Este é o título de um livro no qual o Padre Vítor Melícias e o Prof. João César das Neves entram num diálogo provocador entre Religião e Economia. Este diálogo é moderado pelo jornalista Nicolau Santos
Não existe um modelo cristão de economia. Para a Igreja a Economia deve servir o Homem e o bem-estar público. O Prof JCN diz que aqui todos estamos de acordo mas isso nem sempre acontece. Para o Padre V M é preciso mudar o capitalismo dominado pelo sistema financeiro. No sistema capitalista o capital produz aquilo que mais lhe convém que é a acumulação de mais capital e a concentração de mais poder. A deslocalização de empresas tem como objectivo aproveitar a mão de obra mais barata para gerar mais lucros e não para embaratecer os produtos. O pobre porque não pode armazenar tem de vender em períodos de baixa e de comprar em períodos de alta. O rico pode comprar em períodos de baixa e vender em períodos de alta. Para alterar tudo isto é necessária a conversão de mentalidades e dos comportamentos. Todas as pessoas têm direito aos bens essenciais e a uma existência digna. Os bens que Deus criou são para uso e benefício de todos e não são propriedade exclusiva de ninguém. O direito de propriedade privada não elimina o direito universal ao uso em função da propriedade universal de todos os bens. Nos tempos modernos foi ganhando forma a chamada Economia Social integrando as cooperativas, as mutualidades, as misericórdias e outras associações e fundações de solidariedade. Todas estas instituições nos dizem que é preciso compatibilizar a moral com a Economia. Para o Prof.JCN o capitalismo tirou muita gente da pobreza e que hoje se vive melhor do que há 100 anos atrás. Os que estão a viver pior são os que vivem em situações de guerra, de epidemia e de exploração ou dissolução social como em países de África, na Venezuela ou em países Africanos. O Pe. VM não concorda que hoje se esteja a viver melhor pois as desigualdades provocam multidões de empobrecidos, de famintos, de deslocados e de migrantes forçados. A acumulação de riqueza deve ter um limite e por isso é necessário regulamentar o abuso da economia. Impõe-se uma reforma do sistema fiscal de forma a que haja taxas de impostos mais elevados e mais justas para milionários e bilionários. Para o Pe. VM quem domina a Economia é o Mercado. E o Mercado capitalista visa o lucro e o ganho de mais capital acumulável e não condicionar quanto às suas opções de aplicação em investimentos, em armas, em drogas e em indústrias poluentes ou coisas do género desde que deem lucro. É preciso uma Economia Social que invista na saúde, na formação profissional e nas possibilidades de trabalharem em igualdade de oportunidades. Talvez produzindo outro tipo de bens mas com a participação de todos e em concreto benefício de todos. A Economia que temos e que está agora a dominar o mundo, sufoca e mata a ética. Se uma pessoa decidir uma coisa eticamente correcta mas empresariamente inconveniente é pura e simplesmente posto no olho da rua. Para o Prof JCN a área económica é uma das poucas onde há consenso ético : toda a gente sabe onde está o bem e o mal. Isto não quer dizer que haja aldrabices. Mas há consenso. O problema está na ganância que todos temos porque somos seres humanos. Para o Pe. VM a ética que a Economia de Mercado mais precisa nem é a das pessoas individuais mas de uma ética colectiva de tipo institucional. Ambos concordam que é preciso uma Economia Humana de solidariedade universal, ecológica. Na Economia capitalista quem comanda e vota é o capital; nas entidades de Economia Social como são associações de pessoas deixa de haver capital de cada um dos participantes para haver capital institucional. Para o Papa Francisco a Economia que temos mata e que hoje impera a globalização da indiferença perante o sofrimento alheio e que há urgência de pensar e reformar a Economia vigente. Par o Prof JCN o Papa não está a falar desta economia aquela que temos mas da Economia de exclusão e da desigualdade social. O Papa também faz a distinção entre empresários e especuladores. O especulador não ama a sua empresa nem os trabalhadores mas só os vê como meios para produzir lucro. A Doutrina Social da Igreja contribui para a melhoria da Economia através de 3 grandes princípios: 1- o destino universal dos bens que está tão esquecido porque os capitalistas não gostam dele ; 2-a subsidiariedade ou seja a participação de todos segundo as próprias capacidades e poderes ;3- e a solidariedade quer humana quer ecológica
Na parte final do livro há uma discordância mais acentuada a respeito do capitalismo e da teoria de Adams Smith segundo a qual existe uma mão invisível que regula o Mercado. O Prof CN diz que tudo o que comemos vem do capitalismo, que é horrível, tem imensos defeitos mas sem eles não comíamos. O Pe. VM discorda e pergunta : Então e quando não havia capitalismo as pessoas não comiam nem bebiam ?
O jornalista Nicolau Santos admitiu que se está a verificar uma maior concentração da riqueza em grupos cada vez mais restritos e perguntou como isso se vai resolver. Para o Prof. JCN o capitalismo pode não ser um sistema perfeito mas todas as tentativas para o mudar como o fascismo e o marxismo fracassaram. Para o Pe. VM há que mudar algumas regras básicas desse mesmo sistema. É preciso que haja capacidade para todos participarem quer na produção, quer no uso e acesso a bens e mudar a lógica ou resignação de « vamos enriquecer alguns , pessoas ou países, para depois darem uma esmolinha aos pobrezinhos ». Para o Prof. JCN não há um sistema capitalista mas muitos sistemas capitalistas. O Pe. VM concorda mas diz que todos são filhos da mesma mãe , da mesma filosofia e da mesma lógica. O capitalismo não visa à nascença eliminar a pobreza nem se opõe ao crescimento das desigualdades. Será talvez favorável a remediar a pobreza mas não a evitá-la ou a erradicá-la. O Prof. JCN diz que isso é falso porque foi com o capitalismo que se deu cabo da pobreza. Essas discordâncias em relação ao capitalismo confirmam pois para o Prof. JCN que este é o melhor sistema. Mas o Pe. VM volta a discordar . Há pessoas a ir ao Mercado e não podem comprar porque não têm dinheiro. Outras estão desempregadas e ninguém lhe dá garantias que podem ir ao Mercado ou subir para o autocarro sem dinheiro para o bilhete. Os donos do capital não devem tomar decisões sozinhos mas nelas devem intervir trabalhadores, governos e Estados.
Como é que se pode melhorar o capitalismo? Perguntou o jornalista Nicolau Santos . Para o Pe. VM tem de haver uma conversão de mentalidades. Mesmo admitindo que diminui o número de pobres e aumenta a classe média a verdade é que dele resultam também injustiças e desigualdades. As grandes decisões não podem ser tomadas apenas pelos donos do capital e os que mexem os cordelinhos da finança. Os trabalhadores e todos os intervenientes no processo produtivo devem ser ouvidos. Se continuarmos a aceitar e a defender de que é impossível alterar as regras negativas do capitalismo porque também há aspectos positivos então é que não muda mesmo. O Prof. JCN entende que para salvar o sistema é preciso uma maior presença de Jesus e da Igreja nas coisas económicas, mudando a atitude das pessoas. Ninguém consegue controlar o sistema. Nem a finança, nem o Estado, nem a classe média. O sistema não existe é uma ficção. Para o Pe. VM se ninguém manda e ninguém controla temos arranjar maneira de o alterar. O bem comum e o interesse geral não pode andar descontrolado, sem comando nem orientação.
O jornalista Nicolau Santos refere segundo a revista Forbes as personalidades mais ricas do mundo: Jeff Bezos, Bill Gates, Warren Buffett, etc… O Prof. JCN diz que esses nomes não encaixam na definição de capitalismo que o Pe. VM usou. O Pe.VM respondeu que para ele encaixam todos. Aqueles que tiveram uma ideia produtiva acharam uma mina. E o mal não é terem ficado ricos, é o facto de passarem a usar a sua riqueza como capital, com os métodos e as finalidades do capitalismo mais e mais lucrativo. Incluem-se aqui os que têm acesso privilegiados a bens e os utilizam segundo as regras e fins do capitalismo sem preocupações de solidariedade, de equidade e não de exclusão. E vai mais longe acrescentando que um professor ou político que ensina, defende, divulga e justifica o capitalismo é capitalista mesmo que não seja endinheirado nem empresário. E termina concluindo: « Há que fazer tudo por tudo para reconciliar Deus e o Mercado. O Mercado quer que, pela liberdade, concorrência e eficácia todos e cada um tenha mais ; Deus quer que, pela fraternidade e solidariedade humana e ecológica todos e cada um, tendo mais sejam melhores » A conjugação entre Economia de Mercado e Economia de Deus estará em conseguir que, tendo todos mais bens, sejam todos mais irmãos.
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