Sexta-feira, 16 de Março de 2018

Análise crítica ao livro: Sapiens-Breve História da Humanidade

 

Análise crítica ao livro:Sapiens-História breve da Humanidade

Como já referi anteriormente este livro foi escrito pelo historiador Yuval Noah Harari, professor na Universidade Hebraica de Jerusalém. O tema foi desenvolvido com amplitude e profundidade recorrendo entre outros aos seguintes recursos: paleontologia, antropologia e sociologia. Há casos em que faz enquadramentos políticos e referências depreciativas a religiões e de modo particular ao cristianismo. Relativamente ao cristianismo escolhi algumas citações que passo a transcrever e a comentar:

1-“Como é que Armand Peugeot criou a empresa Peugeot? Da mesma forma que os sacerdotes e feiticeiros criaram deuses e demónios ao longo da história e que milhares de párocos franceses da época continuavam a criar o corpo de Cristo todos os domingos nas igrejas….. se um sacerdote católico envergando as suas vestes sagradas proferisse, de forma solene as palavras adequadas então o pão e o vinho ( abracadabra ) transformava-se no corpo e sangue de Cristo.( pag 45)”

A consagração que os sacerdotes fazem na missa, do pão e do vinho, é uma repetição do que Jesus fez na última ceia. Jesus partiu o pão e deu-o a comer aos seus discípulos dizendo: Tomai e comei isto é o meu corpo. Depois pegou no cálice e deu a beber o vinho aos discípulos dizendo: Tomai e bebei este é o meu sangue. Fazei isto em minha memória. Claro que não há nenhum abracadabra como ironicamente diz Harari. A transubstanciação é matéria de fé tal como é tudo que se relaciona com o transcendente. Por outro lado, misturar sacerdotes com feiticeiros é algo de ridículo que deixa ficar mal um historiador.

2-“ A cultura tende a afirmar que apenas proíbe o que não é natural. No entanto, de uma perspectiva biológica, nada há que não seja natural. O que for possível também é por definição natural….. Na verdade, os nossos conceitos de “ natural “ e de “ não natural “ não provêm da biologia, mas da teologia cristã . “ ( pag.179 )

Dizer que tudo o que é possível é natural não me parece correcto. É possível que alguém roube ou mate outra pessoa, que alguém seja pedófilo mas não me parece que tais comportamentos se possam classificar de naturais. Convém também esclarecer que uma grande parte de preceitos éticos têm origem no cristianismo. Mas esses preceitos não deixam de ser válidos e aceites por pessoas de outras religiões e até por não crentes.

3-..” A discórdia nos nossos pensamentos, ideias e valores nos obriga a pensar, a reavaliar e a criticar. A coerência é apanágio das mentes obtusas “ pag 200)

A coerência tem outro significado . Não é apanágio das mentes obtusas mas de todos os que agem em conformidade com o que dizem e pensam.

4-Os seguidores de Cristo e os de Alá mataram-se uns aos outros aos milhares, devastaram campos e pomares e transformaram cidades prósperas em ruinas fumegantes-tudo pela glória de Cristo ou de Alá. “( pag 209)

Concordo que durante longos períodos da História tanto cristãos como muçulmanos cometerem atrocidades. No que diz respeito aos cristãos há a referir o período negro das cruzadas e do Tribunal da Inquisição que mataram milhares de vítimas inocentes. Mas os cristãos que cometeram tais crueldades, de cristãos só tinham o nome e estavam precisamente nos antípodas do que Jesus ensinou e pregou. Harari esqueceu-se de mencionar os mártires que nos primeiros séculos do cristianismo morreram porque não tiveram medo de divulgar o Evangelho. Também Jesus morreu crucificado por dizer a verdade que não agradava à classe religiosa judaica. Como judeu Harari esquceu-se deste pormenor.

5-“No Norte da Península Ibérica em meados do sec. II a.c. era habitada pelos celtas nativos da península. Uma pequena e insignificante cidade de montanha chamada Numância atrevera-se a recusar o jugo romano. Quando os numantinos compreenderam que toda a esperança estava perdida, incendiaram a cidade e a maior parte suicidou-se para não se tornarem escravos de Roma. “ E daqui Harari parte para dizer que “ Os patriotas espanhóis que admiram o heroismo de Numância tendem a ser leais seguidores da Igreja Católica Apostólica Romana- uma Igreja cujo líder se senta em Roma e cujo Deus prefere ser abordado em latim “ ( pag226 )

O que aconteceu em Numância tem a ver com a política expansionista do império romano da altura e não com o Papa e com a Igreja Católica que estava ainda em formação. Por outro lado Deus não prefere nenhuma língua em particular e o latim hoje praticamente só é usado em cerimónias especiais. Se Deus preferisse ser abordado em latim então estaria a ouvir poucas pessoas.

6- “Assim nasceram as religiões monoteístas, cujos seguidores apelam ao poder supremo do Universo para os curar de doenças, ganhar o euromilhões e alcançar a vitória na guerra. “ (pag 256 )

Pedir a Deus pela Paz no Mundo é diferente de pedir a vitória numa guerra. Se alguém pedir a Deus a cura para uma determinada doença não vejo nenhum mal nisso. Se uma pessoa tem uma doença incurável e foi curada é natural que tenha sido atendida por Deus se a Ele recorreu com fé. Pedir a Deus para ganhar o Euromilhões essa só pode vir de um louco. O Evangelho é bem claro quando diz “ É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino do Céu. Procurai primeiro o Reino de Deus e tudo o mais virá por acréscimo. “

7- “ O cristianismo desenvolveu o seu próprio panteão de santos, cujos cultos pouco diferem de veneração dos deuses politeístas “

Os santos para os cristãos não são deuses mas intermediários entre os homens e Deus. Os Santos podem ser venerados mas não adorados pois a adoração só pode ser feita a Deus. Os cristãos não desenvolveram nenhum panteão de santos. Para que alguém se possa considerar Santo é necessário que outras pessoas ( médicos ) sejam testemunhas de um acontecimento extraordinário que não possa ser justificado pela ciência e esteja na origem da cura de determinada doença.

8- “ Os cristãos começaram a organizar actividades missionárias alargadas, dirigidas a todos os seres humanos. Numa das mais estranhas reviravoltas da história, esta seita judaica esotérica apoderou-se do poderoso Império Romano “

Os cristãos que organizaram actividades missionárias estavam a cumprir o que jesus Cristo lhes pediu :” Ide por toda a parte e divulgai o Evangelho. Para os judeus Israel era o Povo eleito de Deus. Mas para Jesus não havia distinção entre judeus, gregos, romanos, homens livres, escravos, homens e mulheres. E foi S.Paulo que abriu o caminho para a universalização do cristianismo. O cristianismo não é hoje uma seita esotérica mas a maior religião do mundo. Aos pequenos agrupamentos religiosos nascidos do cristianismo como os luteranos, os anglicanos, os adventistas, etc é que podemos designar como seitas. ( pag .257)

9- “ Como os monoteístas acreditam, que estão por norma na posse de toda a mensagem do Deus único, têm sido levados a desacreditar as outras religiões “(pag257)

Todos os que acreditam em Deus estão na posse da verdade. Mas ninguém tem a posse da verdade absoluta. O caminho para chegar a Deus é que pode variar.

10- “ A teologia monoteísta tende a negar a existência de todos os deuses, com excepção do Deus Supremo e a lançar no fogo do inferno todos os que os adoram “ (pag258 )

É lógico e evidente que uma religião monoteísta só admite a existência de um só Deus. Quanto ao fogo do inferno o que podemos dizer é que Deus é compassivo, cheio de misericórdia e sempre pronto a perdoar desde que as pessoas mostrem arrependimento. É claro que nenhum pai fica satisfeito com as asneiras que um filho faz. Jesus no alto da cruz e antes de morrer exclamou: “Pai perdoai-lhes que eles não sabem o que fazem “ Ninguém sabe o que vai ser no juízo final. Pessoalmente penso que os que levaram uma vida de pecado se manifestarem arrependimento serão perdoados.

 

11-“Quando Bem e Mal lutam, a que leis comuns obedecem e quem decretou essas leis?” ( pag. 260 )

Para as teorias dualistas existem dois deuses: o do Bem e o do Mal- Os homens terão que escolher de que lado ficam. Os cristãos têm um único Deus e capacidade para distinguir o que é Bem e agrada a Deus e o que é Mal e por isso não deve ser praticado.

12-“Os monoteístas são bons a explicar o Problema da Ordem, mas não o problema do Mal. Existe uma forma lógica de resolver o quebra-cabeças: argumentar que existe um Deus omnipotente que criou o Universo…e que é um Deus mau. No entanto, ainda não apareceu ninguém com coragem para propalar tal crença. “ (pag 261 )

Quando se fala de Mal é preciso distinguir entre mal físico provocado por uma doença ou o mal resultado de uma calúnia ou injúria. No primeiro caso é preciso compreender que nós somos seres limitados e finitos e que mais tarde ou mais cedo iremos morrer. O sofrimento provocado por outra pessoa poderia ser evitado se essa pessoa tivesse outro tipo de comportamento. Outra questão que se coloca é o mal provocado por um terramoto, furacão, tempestade, etc. Para que esta situação não acontecesse era necessário um mundo perfeito e essa perfeição pertence Deus . Para podermos usufruir as maravilhas do nosso planeta é necessário também ter em conta as contrariedades que podem acontecer. Há também quem ponha em causa a omnisciência de Deus. Se Deus conhece antecipadamente tudo o que vai acontecer não irá deste modo determinar as acções humanas? Deus não é a causa dos nossos actos pois se isso sucedesse estaria em causa o livre-arbítrio e a nossa liberdade. Não há por isso qualquer incompatibilidade entre os principais atributos de Deus: omnipotência, omnisciência e bondade.

13- “Os cientistas que estudam o funcionamento do organismo humano não encontram alma alguma. “ ( pag 277)

Toda a gente sabe que no homem há duas partes distintas: uma mais objectiva que tem a ver com o corpo e outra mais subjectiva que podemos relacionar com o psiquismo, com o espírito com a consciência moral. Seguindo a terminologia de Descartes diríamos que o corpo é a “res extensa” e o espírito a “res cogitans”.Só que estas duas realidades estão separadas. Mais tarde criou a” cogitatio” e esta realidade já não pode existir sem o corpo. Do ponto de vista metafísico há duas realidades: o corpo ou matéria de um lado a forma ,substância ou essência do outro lado que são imateriais. O espírito é pois a essência do corpo. Para a religião a alma está relacionada com a parte imaterial, com o espírito e por isso não desaparece com a morte do corpo. Para quem crê em Deus a vida não desaparece com a morte do corpo e não acaba no nada. Se isso acontecesse a vida não teria qualquer sentido. As pessoas que foram vítimas de injustiça neste mundo ficariam em pé de igualdade com criminosos e assassinos. Mas tudo isto é matéria de fé. Se eu não posso demonstrar que a alma existe e é imortal, o sábio e intelectual Harari também não pode provar o contrário. Quando Harari diz que ninguém viu a alma eu diria também que ninguém viu a consciência, a inteligência racional e no entanto sabemos que elas existem.

14-“Pouco antes da crucificação, uma mulher ungiu Cristo com um óleo precioso que valia 300 denários. Os discípulos de Jesus censuraram a mulher por ter desperdiçado tão grande soma em vez de a dar aos pobres, mas Jesus defendeu-a dizendo: Na verdade sempre tereis os pobres convosco e, quando quiserdes podereis fazer-lhes bem, mas a mim nem sempre tereis (Marcos,14-7). Hoje em dia, cada vez menos pessoas, incluindo cada vez menos cristãos, concordam com Jesus em relação a esta questão”.(pag311)

Harari é tendencioso nas análises que faz. Jesus sempre esteve ao lado dos pobres e desprotegidos. No episódio que Marcos relata Jesus não está a fazer o elogio da loucura ou do desperdício do dinheiro mas a louvar o gesto de reconhecimento de uma mulher que se desprendeu do melhor que tinha para o homenagear. Convém esclarecer que segundo o Evangelista S.João essa mulher chamava-se Maria e era irmã de Marta e de Lázaro o homem que foi arrancado do leito da morte por Jesus. Tem todo o sentido a alegria desta mulher e a sua gratidão sem limites. Seria humilhante para ela se Jesus a censurasse ou recusasse o seu gesto de gratidão.

15- “ A beleza da teoria de Darwin é que não precisa de presumir a presença de um criador inteligente para explicar como as girafas acabam por ficar com pescoços compridos” ( pag 463 )

Outro erro crasso de Harari. A Igreja hoje não põe em causa a teoria da evolução de Darwin. Não há qualquer incompatibilidade entre a Ciência e a Religião. O mundo nasceu como já se disse de uma explosão, de um Big-bang. Mas de quem partiu esse Big Bang. Se tudo saiu do Nada podemos também perguntar: E o Nada de onde veio? Como é que o Mundo sendo regido por leis de uma grande complexidade pode resultar do Nada. Tem que haver uma grande inteligência que oriente o Big bang inicial para uma evolução com determinado fim, ou seja, para o aparecimento de seres cada vez mais aperfeiçoados e complexos até chegar ao homem actual. O Génesis que relata a criação do Mundo e do homem em sete dias é hoje entendido pela Igreja como um mito que foi escrito por um autor que na sua época não tinha os conhecimentos que a ciência hoje nos revela. O que ele quis mostrar foi que por trás da criação esteve o dedo de Deus. E vou terminar com duas frases do cientista e físico Einstein: “ Sem Deus o mundo não é explicado satisfatoriamente. Quanto mais me aprofundo na Ciência mais me aproximo de Deus “

 

 

 

 

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Segunda-feira, 5 de Março de 2018

Sapiens: Breve História da Humanidade

Este é o título de um livro escrito pelo historiador Yuval Noah Harari, professor de História do Mundo na Universidade Hebraica de Jerusalém. É um texto interessante e muito bem escrito que descreve de forma exaustiva a História da Humanidade até aos nossos dias. É difícil fazer uma síntese de 486 páginas. De qualquer forma vou tentar fazer um esboço do mais importante.

Logo na primeira página o historiador diz que o Universo começou com um Big Bang há 13,5 mil milhões de anos e 300 000 anos depois a energia começou a fundir-se e a formar átomos e moléculas. Há 3,8 mil milhões de anos formaram-se estruturas mais complexas chamadas organismos. Os biólogos classificam os organismos em espécies, géneros e famílias. O homem pertence à espécie Sapiens (sábio ), ao género Homo( homem) e à família dos Símios. Os nossos parentes mais próximos são os chimpanzés, gorilas e orangotangos sendo os chimpanzés os mais próximos. Para o historiador Yuval Noah Harari a História do Homo Sapiens divide-se em 3 grandes períodos: Revolução Cognitiva ( há cerca 70 000 anos ), Revolução Agrícola (há cera de 12 000 anos ) e Revolução Industrial ( há cerca de 500 anos )

Revolução Cognitiva

Os seres humanos evoluíram inicialmente na África Oriental há cerca de 2,5 milhões de anos a partir do género anterior de símios chamados Australopitecos. Há cerca de 2 milhões de anos alguns desses homens e mulheres deixaram a terra natal e viajaram para o Norte de África, Europa e Ásia. Os humanos da Europa e Ásia Ocidental evoluíram para o Homo Neanderthalensis ( Homem do Vale neander. Nas regiões mais orientais da Ásia foram povoadas pelo Homo Erectus. Na ilha de Java Indonésia o Homo Soloensis ( Vale do Sul ) , na ilha das Flores o Homo florensis ( anões ) . Na gruta de Denisova na Sibéria encontrou-se outra espécie o Homo denisova.. Mas a evolução na África Oriental não parou e apareceram espécies novas : Homo Rudolfensis ( lago Rodolfo), o Homo Ergaster ( homem trabalhador ) e por fim o Homo Sapiens ( homem sábio ). Quando o Sapien chegou à Europa e ao Médio Oriente encontrou os Neandertais. O que terá então acontecido ? Para uns terá havido um cruzamento de espécies ( Teoria do Cruzamento). Para outros os seres humanos tinham anatomias diferentes e por isso não houve cruzamento ( Teoria da Substituição ). As duas populações continuaram separadas e os Neandertais acabaram por se extinguir ou serem mortos. Antes da Revolução cognitiva todas as espécies humanas viviam na região Afro-Asiática. A seguir o Sapiens adquiriu a tecnologia, as habilidades de organização e a visão necessária para se estabelecer no mundo exterior. O primeiro feito foi a colonização da Austrália há cerca de 45 000 anos. Por volta de 10 000 anos antes .de Cristo os seres humanos já viviam no porto mais a sul da América, a ilha da Terra do Fogo. Por volta de 12 000 a.c o aquecimento global derreteu o gelo e abriu uma passagem mais fácil de transpor entre o Alasca e o resto da América. O Homo Sapiens levou à extinção para metade de animais de grande porte do planeta.

Revolução Agrícola

Há cerca de 10 000 começou a Revolução Agrícola. O homem começou a deitar a sementes à terra, a regar, a arrancar as ervas daninhas e a conduzir ovelhas para melhores pastos. Passou assim de uma vida nómada para uma vida sedentária. O cultivo do trigo garantiu mais comida por unidade de trabalho. Aprendeu a domesticar os animais e a utilizá-los no cultivo das terras. À medida que os dados de informação ia aumentando o homem verificou que o cérebro não tinha capacidade para os registar. Os sumérios inventaram um tipo de escrita que lhes permitia converter números em símbolos. Os Egípcios inventaram um sistema de escrita completa através de hieróglifos. Os mesopotâmios criaram também um sistema de escrita completa a que se chamou cuneiforme. No século IX começou a desenvolver-se a linguagem matemática e apareceu a numeração árabe com 10 símbolos. Mais tarde apareceram outros símbolos acrescentados aos números árabes como os sinais de adição, subtração, multiplicação e divisão.

Com a vida sedentária levantou-se a questão de saber como é que os grandes grupos se organizavam. A ordem era mantida através de hierarquias. Havia chefes e subordinados, plebeus e escravos, brancos e negros e até a distinção entre homens e mulheres. Na Índia ainda hoje existem castas e diferenças sociopolíticas entre brâmanes( sacerdotes ) e shudras ( criados). No século XVI a exploração do ouro, diamantes e do açúcar no Brasil levou ao comércio e tráfico de escravos que eram sujeitos a condições desumanas. Na Revolução Agrícola a maior parte das sociedades são patriarcais e valorizam mais os homens do que as mulheres. O primeiro milénio antes de Cristo testemunhou o aparecimento de 3 ordens potencialmente universais: a ordem monetária, a ordem imperial e a ordem das religiões: budismo, cristianismo e islão. O aparecimento do dinheiro facilitou as relações comerciais entre povos e comunidades e permitiu às pessoas comprarem rápida e facilmente o valor dos diferentes bens e também armazenar riqueza. Os impérios agregaram povos distintos e tinham fronteiras flexíveis. As religiões assentam numa ordem sobre-Humana com normas e valores vinculativos. No primeiro milénio antes de Cristo na região Afro-Asiática alastraram religiões como o budismo na Índia e o taoismo e o confucionismo na China. A figura central do budismo não era Deus mas Sidharta Gautana. Depois de 6 anos de meditação compreendeu que que o sofrimento não é provocado pela má sorte, pela injustiça social ou pelos caprichos divinos. O sofrimento é provocado pelos padrões comportamentais da nossa mente. Não devemos ficar presos pela tristeza nem pela alegria e evitar os desejos. Se conseguirmos este objectivo atingimos a nirvana ( extinção do fogo) e somos libertados de todo o sofrimento. No primeiro milénio depois de Cristo a maior parte da Europa, da Ásia Ocidental e Norte de África eram monoteístas. Havia também religiões dualistas que assentam na existência de dois deuses um bom e outro mal que estavam em luta permanente .Esta religião teve como profeta Zoroastro ( Zaratrusta) e tornou-se a religião oficial do Império persa sassânido. Havia ainda duas outras seitas religiosas como os maniqueístas e os gnósticos que admitiam que o Deus Bom criou o espírito e a alma e o Deus Mau criou a matéria e o corpo. Os últimos 300 anos foram retratados como uma época de crescente secularismo, As novas religiões são agora o liberalismo, o comunismo, o capitalismo, o nacionalismo e o nazismo. Estas doutrinas são designadas por ideologias. O nazismo dado o seu carácter racista foi a ideologia que mais desrespeitou os direitos humanos e levou a cabo extermínios inqualificáveis.

Revolução industrial e científica

Que potencial desenvolveu a Europa no início deste período? A esta pergunta responde Yuval Noah Harari: há duas respostas complementares: a ciência e o capitalismo. Nos séculos XVIII e XIX quase todas as expedições militares importantes que deixaram a Europa rumo a terras distantes levavam a bordo cientistas. Durante os séculos XV e XVI os europeus começaram a desenhar mapas-mundi com muitos espaços vazios. Se queriam de facto controlar os vastos territórios tinham de reunir uma enorme quantidade de dados sobre geografia, o clima, a flora, a fauna, as línguas, as culturas e a história dos territórios que descobriam. Sem o apoio imperial é duvidoso que a ciência moderna tivesse progredido muito.

Um outro factor a ter em conta foi o credo capitalista. O dinheiro tem sido essencial tanto para construir impérios como para promover a ciência. Década após década a Europa Ocidental assistiu ao desenvolvimento de um sofisticado sistema financeiro capaz de oferecer grandes somas e crédito rápido que colocava à disposição de empreendedores privados e governantes. Os financiadores concederam aos holandeses crédito suficiente para criarem exército e frotas os quais lhe deram o controle das rotas e do comércio mundiais. E foram os mercadores holandeses e não o Estado Holandês que construiu o Império Holandês. As primeiras colónias inglesas na América foram estabelecidas no início do seculo XVIII através de sociedades por acções.

Entre os séculos XVI e XIX foram importados para a América 10 milhões de escravos africanos para plantações de açúcar. Empresas privadas de tráfico de escravos vendiam as suas acções nos mercados bolsistas de Amsterdão, Londres e Paris. As empresas compravam navios, contratavam marinheiros e soldados, compravam escravos em África e transportavam-nos para a América. O século XIX não trouxe consigo qualquer melhoria em termos de ética do capitalismo. A Revolução Industrial que venceu a Europa enriqueceu banqueiros e os donos do capital, mas condenou milhões de trabalhadores a uma vida de pobreza abjecta. A revolução industrial foi acima de tudo uma revolução Agrícola. A industrialização da agricultura permitiu que não fossem precisas tantas pessoas a trabalhar no campo. À medida que o consumismo aumentou   foi preciso melhorar as técnicas de trabalho utilizando novas   sementes e novas plantas. A revolução científica e industrial deram à humanidade poderes sobre-humanos e energia quase ilimitada A ordem social, a ordem política foram completamente transformadas bem como a vida quotidiana e a psicologia humana. Os nacionalistas acreditam que a autodeterminação política é essencial para a felicidade. Os comunistas postulam que toda a gente seria extremamente feliz sob uma ditadura do proletariado. Os capitalistas sustentam que apenas o mercado livre consegue assegurar a maior felicidade do maior número possível de pessoas. Na Revolução Agrícola nem tudo foram rosas. Os camponeses tiveram de trabalhar mais arduamente do que os recolectores para arrancar à terra os alimentos que precisavam. A disseminação dos impérios europeus aumentou imenso o poder colectivo da humanidade graças à circulação de ideias, tecnologias e colheitas e ao estabelecimento de novas vias de comércio. No entanto não foram boas notícias para milhões de africanos, nativos americanos e aborígenes australianos. Filósofos, sacerdotes e poetas têm-se debruçado sobre a natureza da felicidade durante milénios e muitos concluíram que os factores sociais, éticos e espirituais têm um impacto na nossa felicidade tão grande como as condições materiais. Descobriu-se que a felicidade não depende apenas de condições objectivas mas da inter-relação entre estas e as expectativas subjectivas.Os mecanismos bioquímicos podem também ter influência na felicidade. As pessoas que nascem com uma bioquímica cheia de vida podem ser felizes mesmo nas piores situações. Os que nascem com um bioquímica melancólica podem ser infelizes mesmo que ganhem milhões na lotaria. Para outros a felicidade consiste e entenderem a vida como um todo, como sendo algo significativo que vale a pena.

Os dois últimos capítulos do livro têm por tema: O fim do Homo Sapiens e O Animal que se tornou Deus. O historiador refere que os activistas dos direitos humanos receiam que a engenharia genética possa ser utilizada para criar super-homens que façam de todos nós seus escravos. Admite ainda que a engenharia genética e outras forças de engenharia biológica possam levar-nos a realizar alterações profundas a todos os níveis e que a Segunda Revolução cognitiva poderá criar um tipo de consciência completamente novo e transformar o Homo Sapiens em algo completamente diferente. As objecções éticas e políticas não irão travar a investigação. Se por hipótese for descoberto um medicamento que trave a doença de Alzheimer e esse medicamento possa melhorar a memória de pessoas saudáveis nenhuma autoridade o irá limitar apenas a doentes de Alzheimer. Acrescenta ainda que brincar com os nossos genes não vai necessariamente matar-nos mas poderá alterar o o Homo Sapiens de tal forma que deixaríamos de sê-lo. Diz ainda que a próxima fase da História inclui não só transformações tecnológicas e organizacionais como também transformações na consciência e na identidade humana. O Homo Sapiens está hoje a tornar-se um deus, preparado não só para adquirir a juventude eterna mas também as capacidades divinas da criação e da destruição. A seguir levanta algumas dúvidas. Mas terá diminuído o sofrimento do Mundo ? Muito do que se conseguiu implicou o sofrimento humano e também de animais. Há animais que estão a desaparecer e outros que já se extinguiram. Ninguém sabe para onde vamos e os seres humanos parecem mais irresponsáveis que nunca. Estamos a espalhar o caos sobre os nossos companheiros animais e o ecossistema envolvente. E para terminar ocorre-me também a mim fazer uma pergunta.Será que as grandes potências não poderão de um momento para o outro desencadear uma guerra nuclear capaz de pôr termo ao Universo em que vivemos ?

 

 

 

 

 

publicado por pontodemira às 10:48
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