Segunda-feira, 20 de Dezembro de 2021

A arte de viver em Deus- A imaginação cristão para elevar o real

 

Este é o título de  um livro escrito por Timothy Radcliffe biblista e teólogo. É frade dominicano, formado em Oxford e Paris. Foi Mestre-Geral da Ordem dos Pregadores entre 1991 e 2001. Actualmente desempenha as funções de docente em Oxford  e de consultor do Pontifício Conselho de « Justiça e Paz », sendo frequentemente solicitado para conferências e palestras em todo o mundo.

Gostei muito de ler este livro pois pude reforçar a minha fé em Deus e também o recomendo tanto a crentes como a agnósticos. Afinal o que vem a ser a arte de viver em DEUS ?  Se Deus criou o Universo e o Homem também nós devemos corresponder amando Deus e ao próximo como a nós mesmos. No dia a dia devemos pôr em prática aquilo que Jesus nos ensinou por palavras e por obras. Somos seres sociais e por isso devemos na comunidade em que vivemos ser solidários e colaborantes e partilharmos sempre que seja possível o pouco que temos com os que precisam da nossa ajuda. Não podemos ficar insensíveis à miséria e à exclusão. Temos que fazer como o bom Samaritano que nos relata o Evangelho e que não ficou indiferente ao sofrimento do que estava caído na estrada. Temos também que saber perdoar como o pai fez com o filho pródigo que também nos relata o Evangelho.

Para chegar ao transcendente também podemos fazer uso da nossa imaginação. Quando apreciamos a beleza da natureza, um concerto musical, uma bela pintura ou poesia, uma obra de arte a nossa imaginação também nos conduz a Deus. O mesmo acontece com a liturgia da Igreja e com os Salmos que lemos na Bíblia. Para Einstein « a imaginação é mais importante do que o conhecimento. De facto o conhecimento restringe-se a tudo o que agora conhecemos, ao passo a imaginação abarca o mundo inteiro e tudo quanto existirá para conhecer e compreender »

À imaginação cristã opem-se hoje a imaginação tecnológica. As pessoas perdem demasiado tempo com os smartphones,com as redes sociais como o facebook e outras tecnologias. É claro que a ciência e tecnologia são importantes mas as pessoas também podem ficar prisioneiras delas. Quando ficamos enredados num modo de ver as coisas somos como uma mosca presa dentro de uma garrafa, esbarrando contra as paredes e incapaz de sair conforme o exemplo que nos dá  o filósofo Wittgenstein a propósito de uma imagem que nos mantem  cativos e que reside na nossa linguagem. O nosso desafio é também libertar a nossa imaginação do cativeiro e da visão do mundo que nos cega para nossa unidade em Cristo.

Numa grande parte do livro o autor vai abordar o modo como o Evangelho nos incita a seguir o verdadeiro caminho para Deus. Na 1ª secção VIAJAR acompanhamos os discípulos de Jesus no seu caminho para Jerusalém. Na 2ª secção ENSINANDO- Jesus ensina os discípulos a abraçar a abundância da vida e os conselhos que dá sobre a amizade e a renúncia à violência. Na secção final A  VIDA RESSURGIDA, o autor explica como partilhar  a vida do Senhor ressuscitado no plano espiritual e físico através da justiça, da liturgia e da oração. Nos primeiros séculos o cristianismo teve de combater duas teorias dualistas: o gnosticismo e o maniqueísmo. O gnosticismo entendia que só através da vida espiritual e pela fuga ao corpo nos podíamos salvar. O maniqueísmo imaginava que havia um profundo antagonismo entre o espiritual (alma) e o físico (corpo). Santo Agostinho foi durante muito tempo maniqueísta enquanto não se converteu ao cristianismo.

Na parte final do livro Timothy Radcliffe conclui o seguinte: «Nada do que é humano é estranho a Cristo. O que arruína a fé em Deus não é o ateísmo ou secularismo mas a globalização da superficialidade. Toda a civilização digna desse nome levanta questões fundamentais a saber: porque é que existe algo em vez de nada? Onde reside a felicidade humana ?  Quem quer que mergulhe com fé  ou sem ela , na  complexidade do ser humano, no acto de se apaixonar, no conflito de conceder o perdão, na descoberta de si como desordem e caos, na tentativa de entender a sua vida, é nosso aliado. O corpo não é uma prisão de que devemos libertar-nos. O corpo está aberto ao amor do outro e à encarnação daquele que é Amor. Como nos furtaremos à sedução da violência ou ao fascínio do dinheiro, do Reino da Mamona e às garras da imaginação tecnocrática ? Como descobriremos que o estranho é nosso irmão ou   irmã ?Como manteremos vivo o sentido de que vivemos num mundo de dádivas e de nem tudo é mercadoria ? »

A resposta a estas perguntas poderão ajudar-nos tornar o mundo mais humano, mais justo e pacífico e a seguir o verdadeiro caminho para Deus.

 

publicado por pontodemira às 19:14
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