1-É interessante verificar qual foi o percurso da Fé ao longo dos séculos. Na época pré-Histórica o homem e a Natureza (plantas, animais, universo) formavam um todo cósmico. Tudo se explicava através de forças ou energias cósmicas. As relações com o universo eram feitas através de ritos realizados por mágicos, feiticeiros e xamanes. Havia também mitos para explicar os fenómenos da natureza, e tabus que tinham de ser respeitados.
Com aparecimento da escrita surgem as religiões com deuses (antropomórficos) ou seja concebidos à maneira humana e a quem os homens se podem dirigir fazendo pedidos e oferecendo sacrifícios. Estas são as religiões politeístas constituídas pelos mais diversos deuses e deusas. Mas ao lado destas há também as religiões monoteístas que acreditam num único deus pessoal como o judaísmo, o cristianismo e mais tarde o islamismo.
A Idade Média foi um período de grande fervor religioso e durante o qual se distinguiram figuras brilhantes da Igreja: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Mas em nome da Fé foram também feitas perseguições religiosas sobretudo aos judeus através da Inquisição. O fanatismo religioso levou os Cruzados a cometerem os crimes mais hediondos: massacres, destruições e roubos.
Durante o período iluminista a metafísica é posta de lado. A Ciência conduz ao progresso e todos os fenómenos se podem explicar através da matéria.
No século XIX há duas correntes de opinião que exercem grande influência: o marxismo e o evolucionismo. Para o marxismo a religião é o ópio do povo e Deus uma criação do Homem. A teoria evolucionista entende que os seres vivos evoluem através de um processo de selecção natural sobrevivendo as espécies mais fortes. Tudo é fruto do acaso e da necessidade sem ter de se recorrer a Deus.
No século XX teve também grande influência cultural o existencialismo ateu de Sartre. Para este filósofo a existência precede a essência e não o contrário. O homem só pode ser inteiramente livre se suprimir a existência de Deus. Não são de admitir“a priori“ princípios morais, leis ou ideologias que condicionem a actividade do homem. É o homem na sua acção que cria as normas morais.
Nos dias de hoje, época contemporânea, verifica-se um número crescente de pessoas que se afastam ou estão a afastar da Igreja. Aumenta o número de católicos que se auto designam de não praticantes.
2-Quando se fala de Deus há duas questões que muita gente coloca: Será que Deus existe? Afinal quem é Deus?
Deus é o indizível e por isso é impossível adiantar uma definição. Mas se quisermos definir Deus, ainda que incorrectamente, podemos fazê-lo de duas maneiras diferentes. De forma positiva (teologia positiva ou catafática) ou de uma forma negativa (teologia negativa ou apofática ) . No primeiro caso Deus será o Omnisciente, o Omnipotente, o infinitamente Bom, Misericordioso e Compassivo. No segundo caso Deus não é nem pode ser cruel, vingativo nem indiferente ao sofrimento, etc..
Se Deus é transcendente não pode ser objecto de conhecimento científico. Ninguém pode provar cientificamente que Deus existe nem ninguém pode provar que não existe. O cristão e o ateu são ambos crentes: o primeiro acredita que Deus existe e o segundo acredita que Deus não existe. Mas a atitude do cristão é mais razoável que a do ateu. O universo, a biologia é formada por constantes físicas e leis físicas e bastava que houvesse um pequeno desvio para que a vida não fosse possível na Terra. Será que este complexo inextricável de leis inteligentes resultou do Nada? Por que é que existe algo e não nada?
O filósofo Kant entendeu que não se pode chegar a Deus pela via especulativa mas sim pela via prática. No livro a Crítica da Razão Prática diz o seguinte: “ Actua de forma que a tua conduta se transforme numa lei universal. “ A lei moral é um imperativo categórico, ou seja ,é um fim em si mesma e não um meio para atingir um fim. Ninguém deve cumprir a lei moral com o intuito de ser recompensado ou evitar o mal com medo de ser punido. Da lei moral resultam três postulados: a liberdade da vontade, a imortalidade da alma e a existência de Deus. Todos nós pensamos num ideal de bondade, de beleza e de perfeição mas que nunca conseguimos atingir. Esse ideal só existe num ente que é Deus. A existência de Deus, ao contrário de outros filósofos, deduz-se da lei moral.
Para concluir é conveniente esclarecer que não há qualquer incompatibilidade entre a Fé e a Razão. A Fé sem a Razão é uma Fé cega e supersticiosa. A Razão sem a Fé fica limitada ao empírico. Há perguntas às quais nem a ciência nem a razão são capazes de responder: Quem sou , de onde vim e para onde vou ? É pela fé e na esperança de um Deus criador e misericordioso que lá podemos chegar. E sobre este assunto nada melhor do que citar o Papa emérito Bento XVI: “ poderá a Razão sem se renegar a si mesma renunciar à prioridade do racional sobre o irracional, ao “ logos “ como princípio primeiro?”( 1) Para terminar diria que é mais racional acreditar num Deus criador do qual tudo provém do que acreditar que todas as coisas provêm do nada e do acaso.
1- do livro Existe Deus- um confronto sobre a verdade, a fé e o ateísmo-ed. Pedra Angular pag 91 )
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