Este é o título de um livro publicado pelo Círculo de Leitores ( Temas e Debates ) e em que o um jornalista da Revista Der Spiegel entrevista o economista George Soros sobre assuntos relacionados com a economia global e particularmente com a situação política da União Europeia.
George Soros nasceu na Hungria, estudou na London School of Economics e depois emigrou para Nova Iorque. É um dos homens mais ricos do Mundo com uma fortuna avaliada em 20 mil milhões de dólares em activos financeiros. Soros é também um filantropo e fundador de um rede global de fundações dedicadas à promoção de sociedades abertas .
Nas entrevista atrás referida o jornalista coloca a Soros as seguintes questões-chaves sobre a Europa:
A União Europeia acredita nos ideais que levaram à sua fundação ? ; Qual foi a causa da crise do euro e o que podemos aprender com os erros cometidos ? ;-Qual é a relação entre a política e os mercados ? ; - Para onde se dirige a União Europeia ? .
A todas estas questões Soros responde objectivamente com base nos conhecimentos e na experiência pessoal, esclarecendo o seguinte:
- A União Europeia criou dois problemas, um político e outro financeiro. O problema político é que a União Europeia que foi concebida para ser uma associação voluntária de Estados iguais se converteu numa relação entre credores e devedores em que, quando os devedores não conseguem pagar os credores ditam os termos. Isto proporciona aos credores uma muito maior influência sobre as políticas dos países devedores do que estes têm na política dos países credores. O problema financeiro é que a Alemanha para manter as suas obrigações a um nível mínimo força os países devedores a equilibrar os seus orçamentos, o que é a política errada em tempos de procura insuficiente quando se devia estimular a economia
- A Alemanha receia transformar-se no bolso sem fundo da Europa numa união de transferência. Esta atitude tem sido fatal para a União Europeia. Se pensarmos em Estados-Nações normais cada país é de alguma forma uma “ união de transferência”. São sempre as áreas mais produtivas e bem sucedidas de um país que têm de apoiar as regiões menos desenvolvidas. Normalmente são as áreas urbanas industrializadas a suportar as regiões rurais mais atrasadas. Se a chanceler Merkel estivesse realmente empenhada em preservar a União Europeia, a melhor forma de o fazer seria a criação de uma união bancária suportada por garantias pan-europeias e algum tipo de me mercado obrigatoriamente mutualizado.
- A crise do euro foi consequência directa da crise de 2008 e revelou falhas graves na construção do euro. Os países desenvolvidos com os seus próprios bancos centrais não incumprem, porque podem sempre imprimir dinheiro. As suas divisas podem desvalorizar normalmente mas o risco de incumprimento não surge. Para Soros a forma de salvar o euro seria a criação de eurobonds. Todas as dívidas públicas existentes seriam convertidas em eurobonds mas cada país seria responsável pelas suas próprias dívidas.
- No fim da última entrevista Soros diz que a oportunidade de introduzir transformações radicais nas regras de supervisão do euro fechou-se. A partir de agora as negociações serão meramente para alterações de pormenor. Com o Brexit deu-se um passo enorme em direcção à desintegração da União Europeia. A França é para Soros o doente da Europa. Foi dispensada de prémios de risco penalizantes devido à sua associação com a Alemanha mas o seu desempenho económico é inferior ao da Itália e da Espanha. A União Europeia perdeu a capacidade de propor mais adesões porque ela própria está em processo de desintegração. Isto reduziu drasticamente a sua influência no Mundo. A Rússia beneficiou do facto da Europa estar desunida e agora está a emergir como uma ameaça para a Europa. O número crescente de crises políticas por resolver em todo o mundo é um sintoma do colapso na governação global. Enquanto os problemas estruturais da união monetária não forem resolvidos e não for dada aos países atingidos pela crise uma verdadeira oportunidade para restabelecerem a sua competitividade a crise não terá fim. De tudo o que foi dito conclui-se que a concepção da moeda única teve muitas falhas. Todos sabiam que era uma moeda incompleta ; tinha um banco central mas não tinha um erário comum. A crise de 2008 veio revelar muitas outras deficiências. A mais importante foi que ao transferir o direito de imprimir dinheiro para um banco central independente, os países-membros correm o risco de incumprimento com os seu títulos de dívida .Ao transferir um direito par um banco central independente que nenhum Estado-membro controla, os Estados-membros colocam-se na posição de países do Terceiro Mundo que contraíram divida em moeda estrangeira. Em vez de uma associação entre iguais, a Zona Euro ficou dividida entre duas classes: credores e devedores. Numa crise financeira, são os credores que mandam. As políticas que estão a impor perpetuam a divisão porque os devedores têm de pagar prémios de riscos não apenas sobre os títulos de dívida como também no crédito bancário. O custo adicional de crédito, que é um fardo recorrente, torna praticamente impossível que os países altamente endividados recuperem a competitividade.
Para terminar a análise exaustiva de George Soros eu acrescentava que o crescimento por toda Europa de partidos populistas e xenófobos vai aumentar ainda mais o risco de uma desintegração europeia. Esperemos que haja uma reversão desta tendência e que a união política e o consenso prevaleça para bem da Europa.