A NOVA ARTE DA GUERRA
Este é o título de um livro escrito por Sean Mc Fate professor de estratégia na Universidade de Defesa Nacional e na School of Foreign Service da Universidade de Georgetown. Foi também paraquedista da 82ª divisão Aerotransportada do exército americano e mais tarde trabalhou numa empresa militar privada, onde integrou algumas missões a que faz referência . Neste livro dá-nos uma visão actual sobre os conflitos mundiais e a geoestratégia do futuro. Em breves palavras irei fazer um resumo dos pontos essenciais tratados no livro.
Sean Mc Fate diz-nos logo de início que ganhar não é matar o maior número de inimigos ou capturar a maior extensão do território. A França foi derrotada na Argélia e na Indochina, a Grã Bretanha na Palestina e em Chipre, a URSS no Afeganistão, Israel no Líbano e os Estados Unidos no Vietname, Somália, Iraque e Afeganistão. As Nações Unidas não fizeram nada para travar os genocídios no Ruanda e no Dafur. Nem desafiaram a usurpação da Crimeia pela Rússia, nem puseram fim a décadas de matança no Médio Oriente. Dos 194 países do mundo, quase metade vive alguma forma de guerra. A desordem tomou conta do Médio Oriente e da África, de partes significativas da Ásia e da América Latina. E avança na Europa. Os conflitos não começarão e acabarão, mas eternizar-se-ão em guerras sem fim. A desordem duradoura está aí e aqueles que souberem combatê-la ganharão. Precisamos de nos equivaler ao inimigo e aprender a jogar segundo as regras da nova arte de guerra
1ª Regra A guerra convencional morreu . É um combate de Estado-contra-Estado em que o instrumento primordial do poder é a força bruta em que a batalha decide tudo o resto Apesar disso, continua ser o nosso modelo, e essa é a razão por que o Ocidente perde guerras contra inimigos mais fracos..É preciso reequilibrar as forças militares de modo a incluírem menos armas convencionais e mais forças de operações especiais que desempenham tarefas como recolha de informações, engenharia, apoio médico, logística e uma miríade de competências altamente necessárias para apoiar os combatentes em cenário de guerra.. A 2ª Regra A tecnologia não nos salvará.Os conflitos actuais já nos demonstraram que a tecnologia superior e o poder de fogo não vencem guerras. A guerra é uma forma de política armada e procurar uma solução técnica para um problema político é uma loucura. O poder do cérebro é superior ao poder de fogo e devemos investir nas pessoas, não em plataformas.. 3ª Regra. Guerra e Paz vão coexistir sempre. Conquistar os corações e as mentes é o único caminho para a vitória quando se travam guerras convencionais. É preciso adoptar estratégias. No sentido mais lato a grande estratégia é uma política que rege a maneira como o país se comporta nas relações internacionais. 4ª Regra . Conquistar o coração e a mente não basta. A legitimidade em sociedades como a iraquiana ou a afegã não é conferida por um contrato social democrático, mas sim pelo Islão político. Devoção sincera a Deus e a observância das leis da sharia são mais importantes e é por isso que a Al-Quaeda, o Estado islâmico e os talibãs ganham terreno. A coerção tem funcionado em muitos casos. Em 1999 a Rússia esmagou a revolta chechena pondo cerco a Grózni, a capital da Chechénia e arrasando-a. Outra estratégia é a deslocalização. Durante a 2ª Guerra Mundial os chechenos queriam aproveitar a oportunidade para se separarem da União Soviética. Em resposta o Exército Vermelho espalhou os chechenos à força pelos 11 fusos horários da URSS. Há uma terceira estratégia que é a importação e a diluição. Mao na China anexou o Tibete e enviou para o Tibete milhões de chineses tornando os tibetanos uma minoria na sua própria pátria.5ª Regra. As melhores armas não disparam balas. Hoje em dia, quando a Rússia pretende desestabilizar a Europa, não ameaça com uma acção militar, como era prática da antiga União Soviética. Em vez disso, bombardeia a Síria. Esta tática empurrou dezenas de milhares de refugiados para a Europa e exacerbou a crise da imigração, instigando o Brexit e alimentando políticas anti-establishment por todo o continente. 6ª Regra.Os mercenários vão dominar o panorama militar. Os mercenários são mais económicos e é por isso que sempre têm existido ao longo da história, sendo os exércitos nacionais actuais a excepção. Os relatórios indicam que existem na Síria 2 500 mercenários a soldo da Rússia. A Rússia utiliza-os igualmente na Ucrânia. A ONU abdicou do seu papel de prevenção de conflitos, a sua missão principal desde 1946. Nada fez para travar o crescimento dos mercenários, tal como não fez nada de significativo para travar as guerras no Iraque, Síria…por toda a parte. O Direito internacional não funciona nem a ONU.. 7ª Regra. Vão surgir novas potências mundiais A erosão dos Estados encorajará novos tipos de superpotências a preencher o vazio de autoridade. Em 2016, os governos da Turquia e do Egipto avançaram mais abertamente para ditaduras de Estado policial em que o Estado profundo é o único Estado existente. 8ª Regra. Haverá guerras sem Estados O México é um exemplo de uma guerra sem Estados. Os carteis da droga combatem-se uns aos outros pelo controlo da região, enquanto os Estados são marginalizados e transformados em narco-estados zombies .Os conflitos na Somália e na República Centro-Africana inserem-se nesta categoria, uma vez que estes Estados não existem de facto. Chamamos-lhe Estados unicamente para poder localizá-los no mapa. A guerra do Congo é palco de outra guerra sem Estados. 9ª Regra. As guerras na sombra prevalecerão Perto do início da guerra da Ucrânia, forças russas por procuração fizeram explodir nos céus o voo 17 da Malaysia Airlines, matando 298 pessoas a bordo. A Rússia tornou-se uma superpotência de desinformação, adoptando uma estratégia de « matem-nos com confusão». E está a resultar. As evidências estão por toda a parte: tornar invisível uma guerra na Ucrãnia, recorrer à pirataria informática para interferir nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA, influenciar a votação no Brexit, apoiar grupos políticos marginais, alimentar o nacionalismo de direita nos países da NATO e engendrar o seu papel dúbio no Médio Oriente. Quando Putin chegou ao poder em 1999, tinha perante si uma nação fraturada, devorada pelo crime organizado e pela anarquia. Então ele teve o seu momento. Uma série de explosões atingiu 4 edifícios de apartamentos em 3 cidades russas, incluindo Moscovo, matando 293 pessoas e ferindo 1000. Em breve se descobriu que as explosões foram obra de terroristas chechenos e ondas de pânico varreram a Rússia. Só que não foram os chechenos; foi Putin a tentar consolidar o seu poder político, facilitando a sua ascensão do cargo primeiro-ministro para a presidência.10ª Regra. Existem muitas maneiras de assegurar a vitória A guerra híbrida descreve os conflitos actuais como uma mistura de prática da guerra convencional e não-convencional. Por exemplo a Rússia conquistou a Crimeia usando material convencional, como os tanques, e meios não convencionais, como os homenzinhos verdes
N a parte final do livro o autor termina dizendo que o Ocidente será derrotado se não se adaptar ao futuro da guerra. As guerras deslocar-se-ão para a zona da sombra. Na era da informação, o anonimato é a arma de eleição. A subversão estratégica ganhará guerras, não as vitórias no campo de batalha. Numa era de desordem a grande estratégia devia procurar evitar que os problemas se transformassem em crises, e as crises em conflitos. A vitória será conseguida ou perdida no espaço da informação e não no campo da batalha
Maquiavel nasceu na cidade de Florença em Itália e de todos os livros que escreveu «O Príncipe » é considerado por muitos como a sua obra prima. Viveu em plena época renascentista e foi contemporâneo de grandes artistas : Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci, Ticiano e outros. Ao escrever o livro “ O Príncipe “ dedicou-o a Lourenço de Médicis, pensando que daí pudesse obter algum proveito, mas tal não veio a acontecer. Para compreendermos o seu pensamento selecionei algumas frases mais relevantes que passo a citar:
1-O desejo de conquistar é uma coisa muito comum e de acordo com a natureza, e todas as vezes que os homens que puderem fazer conquistas, serão louvados por isso ou, não serão censurados. 2-Quando como disse, os países que se conquistaram estão habituados a viver segundo as suas leis e em liberdade há três maneiras de conservar a sua posse: a primeira é destruí-los; a segunda é ir viver para lá pessoalmente; a terceira é deixá-los viver segundo as suas leis e cobrar um tributo, depois de formar um governo de poucas pessoas que conservem a sua amizade.3- Na verdade, não existe maneira mais segura de fruir uma província conquistada do que arruinando-a. 4-O príncipe não deve ter outro objectivo nem outro pensamento, nem tomar a peito outra matéria, que não seja a arte da guerra, a organização e a disciplina militar. 5-O príncipe que deseja manter a sua posição, precisa também de aprender a não ser bom e a servir-se ou não dessa faculdade de acordo com a precisão. 6-É melhor ser temido do que amado, se só se puder ser uma delas. 7-Não deve preocupar o príncipe o facto de, para conservar todos os seus súbditos em união e obediência, ganhar fama de cruel, pois será muito mais compassivo do que os príncipes que, por excesso de clemência, deixam alastrar as desordens, das quais se geram assassínios e rapinas.8-Quando um príncipe comanda um exército, tendo às suas ordens uma multidão de soldados, então não se deve preocupar nada com a fama de cruel. 9-Convém saber que há dois tipos de combates: pelas leis e pela força. A primeira é própria dos homens e a segunda é própria dos animais. Mas como muitas vezes aquela não chega, há que recorrer a esta, e por isso o príncipe precisa de saber ser animal e homem. É necessário ser raposa para reconhecer as manhas e leão para meter medo aos lobos.
Da leitura do livro podemos concluir que para Maquiavel quem queria conquistar o poder todos os meios são lícitos O que conta é a razão de Estado e não os princípios éticos e morais. Segundo informações que recolhi o livro “ O Príncipe “ era uma obra de leitura obrigatória na Academia de Informações Externas da antiga União Soviética, da qual foi aluno Vladimir Putin que formava os espiões do KBG. Deste modo Putin leu este livro e aprendeu muito com ele. Era bom que ele tivesse lido também a Encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco pois aprendia outra maneira totalmente diferente de fazer política. O Papa diz-nos, e todos nós sabemos, que a Paz não se constrói com a guerra. Todos somos filhos de Deus e por isso devíamos ser irmãos uns dos outros. Com a polarização política em muitos países nega-se ao outro o direito a existir e de pensar. O mundo existe para todos, porque todos nós, somos seres humanos, nascemos nesta Terra com a mesma dignidade. É possível um Planeta que garanta terra, tecto e trabalho para todos. Este é o verdadeiro caminho da Paz e não a estratégia insensata e míope de semear medo e desconfiança perante ameaças externas. Para tornar possível o desenvolvimento de uma comunidade mundial capaz de realizar a fraternidade é necessária a política melhor, a política colocada ao serviço do bem comum. Mas esta política não é a dos partidos populistas nem do liberalismo económico. A política populista está ao serviço do seu projecto pessoal e da sua permanência no poder. Os liberalismos sem controle estão ao serviço dos interesses económicos dos poderosos. A paz não é a ausência de guerra, mas o empenho incansável de reconhecer, garantir e reconstruir concretamente a dignidade, tantas vezes esquecida ou ignorada. A falta de desenvolvimento integral impede que se gere a paz. A partir do desenvolvimento incontrolado de armas nucleares, químicas e biológicas, conferiu-se à guerra um poder destrutivo, incontrolável que atinge muitos civis inocentes. A guerra não é uma solução pois os riscos são sempre superiores à hipotética utilidade que se lhe atribua. Toda a guerra deixa o mundo pior do que se encontrava.
Para terminar direi que o Papa Francisco faz uma análise profunda do ponto de vista político, económico e sociológico, de todos os aspectos relacionados com a paz. Para se conseguir a paz é necessária a colaboração, o diálogo e o consenso entre Estados e instituições. É preciso também reconhecer que todos os homens são iguais em direitos e que tem de se respeitar a dignidade humana. Tudo isto tem na sua base a fraternida-de e a amizade. Pela força, pela violência ou pela guerra nada se resolve e caminharí-amos para o caos. Espero que Putin ponha termo a esta guerra absurda e reflita nos estragos e no sofrimento que provocou ao povo Ucraniano. Mas para Putin a democracia não tem qualquer sentido e por isso tenta pela guerra tirar proveito da fragilidade de alguns países democráticos com pouca capacidade de resposta a agressões desencadeadas por grandes potências.
. DEUS , A CIÊNCIA, AS PROV...
. A ESCOLA DA ALMA- Da form...
. LIBERDADE E IGUALDADE- O ...
. DESMASCULINIZAR A IGREJA ...