Sábado, 29 de Setembro de 2018

Os grandes filósofos: Leibniz

                                        

 

1-Leibniz nasceu em Leipzig em 1646. Era filho de uma família de protestantes. Desde muito cedo aprendeu as línguas clássicas, grego e latim. Na Universidade de Leipzig onde o pai era professor estudou Direito, Filosofia e Matemática recebendo o mestrado em Filosofia. Ainda jovem leu autores escolásticos como São Tomás de Aquino e interessou-se pelos filósofos seus contemporâneos como Bacon, Hobbes , Descartes e Espinosa. A carreira diplomática deu-lhe oportunidade de percorrer vários países da Europa. Fundou várias Academias e entre elas a Academia de Ciências de Berlim. Em 1676 inventou o cálculo diferencial e desenvolveu o sistema aritmético binário que funcionou com dois signos ( 0,1) como também executou uma máquina calculadora que trabalhou com esses algoritmos. Diríamos que foi o percursor do sistema de numeração digital utilizado nos computadores. Os últimos 40 anos passou-os como bibliotecário em Hannover. Um dos seus últimos projectos foi unir as Igrejas Cristãs mas o seu plano fracassou. Morreu em 1776 em Hannover depois de uma vida de intenso labor intelectual.

2-Leibniz escreveu um leque variado de assuntos abrangendo matérias como a matemática, a física, história e sobretudo filosofia. As suas principais obras filosóficas são : Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano , Teodiceia, Discursos da Metafísica, Princípios da Natureza e da Graça Fundados na Razão e a Monodologia.

3-Como filósofo Leibniz desenvolveu temas muito diversos que vão desde a metafísica ao conhecimento e à Teodiceia ( justificação racional de Deus ) . Irei tratar cada um deles separadamente, embora de forma sumária mas tocando nos aspectos essenciais que esclareçam o fundamental do pensamento filosófico de Leibniz

Metafísica:

Para Leibniz a realidade é composta por uma infinidade de substâncias ( Mónades ). As mónades ( em grego significa unidade ) são indivisíveis e portanto inextensas. Não têm portas nem janelas para o exterior mas têm actividade ou força própria ( vis ) A actividade das mónades determina a seguinte hierarquia:

1-Há formas substanciais ou mónades simples que asseguram a unidade dos corpos compostos. 2- Vêm depois as mónades capazes de perceber ( percepção ) própria dos animais. 3-Num plano superior temos as mónades dos espíritos capazes de reflectir e de se conhecerem a si próprio, própria dos homens. 4- No topo da escala está a mónade Divina pois Deus é o monarca do Divino Estado Espiritual

Em conclusão diria que as mónades são simples porque inextensas embora algumas também desempenhem funções complexas como perceber ( alma ) e reflectir ( espírito ). Não se relacionam umas com as outras pois são autónomas. De qualquer forma vivem na mais perfeita harmonia. E aqui surge a teoria dos relógios ( mónades ) e do relojoeiro (Deus ). Deus conseguiu desde o início regular os vários relógios e colocá-los a funcionar em completa sincronia. A isto chama Leibniz a harmonia preestabelecida.

Deus-

Para Leiniz a existência de seres contingentes e finitos postula a existência de um Ente necessário e infinito do qual tudo procede. Esse ser necessário é Deus. ( ens a se ). Se esse Deus é possível existe. Se Deus é impossível também o são todos os outros seres que existem. Se não há um ser necessário não há entes possíveis. Tal como Santo Anselmo também Leibniz demonstrou a existência de Deus através da prova ontológica

Conhecimento.

Para Leibniz há dois tipos de conhecimento: as verdades de razão e verdades de facto. As verdades de razão são verdades necessárias e baseiam-se no princípio da não contradição. São por isso verdades à priori que nada têm a ver com a experiência. Quando dizemos que dois e dois são quatro ou que um triângulo tem três ângulos, estamos a afirmar verdades evidentes à priori. As verdades de facto são verdades contingentes baseadas na experiência e no princípio da razão suficiente. São as verdades da física e da história que têm de ser comprovadas.

Resumindo: o princípio da identidade ou não contradição fundamenta as verdades necessárias, ou seja, o Ser não pode Ser e deixar de ser ao mesmo tempo. Se eu disser que o triângulo tem 3 ângulos não posso conceber um que não os tenha. Por outro lado o princípio da razão suficiente diz-nos que tem de haver uma razão para fundamentar as verdades contingentes. Tem de existir uma razão para que exista algo mais do que nada, já que algo existe.

Ideia

Todas as ideias são para Leibniz inatas e procedem da actividade interna das mónadas. Ao velho adágio latino e aristotélico que diz : “ nada está no intelecto que não tenha passado pelos sentidos, Leibniz acrescenta “ a não ser o próprio intelecto com as suas leis. “

Teodiceia-

A Teodiceia tem como objectivo justificar a existência de Deus. Se Deus é omnipotente e infinitamente bom ficamos sem saber por que existe o mal no mundo. O mal que existe no mundo pode ser metafísico, físico e moral. O mal metafísico nasce da impossibilidade do mundo e do homem serem perfeitos e infinitos. Existem atributos que pertencem exclusivamente a Deus. O mal físico pode gerar heroismo, abnegação ou altruísmo para quem procura ajudar quem sofre. O mal moral seria perfeitamente evitável.

O escritor Voltaire no livro Cândido ironiza Leibniz quando o dr. Panglos perceptor de Cândido reage perante as calamidades provocadas pelo terramoto de 1755 em Lisboa dizendo “ Tudo foi feito com a melhor das intenções no melhor dos mundos possíveis “

Conclusão:

Leibniz pertence ao grupo de filósofos racionalistas do século XVII do qual faziam parte Descartes e Espinosa. Enquanto para Descartes existiam 2 substâncias, corpo e alma, Espinosa admitia apenas uma substância da qual fazia parte Deus e toda a realidade. De maneira diferente pensava leibniz que como já referi entendia que havia uma infinidade de substâncias ( mónades)

que foram preordenadas por Deus desde o início para funcionarem em sincronia. Na filosofia de Leibiz há dois aspectos importantes a considerar: a Matemática e a teologia. O pensamento filosófico obedece aos mesmos princípios da análise e da lógica matemática. Depois Deus aparece como um ens a se ( ser necessário ) que é o princípio e a origem de tudo quanto existe.

Apesar de ser um luterano Leibniz considerava-se um” católico de coração” e fez tudo para unir católicos e protestantes mas os seus propósitos fracassaram .

publicado por pontodemira às 11:22
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