Sexta-feira, 25 de Fevereiro de 2022

A Consciência Do Limite

 

1-Wittgenstein  nasceu em Viena no dia 26 de Abril de 1889. Em Berlim estudou engenharia mecânica e mais tarde em  Manchester iniciou os estudos em aeronáutica. Em 1911 começou os estudos de Filosofia com Russel no Trinity  College de Cambridge. No começo da 1ª  Grande Guerra alistou-se como soldado no exército austríaco. Em 1919 obteve  o título de professor do ensino primário na Escola Normal de Viena e foi colocado numa escola rural da Baixa Áustria. Em 1929 volta a Cambridge e obtém o doutoramento com o Tratactus. Na 2ª Grande Guerra trabalhou como voluntário em Londres. Em 1947 renuncia à cátedra e escolheu a Irlanda como destino de trabalho. Em 29 de Abril de 1951 morreu em Cambrige em casa do seu médico.

2-As obras de referência que nos deixou para análise do seu pensamento são:  O Tratado Lógico Filosófico,  As Investigações Filosóficas e o livro Da Certeza. O primeiro livro foi  a única obra filosófica publicada em vida.

3- Tratado Lógico Filosófico. Neste livro Wittgenstein pretende mostrar que há uma correspondência entre a forma da linguagem e a forma do mundo. Esta é a primeira fase da Filosofia de Wittgenstein e a que costuma designar-se como teoria figurativa ou pictórica do significado. O Tratado é considerado um dos textos de referência do atomismo lógico herdado de Russel que estabeleceu uma relação isomórfica entre a linguagem lógica e a realidade. O Mundo e a Linguagem teriam a mesma essência lógica o que possibilitaria que as palavras figurassem as coisas e as proposições os factos. E passo a citar algumas passagens do Tratado:

O mundo  é a totalidade dos factos não das coisas ; a realidade total é o mundo ;a imagem é um modelo da realidade ; a imagem lógica dos factos e o pensamento ; o pensamento é a proposição com sentido ; a totalidade das proposições é a linguagem ; o objectivo da Filosofia é a clarificação lógica  dos pensamentos  ,toda a dedução ocorre à priori ; os limites da minha linguagem significa  os limites do meu mundo ; a Matemática é um método da Lógica ; existe no entanto o inexprimível. É o que se revela, é o místico ; O método correcto da Filosofia seria o seguinte: só dizer o que deve ser dito isto é as proposições das ciências naturais. E o Tratado termina dizendo ; Acerca daquilo de que se não pode falar, trem que se ficar em silêncio

4-As Investigações   As Investigações começam com um texto extraído das Confissões de Santo Agostinho onde ele procura explicar como começou a falar. As pessoas mais velhas apresentavam-lhe objectos e nomeavam-nos.  Pegavam por exemplo numa maçã e diziam : «maçã ». E assim a pouco e pouco aprendia o que significavam as palavras e começava a utilizá-las para  dizer às pessoas o que queria. Isto pode levar as pessoas a pensar que a linguagem tem uma essência, uma única função e que a única função seria nomear objectos. Mas Wittgenstein  nas Investigações compara a linguagem a uma caixa de ferramentas. As palavras são ferramentas pois adquirem o seu significado quando se utilizam e por isso admite diferentes utilizações. Isto leva a pôr de  lado a ideia de que o significado de uma palavra era algo de imutável que a acompanhava sempre. Mas o significado da palavra estaria no uso que dela se faz num determinado contexto linguístico. Todos sabem que existe uma grande variedade de jogos: cartas, xadrez , futebol, jogo das escondidas, etc. Nuns há vencedores e vencidos. Uns têm regras a respeitar . Mas nem todos têm uma característica comum. Assim devemos ver a palavra « jogo » enquanto termo para semelhanças de família. Diz-nos ainda que muitos filósofos esvoaçam à toa como moscas dentro de uma garrafa a bater nas paredes. A forma de resolver este problema é tirar a rolha e voar para fora da garrafa.

5-Da Certeza Este é o último livro escrito por Wittgenstein . Podemos duvidar de muitas coisas mas também há certezas que não podemos pôr em causa. E vou citar alguns exemplos que o filósofo nos dá: Pelo facto de me parecer a mim- ou a toda a gente – que uma coisa é assim, não se segue que ela o seja; O que podemos perguntar é se faz sentido duvidar dela ; Eu sei «isso» significa. « Sou capaz de errar acerca disso» Mas se o sou, tem de se poder comprovar objectivamente ; Se a experiência é o fundamento da nossa certeza, naturalmente que se trata da experiência passada; Nós sabemos que a água ferve quando a pomos ao lume. Como sabemos ? A experiência ensinou-no-lo; Não posso estar em erro  acerca de 12X12= 144; E não se pode opor a certeza matemática à relativa incerteza das proposições empíricas.

6-Conclusão.  Wittgenstein é um representante da filosofia pós-moderna. Partilhou a certeza de Shopenhauer de que não podemos conhecer o mundo tal como ele é mas que lidamos sempre com a nossa representação, com a imagem que dele construímos. Concorda ainda com a crítica ao conhecimento humano que Kant desenvolveu na Crítica da Razão Pura de que só podemos conhecer o mundo dos fenómeno, isto é, a  realidade tal como ela é recebida pelos nossos sentidos. A realidade tal como é em si mesma é-nos vedada. Para Wittgenstein os limites da filosofia são a ética, a estética, a metafísica e a Religião. A filosofia só pode preocupar-se dos factos e só as proposições da ciência natural se podem afirmar. Considerava a Matemática como um método da Lógica. A filosofia serviria apenas para desatar nós e clarificar ideias. Para terminar direi que Wittgenstein é dos filósofos de pensamento mais complexo e de mais difícil interpretação.

 

 

publicado por pontodemira às 18:41
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Terça-feira, 8 de Fevereiro de 2022

O HOMEM EM BUSCA DE UM SENTIDO

 

Este é o título de um livro escrito por Victor Frankl, formado em Neurologia pela Universidade de Viena onde viria a doutorar-se  em Psiquiatria.. Especializou-se no estudo da depressão e do suicídio. No início foi influenciado por Sigmund Freud e Alfred Adler de quem se afastou mais tarde. Foi obrigado a interromper a sua carreira devido à ascensão do Nacional Socialismo (nazismo ) em Viena de Áustria onde vivia. Foi-lhe oferecida a hipótese de emigrar mas decidiu permanecer na Áustria para auxiliar os pais que era judeus. Em 1942 foi deportado para um gueto e mais tarde seguiu para o campo de concentração de Auschwitz. Conseguiu sobreviver e regressou à Áustria onde desenvolveu a Logoterapia que divulgou como professor em várias Universidades. Morreu aos 92 anos em 1997. No fim da guerra a mulher estava morta tal como os pais e o irmão.

Na sua actividade como médico usou com método a Logoterapia que procura dar sentido à vida às pessoas que caíram em depressão e se encontram num vazio existencial. O livro que escreveu  “ O Homem Em Busca De Um Sentido “, foi lido por 12 milhões de pessoas em todo o mundo. O livro procura transmitir a mensagem que só a procura de um sentido na vida nos pode libertar do sofrimento. Irei fazer um pequeno resumo do livro pondo em destaque os aspectos mais importantes.

Logo na Nota Introdutória Victor Frankl diz-nos que a vida não é uma busca de prazer como pensava Freud nem uma busca de poder como ensinou Adler- mas sim uma busca de sentido. A mais importante tarefa de qualquer pessoa é descobrir o sentido para a sua vida. E há 3 fontes possíveis de sentido : o trabalho (fazer alguma coisa significativa ) ; o amor (cuidar de outra pessoa ) e a coragem em tempos difíceis. O sofrimento em si mesmo e por si mesmo é destituído de sentido. Conferimos sentido ao sofrimento pela maneira como lhe reagimos. As forças fora do nosso controlo podem levar-nos tudo excepto a liberdade de escolhermos como responderemos a uma situação. Não podemos controlar o que nos acontece na vida mas podemos sempre controlar o que iremos fazer quanto àquilo que nos acontece.

1-Experiências no campo de concentração. No campo de concentração havia prisioneiros que actuavam como administradores gozando privilégios especiais. Os prisioneiros fracos ou doentes incapazes de trabalhar eram enviados para um dos grandes campos centrais que estavam dotados de câmaras de gás e crematórios. Só os mais brutais de entre os preso eram escolhidos para essas tarefas. Em geral só conseguiriam ficar vivos aqueles que, anos a saltar de campo em campo, tinham perdido todos os escrúpulos na sua luta pela existência. Victor Frankl diz-nos que em dado momento sentiu que transcendia aquele mundo sem sentido e que, vindo não sabe de onde, encontrou um vitorioso  “ SIM “ em resposta à pergunta sobre a existência de um sentido último. Qualquer homem pode, mesmo nas circunstâncias mais difíceis decidir o que será feito dele, mental e espiritualmente. Uma vida activa pode dar ao homem a oportunidade de realizar valores num trabalho criativo, enquanto a vida passiva de fruição lhe concede a oportunidade de se realizar mediante a experiência da beleza, da arte e da natureza. Se existe um sentido na vida então tem de haver um sentido no sofrimento. O sofrimento é parte inextirpável da vida tal como o destino e a morte. Sem o sofrimento e a morte  a vida humana não está completa. A forma como o homem aceita o seu destino e todo o sofrimento que ele acarreta, a forma como ele carrega a sua cruz concede-lhe bastas oportunidades - de mesmo nas circunstâncias mais difíceis – para dar sentido à sua vida. Quando um homem descobre que  o seu destino é sofrer, terá de aceitar esse sofrimento. Terá que reconhecer o facto de que, até mesmo no sofrimento não é o único e não está só no universo. Ninguém pode libertá-lo do sofrimento ou sofrer em seu lugar. A sua oportunidade única reside na forma como carrega o seu fardo. Disse também aos seus camaradas que a vida humana, fosse quais fossem as circunstâncias, nunca deixaria de ter sentido e que esse significado infinito da vida incluiria o sofrimento e a decadência física, as provações e a morte.

2-Logoterapia  Para Frankl a logoterapia afasta-se da psicanálise na medida em que considera o Homem um ser cuja principal preocupação é o preenchimento de um sentido e não a mera gratificação e satisfação de impulsos e instintos, ou, a mera reconciliação de pretensões conflituantes do id, ego e superego ou a mera adaptação  e ajustamento à sociedade e ao meio ambiente.

Na parte final do livro Frankl diz o seguinte: « Nos campos de concentração pudemos ver e testemunhar como camaradas se comportavam como porcos enquanto outros agiam como Santos. O Homem tem ambas as capacidades  dentro de si mesmo; qual delas é transformada em acto depende de decisões mas não das condições. O Homem é esse ser que inventou as câmaras de gás em Auschwitz ; no entanto é igualmente o ser  que entrou nas câmaras de gás de cabeça erguida com o Pai Nosso na boca ou Shema Israel nos lábios. »

publicado por pontodemira às 22:42
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