Quinta-feira, 28 de Novembro de 2013

UMA CRISE QUE ESTÁ PARA DURAR

1-O país está a viver um período de grande instabilidade. O Governo não consegue atingir as metas orçamentais, definidas para cada ano ,e as rectificações, para tapar buracos, entraram já no plano da rotina e da regularidade. Mas para pagar a dívida pública é necessário ter orçamentos equilibrados, reduzindo gradualmente o défice. E isso não tem vindo a acontecer, apesar das medidas de austeridade que têm sido tomadas. A situação não é nada fácil de resolver. A economia começou agora a dar os primeiros sinais de crescimento embora a nível pouco significativo. Sendo assim, não há outro caminho a seguir senão reduzir as despesas ou aumentar os impostos. E aqui o problema complica-se. Sabe-se que 2/3 da despesa pública é feita com o pagamento a pessoal, a pensionistas,a aquisição de bens de saúde e a juros da dívida pública. Em qual destes sectores se vai cortar sabendo que qualquer deles, com excepção dos juros, já estão a sofrer cortes acentuados. Por outro lado, aumentar as receitas subindo os impostos seria dramático pois iria ter efeitos negativos no crescimento económico entrando-se novamente em espiral recessiva.

2-Temos excelentes economistas e políticos brilhantes e todos são muito bons a fazer o diagnóstico da crise. Mas nenhum deles foi até ao momento capaz de adiantar propostas alternativas à do Governo e que permitam ajudar o país a sair do buraco em que caiu. Esta era uma boa altura para congregar inteligências, boas-vontades, força e energia que permitissem adiantar soluções menos gravosas para os que já estão a ser castigados com a austeridade. Não sou economista mas a questão parece-me óbvia. Se não formos capazes de negociar com a Troika juros mais baixos para a dívida pública e não conseguirmos dilatar por um período maior o seu pagamento dificilmente vamos conseguir saldar os nossos compromissos.

3-Tenho pelo dr. Mário Soares respeito e consideração pois, no período anárquico e revolucionário que se seguiu ao 25 de Abril, contribuiu para que fosse instaurado em Portugal um regime democrático. Mas quando o vejo na televisão com ar carrancudo e ameaçador a propor a demissão simultânea do Presidente da República e do Primeiro-Ministro fico pasmado.  Essa situação iria lançar o caos no nosso país pois ficaríamos à deriva durante meio ano ou talvez mais. O dr. Mário Soares devia era propor alternativas ou reformas a fazer a curto e longo prazo que permitissem tirar Portugal do fosso em que caiu.E  para dar o exemplo poderia até prescindir das mordomias a que tem direito como ex-presidente da república e do dinheiro para as suas Fundações. O dr. Manuel Arriaga fez isso e muito mais.

4-Seria bom que os partidos, as organizações empresariais e sindicais, os economistas se sentassem à mesa e adiantassem as reformas a seguir e que não se traduzissem em mais austeridade e mais sacrifício para os portugueses ,tal como sugeriu a OCDE. Se isso não for possível só nos resta negociar com a Troika condições mais favoráveis para o pagamento da dívida. A saída do euro nesta altura seria mais prejudicial do que vantajosa.

 FRANCISCO J. S. MARTINS

publicado por pontodemira às 21:10
link | comentar | favorito
Quarta-feira, 6 de Novembro de 2013

TEORIAS POLÍTICAS- HANNAH AREND

1-Hannah Arend nasceu em ( Linden), Hannover, na Alemanha em 1906, no seio de uma família judia. Estudou nas Universidades de Marburgo e Friburgo e doutorou-se em filosofia na Universidade de Heidelberg sob orientação de Karl Jaspers. Em 1939, após ter sido presa pelos nazis, fugiu para Paris e mais tarde com a deflagração da II grande Guerra Mundial decidiu exilar-se nos Estados Unidos onde veio a falecer em Dezembro de 1975. Foi professora em várias universidades e fez a sua carreira no New School for Social Research de Nova Iorque.

Hannah Arend escreveu vários livros mas o mais lido e conhecido é “ As origens do totalitarismo “. É com base neste livro, uma publicação da editora Dom Quixote, que eu vou desenvolver o pensamento político desta filósofa.

2-Hannah Arend não vai até Platão procurar as origens do totalitarismo, tal como fez, por exemplo karl Popper. A ideologia totalitária ,para esta autora, tem o seu começo no nazismo hitleriano ou no stalinismo soviético. Para  Hannah Arend o totalitarismo como domínio total não se confunde com a ditadura romana, nem com a tirania grega nem com o absolutismo monárquico. É um regime mais asfixiante onde não faltam campos de concentração e onde pessoas inocentes são abatidas sem qualquer hipótese de defesa. Os antecedente históricos estão no anti-semitismo e no imperialismo do século XIX em que se envolveram países com a Inglaterra e a Alemanha.

Quais são então as características do Totalitarismo ?

a)      Sociedade sem classes ou massificada .

Para Hannah Arend o termo massa só “ se aplica quando se lida com pessoas que simplesmente devido ao número ou à sua indiferença ou a uma mistura de ambos não se pode integrar numa organização profissional ou sindical de trabalhadores. Potencialmente existem massas em qualquer país e constituem a maioria de pessoas neutras e politicamente indiferentes, que nunca se filiam num partido e raramente exercem o poder de voto “ ( pag. 413 )

Com o colapso da sociedade  de classes , logo a seguir à II guerra mundial, desenvolveu-se a psicologia do indivíduo massificado na Europa. O governo bolchevique empreendeu a liquidação das classes: proprietários, classe média, camponeses do interior e finalmente os trabalhadores e a burocracia.  “ Os movimentos totalitários são organizações maciças de indivíduos atomizados e isolados. Distinguem-se de outros partidos e movimentos pela lealdade total, irrestrita, incondicional e inalterável de cada membro individual. “ ( pag 428 ) . Os fracassados na vida profissional eram o ponto mais alto de atracção pelas massas e os homens insensatos constituíam a melhor garantia de lealdade.

b)      Propaganda totalitária

A propaganda e o terror são os meios que o totalitarismo utilizou para alcançar o poder. Atingido este objectivo segue-se a doutrinação e a violência. Da propaganda faz parte o uso de insinuações indirectas, veladas e ameaçadoras contra todos os que não deram ouvidos aos ensinamentos, seguidas de assassínios em massa contra  “ culpados e inocentes “

O fanatismo e a infalibilidade são também duas características da propaganda. “ Os nazis podem levar o povo à guerra com o lema  “ de outra forma pereceremos “ ( pag 460 )   Por outro lado o Fuhrer é infalível porque tem sempre razão. Os ditadores totalitários anunciam as suas intenções políticas sob a forma de profecia. Assim, há Leis na História e na Natureza imutáveis e que conduzem ao extermínio dos elementos que não são dignos de viver: judeus e doentes incuráveis.

“ A mais eficaz ficção da propaganda nazi foi a história de uma conspiração mundial judaica “ ( pag 468 ). O Estado para Hitler era apenas um meio de preservação da raça enquanto para os  bolcheviques era um instrumento na luta de classes.

O sucesso da propaganda totalitária está numa boa estrutura da qual fazem parte um líder carismático e elites bem organizadas. O monopólio do poder e da autoridade do líder é mais evidente no relacionamento com o chefe da polícia, que num país totalitário ocupa o cargo de mais poderoso.

c)       Polícia secreta

A polícia secreta é a depositária dos maiores  segredos do Estado e o núcleo do poder e do governo. À polícia secreta compete descobrir :

1º pessoas suspeitas da oposição; 2º os inimigos objectivos ( judeus e polacos para os nazis e contra-revolucionários na Rússia ; 3º vítimas escolhidas ao acaso, indesejáveis e doentes mentais.

As vítimas da polícia secreta iam invariavelmente para campos de concentração onde raramente escapavam ao assassínio. Nos campos de morte misturavam-se políticos, judeus, criminosos  e grupos que caíssem em desgraça.

d)      Ideologia e terror

Os governos totalitários têm como linha de orientação uma ideologia. Essa ideologia era ao mesmo tempo, e paradoxalmente, científica e profética.  Era científica porque assentava em  leis : a lei da Natureza  e a Lei da História. Essas Leis apontavam para um futuro que se podia prever. A lei da natureza tinha a sua origem em Darwin e dizia que são as espécies mais fortes que sobrevivem . Há sempre uma raça mais forte que sobrevive eliminando as mais fracas. A ideologia nazi de Hitler baseava-se precisamente nesta lei. A raça ariana devia expurgar da sociedade não  só os judeus como os deficientes. Para os estalinistas a História era uma luta de classes da qual sairia vitorioso o proletariado. A história termina com uma sociedade sem classes. Esta teoria tem como pai Karl Marx( materialismo dialéctico) que por sua vez se inspirou em Hegel ( movimento dialéctico das ideias )

A essência do domínio totalitário está no terror. O  terror ,diz  Hannah Arend, procura  “ estabilizar os homens a fim de libertar as forças da Natureza ou da História. Esse movimento seleciona os inimigos da humanidade contra os quais se desencadeia o terror e não pode permitir que qualquer  acção livre da oposição ou da simpatia interfira com a eliminação do inimigo objectivo da História ou da Natureza, da classe ou da Raça. Culpa e inocência tornam-se conceitos vazios ; culpado é quem estorva o caminho do processo natural ou da história que já emitiu julgamento quanto às raças inferiores, quanto a quem é “ indigno de viver “ quanto  à  “classe agonizante e povos decadentes “.  Para que o terror seja mais eficaz o totalitarismo procura reduzir o homem ao isolamento e à solidão.

e) Conclusão

A filósofa Hannah Arend faz um estudo desenvolvido do totalitarismo desde os seus antecedente históricos até ao período florescente das duas guerras mundiais. Uma das críticas de que é alvo   Hannah Arend é o facto de ela só considerar verdadeiramente totalitários os regimes de Hitler e de Estaline. Como diz o Prof. Freitas do Amaral no livro “ História do Pensamento Político Ocidental “ , podemos encontrar vestígios do de totalitarismo nas utopias de Platão e de Tomás More. Também os regimes colectivistas de Lenine e Mao Tzé Tung se poderão incluir no conceito totalitário pois restringem radicalmente os direitos e liberdades individuais. A essência do totalitarismo não está no terror mas na primazia do colectivo sobre o individual. O terror é apenas um meio para atingir o totalitarismo.

publicado por pontodemira às 21:10
link | comentar | favorito

.mais sobre mim

.pesquisar

 

.Março 2025

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
13
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


.posts recentes

. UCRÂNIA EM GUERRA E EUROP...

. ESPERANÇA -Autobiografia...

. DEUS , A CIÊNCIA, AS PROV...

. A ESCOLA DA ALMA- Da form...

. LIBERDADE E IGUALDADE- O ...

. DESMASCULINIZAR A IGREJA ...

. A PRÓXIMA GUERRA CIVIL- ...

. A DEMOCRACIA MANIPULADA

. NENHUM CAMINHO SERÁ LONGO

. A BÍBLIA TINHA RAZÃO

.arquivos

. Março 2025

. Fevereiro 2025

. Dezembro 2024

. Outubro 2024

. Setembro 2024

. Julho 2024

. Maio 2024

. Abril 2024

. Março 2024

. Fevereiro 2024

. Janeiro 2024

. Novembro 2023

. Outubro 2023

. Setembro 2023

. Agosto 2023

. Julho 2023

. Junho 2023

. Maio 2023

. Abril 2023

. Março 2023

. Fevereiro 2023

. Janeiro 2023

. Dezembro 2022

. Novembro 2022

. Outubro 2022

. Setembro 2022

. Agosto 2022

. Julho 2022

. Junho 2022

. Maio 2022

. Abril 2022

. Março 2022

. Fevereiro 2022

. Janeiro 2022

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Outubro 2021

. Setembro 2021

. Agosto 2021

. Julho 2021

. Junho 2021

. Maio 2021

. Abril 2021

. Fevereiro 2021

. Janeiro 2021

. Dezembro 2020

. Novembro 2020

. Outubro 2020

. Setembro 2020

. Agosto 2020

. Julho 2020

. Junho 2020

. Abril 2020

. Janeiro 2020

. Dezembro 2019

. Novembro 2019

. Outubro 2019

. Setembro 2019

. Agosto 2019

. Julho 2019

. Junho 2019

. Maio 2019

. Março 2019

. Fevereiro 2019

. Janeiro 2019

. Dezembro 2018

. Novembro 2018

. Outubro 2018

. Setembro 2018

. Agosto 2018

. Julho 2018

. Junho 2018

. Abril 2018

. Março 2018

. Fevereiro 2018

. Janeiro 2018

. Dezembro 2017

. Outubro 2017

. Julho 2017

. Junho 2017

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2016

. Janeiro 2016

. Setembro 2015

. Julho 2015

. Junho 2015

. Janeiro 2015

. Dezembro 2014

. Outubro 2014

. Julho 2014

. Maio 2014

. Março 2014

. Fevereiro 2014

. Janeiro 2014

. Dezembro 2013

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

. Fevereiro 2008

. Janeiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Outubro 2007

blogs SAPO

.subscrever feeds

Em destaque no SAPO Blogs
pub