Esta é uma expressão do Papa Francisco citada na encíclica “ Alegria do Evangelho “. É também o título de um livro da Bertrand Editora, publicado este ano e em que os jornalistas italianos Andrea Tornielli e Giacomo Galeazzi aprofundam o pensamento do Papa Francisco e da Igreja, sobre a economia, com base nas seguintes fontes: encíclicas, cartas, discursos, entrevistas ao Papa e a especialistas na matéria. As mensagens tanto do Papa Francisco como dos seus antecessores são analisadas de forma a aclarar o pensamento e a doutrina social da Igreja. Depois deste breve preâmbulo irei desenvolver os aspectos principais do pensamento do Papa Francisco relativamente ao tema em causa.
1-Economia da exclusão e da desigualdade
Para Adam Smith a mão invisível do mercado livre regula tudo sem ser necessário qualquer intervenção do Estado. Daqui surgiu a teoria da “ recaída favorável “, segundo a qual o mercado livre por si só quer maior igualdade e inclusão social. Quantos mais ricos enriquecerem melhor correrá a vida aos pobres. Dogma é dogma e quem o questionar é um sonhador. Havia a promessa que quando o copo estivesse cheio, transbordaria e os pobres ficariam beneficiados com isso. Acontece, pelo contrário que, quando está cheio, o copo por magia dilata-se e assim nunca se entorna para os pobres. Para muitas pessoas é mais importante a queda dos valores da Bolsa do que os que morrem à fome e dos que são obrigados a viver na rua. A teoria da “recaída favorável “nunca foi confirmada pelos factos e os excluídos da sociedade continuam hoje à espera de melhores dias.
2-Globalização da indiferença
O que se verifica hoje é que temos um sistema económico que idolatra o dinheiro e descarta as pessoas, os jovens e idosos e deita fora aqueles de quem julga não precisar. A crise que estamos a viver não é apenas económica mas também uma crise ética e antropológica pois coloca os ídolos do poder, do lucro e do dinheiro acima dos valores da pessoa humana. O Papa diz que ama a todos, ricos e pobres, mas tem a obrigação, em nome de Cristo, de ajudar os pobres, respeitá-los e promovê-los. Exorta por isso à solidariedade desinteressada e a um regresso da economia e da finança a uma ética em prol do ser humano. Se é certo que a globalização tirou da miséria extrema muitas pessoas e aumentou a riqueza agregada de vários Estados, a verdade é que também lançou no desemprego milhares de trabalhadores nos países considerados mais ricos. A deslocalização de empresas que tem em vista apenas o crescimento económico e o lucro, pouco se importa com o desequilíbrio internacional do mercado do trabalho. E esse desequilíbrio não respeita a dignidade da pessoa humana submetendo ao trabalho escravo homens, mulheres ,crianças e destruindo postos de trabalho noutras regiões. Diz o Papa que” este problema só se resolve criando mecanismos de tutela dos direitos laborais, assim como a responsabilidade no que diz respeito às cidades e à Criação. É necessário lutar por uma economia e um mercado que não exclua e seja equitativo
3- Direitos sociais Terra, casa e trabalho são direitos sociais sagrados.
Não é estranho reivindicar e exigir tais direitos pois fazem parte da doutrina social da Igreja. O Papa explica que “ a monopolização das terras, a desflorestação, a apropriação da água, os pesticidas inadequados são alguns dos males que arrancam o homem da sua terra natal. A outra causa é a fome motivada pela especulação financeira que condiciona o preço dos alimentos e ainda o desperdício de toneladas de alimentos. A segunda palavra de ordem é o direito a uma habitação condigna. Enquanto nalgumas cidades uma minoria vive no luxo e bem-estar e não lhes falta nada, outras pessoas na periferia vivem na miséria e às quais se dá elegantemente o nome de “ sem abrigo “ Finalmente a terceira palavra de ordem é o trabalho. Diz o Papa Francisco que “não existe pior pobreza material do que a que não permite que se ganhe o pão e priva da dignidade do trabalho. O desemprego juvenil, a informalidade e a falta de direitos laborais não são inevitáveis mas o resultado de uma prévia opção social de um sistema económico que põe os benefícios acima do homem. A deslocalização produtiva para países ainda não industrializados não foi feita pelo espírito cristão para com esses países mas apenas para se poder consumir mais. E não se consome mais por ser necessário mas só para evitar a queda do PIB. Se a população não crescer o PIB só pode crescer através de consumos individuais. Assim para crescer o PIB instiga-se a um consumo assente na dívida, mas se a dívida não for paga tudo se desmorona”.
4-Conclusão
O Papa Francisco não teve medo de dizer a verdade perante uma sociedade liberal-capitalista que tem como objectivo principal o lucro e ignora a pobreza e as desigualdades sociais. Não admira que alguns conservadores americanos o tenham atacado e acusado de ser “ marxista “. Mas para um verdadeiro cristão o mais importante não é a catequese, as doutrinas e os bons conhecimentos teológicos. O essencial no cristianismo está no Evangelho. E o Evangelho não deixa dúvidas quando diz: “ tive fome e deste-me de comer; tive sede e deste-me de beber ; estava nu e vestiste-me …. “