Sexta-feira, 10 de Julho de 2020

CRIAÇÃO DIVINA- SEM PECADO HUMANO

 

Este é o título de um livro escrito por Armindo dos Santos Vaz, sacerdote Carmelita Teresiano e professor catedrático da Faculdade de Teologia da Universidade Católica. É doutorado em Teologia Bíblica pela Universidade Gregoriana de Roma.

Antes de entrar na explanação do conteúdo do livro, queria apenas dizer que a Bíblia não é um livro mas um conjunto de 73 livros , 47 do Antigo Testamento e 26 do Novo Testamento. Nos livros podemos verificar diversos géneros literários: saga, poesias, cartas, história e mito. O Livro do Génesis que narra a criação do Mundo e do Homem é uma narração  mítica de carácter simbólico. A Ciência diz que a Terra nasceu de um « big-bang »ao longo de milhões de anos até ao estado actual. O Homem segundo diz a teoria evolucionista também evoluiu ao longo de milhões de anos até atingir a capacidade racional e poder distinguir o bem do mal. A Igreja Católica não se opõe a estas teorias pois a Bíblia e a Ciência não estão em oposição mas complementam-se. Convém também esclarecer que a Bíblia não é um livro de Ciência . Quando Josué no Antigo Testamento nos diz que mandou parar o Sol ainda não se conhecia a teoria heliocêntrica de Galileu pois é a Terra que gira à volta Sol e não o contrário.

E depois desta  minha nota introdutória irei abordar os aspectos mais importantes do livro “ Criação Divina Sem Pecado Humano”. Nele se faz uma análise exaustiva do livro do Génesis nas suas variadas vertentes:  antropológica, filosófica e teológica . Como método de interpretação são utilizadas a exegese e a hermenêutica. A exegese para a análise literária e a hermenêutica para apurar a compreensão do texto. Dada a complexidade do livro irei resumir os aspectos mais relevantes.

Na história da interpretação do Génesis há a distinguir 3 fases:

1ª FaseLeitura historicista. Na 2ª metade do século XVI os comentadores da Bíblia pensavam que essas narrações deviam ser tomadas à letra como históricas.

2ª Fase  Leitura Concordista  A posição Concordista impôs-se particularmente no século XVIII quando se utilizaram dadas teorias científicas para mostrar que a Bíblia tinha razão.

3ª Fase   Leitura Crítica, Contextualizada.  O estudo comparativo do conteúdo do Gen 1-11 com as literaturas  descobertas no Antigo-Próximo Oriente ( egípcia, ugarítica e especialmente mesopotâmica ) mostra que os relatos bíblicos contêm numerosas correspondências com essas literaturas vizinhas e com as suas concepções cosmológicas, religiosas, num estreito contacto literário, cultural e religioso. E para a compreensão dos textos bíblicos sobre a criação interessa mais a percepção da índole literária dos textos.

Irei também sintetizar em poucas palavras os aspectos mais relevantes e também mais polémicos do livro

1.Signifcação de comer do fruto proibido

  1. a) O Génesis não fala de “ Adão e Eva “ como casal histórico mas sempre de homem e mulher prototípicos , personagens míticas que têm a função de aprofundar o sentido da vida de todos os humanos. O Génesis é também um relato etiológico pois procura interpretar, sublimar, compreender e justificar o sentido último, antropológico e negativo das coisas da vida por meio da fé. O Mundo e o Homem foram criados por Deus.
  2. b) Nos mitos paralelos do Antigo-Próximo Oriente aparecem também transgressões parecidas com o livro do Génesis como o homem de EnKidu na epopeia de Gilgamesh.
  3. c) Antes de comer do fruto proibido o casal ainda se encontrava em fase de construção e era incapaz de distinguir o bem do mal ; para se tornar civilizado precisava de pular a cerca e transpor em forma de transgressão a proibição divina descrita no estado anterior da criação. Se não houvesse transgressão os humanos não ficariam sujeitos à contingência. Neste caso não seriam propriamente humanos.( ter-se-iam convertido impossivelmente, em seres divinos). O Padre Armindo Vaz diz-nos também que o pecado teológico não é simplesmente uma lei moral mas sim um pacto espiritual: pecado é a ruptura de um compromisso recíproco de amor gratuito de Deus e ser humano. O casal primordial de Gen 2-3 ao comer do fruto proibido não cometeu o pecado com esse sentido, pois o texto nem menciona nenhum pacto de amizade entre Deus e o Homem. Não há portanto um pecado original nem este se transmite biologicamente de pais para filhos. A teologia cristã, com o especial contributo de Santo Agostinho contra o maniqueísmo, deu um explicação teológica da presença do mal moral no Mundo dizendo que não tem a ver com Deus: é de carácter histórico e provém do ser humano; não há mal moral sem o ser humano. Só que esta explicação não assenta na narração do Gen 2-3 porque esta não se situa no tempo e no plano histórico mas no contexto primordial da criação anterior à história propriamente dita : o narrado aqui não é história.

2-O que significa o castigo transgressão. A punição da transgressão no Gen 2-3 é uma forma de explicar as penas da vida presente. O facto de a serpente também ser abrangida pela sentença divina - do mesmo tipo que a aplicada ao homem e à mulher -  é a prova  inequívoca de que não estamos perante um castigo moral pois a serpente enquanto animal que é, não é sujeito capaz de actos humanos de responsabilidade e punição moral

O Padre Armindo Vaz termina o livro com a seguinte conclusão: Lida com a fecundidade dos mitos de origem , a história de Gen 2-3  é uma autêntica apologia do humano e diz  verdade da vida. Diz a verdade da condição humana bonita, instituindo de forma polar e complementar uma relação estável homem-mulher( 1ª parte )  dotado de conhecimento e de cultura ( 2ª parte ) mas limitada ,sofredora, mortal ( 3ª parte ). Diz a verdade suprema do homem e da mulher, ao afirmar, na fé, que provêm de Deus. Diz a verdade antropológica e teológica de todo o se humano. Longe de ser mera ficção, revela a verdade humana por excelência.

publicado por pontodemira às 08:35
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