Quinta-feira, 11 de Fevereiro de 2021

SONHEMOS JUNTOSO- CAMINHO PARA UM FUTURO MELHOR - PAPA FRANCISCO

 

Este é um livro que surgiu em tempo de confinamento e que resultou de uma entrevista que o papa Francisco concedeu a Austen Ivereigh, escritor e jornalista britânico e autor de duas biografias do Papa. Da conversa que teve com o papa sugeriu-lhe a redacção de um livro que lhe desse espaço para desenvolver as suas ideias e as pôr à disposição de um público mais vasto. E assim surgiu este livro que comprei numa loja que vende jornais e revistas.

No prólogo o Papa Francisco diz-nos que em momentos de crise vê-se o bem e o mal : as pessoas mostram-se como são. Algumas dedicam tempo a servir os necessitados, enquanto outras enriquecem à custa da necessidade dos demais. Deus quer construir o mundo connosco como colaboradores a todo o momento. Convidou-nos a que nos unamos a Ele desde o princípio, em tempos de paz e em tempo de crise: desde sempre e para sempre. O futuro não depende de um mecanismo invisível e no qual os humanos não são espectadores passivos. Quando o Senhor nos pede que sejamos fecundos, que dominemos a Terra, o que está a dizer é “ sede cocriadores do futuro “. Colocamos a máscara para nos protegermos a nós mesmos e aos outros de um vírus que não podemos ver. Mas que fazemos com os restantes que não  podemos ver ?  Como podemos encarar as pandemias da fome, da violência e da mudança climática ?  Precisamos de economias que permitam a todos o acesso aos frutos da criação e às necessidades básicas da vida : terra, teto e trabalho. Milhões de pessoas perguntam a si mesmas entre si onde poderíamos encontrar Deus nesta crise. O que me vem à mente é a imagem do transbordar de um rio. Na sociedade, a misericórdia de Deus brota nestes  “ momentos de transbordo “. O transbordo encontra-se no sofrimento que esta crise deixou exposta e na actividade  com que tantos procuram responder a ela. Vejo um transbordo de misericórdia derramando-se ao nosso redor. O Papa Francisco expõe o seu pensamento ao longo do livro que está dividido em três partes: Um tempo para ver, um tempo para escolher e um tempo para agir.

1-Um Tempo para Ver-  Logo no começo o Papa Francisco faz as seguinte perguntas :  Como nos tornámos cegos à beleza da criação ? Como nos esquecemos dos dons de Deus e dos nossos irmãos ? Como podemos explicar que vivemos num mundo onde a natureza está sufocada, onde os vírus se propagam como o fogo e causam o desmoronamento das nossas sociedades, onde a pobreza mais dilacerante convive com a riqueza mais inconcebível, onde povos inteiros -como os robingyas – estão relegados para a lixeira ? Os caminhos que impedem de ver a realidade e de reagir a ela são : o narcisismo, o desânimo e o pessismismo. O Papa Francisco lembra que na Encíclica  “Laudato Si “  chama a atenção para a necessidade de uma conversão ecológica., não apenas para evitar que a humanidade destrua a natureza mas também para evitar que se destrua a si própria. E faz um apelo à “ ecologia integral “  ou seja cuidar não apenas da natureza mas também uns dos outros como criaturas de um Deus que nos ama. Por outras palavras se pensas que o aborto, a eutanásia e a pena de morte são aceitáveis o teu coração terá dificuldade em preocupar-se com a contaminação dos rios e com a destruição das florestas. É necessário um novo humanismo que possa canalizar a irrupção de fraternidade e pôr fim à globalização da indiferença e à hiperinflação do individual.

2-Um Tempo para Escolher- O Papa Francisco chama a  atenção para os princípios orientadores da nossa escolha e que constam da Doutrina Social da Igreja ( DSI ) Esses princípios são: o bem comum e o destino universal dos bens. A igreja pede-nos que tenhamos em vista o bem de toda a sociedade, o bem que partilhamos, o bem do povo no seu todo assim como os bens  a que cada um deveria ter acesso. Por outro lado toda a gente ter acesso aos bens da vida : Terra , Teto e Trabalho. Deus planeou os bens da Terra para todos sem excluir ninguém. A  DSI mencionou ainda mis dois princípios: solidariedade e subsidiariedade. A solidariedade diz-nos que temos deveres para com os outros e que somos chamados a participar  na sociedade. Isto significa perdoar dívidas, acolher os deficientes e trabalhar para que os sonhos e esperanças dos outros se convertam nos nossos.  A subsidiariedade diz-nos que devemos respeitar a autonomia dos outros, como sujeitos capazes do seu destino. Chama também a atenção para as escolhas que devemos fazer. Se queremos proteger e regenerar a Mãe Terra então temos que pôr de lado um modelo económico que considera o crescimento a qualquer preço como o seu principal objectvo. A expansão ilimitada da produtividade e do consumo vai provocar um desastre ambiental. E nós somos  parte da criação e não donos dela. Mais à frente o Papa diz que as mulheres foram as mais afectadas e mais resilientes nesta crise. São elas as que tendem a trabalhar nos sectores mais afectados pela pandemia a nível mundial. Cerca de 70% dos que trabalham na saúde são mulheres. Assume ainda como pressuposto que as mulheres qualificadas devem ter igual acesso à liderança, salários equivalentes e outras oportunidades. O Vaticano está a dar o exemplo nomeando mulheres para cargos importantes. Assim no Dicastério para  Leigos, a Família e a Vida, os dois subsecretários são mulheres; o Director do Museu do Vaticano é uma mulher e na Secretaria de Estado ou Chancelaria o subsecretário da secção para as Relações com os Estados é uma mulher.

Para dar unidade à Igreja e acabar com desacordos paralisantes o Papa no seu pontificado já convocou três Sínodos: Sobre a Família, sobre os jovens e sobre a Amazónia. A palavra sínodo vem do grego syn-odos que significa caminhar juntos. A falta de celebração da missa dominical nalgumas regiões da Amazónia não se deve exclusivamente à falta de ministros ordenados mas também à escassez de missionários  na Amazónia. Muitos sacerdotes de nove países que fazem fronteira com a Amazónia ofereceram resistência a serem enviados como missionários para a região

3-Um Tempo para Agir- O modelo do laissez faire centrado no mercado, confunde fins e meios. O lucro converte-se na meta a atingir em vez de meio para alcançar bens maiores. E a ideia de que a riqueza se progredir descontroladamente criará prosperidade para todos é falsa como já ficou provado.  As desigualdades sociais são bem latentes. A dignidade dos nossos povos exige corredores seguros para os migrantes e refugiados. Temos de acolher, promover e integrar aqueles que chegam à procura de uma vida melhor para si mesmos e família. A ideologia neodarwinista da sobrevivência do mais forte apoiada por um mercado desenfreado e obcecado pelo lucro e pela soberania individual, penetrou e endureceu os nossos corações. O populismo gera medo e semeia pânico:  são a exploração da angústia popular não são o seu remédio. E o Papa conclui que não sairemos desta crise senão aceitarmos um princípio de solidariedade entre os povos. E acrescenta: «necessitamos de políticos apaixonados pela missão de garantir para todo o povo os três T : Terra, Teto e Trabalho. Se pusermos a Terra, a habitação e o trabalho digno para todos no centro das nossas acções estaremos a restaurar a dignidade.

Veremos agora o que o Papa Francisco diz sob os Três  T:

TERRA-Os bens e os recursos da terra são destinados a todos. O ar fresco, a água limpa e uma dieta equilibrada são vitais para a saúde e o bem-estar dos nossos povos. Ponhamos a regeneração da terra e o acesso universal aos seus bens no centro do nosso futuro pós-covid.

TETO- É preciso humanizar o nosso ambiente urbano: assegurar habitações sustentáveis e adequadas para as famílias, dignificar as zonas periféricas das nossas cidades integrando-as por meio de políticas sociais.

TRABALHO- O nosso trabalho é condição fundamental para a nossa dignidade e bem-estar. Como será o nosso   futuro quando 40% ou 50% dos jovens não tiverem trabalho. O assistencialismo é por vezes necessário mas o mais importante é contribuir para uma vida digna, ganha com o seu trabalho. O Papa sugeriu ainda um rendimento básico universal ( UBI ) a todos os cidadãos que poderia distribuir através de um sistema de impostos. Sugeriu ainda uma redução do horário de trabalho, ou seja, trabalhando menos para que mais gente tenha acesso ao mercado laboral . Tudo isto em vez dos falsos pressupostos da famosa teoria do derrame segundo a qual uma economia em crescimento nos fará mais ricos a todo.

  Estas sugestões abrem caminho para um futuro melhor.

publicado por pontodemira às 19:27
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Quinta-feira, 4 de Fevereiro de 2021

EUTANÁSIA: SIM OU NÃO

 

A vida é feita  de momentos bons e de outros maus, de alegrias e de tristezas. Há também momentos em que somos felizes e outros em que somos abatidos pelo sofrimento. Actualmente estamos a viver momentos dramáticos com a pandemia covid19 que está a matar todos os dias  milhares de pessoas em todo o mundo

E foi precisamente agora que foi aprovada na Assembleia da República uma Lei que permite a eutanásia. Trata-se de uma lei fracturante  que divide a sociedade em dois grupos divergentes. Há os que defendem a eutanásia e os que são contra. O segundo grupo, dos que estão contra, é constituído na sua grande maioria por cristãos ( católicos, protestantes, evangélicos, etc). Para os crentes a vida tem sentido.  Sabem que Deus criou o mundo e o homem e que Deus nunca os abandona nem nos momentos  mais difíceis ou de sofrimento. A vida é um dom gratuito de Deus e há que respeitá-la. No primeiro grupo estão os cépticos para quem a vida não tem qualquer sentido e o remédio neste caso é  pôr fim ao sofrimento pelo suicídio ou através da morte assistida. Este é o desespero de quem acredita que não há vida para além desta e que tudo acaba quando morrermos. Ao absurdo da vida só resta o absurdo do suicídio. E aqui vou citar o pensamento do Padre e Professor de Filosofia Anselmo Borges que na crónica que escreveu no dia 31-01-2021 no Diário de Notícias, com o título , O sentido da vida e o sofrimento, diz o seguinte : «  Há um pensamento radical que põe o pensamento em sobressalto.  Cada um de nós sabe que não esteve sempre no mundo, isto é, que nem sempre existiu e que não existirá sempre. Houve um tempo em que ainda não existíamos, ainda não vivíamos e haverá um tempo em que já não existiremos, já não viveremos cá, deixaremos de viver neste mundo . Nesta constatação experienciamos que somos de nós, somos donos de nós- essa é a experiência da liberdade – mas não  nos pertencemos totalmente, não somos a nossa origem nem temos poder pleno sobre o nosso fim. Viemos ao mundo sem nós -ninguém nos perguntou se queríamos vir- e um dia a morte chega e leva-nos pura e simplesmente. Não nos colocámos a nós próprios na existência nem dispomos totalmente do nosso futuro, não somos o nosso fundamento. Aqui, perante a certeza de que nem sempre estive cá e de que não estarei cá sempre, pois morrerei, ergue-se, enorme, irrecusável, a pergunta:  donde vim ,? Para onde vou ? qual o sentido da minha existência ? que valor tem a minha vida ?   Esta pergunta formula-se em relação a todos os seres humanos, à vida em geral, a toda a realidade: porque há algo e não nada. E continua…    De facto o ser humano não pode viver sem sentido.  Aliás a existência humana está baseada na convicção do sentido. Há um pré-saber do sentido, de tal modo qua sua própria negação ainda o afirma. No limite, não é possível o “  suicídio lógico “, pois quem pegasse numa arma para suicidar-se, porque tudo é absurdo, estava a negar o absurdo e afirmar o sentido… »

Mas a Lei da Eutanásia pode esbarrar ainda com o artigo 24º da Constituição que nos diz que a vida é um direito inviolável. É óbvio e não temos dúvidas que se pretende condenar a pena de morte e que ninguém pode tirar a vida a outra pessoa. O que está em causa também é se a nossa liberdade nos permite que deleguemos noutra a capacidade de nos matar. Para os médicos existe o dever deontológico de preservar a vida e não de eliminá-la. Se a Lei chegar ao Tribunal Constitucional  iremos ver se  vai ser  ou não considerada inconstitucional.

 

publicado por pontodemira às 16:37
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