1-O último livro de Bento XVI , da série Jesus de Nazaré, trata especificamente da Infância de Jesus. As principais fontes utilizadas pelo autor são os evangelistas São Mateus e São Lucas pois só estes tratam este tema. São chamados sinópticos porque obedecem a um esquema muito semelhante. Se compararmos S. Mateus com S. Lucas encontramos semelhanças mas também diferenças de pormenor. Ambos mencionam Belém como local do nascimento de Jesus. No entanto só S. Mateus se refere aos Reis Magos, ao martírio dos inocentes e à fuga da Sagrada Família para o Egipto. Depois enquanto em S. Mateus a genealogia de Jesus aparece no princípio do Evangelho e começa em Adão, em S. Lucas a genealogia só aparece depois do baptismo e segue um caminho inverso até às origens.
2-Neste livro Bento XVI trata sucessivamente dos aspectos mais importantes da viagem de Jesus: genealogia, anunciação do nascimento, nascimento, visita dos Reis Magos, fuga para o Egipto e apresentação aos 12 anos no Templo.
Genealogia-Este capítulo abre com uma pergunta de Pilatos: “ Donde és Tu ? “ A genealogia pretende mostrar a descendência davídica de Jesus e a sua legitimidade como Messias. Mas a resposta para a pergunta atrás formulada vai Bento XVI buscá-la ao Evangelho de S. João: “ E o Verbo fez-se carne e levantou a tenda no meio de nós ( 1, 14 ). Assim Jesus “ é a tenda levantada do Verbo eterno, logo divina, neste mundo. A carne de Jesus, a sua existência humana é a tenda do Verbo. Jesus vem de Deus; Ele é Deus “
A anunciação do nascimento de Jesus- Tanto S. Mateus como S. Lucas se referem à concepção milagrosa de Jesus por intervenção do Espírito Santo. Isto leva Bento XVI a perguntar se estamos perante um acontecimento histórico real ou perante uma lendas piedosa. E a resposta é inequívoca : “ o parto virginal e a ressurreição real do túmulo- são verdadeiro critério de fé. Se Deus não tem poder sobre a matéria, então Ele não é Deus “
Nascimento: S. Mateus e S. Lucas referem Belém como local do nascimento de Jesus. Mas há diferenças de pormenor na maneira como cada um aborda e desenvolve o tema. Em S. Lucas são os pastores a quem os anjos anunciam primeiro o nascimento do Salvador. Só S. Mateus se refere à fuga de S.José e de Maria para o Egipto e às ordens dadas por Herodes para matar as crianças com idade inferior a 2 anos. Parece haver aqui um paralelismo com Moisés que foi atirado às águas do Nilo para escapar à fúria assassina do faraó.
Será que Jesus nasceu em Belém como indicam S.Mateus e S. Lucas ? Ou será que os dois evangelistas terão sido influenciados pela profecia de Miqueias( 5,1 ) que diz o seguinte: “ E tu Belém… de ti sairá aquele que governará Israel “ . Bento XVI não tem dúvidas a este respeito e afirma : “ As duas linhas diversas da tradição concordam na informação de que o local do nascimento era Belém. Se nos ativermos às fontes, fica claro que Jesus nasceu em Belém e cresceu em Nazaré. “
Jesus aos 12 anos no Templo-Este é um episódio bem conhecido. Na viagem de regresso a Nazaré, Jesus fica em Jerusalém e os pais só se apercebem disso no fim do primeiro dia de viagem. Voltaram para trás e vão encontrá-Lo no Templo sentado no meio dos doutores, enquanto os ouvia e interrogava ( L 2,40 ) . É então que Maria diz : “ Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura. E Jesus respondeu: “Por que me procuráveis ? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai ? “. Depois desceu com eles, voltou para Nazaré, e era-lhes submisso… E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens ( L2, 52 ).
A conclusão de Bento XVI é a seguinte : “ Na resposta de Jesus com 12 anos tornou-se evidente que Ele conhece o Pai - Deus- a partir de dentro. Só Ele conhece Deus, e não através de pessoas humanas que dão testemunho d’Ele - reconhece- O em Si mesmo. Jesus está com o Pai, vê as coisas e o homem na sua luz. No entanto, é verdade também que a sua sabedoria cresce. Manifesta-se, de modo muito claro que Ele pensou e aprendeu de maneira humana. Concretamente, torna-se evidente que Jesus é verdadeiro homem e verdadeiro Deus, como exprime a fé da Igreja.”
3- Para finalizar diria que é um livro bem escrito e de leitura agradável. A Infância de Jesus é abordada de forma exaustiva, comparando e analisando as principais fontes com grande pormenor. No fim do livro existe uma bibliografia completa constituída por autores alemães e também franceses.
O método utilizado por Bento XVI é o da “ exegese canónica “ Este método consiste em analisar a Bíblia no seu conjunto, ligando o Antigo Testamento ao Novo Testamento. Todas as profecias do AT que apontam para um Messias e têm a sua realização em Jesus. Na opinião de Bento XVI o método histórico-crítico que analisa um texto nas suas diversas componentes ( histórica, literária e semiótica ) é importante mas não suficiente. Por outro lado contesta os teólogos que classificam os Evangelhos da infância de midrash , ou seja narrativas de interpretação da Sagrada Escritura. O que está nos Evangelhos é história real acontecida.
Francisco J.S. Martins
1-Segundo informação divulgada pela Santa Sé foi marcada para o próximo dia 12, terça-feira, a reunião do Conclave que irá eleger o novo Papa. Será o 266º depois de Pedro. A palavra conclave, do latim “ cum clave “ ( à chave ) significa que se trata de uma reunião à porta fechada. O primeiro conclave teve lugar em 1241 e elegeu como Papa Celestino IV . Mas nem sempre os conclaves têm decorrido num ambiente de normalidade. Quando em 1268 morreu em Viterbo o papa Clemente IV , os cardeais reuniram-se para eleger um novo Papa. Estando indecisos e hesitantes demoraram dois anos e nove meses a eleger Gregório X. Durante esse tempo foram submetidos a um regime de clausura e a uma alimentação constituída apenas por pão e água.
2- O Papa que sair eleito deste conclave vai ter pela frente um trabalho difícil e uma situação complicada que tem denegrido a imagem da Igreja. Antes de mais é preciso , entre outras coisas, fazer o seguinte: reformar a Cúria Romana colocando homens de mérito e de confiança ao serviço do Papa ; acabar com as intrigas e jogos de poder que nunca deveriam existir numa instituição cristã ; sendo necessário um Banco do Vaticano, exige-se, no mínimo, uma boa gestão do dinheiro evitando gastos supérfluos e um apoio às instituições religiosas que se dedicam em todo o mundo a ajudar os que mais precisam ; e, finalmente , acabar com os casos de pedofilia punindo severamente e afastando da Igreja os religiosos que incorram neste tipo de crime.
3-Mas a Igreja tem ainda de se reformar procurando dar resposta às exigências e desafios dos novos tempos que estamos a viver. Há muitas coisas que estão mal e têm de ser revistas. O Concílio Vaticano II que foi muito criticado pelos mais conservadores, trouxe entre outras coisas a possibilidade de as pessoas ouvirem a missa na sua própria língua. Houve até um grupo os “Lefebvreanos” que não aceitaram esta reforma. O facto é que a participação na eucaristia é totalmente diferente, para melhor , quando as pessoas entendem o que se estão a dizer.
Hoje, com concílio ou sem ele, o novo Papa terá que tomar outras medidas para dar mais vida e mais dinâmica à Igreja. A título de exemplo indicaria as seguintes: permitir às pessoas que se encontram separadas ou divorciadas a possibilidade de comungar ou até mesmo em casos devidamente ponderados voltar a casar pela Igreja ; a não obrigatoriedade da confissão auricular que por vezes inibe as pessoas de comungar ; a possibilidade de os candidatos ao ministério sacerdotal poderem optar pelo casamento e também , e por que não ,dar à mulher o acesso ao ministério sacerdotal.
4-Sendo a Igreja constituída também por aqueles que se dizem cristãos ou católicos, a reforma terá necessariamente que envolver a todos sem excepção. E não há reforma possível se pusermos de lado o Evangelho. Nada melhor para terminar do que transcrever as palavras do teólogo José M. Castillo da Universidade de Granada que, no livro “ Quem foi, quem é Jesus Cristo “ coordenado pelo Padre Anselmo Borges, diz o seguinte “ o caminho correcto para uma renovação e a devida aproximação da Igreja de Jesus é recuperar o Evangelho : o que supõe estudá-lo, analisá-lo, saber aplicá-lo no momento presente, ser-lhe dócil e obedecer-lhe, assumir como tarefa primeira viver de acordo com o Bios ( a vida ) de Jesus que se nos oferece nos Evangelhos. Aí , e somente aí , é que acho que podemos recuperar a esperança. E só desse modo a Igreja terá futuro “
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