Terça-feira, 18 de Julho de 2017
1-Bento Espinosa nasceu em 1632 na cidade de Amsterdão. Era filho de pais judeus. Devido às perseguições em Portugal os pais foram obrigados a fugir para a Holanda. Estudou na comunidade sefardita de Amsterdão e foi educado na religião judaica. Em 1661 passou a viver na aldeia de Rignsburg perto de Leiden mas em 1663 instalou-se na aldeia de Voorburg perto de Haia. A partir de então passou a ser conhecido por Bento Espinosa em vez de Baruch, o seu nome judeu. Para providenciar o seu sustento exerceu a actividade de polidor de lentes que eram utilizadas em instrumentos científicos como telescópios e microscópios. O exercício dessa actividade e o facto de ter respirado a poeira do vidro terá contribuído para a sua morte prematura. Morreu de tísica em 1648 quando tinha apenas 46 anos
Dos livros que escreveu há destacar os seguintes: Tratado da Reforma e do Entendimento; Princípios de Descartes única obra assinada com o seu nome ; Tratado Teológico-Político, última obra de Espinosa publicada em vida. O último livro a ser escrito e talvez o mais importante foi a Ética pois nele está contido o mais importante sobre o pensamento do filósofo Espinosa. Este livro não chegou a ser publicado em vida devido ao impacto que as suas ideias desencadearam na sociedade do seu tempo.
2-A Ética não é um livro de fácil leitura pois requer um certo esforço de compreensão. O método utilizado por Espinosa é o dedutivo muito parecido com o que os geómetras empregam nas suas demonstrações matemáticas e que consta de axiomas, de definições, corolários e conclusões.
Na Ética são abordadas as seguintes questões :A substância ou essência da Natureza, as leis do Universo, Deus, a liberdade e o determinismo, as relações causais, a mente humana, a psicologia e a filosofia moral.
a) SUBSTÂNCIA é alguma coisa que é a causa de si própria( causa sui ) e que não precisa de mais nada para existir nem para se conceber. Para Espinosa há só uma substância com vários atributos e modos. Exemplos de atributos: Pensamento (alma) e Extensão ( matéria ). Exemplos de modos : coisas particulares ou individuais do Universo. Para Descartes o pensamento ( rex cogitans) e a matéria ( rex extensa) eram duas substâncias diferentes. Para Espinosa o Criador do Universo e todo o conteúdo do Universo são a mesma substância à qual tanto se pode chamar Deus, como Natureza ou realidade. “ Afora Deus, não pode ser dada nem concebida nenhuma substância “
b) DEUS Para Espinosa não há um Deus transcendente criador do Universo. Deus, Natureza e Universo são a mesma coisa. Não há uma diferenciação. É uma concepção monista naturalista da realidade. Deus pode ser concebido numa dupla perspectiva : por um lado como realidade criadora e como autor de leis fundamentais da natureza e dos princípios gerais da ordem que Espinosa designa por Natura naturans ( natureza activa e geradora de tudo ) e por outro lado identificando-se com tudo o que foi criado, em particular com o individual a que Espinosa atribui o nome de Natura naturata ( natureza passiva ou gerada). Podemos designar esta teoria de panteísta em que “Deus é tudo e tudo é Deus “ e se indentifica a divindade com o cosmos. Deus é também imanente ou seja inseparável dos efeitos que produz.
c) HOMEM . O homem está como a natureza sujeito a relações causais por isso não é inteiramente livre . Espinosa diz que “ não se pode considerar o homem como um império dentro de outro império “ Há portanto um determinismo ao qual ele não pode escapar. Tudo o que acontece é necessário e é determinado casualmente. A única forma de o homem ser livre á através da razão e do conhecimento. Para Espinosa o verdadeiro conhecimento provém da razão e não da experiência ou dos sentidos. Através da razão constroem-se ideias adequadas e estas devem ser consideradas verdadeiras. É pelas noções comuns e pelas ideias adequadas que se consegue atingir a essência das coisas e construir a sua inteligibilidade. Para além do conhecimento racional existe ainda o conhecimento intuitivo quando se parte da “ essência formal de certo atributo de Deus para o conhecimento adequado da essência das coisas “
3-CONCLUSÃO
É inegável que Espinosa é um filósofo apreciado por muitos mas também detestado por outros. No seu pensamento vamos encontrar alguns paradoxos. Um deles tem a ver com a dificuldade em conciliar o determinismo com a liberdade e o livre arbítrio do homem. Por outro lado nem todos os axiomas e definições são evidentes e nem todas as conclusões são convincentes. Mas Espinosa não deixa contudo de ser um grande filósofo. Ele foi elogiado e admirado por Nietzche e por Bertand Russel. Também o neurocientista António Damásio se refere a ele no seu livro “ Ao Encontro de Espinosa.”
Finalmente e para terminar o prémio Nobel da física Einstein confessa que não acredita num Deus transcendente mas sim no Deus imanente de Espinosa.