Este é o título de um livro escrito por Noreena Hertz, doutorada pela Universidade de Cambridge, economista, professora e comunicadora. Para a autora deste livro a solidão não tem a ver apenas com a crise pandémica que estamos a viver mas tem de ser encarada de um ponto de vista holístico ou seja nas múltiplas causas que estão na sua origem e nos múltiplos efeitos que está a provocar.
Logo na Introdução diz-nos que o século XXI é o século mais solitário de que temos conhecimento. A solidão existe em todos os continentes. No Japão por exemplo, os crimes cometidos por pessoas com mais de 60 anos quadruplicou nas últimas décadas. Há uma quantidade significativa de mulheres idosas que optam pela prisão como forma de escapar ao sentimento de isolamento social. Muitas descrevem a prisão como uma maneira de criarem para si uma comunidade a que não conseguem aceder em casa. No Reino Unido 2/5 de todos os idosos indicaram em 2014 que a televisão era a sua companhia principal. Em Tianjin, na China, um avô de 85 ano alcançou fama internacional em 2017 ao publicar o seguinte anúncio na paragem de um autocarro local « Homem só na casa dos 80 anos. A minha esperança é ser adaptado por uma pessoa ou uma família de bom coração. » Tragicamente morreu 3 meses depois. Muitos vizinhos demoraram duas semanas a reparar que já não andava por ali.
E quais são os efeitos que a solidão provoca ? A investigação mostra que a solidão é pior para a nossa saúde do que não praticar exercício físico, tão nocivo como o alcoolismo e duas vezes mais prejudicial para a obesidade. Estatisticamente a solidão equivale a fumar 15 cigarros por dia. A solidão pode também desencadear efeitos económicos e políticos. No Reino Unido, estima-se que as pessoas solitárias com mais de 50 anos custam ao Serviço Nacional de Saúde 1,8 mil milhões de libras. Por outro lado a solidão e o populismo de direita andam de mãos dadas e provocam divisões e extremismos nos EUA, na Europa e em todo o planeta.
Afinal o que é a solidão ? Podemos estar fisicamente rodeados de pessoas e sentirmo-nos sós, ou estar sozinhos e não ter solidão. A solidão tem a ver não apenas com a falta de apoio num contexto social ou familiar mas também no sentimento de termos sido excluídos política e economicamente.
Quais foram os factores que desencadearam a solidão ? As coisas não acontecem por acaso. Há uma fusão de causas e acontecimentos que explicam como nos tornámos tão solitários e atomizados. Os nossos smartphones e em particular as redes sociais desempenharam um papel determinante: roubaram a nossa atenção e afastando-a das pessoas em volta alimentaram o que há de pior em nós. A discriminação racial, étnica ou xenófoba no trabalho ou no local da residência aumenta 21% as possibilidades de solidão. A migração em grande escala para as cidades, a reorganização radical do espaço de trabalho e modificações fundamentais na forma de viver também são factores críticos. As políticas governamentais de austeridade asfixiaram bibliotecas, parques públicos, campos de jogos e centros juvenis e comunitários em várias partes do mundo. O neoliberalismo fez com que nos encarássemos a nós mesmos como competidores e não colaboradores, consumidores e não cidadãos, açambarcadores e não partilhadores, tomadores e não dadores, vigaristas e não auxiliadores, pessoas que nem sequer sabem o nome do vizinho. A verdade é que para não nos sentirmos sós precisamos de dar e receber, temos de religar o capitalismo à busca do bem-comum e colocar o cuidado, a compaixão, a cooperação no seu âmago estendendo estes comportamentos às pessoas que são diferentes de nós.
Na parte final do livro Noreea Hertz dá alguns conselhos para unir o mundo que está a desmembrar-se. Esta união só se consegue com a ajuda de todos: governo, sector empresarial e de nós todos. É necessário associar de novo o capitalismo ao cuidado e à compaixão. E tudo isto, acrescento eu , está em consonância com o que pensa o Papa Francisco.. É necessário depois criar uma forma de capitalismo mais cooperativo que produza resultados, não apenas no plano económico mas também social. É preciso garantir uma rede de segurança social significativa em que as metas orçamentais dos governos estejam alinhadas com o bem-estar geral dos cidadãos e que sejam consideradas as desigualdades estruturais no que toca à etnia e ao género. É fundamental também que as pessoas se sintam vistas e ouvidas. A democracia representativa tem duas consequências inevitáveis: não são atendidas as preocupações de toda a gente e nem todas as opiniões recebem o mesmo grau de atenção. Por mais atomizados e polarizados que estejam os países, as cidades e as comunidades é passando o tempo com as pessoas diferentes de nós e exercitando os nossos músculos de cooperação, compaixão e consideração que podemos sentirmo-nos mais interligados e desenvolvermos uma noção de destino partilhado e de pertença.
A autora termina o livro dizendo que o futuro está nas nossas mãos. Precisamos de nos apressar menos e de parar mais par conversar, quer seja com o vizinho por quem passamos tantas vezes, mas a quem nunca dirigimos a palavra, um desconhecido que se perdeu ou de alguém que se sente visivelmente só. Precisamos de nos libertar das nossas auto-asfixiantes bolhas de privacidade digitais e relacionarmo-nos com as pessoas à nossa volta. E para finalizar conclui: « quanto mais negligenciarmos a nossa responsabilidade menos competentes seremos a fazer todas estas coisas e menos humana será a nossa sociedade. O antídoto para o Século da Solidão em última análise é apenas estarmos sempre disponíveis para o outro, independentemente de quem esse outro seja.
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