1-KierKegaard nasceu em Copenhaga a 5 de Maio de 1813. O seu pai era um homem melancólico e transmitiu ao filho esse mesmo temperamento. Frequentou a “ Escola Cívica “ onde estudou latim e história. Cedo se começou a interessar pela filosofia e pela literatura. Esteve ainda em Berlim onde assistiu às lições de Schelling.
Foi noivo de Regina Olsen mas acabou por não se casar apesar de a amar e gostar muito dela. A justificação que deu foi de o seu temperamento melancólico ser incompatível com o matrimónio. A sua fé e o seu cristianismo foram profundamente influenciado pela experiência religiosa do seu pai.
2-Das inúmeras obras que escreveu destaco entre outras as seguintes:
Temor e Tremor; Migalhas Filosóficas; O conceito de Angústia; Discursos; O Desespero Humano.
Na impossibilidade de consultar todas as obras foi com base no livro “ O Desespero Humano “ que elaborei este texto.
3-Poucas são as pessoas que ao longo da sua vida não tenham passado pela angústia e pelo desespero. E são estes conceitos que Kierkegaard explorou ao longo do seu livro juntamento com o paradoxo, ou seja, as situações inexplicáveis que a fé leva a assumir sobretudo quem é cristão e acredita em Deus.
Para kierkegaard o homem é espírito e o espírito é o “eu “ . O homem é uma síntese de finito e infinito, de temporal e de eterno de liberdade e de necessidade. A alma e o corpo estabelecem não só uma relação consigo próprio mas com outrem. Dessa relação nem sempre se consegue o equilíbrio e o repouso. Daqui resulta o desespero ( a vontade de regressarmos a nós próprios). A superioridade do homem sobre o animal está pois, em ser susceptível de desespero e ainda a sua beatitude em poder curar-se. O desespero é uma enfermidade do eu. Mais do que em nenhuma outra enfermidade é o mais nobre do eu que nele é atacado pelo mal, mas o homem não pode morrer dele. O desespero é universal ou seja ninguém está isento do desespero. A maior parte das pessoas vive sem grande consciência do seu destino espiritual…..e daí toda essa falsa despreocupação, essa falsa satisfação em viver, etc .etc. que é o próprio desespero. A conquista da eternidade, só se consegue para lá do desespero. Para Kierkegaard há vários tipos de desespero:
a-O desespero do infinito ou carência do finito
É o caso de alguém presa do imaginário e deixa de ser ele próprio afastando-se do eu.
b-O desespero do finito ou carência do infinito
É o caso das pessoas que vivem exclusivamente para si próprias que sabem usar os seus talentos e acumular dinheiro mas que espiritualmente não tiveram um “ eu “ que os ligasse a Deus.
c-O desespero do possível ou a carência da necessidade
São os que jogam em todos os desejos e desvarios e esquecem-se daquilo que também é necessário como a espiritualidade.
d-O desespero na necessidade ou a carência do possível
Para os deterministas e fatalistas há coisas que têm mesmo de acontecer, acontecem necessariamente. O fatalista vive sem Deus e o seu eu é a necessidade. Mas é necessário apostar no possível e Deus é também essa possibilidade à qual o crente se dirige quando ou porque acredita que Deus existe.
e-O desepero que se ignora
Aquele que vive de futilidades, da sensualidade e do prazer ignora que tem um eu e que esse eu é eterno. “ Os homens não têm ordinariamente mais que uma leve ideia, ou melhor, não fazem a mais leve ideia do seu espírito, de serem esse absoluto que ao homem é dado ser. O desespero que se ignora está afastado da verdade e da salvação.
f-O desespero consciente da sua existência
Quando alguém se mata com a consciência que matar-se é um acto de desespero e portanto com uma visão exacta sobre o que seja o suicídio é mais desesperado do que matando-se sem saber ao certo que isso significa desespero. Mas o contrário de desespero é crer. Se o desespero for eliminado é porque a pessoa tem fé e mergulha através da sua própria transparência no poder que lhe dá a existência.
g-O desepero temporal ou de uma coisa temporal
O verdadeiro desespero está em perder a eternidade. A perda do temporal em si não é desespero e é contudo dela que o homem fala é a isso que ele chama desespero. Imagine-se um eu ( e nada é depois de Deus tão eterno como o eu ) e que se ponha a pensar na maneira de se transformar num outro. Há aqui a ilusão segundo a qual essa transformação lhe seria tão fácil com mudar de casaco.
h-Desespero quanto ao eterno de si próprio
O homem que se refugia no que é temporal ou nas coisas temporais e delas não é capaz de sair ( desespero –fraqueza como lhe chama KierKegaard) é porque não confia no seu eu e na eternidade e por isso entra no chamado ( desespero –desafio ) “ Um desesperado que quer ser ele próprio, suporta de má vontade qualquer estado penoso ou insuportável do seu eu concreto. Lança-se então com toda a paixão nesse tormento que acaba por se tornar num raiar demoníaco. E se então fosse possível que no céu Deus com todos os seus anjos lhe oferecesse libertação recusá-la-ia tarde de mais.
i-O desespero e o pecado
Diz KierKegaard que pecamos quando, perante Deus ou com a ideia de Deus, desesperados, não queremos ou queremos ser nós próprios. Acrescenta ainda que “ crer é sendo nós próprios e querendo sê-lo mergulhamos em Deus através da sua própria transparência.” Para KierKegaard o contrário do pecado não é a virtude mas a fé. Quem não ousa crer por falta de humildade e coragem escandaliza-se. O escândalo é a admiração infeliz, parente da inveja, mas uma inveja que se volta contra si própria. Escândalo é também não acreditar na remissão dos pecados não aceitar o sofrimento e negar Cristo considerando o cristianismo uma fábula e uma mentira
CONCLUSÃO:
KierKegaard foi teólogo, filósofo e literato. É também considerado um precursor do existencialismo. Viveu na segunda metade do século XIX no período áureo da burguesia liberal que vivia egoisticamente sem se importar com os pobres e os excluídos da sociedade. Assistiu a algumas aulas de Hegel que foi um grande mestre da filosofia do seu tempo. Para este filósofo toda a realidade brotava do espírito absoluto através de um processo dialéctico. Esta teoria das ideias ou sistema que procurava explicar tudo através da razão não agradava a KierKegaard. Ao pensamento objectivo formado pelos dados da razão e da ciência contrapôs KierKegaard o pensamento subjectivo que parte precisamente do homem como realidade existente. É precisamente na análise da existência humana feita de angústia que KierKegaard estrutura o seu pensamento. A verdade só se alcança pela fé em Deus e é ela que nos ajuda a ultrapassar a angústia, o desespero e os paradoxos a ela inerentes. E não é fácil essa tarefa quando há termos que à partida parecem inconciliáveis. Um dos maiores paradoxos é o de Cristo ao mesmo tempo Deus e Homem.
Ao compararmos Kierkegaard com outros filósofos vemos também grandes diferenças. Para Pascal não há qualquer incompatibilidade entre a Fé a Razão. Para Kierkegaard elas são incompatíveis. Para Marx a religião é o ópio do povo que cria ilusões imediatas aos crentes. Para Kierkegard ela é antes “ o aguilhão contra todos os sonos”.
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