Este é o título de um livro escrito por Rutger Bregman, historiador e escritor holandês e um dos jovens pensadores europeus de maior destaque. Este livro foi um bestseller do New York Time e do Sunday Time e também o livro do ano do Guardian.
Ao longo dos séculos tem havido guerras, conflitos entre nações, perseguições e segregações religiosas e raciais. Será possível construir a Paz ou a natureza do homem não o permite? Há dois filósofos que tratam especificamente deste tema. Rousseau no século XVIII diz-nos que o homem é naturalmente bom e só quando deixou de ser nómada e se fixou à terra e se tornou agricultor é que começaram a surgir os conflitos. Para Hobbe (século XVI ) os homens são por natureza maus e sempre viveram em guerra uns com os outros ( bellum omnium contra omnes- guerra de todos contra todos )
É claro que há pessoas boas e más, egoístas e altruístas, mas se folhearmos o livro do historiador Rutger verificamos através de inúmeros exemplos que a maioria das pessoas é bastante digna e em situações de perigo há colaboração e inter-ajuda . E vou citar alguns exemplos : Durante a 1ª Guerra Mundial soldados ingleses e alemães no dia de Natal saíram das trincheiras e cantaram cânticos da época natalícia. Alguns chegaram mesmo a trocar lembranças e a cumprimentarem-se. Em 1943 um contingente americano tentou tomar uma ilha do Pacífico que estava sobre o jugo japonês. Apesar dos americanos serem em maior número os japoneses conseguem irromper pelas fileiras norte-americanas. O coronel Marshall em terra observava o que estava a passar. No dia seguinte reuniu os soldados e veio a saber que 15 a 25 % dos soldados não tinha chegado a disparar e que no momento decisivo a esmagadora maioria hesitava e só conseguiu identificar 36 que tinham carregado no gatilho. Para o sociólogo Collins « os humanos estão programados para a solidariedade e é isso que dificulta a violência. Em 7 de Setembro de 1940, atravessaram o Canal da Mancha 348 bombardeiros alemães que arrasaram quarteirões inteiros em Londres. Foram destruídos um milhão de edifícios e 40 000 pessoas perderam a vida no Reino Unido. Numa situação destas toda a gente se entreajudava e ninguém queria saber da posição política dos outros, fossem ricos ou pobres. Nos ataques terroristas do 11 de Setembro às Torres gémeas muitas pessoas morreram para salvar outras que estavam em perigo de vida.
Porque se tornam as pessoas más pessoas boas ? Durante dezenas de milhares de anos vagueámos pelo mundo como nómadas e mantinhamo-nos bem longe dos conflitos. Não fazíamos guerra e não construíamos campos de concentração. E tudo começou com o desenvolvimento da propriedade e da agricultura. Segundo o autor do livro o que vem a tornar as pessoas más são a empatia que cega, o poder que corrompe e os erros do iluminismo. A empatia é algo que sentimos por quem nos é próximo. A verdadeira empatia e a xenofobia andam de mãos dadas. A 2ª Guerra mundial foi uma luta heroica em que a amizade, a lealdade, a solidariedade- as melhores qualidades da humanidade- inspiraram milhões de homens comuns a perpetrar o pior massacre da história. O poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente. Este é o comentário do historiador Lord Actor no século XIX. Enquanto os chefes de tribos nómadas era todos modéstia, os reis proclamavam reinar por direito divino ou por eles próprios serem deuses. Os filósofos iluministas tinham fé apenas no pensamento racional. E convenceram-se que podiam conceber instituições inteligentes que tivessem em conta o nosso egoísmo inato. Se o Iluminismo nos deu a igualdade, também inventou o racismo. Os filósofos do século XVIII foram os primeiros a classificar os humanos em« raças » diferentes. David Hume escreveu que se inclinava a suspeitar que os negros são naturalmente inferiores aos brancos e Voltaire concordava: « Se o seu raciocínio não é de uma natureza diferente do nosso, é pelo menos bastante inferior.»
Para Rutger Bregman é tempo para defender a bondade humana. É tempo de novo realismo e de uma nova visão da humanidade.. O filósofo Willian James professava que algumas coisas deviam ser aceites por fé, mesmo que não possamos provar que são verdade. Assim a amizade,o amor, a confiança e a lealdade tornam-se verdadeiros precisamente porque acreditamos nelas. O « logro» por esperança era preferível ao «logro» por medo. Tal como o ódio também a confiança pode ser contagiosa. A confiança muitas vezes começa quando alguém se atreve a ir contra a maré. O autor apresenta casos de gestores com fé absoluta no seu pessoal; professores que dão rédea solta aos alunos para brincar e representantes que tratam os eleitores como cidadãos criativos e empenhados.
Na parte final do livro ( Epílogo ) o autor apresenta 10 regras por que pautar a vida:
1-Na dúvida assumir o melhor. È mais realista assumir o melhor.A maioria das pessoas tem boas intenções.2- Pensar em cenários em que todos ganham. A maravilha é que vivemos num mundo onde fazer o bem também nos faz sentir bem. Perdoar também funciona no nosso interesse próprio pois deixamos de gastar energia em antipatia e ressentimentos. 3-Fazer mais perguntas. É dar as palavras aos cidadãos como na democracia participativa de Porto Alegre no Brasil em que são os cidadãos que indicam o destino das verbas orçamentais.4- Moderar a empatia, treinar a compaixão. Existe alguma evidência científica em que a meditação pode treinar a compaixão. 5-Tentar compreender o outro mesmo sem perceber a sua atitude. Isto sem que tenhamos de concordar com ele 6-Amar os nossos como os outros amam os deles. Se perdermos de vista a família e os amigos como podemos carregar os fardos do mundo. Temos também de compreender que esses outros, esses desconhecido distantes, também têm famílias que amam. Que são humanos como nós.7- Evitar as notícias. Diz o historiador que se mantém longe das notícias da televisão e de que as substitui pela leitura de um jornal ao domingo com artigos de fundo. E que tira os olhos do ecrã para se encontrar com pessoas reais de carne e osso. 8-Não esmurrar nazis. Esmurrar nazis só reforça o extremismo. Valida a sua visão do mundo e torna mais fácil atrair recrutas.
9- Sair do armário. Não ter vergonha de fazer boas ações. Ao encobrirmos as boas acções colocamo-las em quarentena onde não podem servir de exemplo aos outros. Inspirar os outros não requer pavonearmos as nossas acções e defender o bem não significa fazermos alarde de nós próprios. No Sermão da Montanha Jesus disse: « Não se pode esconder uma cidade situada no cimo de um monte; nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas em cima do velador e assim alumiar os que estão em casa. Brilhe a vossa luz diante dos homens de modo que, vendo as vossas obras, glorifiquem vosso Pai, que está nos Céus. 10- Ser realista. Vivemos no planeta A onde as pessoas se sentem profundamente inclinadas a ser boas umas como as outras. Por isso, sejamos realistas e corajosos. Sejamos fieis à nossa natureza e ofereçamos a nossa confiança. Façamos o bem à vista de todos e não tenhamos vergonha da nossa generosidade.
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