O título da Carta Encíclica é tirado de um cântico de São Francisco de Assis que diz o seguinte: “ Louvado sejas meu senhor, pela nossa irmã terra que nos sustenta e governa, produz variados frutos como flores coloridas e verdura “
O Papa começa por dizer que a nossa “ Casa Comum “ é o Planeta onde vivemos e os problemas com o meio ambiente não são de agora pois já o Papa Paulo VI na encíclica “ Pacem in Terris “ de 1971 alertava para o risco de o ser humano destruir o meio ambiente e vir a ser vítima dessa degradação. Também Bento XVI na encíclica “ Caritas in Veritate “ diz que a degradação da natureza está estritamente ligada à cultura que molda a consciência humana “ . O Patriarca Bartolomeu apela igualmente ao respeito pela biodiversidade e integridade da Terra.
A desflorestação e toda a actividade que contamina as águas, o solo e o ar é “ um crime contra a natureza e um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus “ Mas o modelo inspirador do Papa Francisco é São Francisco de Assis que vivia “ numa maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo “. São Francisco chegou a pregar às flores e qualquer criatura era para ele uma irmã “ unida a ele por laços de carinho “ Diz o Papa Francisco que se deixarmos de falar a língua da fraternidade e da beleza na nossa relação com o mundo, então as nossas atitudes são as do dominador, do consumidor ou de um mero explorador dos recursos naturais, incapaz de pôr limites aos seus interesses imediatos “
1-No 1º capítulo da encíclica o Papa Francisco faz um retrato do que está a acontecer à “Nossa Casa” que á a Terra. As Mudanças sucedem-se a um ritmo acelarado e muitas delas contribuem para a deterioração do mundo em que vivemos. As causas têm a sua origem na poluição que não para de aumentar e se verifica a vários níveis: atmosférico ( fumo dos transportes e das indústrias ; do solo ( utilização de fertilizantes, fungicidas e pesticidas ; da água para onde se encaminham produtos químicos). O Papa Francisco chama a atenção para o aquecimento global das últimas décadas provocado pela concentração dos gases com efeito de estufa. Para evitar estes efeitos torna-se urgente substituir os combustíveis fósseis por fontes de energia renovável
A água é um bem precioso que também começa a escassear. Na África há sectores da população que não têm acesso a água potável e daí advêm certas epidemias como a diarreia e a cólera aumentando assim o sofrimento e a mortalidade infantil. Esta situação é inadmissível pois como diz o Papa “ o acesso a água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas. “
A poluição está também a contribuir para a perda da biodiversidade pois desaparecem anualmente milhares de espécies vegetais e animais. Todos estes fenómenos acarretam a deterioração da qualidade da vida humana e a degradação social. Os que mais sofrem com estas agressões ambientais são as pessoas mais pobres pois não têm posses par comprar água engarrafada. Por outro lado o consumismo exacerbado dos países ricos leva ao desperdício de alimentos que faltam à mesa dos pobres.
2-Para os cristãos e para os crentes o mundo não nasceu do nada mas foi crido por Deus. Todos os seres vivos, plantas, animais irracionais se encontram inter-relacionados e nenhum deles deve ser eliminado. A Bíblia ( Antigo e Novo Testamento ) têm páginas maravilhosas que apontam para o Amor com que Deus criou tudo e do respeito que nós devemos ter com as coisas que foram postas à disposição do homem. Ninguém é dono ou proprietário exclusivo de Bens que Deus criou. Diz o Papa Francisco, citando João Paulo II que “ sobre toda a propriedade particular pesa sempre uma hipoteca social, para que os bens sirvam ao destino que Deus lhes deu .”E mais à frente ( Nº 95 ) afirma que” o meio ambiente é, como bem colectivo, património de toda a humanidade e da responsabilidade de todos. Quem possui uma parte é apenas para a administrar em benefício de todos. Se o não fizermos, carregamos na consciência o peso de negar a existência aos outros”.
3-Para o Papa Francisco a crise ecológica está no paradigma tecnológico que exerce o seu domínio sob a economia e a política. Na economia o desenvolvimento tem como objectivo o lucro. O liberalismo económico pensa que a economia resolve todos os problemas e que o crescimento do mercado vai pôr termo à fome e à miséria. O que se verifica ,porém, é que o crescimento desmesurado e a produção sem limites vai esgotar as reservas naturais e aumentar a poluição.
O antropcentrismo moderno tem tendência a colocar o homem com senhor absoluto do Mundo. Por isso vale tudo e não há valores a respeitar. O facto é que como diz o Papa se não “ há verdades objectivas nem princípios estáveis fora da satisfação das aspirações próprias e das necessidades imediatas também não há limites para o tráfico de seres humanos, a criminalidade organizada, o narcotráfico, o comércio de diamantes ensanguentados e de peles de animais em vias de extinção ( 123 ) . A cultura do relativismo onde não há valores éticos, leva a que uma pessoa trate outra como um mero objecto submetendo-a por vezes a trabalhos forçados e reduzindo-a à escravidão. O progresso tecnológico não pode reduzir cada vez mais os postos de trabalho substituindo-os por máquinas para obter lucros. O Papa diz que ajudar os pobres com dinheiro devia ser um remédio provisório. O verdadeiro objectivo deveria sempre consentir-lhes uma vida digna através do trabalho “ ( 128). As experiências com animais e com seres humanos par fins científicos têm também os seus limites e devem respeitar os princípios éticos para que sejam legítimos.
4-O homem tem que saber respeitar a ecologia( relações entre os organismos vivos e o ambiente ) e os ecossistemas( conjunto harmónico de organismos num determinado espaço, funcionando como sistema ). O Papa defende uma ecologia integral por forma a enquadrar as dimensões humanas e sociais. As soluções têm também de ser integrais ou seja têm de considerar as interacções dos sistemas naturais com os sistemas sociais. Assim, “ o consumo de drogas nas sociedades opulentas provoca uma constante procura de produtos que provêm de regiões empobrecidas, onde se corrompem comportamentos, se destroem vidas e se acaba por degradar o meio ambiente “ . A economia global tem um efeito nocivo levando a homogeneizar as culturas ou mesmo ao desaparecimento de algumas. As comunidades aborígenes são por vezes obrigadas a abandonar o meio em que vivem e a perder as suas tradições culturais. Para o Papa Francisco uma ecologia humana é inseparável do bem comum que inclui o respeito pelos direitos humanos fundamentais. Além disso deve ter em conta a segurança, a paz social e a justiça distributiva. A noção de bem comum engloba também as gerações futuras. Não se pode falar de desenvolvimento sustentável sem uma solidariedade intergeracional. É obrigação de todos devolver aos que nos hão-de suceder aquilo que recebemos em boas condições.
5-Só através de um trabalho conjunto a nível mundial se poderão resolver os problemas ambientais. Este consenso tarda em chegar apesar das cimeiras que se têm feito sem qualquer resultados práticos. Os países industrializados são os que mais poluem e os que mais responsabilidades têm na solução dos problemas que causam. Diz o Papa que “ se os cidadãos não controlam o poder político- nacional, regional e municipal- também não é possível combater os danos ambientais( 179 ). Por outro lado “ a Igreja não pretende definir as questões científicas nem substituir-se aos políticos, mas convida a um debate honesto e transparente para que as necessidades particulares ou as ideologias não lesem o bem comum “ ( 188 ). Tanto a política como a economia devem estar ao serviço da vida . A economia de marcado tem como preocupação exclusiva o lucro e pouco se preocupa com os danos que provoca ao meio ambiente e social. Para uns consumirem em excesso outros terão de passar fome. Diz o papa que “ um desenvolvimento tecnológico e económico que não deixa um mundo melhor e uma qualidade de vida integralmente superior, não se pode considerar progresso “ ( 194 ) . As Religiões têm um papel importante a desempenhar porque a ciência não explica tudo nomeadamente a essência das coisas e o conjunto da realidade. As soluções técnicas das ciências são importantes mas são insuficientes se não houver valores a respeitar que tornem possível a convivência social, o sacrifício e a bondade. Por isso os crentes devem ser coerentes com a sua fé e pô-la em prática nas suas acções . “ ( 201 )
6- O Papa Francisco termina a sua encíclica sugerindo uma educação e espiritualidade ecológica. É necessário modificar o estilo de vida consumista e adoptar um sistema de abertura ao bem, à verdade e à beleza e que tenham em conta a dignidade da pessoa humana. É também necessário uma cidadania ecológica que eduque as pessoas para a responsabilidade ambiental incentivando comportamentos que sejam amigos do ambiente: evitar o uso de plásticos reduzir o consumo da água, diferenciar o lixo, utilizar os transportes públicos, etc.. A educação deve abranger um leque de intervenientes o mais abrangente possível: a família, a escola, os meios de comunicação, a catequese, etc. Para os cristãos que não se preocupam com o meio ambiente e não estão dispostos a mudar de hábitos o Papa diz que é necessária uma conversão ecológica. Esta conversão implica um dinamismo de mudança individual e comunitária.” Se Deus criou o mundo inscrevendo nele uma ordem e um dinamismo o ser humano não tem o direito de o ignorar” ( 221 ) . Há que ser sóbrio e evitar a dinâmica do domínio e do acumular de prazeres. Se nos familiarizarmos com as coisas mais simples conseguimos reduzir o número das necessidades insatisfeitas. A integridade dos ecossistemas pressupõe também a integridade da vida humana. O consumo exacerbado, a vontade de domínio, o poder sem limites prejudica o homem e o meio ambiente. O Papa esclarece que “ a paz interior das pessoas tem muito a ver com o cuidado da ecologia e o bem comum “ ( 225). Uma ecologia integral pressupõe também amor civil e político dado que o Amor cheio de pequenos gestos de caridade mútua é também civil e politica.
Já na parte final da sua Carta Encíclica o Papa Francisco diz o seguinte: “ a pessoa humana cresce, amadurece e santifica-se tanto mais, quanto mais se relaciona, sai de si mesma para viver em comunhão com Deus, com os outros e com todas as criaturas” (240). E quase a terminar acrescenta “ caminhamos cantando ; que as nossas lutas e a nossa preocupação por este Planeta não nos tire a alegria da esperança “ ( 244 )
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