1-Santo Agostinho nasceu em Tagasta, actual Sukh Ahras, na Argélia, perto da fronteira tunisina, em 13 de Novembro de 354 no ano de Cristo. Era filho de Patrício, burguês pagão e de Mónica que foi educada por pais cristãos. Santo Agostinho passou toda a sua infância em Tagasta e aí frequentou os estudos primários. Apoiado por Romariano, o seu mecenas, e amigo do pai, vai para Cartago no ano de 371 fazer os estudos superiores. Aí levou uma vida dissoluta arranjando uma amante que lhe deu um filho chamado Adeodato ( dávida de Deus ). Quando era estudante em Cartago descobriu Cícero que foi o seu guia filosófico. Tomou contacto com o cepticismo da “ Nova Academia “ e estudou ainda as correntes estoicas e epicuristas. Aderiu durante vários anos à corrente maniqueísta pois era a que lhe dava uma pista para a explicação do Problema do mal.
Em 376 com 22 anos , Agostinho iniciou a sua carreira de Professor de Retórica em Cartago. Em 384 partiu para Roma onde vai ensinar retórica. Um ano depois transferiu-se para Milão onde foi professor e onde encontrou o bispo Ambrósio de quem se tornou amigo. Os sermões de Ambrósio cativaram de tal modo Agostinho que este se converteu ao catolicismo. Depois retirou-se com a mãe e o filho para uma propriedade no campo, Cassicíaco, perto de Como onde escreve alguns diálogos filosóficos. Em 387, Agostinho e o filho são baptizados na catedral de Milão. Em 391 regressa a Tagasta e aí foi convidado para ser sacerdote auxiliar do Bispo Valério. Depois de ter sido ordenado acabou mais tarde por vir a a assumir as funções de Bispo de Hipona. Agostinho aproveitou ainda todo o tempo livre que dispunha para combater combater as heresias em voga no seu tempo : donatismo, maniqueísmo e pelagianismo. Acabou por falecer no ano de 430 com os Vândalos a invadirem o Norte de África e a cercarem Hipona por terra e por mar.
2-Santo Agostinho deixou-nos uma vasta obra na qual se misturam temas filosóficos, teológicos e ontológicos. Dos livros que escreveu destacam-se os seguintes:
Obras autobiográficas e de correspondência:- Confissões, As retratações, As cartas
Obras filosóficas:-Diálogos Contra Os Académicos, De Beata Vita , De Ordine, De immortalite animal, De Musica
Obras apologéticas- A Cidade de Deus
Além destes livros deixou-nos ainda vários sermões e também escritos contra os diversos grupos heréticos do seu tempo: maniqueus, Donatistas, Pelagianos e arianos.
De uma maneira muito resumida irei enumerar as principais características destas heresias:
Maniqueísmo- sincretismo religioso no qual se misturam elementos de várias religiões: judaica,gnóstica, cristã e budista. Trata-se de uma teoria dualista pois admite a existência de dois princípios criadores: O do Bem e o do Mal ou das trevas
Donatistas-Os donatistas consideravam inválidos os sacramentos ministrados por pecadores mesmo que estes se tivessem arrependido. A Igreja devia ser formada por Santos e não por pecadores.
Pelagianismo-doutrina que negava a existência do pecado original. O que salva o homem é o seu mérito e não a graça de Deus.
Arianismo-esta seita entendia que Jesus Cristo, embora Deus, não tinha natureza divina.
3-Os temas mais importantes do pensamento filosófico de Santo Agostinho são Deus e a Alma. Nos Solilóquios ( cap II, 7 ), Santo Agostinho declara: “ Desejo conhecer Deus e a Alma. Nada mais? Absolutamente nada “ . Há no entanto outros temas como o Homem e o Mundo, o Tempo, O livre Arbítrio, o Cepticismo, a Felicidade, o Amor que têm o seu interesse e se relacionam com a filosofia.
DEUS -Agostinho nas “ Confissões “( livro X, 6 ) pergunta: “ Que é Deus ? Perguntei à Terra e disse-me : “ Eu não sou “- Interroguei o mar, os abismos e os répteis animados e vivos e responderam-me : Não sou o teu Deus; busca-o acima de nós. Interroguei o céu, o sol, a lua, as estrelas e disseram-me : Nós também não somos o Deus que procuras “. Disse a todos os seres que rodeiam as portas da carne : “ Já que não sois o meu Deus , falai-me do meu ,dizei-me alguma coisa d ‘Ele “ . E exclamaram com alarido:- “Foi Ele que nos criou “
Stº Agostinho entende que a via para chegar ao conhecimento de Deus está em acreditarmos n’Ele ( creio para perceber-credo ut inteligam). A partir daqui funciona a Razão ( compreendo para acreditar- inteligo ut credam ) Temos que procurar Deus dentro de nós “ Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, Tarde vos amei. Eis que habitáveis dentro de mim e eu de fora a procurar-Vos ( Conf. Livro X,27 ). Toda a nossa esperança está em Deus “ Dai-me o que ordenais e ordenai-me o que quiserdes. ( Conf. Livro X, 29)
ALMA- É através da alma que se conhece o interior do homem. No livro “ Confissões “ Agostinho faz uma análise da sua própria alma e traça o caminho que conduz a Deus. A alma tem como características a espiritualidade e a imortalidade. Por outro lado as faculdades da alma são a memória, a inteligência e a vontade e nesta triplicidade vê Agostinho vestígios da Trindade.
O HOMEM E O MUNDO- No seu relacionamento com o Mundo o comportamento ético que deve nortear o homem é o do Amor ( caridade ). É bem conhecida a expressão de Stº Agostinho “ Ama e faz o que quiseres ( dilige et quod vis fac ). Todos os bens que Deus criou são bons . Stº Agostinho distingue no entanto os bens superiores ou materiais dos bens superiores ou espirituais. Os bens materiais devem ser usados como meios para atingir os bens espirituais. Temos aqui outro princípio da moralidade agostiniana que é o uti-frui( usar,utilizar e fruir ou gozar). As coisas terrenas são para usar e só as eternas são para fruir.
LIVRE ARBÍTRIO- O homem é dotado de uma vontade livre que lhe permite tomar opções entre o bem e o mal. A presciência de Deus não implica necessariamente que as coisas tenham que acontecer só por que Deus as conhece antecipadamente. Na Cidade de Deus ( Livro V,9 ) Stº Agostinho diz o seguinte : “ É contra estas audácias ímpias e sacrílegas que nós afirmamos, não só que Deus conhece todos os acontecimentos antes que eles se verifiquem, mas também que fazemos voluntariamente tudo o que sabemos e temos consciência e que o podemos fazer apenas porque queremos. As vontades humanas são especificamente as causas das acções humanas e por conseguinte aquele que previu todas as causas das coisas não pode ignorar entre as causas, as nossas próprias vontades pois que previu as causas das nossas acções “
O TEMPO- Para Santo Agostinho o Tempo apareceu simultaneamente com a criação do Mundo. No livro “ Confissões “ ( Livro XI,14 ) Agostinho interroga-se : “ O que é por conseguinte o Tempo ? Se ninguém mo perguntar, eu sei ; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei. Porém atrevo-me a dizer que se nada sobrevivesse não existiria o tempo futuro, e se agora nada houvesse não existiria o tempo presente “.
Resumindo, o passado já passou e não existe; o futuro ainda não veio e o presente se fosse sempre presente não passaria a pretérito já não seria tempo mas eternidade-
CEPTICISMO- No Diálogo Contra os Académicos Agostinho critica o cepticismo da “ Nova Academia “, escola filosófica fundada por Arcesilares ( 315,240 a.c) da qual teve conhecimento através de Cícero. Os Académicos ensinavam que se devia duvidar de tudo e que o conhecimento verdadeiro estava fora do alcance da nossa compreensão. Agostinho para refutar esta teoria começou por admitir uma verdade irrefutável que se exprime por duas palavras apenas “ Eu existo “. No livro Cidade de Deus “ (XI,26 ) reforça o seu argumento dizendo : “ Que será se te enganares ?- Pois se me engano , existo. Realmente, quem não existe de modo nenhum se pode enganar. Por isso se me engano é porque existo “
Podemos assim dizer que Agostinho foi um precursor de Descartes , pois também este iniciou o seu pensamento com uma verdade da qual não duvida : Penso logo existo ( cogito ergo sum )
FELICIDADE-Toda a gente quer ser feliz. Santo Agostinho abre o livro X, 1 da Cidade de Deus, afirmando “ É opinião segura de quem quer que seja que use um pouco da Razão que todos os homens procuram ser felizes “ . A felicidade alcança-se procurando a Sabedoria e a Verdade. No Livro “ Vida Feliz ( pag 130 )“ Agostinho diz o seguinte : “ estamos convencidos de que, se alguém quiser ser feliz, deverá procurar um bem permanente , que não lhe possa ser retirado em algum revés da sorte” . E acrescenta “ só quem possuir Deus é feliz. Quem faz o que Deus quer que sejas feito é feliz “
Uma das vias que pode conduzir à felicidade é a filosofia pois Deus está na alma e revela-se na sua intimidade.
4- POLITOLOGIA AGOSTINIANA-A obra mais importante que nos permite analisar o pensamento político de Santo Agostinho é a “ Cidade de Deus “, constituída por 22 livros. Os 10 primeiros livros são de carácter apologético e através deles Stº Agostinho procura refutar a tese que imputava aos cristãos a responsabilidade da queda do Império Romano. Os 12 livros seguintes são uma exposição de doutrinas cristãs. No livroXIV, 28 Agostinho diz-nos que o bem e o mal deram origem a 2 cidades “ Dois amores, fizeram as duas cidades : o amor de si até ao desprezo de Deus- a terrestre ; o amor de Deus até ao desprezo de si- a celeste “ Há portanto duas cidades : a Cidade terrena e a Cidade de Deus ou celestial. São duas cidades que sempre existiram desde o princípio do Mundo e que se misturam e coexistem. Nem a Cidade terrena se confunde com o Estado nem a a Cidade de Deus com a Igreja Católica. Há bons e maus nas duas cidades. O que ama os bens terrenos pertence à primeira cidade; o que ama a Deus pertence à segunda cidade. O termo cidade de Deus é usado para designar aqueles que peregrinam neste mundo à espera do verdadeiro Bem que é Deus.
A ORIGEM DO ESTADO ( civitas)- Para garantir a paz o homem é obrigado a associar-se. A primeira associação é a família célula e núcleo fundamental da sociedade. O homem precisa viver em sociedade mas de um sociedade fundada na justiça e no Direito. Só deste modo o Povo participa nos bens que ama ( C.D XIX )
AUTORIDADE- Todo o poder tem a sua origem em Deus. Qualquer sociedade para se manter precisa de um poder, de uma autoridade. Todo o poder deve ter como objectivo a Justiça que por sua vez tem o seu fundamento no amor . A “ Justiça é a virtude que dá a cada um o que lhe pertence. Onde não há verdadeira justiça não pode haver direito ( C.D XIX, 21 ). É também pela justiça que se chega à concórdia ou paz “ A paz é a aspiração última de toda a natureza e de todos os homens, mesmo os maus. “ ( CD, XIX, 12 ).
O poder é para Santo Agostinho um serviço prestado à comunidade. Seguindo de perto Marcel Prélot no livro “ Doutrinas Políticas, Editorial Presença, a autoridade comporta 3 funções : o serviço do mando( officium imperandum ), o serviço de providência ( officium previdendi ), e o serviço de aconselhamento ( officium consulendi )
O que detém o poder deve em primeiro lugar saber mandar em si próprio para depois mandar nos outros. Não deve ser orgulhoso, vaidoso ou ter a paixão de dominar. Em segundo lugar deve prever quais são os verdadeiros interesses do Estado e servir esses mesmos interesses. Em terceiro lugar ser conselheiro do povo e considerar os súbditos como irmãos.
FORMAS DO PODER- Santo Agostinho não prefere nem rejeita nenhum regime. O que interessa é que o detentor do poder governe segundo os princípios da ética, da moralidade e da justiça e contribua para a felicidade do povo. Como diz Marcel Prélot , que passo a citar “ desde que mantenha a justiça e respeite a religião todos os regimes políticos se equivalem, possuem os mesmos direitos e a mesma autoridade e podem exigir a mesma obediência. ( D.P.,268 )
CONCLUSÃO :
Santo Agostinho foi mais filósofo e teólogo do que propriamente político. No livro Cidade de Deus procurou demonstrar que a queda do Império Romano se ficou a dever à perversão dos costumes e ao apego às coisas terrenas. Apresentou depois os fundamentos de um Estado capaz de proporcionar a Felicidade Terrena e conduzir os homens á verdadeira felicidade que é a Vida Eterna. Embora não tenha elaborado nenhuma teoria política deixou-nos no entanto conselhos sobre a arte de bem governar. Explicou também que é mais fácil administrar uma pequena comunidade do que um território de grandes dimensões. Uma das causas da queda do Império Romano foi precisamente a dificuldade em controlar a corrupção e a indisciplina. Disse ainda que uma guerra pode ser justa quando houver que salvaguardar a paz e a ordem pública.
Embora Santo Agostinho tenha colocado a Cidade de Deus e o poder espiritual num plano superior ao da Cidade Terrena e do poder temporal, a verdade é que nunca defendeu um Estado Teocrático. O agostinianismo político ou seja a submissão do poder temporal ao poder espiritual surgiu numa fase adiantada da idade medieval e resultou se uma falsa interpretação do pensamento agostiniano.
Do ponto de vista teológico Stº Agostinho defendeu a tese de que o pecado original cometido pelo primeiro homem se transmitiu a toda a humanidade e que só pela graça pode haver salvação.
O PENSAMENTO FILOSÓFICO E POLÍTICO DE SANTO AGOSTINHO
1-Santo Agostinho nasceu em Tagasta, actual Sukh Ahras, na Argélia, perto da fronteira tunisina, em 13 de Novembro de 354 no ano de Cristo. Era filho de Patrício, burguês pagão e de Mónica que foi educada por pais cristãos. Santo Agostinho passou toda a sua infância em Tagasta e aí frequentou os estudos primários. Apoiado por Romariano, o seu mecenas, e amigo do pai, vai para Cartago no ano de 371 fazer os estudos superiores. Aí levou uma vida dissoluta arranjando uma amante que lhe deu um filho chamado Adeodato ( dávida de Deus ). Quando era estudante em Cartago descobriu Cícero que foi o seu guia filosófico. Tomou contacto com o cepticismo da “ Nova Academia “ e estudou ainda as correntes estoicas e epicuristas. Aderiu durante vários anos à corrente maniqueísta pois era a que lhe dava uma pista para a explicação do Problema do mal.
Em 376 com 22 anos , Agostinho iniciou a sua carreira de Professor de Retórica em Cartago. Em 384 partiu para Roma onde vai ensinar retórica. Um ano depois transferiu-se para Milão onde foi professor e onde encontrou o bispo Ambrósio de quem se tornou amigo. Os sermões de Ambrósio cativaram de tal modo Agostinho que este se converteu ao catolicismo. Depois retirou-se com a mãe e o filho para uma propriedade no campo, Cassicíaco, perto de Como onde escreve alguns diálogos filosóficos. Em 387, Agostinho e o filho são baptizados na catedral de Milão. Em 391 regressa a Tagasta e aí foi convidado para ser sacerdote auxiliar do Bispo Valério. Depois de ter sido ordenado acabou mais tarde por vir a a assumir as funções de Bispo de Hipona. Agostinho aproveitou ainda todo o tempo livre que dispunha para combater combater as heresias em voga no seu tempo : donatismo, maniqueísmo e pelagianismo. Acabou por falecer no ano de 430 com os Vândalos a invadirem o Norte de África e a cercarem Hipona por terra e por mar.
2-Santo Agostinho deixou-nos uma vasta obra na qual se misturam temas filosóficos, teológicos e ontológicos. Dos livros que escreveu destacam-se os seguintes:
Obras autobiográficas e de correspondência:- Confissões, As retratações, As cartas
Obras filosóficas:-Diálogos Contra Os Académicos, De Beata Vita , De Ordine, De immortalite animal, De Musica
Obras apologéticas- A Cidade de Deus
Além destes livros deixou-nos ainda vários sermões e também escritos contra os diversos grupos heréticos do seu tempo: maniqueus, Donatistas, Pelagianos e arianos.
De uma maneira muito resumida irei enumerar as principais características destas heresias:
Maniqueísmo- sincretismo religioso no qual se misturam elementos de várias religiões: judaica,gnóstica, cristã e budista. Trata-se de uma teoria dualista pois admite a existência de dois princípios criadores: O do Bem e o do Mal ou das trevas
Donatistas-Os donatistas consideravam inválidos os sacramentos ministrados por pecadores mesmo que estes se tivessem arrependido. A Igreja devia ser formada por Santos e não por pecadores.
Pelagianismo-doutrina que negava a existência do pecado original. O que salva o homem é o seu mérito e não a graça de Deus.
Arianismo-esta seita entendia que Jesus Cristo, embora Deus, não tinha natureza divina.
3-Os temas mais importantes do pensamento filosófico de Santo Agostinho são Deus e a Alma. Nos Solilóquios ( cap II, 7 ), Santo Agostinho declara: “ Desejo conhecer Deus e a Alma. Nada mais? Absolutamente nada “ . Há no entanto outros temas como o Homem e o Mundo, o Tempo, O livre Arbítrio, o Cepticismo, a Felicidade, o Amor que têm o seu interesse e se relacionam com a filosofia.
DEUS -Agostinho nas “ Confissões “( livro X, 6 ) pergunta: “ Que é Deus ? Perguntei à Terra e disse-me : “ Eu não sou “- Interroguei o mar, os abismos e os répteis animados e vivos e responderam-me : Não sou o teu Deus; busca-o acima de nós. Interroguei o céu, o sol, a lua, as estrelas e disseram-me : Nós também não somos o Deus que procuras “. Disse a todos os seres que rodeiam as portas da carne : “ Já que não sois o meu Deus , falai-me do meu ,dizei-me alguma coisa d ‘Ele “ . E exclamaram com alarido:- “Foi Ele que nos criou “
Stº Agostinho entende que a via para chegar ao conhecimento de Deus está em acreditarmos n’Ele ( creio para perceber-credo ut inteligam). A partir daqui funciona a Razão ( compreendo para acreditar- inteligo ut credam ) Temos que procurar Deus dentro de nós “ Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, Tarde vos amei. Eis que habitáveis dentro de mim e eu de fora a procurar-Vos ( Conf. Livro X,27 ). Toda a nossa esperança está em Deus “ Dai-me o que ordenais e ordenai-me o que quiserdes. ( Conf. Livro X, 29)
ALMA- É através da alma que se conhece o interior do homem. No livro “ Confissões “ Agostinho faz uma análise da sua própria alma e traça o caminho que conduz a Deus. A alma tem como características a espiritualidade e a imortalidade. Por outro lado as faculdades da alma são a memória, a inteligência e a vontade e nesta triplicidade vê Agostinho vestígios da Trindade.
O HOMEM E O MUNDO- No seu relacionamento com o Mundo o comportamento ético que deve nortear o homem é o do Amor ( caridade ). É bem conhecida a expressão de Stº Agostinho “ Ama e faz o que quiseres ( dilige et quod vis fac ). Todos os bens que Deus criou são bons . Stº Agostinho distingue no entanto os bens superiores ou materiais dos bens superiores ou espirituais. Os bens materiais devem ser usados como meios para atingir os bens espirituais. Temos aqui outro princípio da moralidade agostiniana que é o uti-frui( usar,utilizar e fruir ou gozar). As coisas terrenas são para usar e só as eternas são para fruir.
LIVRE ARBÍTRIO- O homem é dotado de uma vontade livre que lhe permite tomar opções entre o bem e o mal. A presciência de Deus não implica necessariamente que as coisas tenham que acontecer só por que Deus as conhece antecipadamente. Na Cidade de Deus ( Livro V,9 ) Stº Agostinho diz o seguinte : “ É contra estas audácias ímpias e sacrílegas que nós afirmamos, não só que Deus conhece todos os acontecimentos antes que eles se verifiquem, mas também que fazemos voluntariamente tudo o que sabemos e temos consciência e que o podemos fazer apenas porque queremos. As vontades humanas são especificamente as causas das acções humanas e por conseguinte aquele que previu todas as causas das coisas não pode ignorar entre as causas, as nossas próprias vontades pois que previu as causas das nossas acções “
O TEMPO- Para Santo Agostinho o Tempo apareceu simultaneamente com a criação do Mundo. No livro “ Confissões “ ( Livro XI,14 ) Agostinho interroga-se : “ O que é por conseguinte o Tempo ? Se ninguém mo perguntar, eu sei ; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei. Porém atrevo-me a dizer que se nada sobrevivesse não existiria o tempo futuro, e se agora nada houvesse não existiria o tempo presente “.
Resumindo, o passado já passou e não existe; o futuro ainda não veio e o presente se fosse sempre presente não passaria a pretérito já não seria tempo mas eternidade-
CEPTICISMO- No Diálogo Contra os Académicos Agostinho critica o cepticismo da “ Nova Academia “, escola filosófica fundada por Arcesilares ( 315,240 a.c) da qual teve conhecimento através de Cícero. Os Académicos ensinavam que se devia duvidar de tudo e que o conhecimento verdadeiro estava fora do alcance da nossa compreensão. Agostinho para refutar esta teoria começou por admitir uma verdade irrefutável que se exprime por duas palavras apenas “ Eu existo “. No livro Cidade de Deus “ (XI,26 ) reforça o seu argumento dizendo : “ Que será se te enganares ?- Pois se me engano , existo. Realmente, quem não existe de modo nenhum se pode enganar. Por isso se me engano é porque existo “
Podemos assim dizer que Agostinho foi um precursor de Descartes , pois também este iniciou o seu pensamento com uma verdade da qual não duvida : Penso logo existo ( cogito ergo sum )
FELICIDADE-Toda a gente quer ser feliz. Santo Agostinho abre o livro X, 1 da Cidade de Deus, afirmando “ É opinião segura de quem quer que seja que use um pouco da Razão que todos os homens procuram ser felizes “ . A felicidade alcança-se procurando a Sabedoria e a Verdade. No Livro “ Vida Feliz ( pag 130 )“ Agostinho diz o seguinte : “ estamos convencidos de que, se alguém quiser ser feliz, deverá procurar um bem permanente , que não lhe possa ser retirado em algum revés da sorte” . E acrescenta “ só quem possuir Deus é feliz. Quem faz o que Deus quer que sejas feito é feliz “
Uma das vias que pode conduzir à felicidade é a filosofia pois Deus está na alma e revela-se na sua intimidade.
4- POLITOLOGIA AGOSTINIANA-A obra mais importante que nos permite analisar o pensamento político de Santo Agostinho é a “ Cidade de Deus “, constituída por 22 livros. Os 10 primeiros livros são de carácter apologético e através deles Stº Agostinho procura refutar a tese que imputava aos cristãos a responsabilidade da queda do Império Romano. Os 12 livros seguintes são uma exposição de doutrinas cristãs. No livroXIV, 28 Agostinho diz-nos que o bem e o mal deram origem a 2 cidades “ Dois amores, fizeram as duas cidades : o amor de si até ao desprezo de Deus- a terrestre ; o amor de Deus até ao desprezo de si- a celeste “ Há portanto duas cidades : a Cidade terrena e a Cidade de Deus ou celestial. São duas cidades que sempre existiram desde o princípio do Mundo e que se misturam e coexistem. Nem a Cidade terrena se confunde com o Estado nem a a Cidade de Deus com a Igreja Católica. Há bons e maus nas duas cidades. O que ama os bens terrenos pertence à primeira cidade; o que ama a Deus pertence à segunda cidade. O termo cidade de Deus é usado para designar aqueles que peregrinam neste mundo à espera do verdadeiro Bem que é Deus.
A ORIGEM DO ESTADO ( civitas)- Para garantir a paz o homem é obrigado a associar-se. A primeira associação é a família célula e núcleo fundamental da sociedade. O homem precisa viver em sociedade mas de um sociedade fundada na justiça e no Direito. Só deste modo o Povo participa nos bens que ama ( C.D XIX )
AUTORIDADE- Todo o poder tem a sua origem em Deus. Qualquer sociedade para se manter precisa de um poder, de uma autoridade. Todo o poder deve ter como objectivo a Justiça que por sua vez tem o seu fundamento no amor . A “ Justiça é a virtude que dá a cada um o que lhe pertence. Onde não há verdadeira justiça não pode haver direito ( C.D XIX, 21 ). É também pela justiça que se chega à concórdia ou paz “ A paz é a aspiração última de toda a natureza e de todos os homens, mesmo os maus. “ ( CD, XIX, 12 ).
O poder é para Santo Agostinho um serviço prestado à comunidade. Seguindo de perto Marcel Prélot no livro “ Doutrinas Políticas, Editorial Presença, a autoridade comporta 3 funções : o serviço do mando( officium imperandum ), o serviço de providência ( officium previdendi ), e o serviço de aconselhamento ( officium consulendi )
O que detém o poder deve em primeiro lugar saber mandar em si próprio para depois mandar nos outros. Não deve ser orgulhoso, vaidoso ou ter a paixão de dominar. Em segundo lugar deve prever quais são os verdadeiros interesses do Estado e servir esses mesmos interesses. Em terceiro lugar ser conselheiro do povo e considerar os súbditos como irmãos.
FORMAS DO PODER- Santo Agostinho não prefere nem rejeita nenhum regime. O que interessa é que o detentor do poder governe segundo os princípios da ética, da moralidade e da justiça e contribua para a felicidade do povo. Como diz Marcel Prélot , que passo a citar “ desde que mantenha a justiça e respeite a religião todos os regimes políticos se equivalem, possuem os mesmos direitos e a mesma autoridade e podem exigir a mesma obediência. ( D.P.,268 )
CONCLUSÃO :
Santo Agostinho foi mais filósofo e teólogo do que propriamente político. No livro Cidade de Deus procurou demonstrar que a queda do Império Romano se ficou a dever à perversão dos costumes e ao apego às coisas terrenas. Apresentou depois os fundamentos de um Estado capaz de proporcionar a Felicidade Terrena e conduzir os homens á verdadeira felicidade que é a Vida Eterna. Embora não tenha elaborado nenhuma teoria política deixou-nos no entanto conselhos sobre a arte de bem governar. Explicou também que é mais fácil administrar uma pequena comunidade do que um território de grandes dimensões. Uma das causas da queda do Império Romano foi precisamente a dificuldade em controlar a corrupção e a indisciplina. Disse ainda que uma guerra pode ser justa quando houver que salvaguardar a paz e a ordem pública.
Embora Santo Agostinho tenha colocado a Cidade de Deus e o poder espiritual num plano superior ao da Cidade Terrena e do poder temporal, a verdade é que nunca defendeu um Estado Teocrático. O agostinianismo político ou seja a submissão do poder temporal ao poder espiritual surgiu numa fase adiantada da idade medieval e resultou se uma falsa interpretação do pensamento agostiniano.
Do ponto de vista teológico Stº Agostinho defendeu a tese de que o pecado original cometido pelo primeiro homem se transmitiu a toda a humanidade e que só pela graça pode haver salvação.
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