1-Todos os anos no período do verão há incêndios nas principais zonas florestais do país. Este ano, porém, devido às temperaturas elevadas, já arderam 103 mil hectares de floresta e também bastantes casas de habitação. Fazendo um balanço comparativo com outros países do Sul da Europa como a Espanha, a Itália e a Grécia verificamos que em Portugal a área ardida é 5 ou 6 vezes superior à dos outros países.
2- Como a maior parte dos incêndios resulta de fogo posto, os órgãos de comunicação social falaram da necessidade de aumentar as penas a aplicar aos criminosos e até houve quem avançasse com a pena de morte para os que fossem apanhados em flagrante delito. Pessoalmente penso que a estratégia a seguir deveria seria outra. A pena de morte em Portugal foi abolida no século xIx (1867) no reinado de D. Luis e não faz sentido voltar atrás. Aumentar a pena poderá desincentivar os criminosos mas os pirómanos e os psicopatas, uma vez cumprida a pena, têm tendência a reincidir. Noutros casos enquanto aguardam julgamento em liberdade vão cometendo outros crimes. A solução mais aconselhada seria a pulseira electrónica permitindo localizar a pessoa a qualquer momento.
Há também casos em que os incêndios são ateados pelos madeireiros ou por pessoas que actuam a soldo deles. Lembro-me que há uns anos atrás fui abordado por um negociante de madeiras que sabendo que tinha um pinhal me fez uma proposta para a compra de uns pinheiros. Como não chegámos a um acordo lembrou-me que se por acaso houvesse um incêndio teria de vender os pinheiros que escapassem ao desbarato. A verdade é que uma semana depois os vaticínios cumpriram -se, por mera coincidência ou não.
3-Quando acontecem incêndios de grande magnitude, os responsáveis a quem compete tomar decisões vão para o terreno fazer um levantamento dos estragos. Tiram apontamentos, ouvem pessoas e normalmente prometem tomar medidas para obviar situações semelhantes no futuro. Mas quando chega o Inverno, os projectos e as boas intenções ficam na gaveta da secretária e passam ao esquecimento. Sem ser um “ expert “ na matéria há medidas que são óbvias das quais passo a citar as seguintes: limpeza das matas no Inverno ; abertura de caminhos que possibilitem às viaturas dos bombeiros um acesso mais rápido ao local dos incêndios ; postos de vigia nos sítios mais altos ; corte das árvores em volta das casas de habitação num raio de 50 ou 100 metros ; dotar os bombeiros mais carenciados dos meios mais apropriados para combater os incêndios.
Para a limpeza das matas deviam constituir-se brigadas integrando também elementos do exército. Às autarquias locais e às juntas de freguesia competiria fazer um levantamento das zonas arborizadas a precisar de limpeza. Os proprietários que não tivessem meios para o fazer solicitariam a ajuda dessas brigadas.
4-Penso que se estas medidas forem tomadas os incêndios irão diminuir gradualmente para níveis aceitáveis. Portugal merece este esforço de forma a evitar que uma grande parte da riqueza nacional não seja delapidada e a gente idosa do interior não fique sem recursos para sobreviver.
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1-Esta é a pergunta que muita gente faz quando crianças ou pessoas inocentes são assassinadas ou vítimas da guerra ou de qualquer catástrofe. Já anteriormente escrevi um texto sobre esta matéria mas recentemente li um artigo muito interessante na revista “ Bíblica “ escrito pelo teólogo Ariel Álvarez Valdés e nele colhi outros elementos que vão contribuir para aprofundar o assunto.
Seria possível que Deus ao criar o mundo o tivesse feito de forma a evitar a dor e o sofrimento humano? O filósofo Epicuro que viveu no século II a.c estabeleceu o seguinte dilema: Se Deus é Bom e existe o mal então é porque não é omnipotente; pelo contrário se é omnipotente e omnisciente e existe o mal é porque não é Bom
Se lermos a Bíblia, sobretudo o Antigo Testamento, verificamos que as doenças e todos os males eram um castigo de Deus. As pessoas sofriam porque eram pecadoras e esse anátema levava à exclusão social. Deus era também responsável pelos desastres naturais e pelos cataclismos. E podemos dar como exemplos os seguintes casos: o dilúvio que aniquilou quase toda a humanidade ( Gen, 7) ; a destruição da cidade de Sodoma fazendo cair fogo e enxofre sobre ela ( Gen,19-21) ; as pragas do Egipto (Ex 7,8 ) ; o terramoto que que conduziu à morte os que se sublevaram contra Moisés (Num 16,31,37 ) ; a seca de três anos em Israel (1Rs 17,1 )
É claro que no Antigo Testamento são narrados casos extraordinários e mirabolantes como Josué que manda parar o Sol, mas isso devia-se ao facto de a ciência estar pouco desenvolvida nessa época e também por se desconhecerem as leis da natureza e a origem das doenças e dos fenómenos naturais. Por outro lado as pessoas que escreveram os textos bíblicos tinham uma ideia errada de Deus que de forma alguma se podia moldar por conceitos como a cólera, a ira ou a vingança. Por isso a Bíblia não pode ser lida à letra pois exige um trabalho de análise (exegese) e de interpretação correcta dos textos (hermenêutica ) enquadrando-os no seu contexto histórico.
No Novo Testamento as coisas são totalmente diferentes. Temos um Jesus que não exclui ninguém nem mesmo os pecadores e que cura os cegos, os surdos, os leprosos pois todos são filhos de Deus. Poderá haver um ou outro caso mais sombrio e violento como a narração do fim do mundo em que se diz “ o Filho do Homem enviará os seus anjos que hão-de tirar do seu reino todos os escandalosos e todos os que praticam a iniquidade e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes (Mat 13,41,42 ). Mas salvo raras excepções o que vemos no Novo Testamento é um Jesus compassivo e cheio de misericórdia. É no entanto preciso ter em conta que os evangelistas não foram testemunhas oculares dos acontecimentos que descrevem, baseando-se na tradição e no testemunho oral ou escrito e que por vezes dão um cunho pessoal ao que escrevem
Nos primeiros séculos do cristianismo apareceram grupos de religiosos designados de gnósticos. A palavra gnóstico deriva do grego “gnósis” que significa “ conhecimento secreto “. De facto os gnósticos achavam que tinham acesso ao verdadeiro Deus através da ascese e de ritos exotéricos. O gnosticismo era uma doutrina dualista porque admitia dois princípios: o do Bem e o do mal. O universo, a matéria, o homem tinham sido criados por uma divindade malévola que identificavam com o Deus do Antigo Testamento. A este Deus davam o nome de Demiurgo, termo já utilizado por Platão no Timeu. Foi o Demiurgo ou Deus mau que criou a alma sensitiva ( psique ) e ao Deus Supremo coube a criação da alma racional ( pneuma ).
2-Afastada a hipótese absurda de um Deus castigador e malévolo podemos verificar que a dor e o sofrimento pode ter origem nas mais diversas situações: guerras, terrorismo, doenças, epidemias e catástrofes naturais. As guerras e o terrorismo resultam do mau uso da liberdade humana pois não é pelo ódio e pela violência que se constrói a paz. Deus ao criar o homem dotou-o com a capacidade do livre arbítrio, ou seja, do poder de praticar o bem ou mal. Se assim não fosse o homem seria um mero autómato. Muitas doenças e epidemias resultam da poluição do meio ambiente e da contaminação das águas com é o caso da febre tifoide, da malária, da cólera e do paludismo. A desregulação do clima devido ao aumento do dióxido de carbono e à diminuição da camada de ozono dá por vezes origem a tornados de grandes dimensões provocando a morte e a destruição em grandes zonas do nosso planeta. Há também os sismos e as erupções vulcânicas que de vez em quando têm efeitos devastadores provocando a morte a milhares de pessoas. Seria possível Deus ter criado o Universo evitando estes fenómenos ?
O professor Keith Ward que ensinou filosofia em várias universidades britânicas e também na Universidade de Oxford diz, no seu livro “ Deus, Fé e o Novo Milénio “, da editora Europa-América, o seguinte : “ quando os sistemas físicos estão unidos de forma holística cada parte será sensível às mudanças noutras partes……No mundo físico, não será , de modo geral, possível ajustar uma parte para a melhorar, sem que os efeitos se repercutam em todo o sistema, mesmo as pequenas mudanças podem produzir efeitos em grande escala. Deste modo, Deus não conseguirá considerar isoladamente de todo o sistema o bem estar de partes específicas do Universo “. O teólogo Ariel Ávarez Valdés vai mais longe e diz: “ Um mundo sem mal seria impossível pela simples razão de que o mundo é finito, limitado e precário. E coloca a seguinte interrogação: “ Deus não podia ter criado o mundo perfeito ? A resposta é categórica : Não porque o único perfeito que existe é Ele. Tudo o mais que Ele possa criar é necessariamente limitado. A essa limitação é o que nós chamamos mal.” E acrescenta: “ Deus podia não ter criado o mundo mas no caso de o criar este deveria necessariamente ser finito, porque se criasse algo absolutamente perfeito, criar-se-ia a si mesmo. De modo que a finitude, a imperfeição, a carência estarão sempre presentes na natureza. A ideia de um mundo sem mal é tão contraditória como a de um círculo quadrado “
3- Quando se visita um amigo doente ou quando alguém morre é frequente ouvir dizer : Deus quis assim ou temos que aceitar a vontade de Deus. Até eu próprio já caí nesse erro. Responsabilizar Deus pelas doenças e pela morte é um erro crasso. Deus é um Deus de vida e não de morte. Os milagres que Jesus fez atestam isso mesmo.
Há bem pouco tempo assisti a uma conversa entre duas senhoras e em que uma dizia para outra ser muito” determinista”. É assim que pensam os que são fatalistas para quem as coisas acontecem necessariamente e o destino de cada um está logo traçado à nascença. E aqui está mais outro erro. Na maior parte dos casos somos nós, pelo nosso comportamento que determinamos o nosso destino. E isso tem lugar nas mais variadas situações: alcoolismo, consumo de drogas, erros alimentares, desprezo pelas medidas de segurança na estrada, etc. etc…É certo que há casos inexplicáveis mas isso tem a ver com o facto de sermos seres contingentes e vivermos num mundo contingente a que não podemos escapar.
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