1-Saiu recentemente e encontra-se à venda nas livrarias o livro “ O Nome de Deus é Misericórdia” . Este livro que tem como figura central o Papa Francisco divide-se em duas partes distintas: na primeira parte o Papa Francisco responde a perguntas da jornalista Andrea Tornielli e o tema é a Misericórdia; na segunda parte o Papa Francisco torna pública a Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia e deseja a todos que a lerem Graça, Misericórdia e Paz.
Quando se fala em Misericórdia verificamos que ela tem em primeiro lugar dois rostos: um divino e outro humano. A Misericórdia divina é o seu expoente máximo pois Deus ama, acolhe e perdoa indiscriminadamente todas as pessoas que a Ele recorrem e se mostram arrependidos. A Misericórdia de rosto humano é aquela que todos podem praticar no dia a dia abrindo o coração aos infelizes. À volta da palavra Misericórdia gravitam outras palavras ou expressões que lhe completam o sentido: amor, perdão, justiça, fraternidade e compaixão. Assim a Misericórdia é ao mesmo tempo amor e fraternidade para com o nosso próximo, saber perdoar e sofrer com o sofrimento dos outros. A Misericórdia vai ainda mais além que a justiça. Como diz o Papa Francisco” A justiça é mais justa com a Misericórdia, realiza-se realmente a si mesma. Isto não significa ser indulgente no sentido de abrir as portas das prisões a quem está manchado de crimes graves. Significa que devemos ajudar a levantar aqueles que caíram. É difícil pôr em prática, porque por vezes preferimos fechar alguém numa prisão durante uma vida inteira em vez de tentar recuperá-lo, ajudando-o a reinserir-se na sociedade” (pag 86,87 ).
Para os fariseus a justiça estava no cumprimento rigoroso da Lei desprezando todos aqueles que consideravam pecadores incluindo os leprosos cuja doença era entendida como um castigo de Deus. A estes Jesus definia-os como “ sepulcros branqueados “ que viviam acorrentados à Lei mas descuravam o amor. Também a classe sacerdotal ignorava a Misericórdia e um bom exemplo disso está na parábola do bom samaritano. Um homem foi assaltado e espancado pelos ladrões e jazia à beira da estrada entre a vida e a morte. Passou um sacerdote qua ao avistá-lo se deslocou por outro lado. O mesmo se passou com um levita que fez exactamente o mesmo. O homem veio finalmente a ser salvo por um samaritano que teve compaixão dele e o levou para uma hospedaria onde deixou dinheiro ao hospedeiro para o tratar devidamente. Os Samaritanos eram pessoas que os judeus desprezavam e não viam com bons olhos. E no entanto foi o samaritano que usou de misericórdia com um ferido que necessitava de ajuda.
Numa homilia em Santa Marta o Papa disse “ Pecadores sim, corruptos não “ . A jornalista perguntou então ao Papa que diferença existia entre pecadores e corruptos. O Papa explicou que o pecador se arrepende, pede perdão e reconhece que necessita de misericórdia. O corrupto por sua vez é aquele peca e não se arrepende, aquele que peca e finge ser cristão e com a sua dupla vida provoca escândalo. O corrupto não conhece a humildade, não sente a necessidade de ajuda, leva um vida dupla. O corrupto tem sempre a cara de quem diz “ Não fui eu “. A cara a que a minha avó chamava “ cara de santinho “ ( pag 86,88 )
2-Na Bula da Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia o papa Francisco diz que a arquitrave que suporta a vida da Igreja é a misericórdia. Por isso deve ir às periferias ajudar, apoiar os que mais necessitam. A primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo e acrescenta “ na nossa paróquia, nas comunidades, nas associações- em suma onde houver cristãos- qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia”.
Para os fundamentalistas e legalistas da Religião judaica o jejum e os sacrifícios tinham um peso enorme. O Papa Francisco baseando-se nas profecias de Isaías(58,6-11) e Oseias (6,6) e ainda nos ensinamentos de Jesus Cristo ( Mat 9,13) diz-nos que o mais importante é a prática das obras de misericórdia corporais e espirituais. Também para os confessores deixa bons conselhos tais como acolher os fieis como o pai na parábola do filho pródigo, serem mais dialogantes e menos interrogativos não devendo fazer perguntas impertinentes. Ainda se está longe de algumas correntes que advogam que a confissão auricular deveria ser facultativa e só para os casos de pessoas que precisam de aconselhamento e de desabafar com o sacerdote..
O Papa termina a sua Bula dizendo: “ Neste Ano Jubilar, que a Igreja se faça eco da Palavra Deus que ressoa, forte e convincente como uma palavra e um gesto de perdão, apoio, ajuda, amor. Que a Igreja se faça voz de cada homem e mulher e repita com confiança e sem cessar: Lembra-te, Senhor, da tua misericórdia e do teu amor, pois eles existem desde sempre “
1-Para os cristãos o serviço tem de estar acima do poder. Deve-se ajudar quem precisa sem esperar colher desse gesto qualquer benefício. Nos Evangelhos vamos encontrar várias passagens que apontam para esse comportamento. Quando os discípulos se envolvem em disputa para saber qual deles é o primeiro Jesus diz:” quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. “. Jesus também afirmou que o Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir.
2-Na política, por regra, o que conta mais é o Poder. Os deputados, governantes, autarcas, titulares de órgãos de soberania e de cargos públicos deviam estar igualmente ao serviço da comunidade que os elegeu. Mas nem sempre assim acontece e os interesses pessoais sobrepõem-se por vezes ao interesse público. Muitos servem-se dos cargos que têm e das funções que desempenham para tirar proveitos para si próprios, para familiares e amigos. Daí a expressão popular “ quem não arrisca não petisca”. Os casos de corrupção são frequentes e os culpados nem sempre são levados a tribunal onde deveriam ser severamente punidos pelos crimes praticados. Alguns corruptos apanhados nas malhas da justiça, conseguem usar todos os recursos possíveis de forma a que os processos acabem por prescrever.
3-Um outro aspecto que tem estado na ordem do dia são as benesses, privilégios e mordomias a que têm direito alguns políticos. Aos ex-presidentes da República é concedido o uso de automóvel do Estado para seu serviço pessoal com condutor e combustível. Têm também direito a gabinete de trabalho sendo apoiados por um assessor e um secretário da sua confiança. Também os deputados com 12 anos de serviço têm direito a uma subvenção vitalícia o mesmo acontecendo com autarcas e Juízes do Tribunal Constitucional. Nestes casos não é preciso esperar pela idade de reforma que nos outros funcionários só acontece quando completam 66 anos. O que está em causa não é tanto o que cada um ganha pois manda a justiça retributiva que o vencimento seja proporcional ao mérito, à competência e à responsabilidade no desempenho de um cargo. O que não é justo é que as subvenções sejam acumuladas com outros rendimentos e também que as reformas possam ser antecipadas bastando que tenham sido cumpridos apenas 12 anos de serviço. Isto é um verdadeiro escândalo que não tem qualquer justificação plausível.
4-A credibilidade dos políticos tem muito a ver com a imagem que transparece no desempenho das funções que exercem. Há normas éticas e leis que têm de ser respeitadas. Quando a Constituição diz que todos os cidadãos são iguais em direitos e não há privilégios para ninguém, custa a perceber por que é que as subvenções vitalícias e outras mordomias não são consideradas inconstitucionais. Mesmo partindo do princípio de tudo isto ser legal seria bom que os políticos abdicassem de algumas destas regalias, sobretudo os que têm vencimentos acima da média. A título de exemplo poderia citar o nome do Presidente Manuel de Arriaga que pagava renda de casa, usava o seu próprio automóvel nas deslocações, não lhe era dado dinheiro para transportes e não tinha secretário.
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