Ao longo dos séculos a longevidade dos seres humanos tem vindo a aumentar. A partir de meados do século XX só quatro em cada cem pessoas em países industrializados morriam antes dos trinta anos. Este progresso deve-se ao desenvolvimento da medicina, ao aparecimento de vacinas e de outros medicamentos que que eliminam certas doenças malignas e na maior parte dos casos mortais. Este tema é abordado em todos os seus pormenores no livro “ Ser Mortal “ , escrito pelo médico cirurgião americano de origem indiana, Atul Gawande. Irei escrever uma síntese do livro fazendo referência aos aspectos mais relevantes e de maior interesse.
É um facto que com a idade avançada começam a surgir as doenças. Muitos órgãos do corpo humano entram em falência. Depois dos 85 anos 40% não tem nenhum dente. O cálcio começa a sair do esqueleto e a entranhar-se nos tecidos. As veias ficam mais estreitas e rígidas e o coração tem de gerar mais pressão. Devido a este esforço para bombear o sangue o coração fica com as paredes mais grossas e o seu rendimento diminui. Por volta dos 40 anos começamos a perder massa muscular e força. A nossa capacidade pulmonar diminui e o mesmo se passa com a memória e o discernimento. O ADN das nossas células é frequentemente danificado mas tem capacidade para se renovar. Se um gene ficar com danos há cópias extra, disponíveis, no gene e se uma célula inteira morrer pode ser substituído por outras. Mas tudo isto tem um limite. O cabelo torna-se grisalho porque se esgotam as células de pigmentação que dão cor ao cabelo. Mas o reservatório das células estaminais esgota-se. Aos 50 anos metade do cabelo de uma pessoa fica grisalho. No interior das células da pele, os mecanismos que eliminam os desperdícios avariam aos poucos e os resíduos acabam por formar um coágulo de pigmento castanho-amarelado conhecido por lipofuscina. São as manchas da idade que vemos na pele. Quando a lipofuscina se acumula nas glândulas sudoríperas estas deixam de funcionar. Desta forma resulta que na velhice ficamos mais vulneráveis às insulações e ao cansaço pelo calor. Com a idade ocorre também o enevoamento esbranquiçado do cristalino e a qualidade da luz que chega à retina de um sexagenário saudável é um terço da de um jovem de 20 anos. A todos estes factos Atul Gawande designa como “ O Mundo que Desmorona “.
Uma pessoa a quem tenha sido diagnosticada a doença de Alzheimer ou a doença de Parkinson ou as que tenham sofrido um AVC e perdido as suas capacidades motoras são naturalmente dependentes e a precisar de cuidados médicos ou de assistência permanente. A família destes doentes não tem, na maioria dos casos, possibilidade de as atender a tempo inteiro. Surgiram então ao longo dos anos instituições para resolver estes casos: asilos, lares e hospitais. Nos Estados Unidos foram até criadas “ residências com assistência à autonomia “ ou seja andares com sala , quarto de dormir e cozinha individuais para manter a privacidade dos utentes. Nalguns casos até se foi mais longe introduzindo no lar animais domésticos, plantas e até crianças. O objectivo era atacar o que se designou por as “ Três Pragas “ da vida de um lar: tédio, solidão e a impotência. Para combater estes efeito colocariam plantas em todos os quartos, e no sítio da relva cultivariam legumes e flores.
Quando as capacidades das pessoas se deterioram por causa da idade ou degradação do estado de saúde o que é que se deve tentar reparar e quando se deve deixar as pessoas sossegadas ? Esta é uma pergunta que o dr. Atul Gawande faz. Uma outra questão que levanta é como deve ser a relação médico doente quando este está a sofrer e tem uma doença incurável Nesta situação há três tipos de relação a considerar: uma relação paternalista; uma relação informativa e uma relação interpretativa. Na relação paternalista o médico diz o que entende ser melhor para o doente e tenta convencê-lo. Na relação informativa dá-se a conhecer ao doente os vários tipos de tratamentos que podem ser aplicados e cabe a ele tomar uma decisão. Na relação interpretativa o papel do médico é ajudar o doente a determinar o que realmente quer. Neste caso o médico pergunta ao doente: Qual a coisa mais importante para si ? Quais são as suas preocupações ? Depois disso o médico vai indicar qual o tratamento apropriado para alcançar as finalidades indicadas. Há doentes que preferem os cuidados paliativos mas os que têm a expectativa de viver mais tempo optam pela quimioterapia e pela cirurgia dos tumores malignos.
Na parte final do livro o dr. Atul Gawande faz um balanço de tudo o que escreveu e diz o seguinte: “ Ser Mortal é ter de lutar com o constrangimento da nossa biologia, com as limitações impostas pelos genes e células, pela carne e pelos ossos. Temos andado enganados sobre o papel enquanto médicos. Achamos que o nosso papel é garantir a saúde e a sobrevivência. Todavia na realidade vai além disso. É possibilitar o bem-estar. E o bem-estar prende-se com razões pelas quais desejamos viver. Essas razões importam não só no fim da vida quando nos tornamos frágeis, mas durante toda a vida. Sempre que uma doença grave ou uma lesão nos ataca e o nosso corpo e a nossa mente vão abaixo as perguntas vitais são as mesmas: Que noção tem da sua situação e dos seus potenciais desfechos ? Quais são os seus receios e as suas esperanças ? Que cedência está disposto a fazer e o que não aceita ? E qual é a linha de conduta mais adequada para alimentar esses objectivos ? E para terminar acrescenta: “ Ser homem é ser limitado, então o papel das profissões e instituições de saúde, desde os cirurgiões aos lares, devia ser ajudar as pessoas na sua luta com essas limitações. Por vezes podem oferecer uma cura, outras vezes um bálsamo e outras ainda menos que isso. Mas seja o que for que tivermos para dar, as nossas intervenções e os riscos e sacrifícios que acarreta só se justificam se forem ao encontro dos objectivos mais altos de uma pessoa.”
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