1-J.M.Keynes nasceu em Cambridge, na Grâ-Bretanha em 1883, no mesmo ano em que morreu Marx. Era filho de Neville Keynes, economista e autor do livro “ The Scope and Method of Political Economy “. A mãe de Keynes chamava-se Florence e formou-se também em Cambridge tendo sido presidente da Câmara da cidade.
Keynes frequentou cursos e seminários de Matemática, Política e Administração vindo finalmente a formar-se em Economia. Teve como professor Alfred Marshall e Arthur Cecil Pigou. Fez parte do grupo de Bloomsbury ao qual pertenciam também Virgínia Woolf, Drucan Grant , Forster e outros intelectuais. Em 1906 entrou na função pública e trabalhou durante três anos no Índia Office. Em 1915 durante a I Grande Guerra Mundial foi trabalhar para o Departamento do Tesouro planificando as medidas financeiras adequadas para fazer face ao esforço de guerra. Em 1919 chefiou a delegação britânica na Conferência de Paz de Paris e como discordasse das severas indemnizações impostas à Alemanha pediu a demissão do cargo. Em 1941 Keynes foi nomeado administrador do Banco de Inglaterra.
Era um homem muito activo e multifacetado. Tinha interesse pelas artes, pintura e gostava de ballet e teatro. Em 1925 casou-se com Lydia LopoKova primeira bailarina do Ballet Diaghilev. Keynes foi homossexual até aos 42 anos , altura em que casou com Lydia Lopokova.
Em 1944 representou a Inglaterra na Conferência de Bretton Wood que deu origem ao FMI e ao Banco Mundial . Este acordo durou 25 anos até 1971, altura em que Nixon suspendeu as compras de ouro. Keynes morreu em1946 de um ataque cardíaco.
2-Keynes escreveu numerosos textos sobre economia dos quais passo a destacar os seguintes:
As Consequências Económicas da Guerra (1919 )
O Fim do Laissez –faire ( 1926 )
Tratado sobre a Moeda ( 1930 )
Perspectivas Económicas Para Os Nossos Netos ( 1930 )
Mas a principal obra de Keynes e a que o tornou mais conhecido foi a “ Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda ( 1936 )
3-Para os economistas clássicos a economia resumia-se ao estudo dos comportamentos individuais e das empresas. Partia-se do princípio que o rendimento e a taxa de desemprego se mantinham constantes. Estudava-se a economia de um ponto de vista estático procurando explicar como se estabeleciam o preço das mercadorias, a taxa dos salários e a taxa dos juros ( microeconomia ). Keynes vai estudar a economia de forma global e dinâmico incluindo nela os seguintes agregados: taxa de desemprego ; taxa de inflação ; crescimento da produtividade ; taxa de juro ; défice orçamental e défice externo. ( Macroeconomia ).
Para os clássicos o mercado autorregulava-se e Adam Smith admitia mesmo existir uma mão invisível que regulava os mercados. Keynes entendia ,porém , que em momentos de crise e de recessão era necessário uma intervenção do governo.
A obra mais importante de Keynes a “ Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda “ é um texto complexo mais acessível a especialistas na matéria. A melhor síntese é feita pelo Prof. Jacinto Nunes no Posfácio do livro “ Keynes – O Regresso do Mestre “ de Robert Skidelsky e do qual passo a transcrever um pequeno resumo:
A forma mais simples e esquemática de resumir o núcleo da Teoria Geral pode ser formulado nos seguintes termos:
O emprego e o rendimento dependem da procura efectiva. A Procura efectiva é determinada pela propensão para o consumo e pelo investimento. A propensão ao consumo é relativamente estável. Assim sendo o nível de emprego depende do investimento. Este depende da taxa de juro e da eficiência marginal do capital. A taxa de juro depende da quantidade da moeda e da preferência pela liquidez. A quantidade da moeda depende da política monetária e a eficiência marginal do capital depende da expectativa dos lucros e do custo da reposição do capital. Por sua vez a preferência pela liquidez é baseada em tês motivos: o motivo transação, o motivo precaução e o motivo especulação. Há assim conceitos fundamentais nesta teoria:
Propensão para o consumo e preferência pela liquidez- as pessoas têm por um lado tendência a comprar os objectos que precisam para a satisfação das suas necessidades e por outro lado para realizarem uma reserva líquida ou seja uma reserva monetária, daí a preferência pela liquidez.
Para Keynes o rendimento é distribuído por 3 sectores: consumo, investimento e entesouramento. O dinheiro aplicado no consumo e no investimento vai aumentar o índice de emprego. O aumento do consumo vai aumentar a produção e esta a oferta gerando postos de trabalho. O mesmo se passa com o investimento. Keynes fala ainda da teoria do multiplicador ou seja que o aumento de investimento provoca inevitavelmente um aumento no rendimento.
No livro de “ Keynes- O Regresso do Mestre “ Robert Skidelsky faz o seguinte balanço da Economia de Keynes:
Incerteza- Apesar do cálculo das probabilidades existe sempre uma probabilidade desconhecida. Por isso na economia predomina o grau de incerteza. “ No âmbito do capitalismo a incerteza é gerada pelo próprio sistema, porque se trata de um motor de acumulação de bens de capital, cujo retorno não é imediato, vem mais tarde. O motor da criação de riqueza é, ao mesmo tempo, gerador de instabilidade económica e social. Falar de “ risco “ quando se deve falar de incerteza é uma convenção típica, ubíqua nas reuniões dos membros de administração das empresas. O que se aprendeu em determinado período pode perder toda a utilidade no período seguinte.
Os limites da econometria- A econometria também não é um método seguro. Keynes via a economia como uma ciência natural. Apesar de alguns aspectos poderem ser reduzidos a números, a grande parte não o permite.
Procura efectiva- A lei de Say dizia que a oferta gera a sua própria procura. Ora acontece que por vezes há bens que não têm procura. Na Grande Depressão que se seguiu à I Grande Guerra Mundial assistiu-se ao colapso da procura de bens. Keynes explica que se todos pretenderem poupar mais, as empresas iriam vender menos e consequentemente a produção irá cair. É a despesa e não a poupança que gera emprego.
Incentivo ao investimento-Existe incentivo ao investimento sempre que a taxa de retorno esperada seja superior ao custo do capital ( pag 133) . Os investimentos que prometem retornos “ para uma data comparativamente distante e, por vezes ,indefinidamente distante, constituíram actos de fé.” ( pag 134 ). Quanto ao investimento na bolsa Keynes escreveu “ quando o desenvolvimento capital de um país se torna um subproduto das actividades de um casino, é provável que a tarefa não seja executada condignamente “ ( pag 137 )
4-O século XIX ficou marcado pelo confronto e debate de ideias entre dois grandes economistas: Hayek e Keynes. Após a 1ª Grande Guerra Mundial a economia entrou em colapso com o aumento do desemprego e a inflação. A questão que se punha era a de saber se os governos deviam intervir ou não. Hayek entendia que o equilíbrio dos mercados se restabeleceria normalmente com o decurso do tempo. Keynes era de opinião que o desemprego e a miséria se poderiam combater e evitar através do investimento público. Esta polémica prolongou-se durante 20 anos com seguidores de ambos lados. Keynes foi seguido pelos que advogavam o planeamento e regulamentação governamental e Hayek pelos partidários do mercado livre.
Keynes não era nem socialista nem um capitalista radical. No texto que escreveu intitulado “ O Fim do Laissez-faire “ disse o seguinte: “ Eu critico o Socialismo de Estado doutrinário, não porque pretenda mobilizar os impulsos altruístas do nome ao serviço da sociedade, nem porque se afaste do laissez-faire, nem porque se afaste da liberdade natural do homem de acumular milhões, nem porque não tenha coragem de fazer experiências ousadas. Tudo isto aplaudo. Critico-o porque não percebe o significado do que está realmente a acontecer;porque, na verdade, é pouco melhor do que uma poeirenta sobrevivência de um plano para resolver os problemas de há cinquenta anos “ (pag .113 ). Por outro lado para ele o “capitalismo se for sabiamente gerido, é provavelmente mais eficiente do que qualquer sistema alternativo ainda em vista, mas que em si é, em muitos aspectos, extremamente questionável “pag117 )
Mas o que era a política para Keynes ? Robert Skidelsky no livro “ Keynes- O Regresso do Mestre “ diz o seguinte : “ A política para Keynes, constitui uma vertente prática da ética : era a ciência que estudava a forma como os governos se deviam comportar… quanto mais próspera for uma comunidade, e quanto mais justa forem as convenções sociais, melhores serão os estados de espírito dos habitantes. A política deveria ser conduzida de modo a não distrair as pessoas desnecessariamente, e muito menos de uma forma contínua, da promoção de bons estados de espírito. O objecto da política é o contentamento social. O governo que estabelece à partida a felicidade dos governados estará a servir um bom objectivo “ (pag 216 e 217 ).
5-Keynes era politicamente um liberal moderado. Além de economista era também um filósofo e um moralista. Preocupava-se com a situação do desemprego gerador de pobreza e de miséria. O capitalismo sendo o sistema da sua preferência não podia no entanto ser destruído quer pelos da extrema-direita quer pelos da extrema-esquerda. O governo deve ter um critério de Agenda que lhe permitia muito bem separar os serviços tecnicamente sociais dos que são tecnicamente individuais. Assim, “ a mais importante agenda do Estado não diz respeito às actividades que os particulares já exercem satisfatoriamente, mas àquelas funções que estão fora da esfera do indivíduo, às decisões que ninguém tomará se o Estado as não tomar. O mais importante para o governo consiste em fazer as coisas que os indivíduos já fazem, e fazê-las um pouco melhor ou pior, mas fazer aquilo que actualmente não é feito “ ( A Grande Crise e Outros Textos , pag 114 )
Dizia ainda Keynes que os males económicos do seu tempo eram fruto do risco, da incerteza e da ignorância. E acrescenta “ a cura para estas coisas deve, em parte ser procurada no controlo deliberado da moeda e do crédito por uma instituição central, e em parte, na recolha e divulgação a grande escala dos dados relativos à situação das empresas, incluindo a plena publicidade, por lei, se necessário de todos os factos económicos que convém saber” a Grande Crise e outros Textos pag 114 ) . Estes conselhos ainda hoje são actuais.
Keynes teve os seus seguidores e um período áureo que começou em 1946 e se prolongou por cerca de 30 anos. Quando Margaret Thatcher foi eleita primeira-ministra na Grã –Bretanha em 1979 e Reagen presidente nos Estados Unidos em 1980 começou um período de retrocesso com o desregulamento e liberalização da economia. Em 2008 com a bolha imobiliária uma boa parte da economia mundial é contaminada com a venda de produtos tóxicos. Tanto George Bush como Barack Obama resolveram intervir no mercado para evitar o colapso da economia. Nos dias de hoje ainda se mantem a divisão entre os defensores do mercado livre ( os neoliberais que têm como mestre HayeK ) e os apologistas da intervenção Estatal ( os seguidores de Keynes). Para Keynes não deveria haver orçamentos de saldo 0. Em tempo de crescimento económico o orçamento devia ser superavitário para travar a despesa e evitar a inflação. No tempo de crise o orçamento deveria ser deficitário para poder cobrir investimentos públicos e evitar o desemprego.
No nosso país, enquanto houve crescimento económico não se cuidou de ter orçamentos superavitários. Agora em tempo de crise fazia todo o sentido ter um orçamento deficitário de forma a investir dinheiro em obras que criem emprego e estimulem a economia. Mas a dívida pública que é enorme impõe limites ao défice. Como resolver este impasse ? Caberá aos economistas e políticos encontrar a solução mais adequada sem pôr de lado os conselhos de Keynes.
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