1-Georg Wilhelm Friederich Hegel nasceu nem Stuttgart no dia 27 de Agosto de 1770. Era filho de um modesto funcionário do Departamento de Finanças do Ducado de Wurtenberg. Quando era jovem estudou latim e História Clássica. Tendo-se destacado nos estudos obteve uma bolsa que lhe permitiu estudar teologia na Universidade de Tubingen. No seminário tornou-se amigo do filódofo Schelling e do poeta Holderlin. Hegel trabalhou ainda como preceptor em Berna e depois em Iena na Prússia. Colaborou também como chefe de redacção de um pequeno jornal de Banberg sendo depois contratado para as funções de reitor de um liceu em Nuremberga. Mais tarde foi professor na Universidade de Heidelberg tendo depois passado para a Universidade de Berlim onde sucedeu ao filósofo Fichte. No fim de treze anos de carreira académica morreu em Novembro de 1831, com 61 anos, vítima de uma epidemia de cólera.
2-As obras fundamentais para o estudo do pensamento de Hegel são as seguintes: Fenomenologia do Espírito, Ciência da Lógica, Enciclopédia das Ciências Filosóficas, Filosofia do Direito, Filosofia da História Universal, Filosofia da Religião e História da Filosofia.
Para analisar o pensamento filosófico e político de Hegel consultei as obras que passo a citar :Enciclopédia das Ciências Filosóficas( Vol. III) ; A Razão Na História- Hegel ( Edições 70) ; Introdução à História da Filosofia-Hegel ( edições 70 ) ; A Sociedade Aberta e os seus Inimigos- karl Popper ( 2º Vol) ; História da Filosofia-Julián Marías ( Ediç Sousa & Almeida ) ; História das Ideias Políticas, Jean Touchard ( 5º Vol. Ediç. Europa América ).
3- A Filosofia e a política em Hegel encontram-se interligadas. Assim, para compreendermos o político temos que estudar o filósofo. Hegel utilizou uma linguagem muito densa e abstracta e por isso não é fácil a interpretação filosófica do seu pensamento. Irei fazer uma síntese o mais clara e objectiva possível e que permita tirar algumas conclusões sobre os aspectos mais importantes da sua filosofia.
As traves mestras da filosofia hegeliana são: a Ideia, a Razão e o Espírito . A Ideia poderá ser definida genericamente como a essência ou conceito . Mas há outras definições mais completas como o “ real plenamente pensado ou o conceito realizado “ ( Enc. Logos-Verbo ). Para Hegel a Ideia é “ Deus antes da criação do Mundo “ ou seja a Essência Absoluta considerada diferentemente da sua individualização na natureza e no Espírito. Ao contrário de Platão a Ideia não está num mundo transcendente mas na realidade imanente, Assim “ o racional é real e o real é racional ou inteligível “
A realidade para Hegel é constituída por elementos contrários ou opostos ( Ser-Nada ; bem-mal ; divino-diabólico ) , e é na superação destas contradições que se forma a verdade. A realidade não é estática como em Platão mas sim o resultado de um movimento dialéctico constituído por tese( afirmação ), antítese ( negação ) e síntese ( identidade de contrários ). O movimento dialéctico da realidade, assenta na triologia, ideia,natureza e espírito e é constituído por 3 fases.
1ª fase Ideia em si ( tese )
2ª fase Ideia fora de si objectivada na natureza ( antítese )
3ª fase Ideia em si e para si ,ou seja a Ideia regressa a si e toma consciência de si ( síntese )
O Espírito passa também por 3 estádios: Espírito Subjectivo, Espírito Objectivo e o Espírito Absoluto. O Espírito Subjectivo é o Espírito individual ou consciência individual ; o Espírito Objectivo é o colectivo ou consciência social, assume a a forma de Direito, Moralidade e Eticidade e concretiza-se na Família , na Sociedade Civil, no Estado ; o Espírito Absoluto, a Ideia atinge o grau mais elevado de autoconsciência. Temos assim uma consciência artística, uma consciência religiosa e uma consciência filosófica. Tanto a Filosofia como a Religião pensam e representam o absoluto. Mas há diferenças. A Religião pensa e representa o absoluto de forma imaginativa e mediante conceitos abstractos e a Filosofia pensa o absoluto mediante conceitos concretos e de forma especulativa ou dialéctica.
4-Para Hegel a História é governada pela Razão e pela Providência Divina. Nada na História acontece por acaso. O que acontece ou aconteceu tinha mesmo de acontecer. Nos seus escritos Hegel diz que “ História Universal é a exibição do processo divino e absoluto do Espírito “ . E mais adiante conclui “ É que Deus tem sempre Razão e a História nada mais representa do que o plano da Providência ; Deus governa o Mundo ; o conteúdo concreto do seu governo, o cumprimento do seu plano é a História Universal “. E daqui podemos concluir que o que acontece tem necessariamente de acontecer. Para este desígnio contribui o Espírito do Povo ( Volksgeist ) que encarna o Espírito do Mundo ( Weltsgeist ). A História constrói-se através de guerras e do contributo dos grandes heróis. Por outro lado obedece também a um movimento dialéctico. Assim à Monarquia Absoluta ( tese ) sucede a Revolução Francesa , negação do absolutismo ( antítese ) e a esta sucede o Império de Napoleão Bonaparte, regime que não é monarquia nem república ( síntese ).
5-Na Filosofia do Direito Hegel fala das etapas que antecedem a criação do Estado e que são: a propriedade privada, a família e a sociedade civil.
A propriedade privada resulta da vontade livre que uma pessoa tem de possuir uma coisa. Diz Hegel que “ enquanto a minha vontade reside numa coisa só eu próprio a posso retirar e a coisa só com a minha vontade pode passar a outro, de quem ela se torna propriedade igualmente só com a sua vontade- eis o contrato “ ( Enciclopédia da Ciência Filosófica §4 92 ) .
A família resulta igualmente da vontade livre de duas pessoas de sexo diferente que querem casar e constituir família. É na família e também na sociedade civil e no Estado que se realiza plenamente a moralidade objectiva ou ética.
A sociedade civil é formada por muitas pessoas, grupos ou instituições privadas que procuram satisfazer as suas carências ou necessidades através da divisão do trabalho e das trocas.
Estado para Hegel é um todo organizado de natureza ética. Só no Estado é que o homem tem existência racional. “ O homem deve ao Estado tudo o que ele é ; só nele tem a sua essência. Só pelo Estado tem o homem todo o valor, toda a sua realidade efectiva e espiritual “ ( Razão na História ed. 70 pag 109 ).
Para Hegel a constituição que melhor serve o Estado é a Monárquica. Não é fácil existir uma democracia sem mescla, sem um princípio aristocrático. Tudo isto nos leva a concluir que Hegel era um súbdito fiel do regime absolutista prussiano. Mas será que o melhor Estado é aquele em que reina a maior liberdade ? A natureza do Estado é a unidade da vontade subjectiva e da vontade geral. No Estado há que distinguir o governo ( actividade centrada no universal ) do povo ( actividade de muitas e singulares vontades subjectivas ) Hegel esclarece que “ o governo, na sua eficácia do universal e o povo na sua vontade subjectiva, ambos se devem autolimitar “ ( R.H. pag 138 ). Um outro valor a respeitar pelo Estado será o da igualdade.” Quando se afirma que os cidadãos são iguais perante a Lei, estamos perante uma grande verdade diz Hegel. Mas expressa de forma abstracta não passa de mera tautologia. Na realidade os cidadãos só são iguais perante a Lei naquilo em que já são iguais fora da Lei “ Assim cada um vai ser tratado de acordo com o seu estatuto ( riqueza, talento, habilidade, etc. )
Para Hegel são 3 os poderes do Estado: o poder do príncipe, que é absoluto e discricionário, o poder do governo que se limita a executar as orientações do principe e o poder legislativo que faz as Leis.
6- CONCLUSÃo
Hegel viveu durante o período iluminista e foi um idealista romântico.. Na Filosofia deixou-nos o método dialéctico, já iniciado por Platão e que consiste na superação sucessiva de contradições até chegar à verdade.
Apesar de ser contemporâneo da Revolução Francesa, Hegel não foi um grande entusiasta dos princípios propagados pela revolução: liberdade, igualdade e fraternidade. Sendo um admirador da Monarquia prussiana, o poder do príncipe, representante de Deus na Terra, está acima de tudo e de todos. Quando se fala da soberania do povo Hegel chega a afirmar “ que sem o monarca o povo não passa de uma multidão informe “.
A Filosofia de Hegel foi aproveitada pelos radicais de esquerda e também pelos radicais de direita. Marx virou a dialéctica de Hegel de pernas para o ar. Em vez do Espírito passou a ser a matéria e a luta de classes o grande motor da História. Para o nacionalismo nazi era o Sangue e a Raça que comandava a História.. Karl Popper no livro “ Asociedade Aberta e os Seus Inimigos “ chegou mesmo a dizer que “ quase todas as ideias mais importantes do totalitarismo moderno são directamente herdadas de Hegel”. O que caracteriza essas ideias pode resumir-se no seguinte: divinização do Estado e do colectivo ; a guerra como meio obrigatório para atingir fins ; o Estado isento de qualquer obrigação moral e o ideal da vida heroica.
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