sistema eclesial. Com a pandemia do coronavírus muitas Igrejas fecharam e para o teólogo foram um profético sinal de alarme: em breve poderá bem ser o estado permanente da Igreja se ela não passar por uma profunda transformação. Mas se elas conseguirem resistência às tentações do egocentrismo, do narcisismo colectivo, do clericalismo, do isolacionismo e do provincianismo, elas poderão oferecer um contributo precioso para um novo, mais amplo e mais profundo ecumenismo.
A inspiração para o título do livro « A Tarde do Cristianismo » tem a ver com uma metáfora escolhida por Carl Gustav Jung, o fundador da psicologia analítica, para descrever a dinâmica de uma vida humana individual. Essa metáfora pode também ser aplicada à História do Cristianismo. Jung comparou um período da vida humana com curso de um só dia.: a manhã da vida corresponde à juventude e ao início da vida adulta; ao meio dia começa a crise devido ao cansaço e à sonolência ; a tarde da vida é a idade madura e a velhice. É o tempo oportuno para o desenvolvimento da vida espiritual. E tudo isto para concluir que também esta metáfora se aplica à História do Cristianismo. Para a História do Cristianismo o meio-dia corresponde ao período que vai da Idade Média tardia até ao período moderno, englobando o Renascimento, a Reforma, o Cisma dentro do Cristianismo Ocidental e também o Iluminismo do qual resultaram críticas à Religião e à ascensão do ateísmo. Hoje estamos no limiar da tarde do Cristianismo. A crise que estamos a viver aponta uma nova forma de Cristianismo talvez mais profunda e madura. Como diz Tomás Halik «a secularização não foi o fim da História da Religião, não foi como imaginavam os ideólogos do secularismo, a vitória da luz da razão sobre as trevas da Religião. Pelo contrário, foi uma transformação da Religião e um passo mais no caminho para uma fé mais madura »
E chegando aqui Tomás Halik levanta as seguintes questões : Que forma pode a Igreja assumir hoje que seja benéfico para uma vida de fé ? Que forma de igreja pode responder às necessidades da fé de hoje e aos actuais sinais dos tempos ? Há 4 conceitos que é preciso seguir: 1- O conceito de igreja como povo de Deus ; 2º conceito de igreja como escola de sabedoria ; 3- O conceito de igreja como hospital de campanha ; 4- A ideia de igreja como lugar de encontro, de diálogo, ministério de acompanhamento e de reconciliação. Reconhece também que há 3 tipos de igreja : 1- A igreja terrena ( eclesia militans ) ; 2- A igreja sofredora e penitente como as almas do purgatório ( eclesia poenitens) ; 3- E a igreja triunfante dos santos no céu ( eclesia triunphans ). Hoje no limiar da Tarde do Cristianismo , a igreja deve voltar a ser comunidade a caminho aprofundando o carácter peregrino da fé para cruzar este novo limiar. Mas também precisa de construir vivos centros espirituais onde seja possível extrair coragem e inspiração para a jornada que se avizinha. Os cristãos devem recorrer a esses centros, mas não podem neles erguer « três tendas» bem acima das preocupações mundanas da vida e do mundo como desejavam os apóstolos no Monte Tabor. Para que uma Igreja seja realmente uma Igreja e não uma seita fechada precisa de empreender uma mudança radical na maneira como se vê na sua compreensão ao serviço de Deus e das pessoas neste mundo. Tomás Halik está convicto que o ministério do acompanhamento espiritual individual será crucial para o papel pastoral da Igreja na Tarde do Cristianismo. Esse acompanhamento que já está a ser feito pelos capelães nos hospitais, nas prisões, no exército poderá também assumir a forma de acompanhamento espiritual de pessoas em todas as situações difíceis da vida. E chegando aqui o teólogo levanta algumas questões:
1-Qual é a tarefa para esta tarde- a tarde da vida de cada um, uma tarde da história humana, a tarde do Cristianismo, a tarde da história da fé ? A resposta é a transformação e a mudança. É necessário passar do egocentrismo para uma história contínua dos mistérios do Natal e da Páscoa. Os conceitos de clericalismo, fundamentalismo, tradicionalismo e triunfalismo reflectem várias manifestações de egocentrismo da Igreja. Se a igreja é incapaz de oferecer uma forma de cristianismo diferente não é surpreendente que muitas pessoas acreditem que a única alternativa que resta é abandonar o Cristianismo e a fé.
2-Qual será o futuro do Cristianismo ? A verdadeira resposta deve assumir a forma de seguir a Cristo. Isso implica buscar sempre o Ressuscitado de novo. É preciso buscá-lo nas estradas, no caminho como os discípulos de Emaús e nas feridas do mundo como o apóstolo Tomé.
Num cristianismo dinâmico e auto -transcendente é possível encontrar , por intermédio de Cristo, um Deus cada vez mais presente em todas as coisas, em todos os acontecimentos da nossa vida e nas mudanças do mundo.
Para terminar é fácil concluir que a Igreja não só Portugal, mas de uma maneira geral em todo o mundo, está a sofrer uma grave crise. A pandemia e o fecho das igrejas contribuiu para agravar a crise, mas a situação já existia antes e tem na sua origem outras causas. A catequese é importante mas a doutrina por si só não chega. Para um cristão é importante pôr em prática as 3 virtudes teologais: fé, esperança e caridade. E a caridade só se realiza através de actos : apoio aos mais necessitados, aos sofredores e aos que precisam de ajuda nos diversos problemas da vida. Ocupa-se tempo de mais com futilidades e o estilo de vida hedonista e materialista leva muita gente a esquecer o espiritual e a olhar de lado para os que necessitam de ajuda. Por outro lado há crianças que fazem uma profissão de fé e adultos que são crismados e deixam de imediato a Igreja. Será que alguém os convenceu a assumir compromissos religiosos porque fica bem e depois perdem a fé. Muitas vezes são os pais ou a família que não dão o exemplo e isso tem reflexos negativos no comportamento dos filhos.
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