O ano 2010 foi fértil em factos e acontecimentos, muitos deles de má memória. Dos mais importantes destacava os seguintes:
Sismo no Haiti que arrasou quase por completo um dos países mais pobres do mundo e provocou milhares de mortos. Ainda hoje muitas pessoas que ficaram sem lar continuam a viver em barracas ; inundações na Madeira que destruíram inúmeras casa e causaram prejuízos de grande monta. Se não se tivessem cometido erros urbanísticos esta tragédia não atingiria tão graves proporções ; vulcão da Islândia que levou à interdição do espaço aéreo durante quase uma semana causando enormes prejuízos às companhias de aviação e transtornos aos passageiros que se viram impedidos de viajar ; sismo no Chile que provoca 400 mortos ; explosão de um poço de petróleo no Golfo do México que provocou a morte a 11 trabalhadores e um derrame de crude que atingiu uma vasta área. Trata-se do maior desastre ecológico dos EUA ; cheias no Paquistão que provocam 1600 mortos e milhões de desalojados.
Nos acontecimentos sociais e políticos há a referir os seguintes:
Processo Face Oculta que tem como principal figura o sucateiro Manuel Godinho, acusado de corrupção. No âmbito do mesmo processo foram ainda acusados Armando Vara e José Penedos. Relacionadas com o mesmo processo estão as escutas telefónicas entre o primeiro-ministro José Sócrates e Armando Vara que tanto deram que falar. ; o Presidente da República promulga o diploma que permite o casamento entre homossexuais. Esta atitude provocou as críticas do cardeal-patriarca e de vários políticos de centro-direita. Se Cavaco Silva não concordava com o diploma não foi coerente consigo próprio ao promulgá-lo. ; outro acontecimento importante foi a visita do Papa Bento XVI a Portugal. Apesar do momento não ser o mais favorável devido aos casos de pedofilia na Igreja o Papa foi muito bem acolhido ; o Processo Casa Pia chegou ao fim e a sentença condenou a sete anos de cadeia Carlos Cruz e o médico João Ferreira Dinis. Ao embaixador Jorge Ritto foram aplicados seis anos e oito meses de prisão. A maior pena foi para Carlos Silvino que terá que cumprir 18 anos de cadeia ; recentemente deu que falar a WikileaKs(rede social da Internet) através da qual foram divulgados relatórios da Administração norte-americana sobre o envolvimento dos EUA na guerra do Afeganistão e ainda mais de 250 mil telegramas de correspondência da diplomacia norte- americana com considerações sobre líderes mundiais.
Deixei para o fim a crise económica e financeira que atingiu não só Portugal mas outros países como a Grécia, a Islândia e a Irlanda.
Na Irlanda, apontada há bem pouco tempo como um país modelo, o sistema bancário ao envolver-se em operações de alto risco acabou por falir. A situação foi de tal maneira grave que teve de recorrer, tal como a Grécia ao FMI . Portugal que em 2008 parecia ter o défice controlado, acabou também por ser vítima da crise. A injecção de capitais no BPN, a derrapagem das despesas da saúde e outras, acabaram por nos empurrar para o abismo. Com a dívida pública a aumentar e os juros dos empréstimos a subir, dificilmente nos livraremos do FMI. E se não formos capazes de vencer os atrasos estruturais, apoiando o investimento em produtos de qualidade, apostando na inovação e em novas tecnologias de forma a aumenta as nossas exportações , o ano de 2011 vai ser também muito difícil. Os cortes nos vencimentos, o aumento de impostos vão traduzir-se em menos consumo , diminuir a procura interna e apertar ainda mais o garrote às empresas que precisam de sobreviver.
Os países mais ricos da Europa como a Alemanha e a França se querem de facto uma Europa forte e coesa deviam investir e estimular a economia dos mais fracos, É importante que a Europa funcione como um todo e não desagregada. Esperamos e desejamos que 2011 seja o arranque para melhores dias.
FRANCISCO JOSÉ SANTIAGO MARTINS
Este não vai ser certamente um Natal feliz ou alegre para muita gente. Estou a lembrar-me, entre outras , das seguintes pessoas : as vítimas de intempéries e de tornados ; os que foram assaltados e roubados ; os refugiados de África que tiveram de fugir dos suas terras, dos sem-abrigo e também dos desempregados que fazem um esforço enorme para sobreviver.
Há muita gente a passar fome e a viver no limiar da pobreza. Enquanto isso há gestores e administradores que ganham mais num mês do que um operário num ano inteiro. Muitos empresários esquecem-se que os trabalhadores são elementos fundamentais da empresa e que os lucros também deviam ser repartidos por eles. Só pela justa e equitativa distribuição da riqueza de um país se conseguirá uma sociedade mais justa e humana. Se cada partilhasse um pouco do que tem pelos outros deixaria de haver fome e miséria no Mundo. Os bens que Deus criou não são exclusivo de ninguém mas de toda a humanidade. Se uns têm tudo e outros nada, alguma coisa está mal e a exigir reflexão.
O Natal é uma festa importante para todos os cristãos. Nela se comemora o nascimento de Jesus que abriu novos caminhos para Deus. A sua doutrina assenta numa única Lei-. A Lei do Amor. É no dia a dia que nós provamos se somos ou não cristãos. Ir à missa e rezar não chega. Só pela prática do Amor ( Caridade ) nas várias situações com que cada um se confronta na vida podemos chegar até Deus. Em São Mateus (25,35 ) podemos ler : “tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de beber, era peregrino e recolheste-me, estava nu e deste-me que vestir , adoeci e visitaste-me , estive na prisão e foste ter comigo. “ Foi isto que Jesus Cristo nos veio ensinar e que neste Natal e durante o ano devia ser tema de reflexão para todos.
Embora festejemos o Natal no dia 25 de Dezembro a verdade é que não se sabe ao certo a data do nascimento de Jesus. Os Romanos festejavam nesta data o “ Rei Sol “. A Igreja quis transformar esta festa pagã e aproveitou-a para comemorar o nascimento de Jesus. Hoje o Natal, para a grande maioria das pessoas, voltou a ser uma festa pagã. Quase ninguém celebra o nascimento do Menino-Deus. É mais a festa do Pai Natal, das prendas, do consumismo e das lautas ceias. Quando formos capazes de gastar menos em prendas para dar aos mais necessitados, então sim estamos a dar ao Natal o seu verdadeiro e autêntico significado.
FRANCISCO JOSÉ SANTIAGO MARTINS
1-Orçamento 2010 e dívida pública
Estamos a chegar ao fim do ano e esperamos que não haja mais buracos no Orçamento . A Saúde é sem dúvida um dos sectores que mais dores de cabeça tem dado ao Governo contribuindo para o desequilíbrio orçamental. Temos uma população envelhecida que cada vez recorre mais aos Centros de Saúde para se tratar. Tudo isto acarreta um consumo intensivo de medicamentos e uma maior utilização dos meios auxiliares de diagnóstico. Na Educação não sabemos até que ponto o Estatuto dos Professores que lhes permite progredir na carreira sem limite de quotas não irá agravar ainda mais o défice orçamental. Se o orçamento tivesse sido elaborado com rigor certamente que não haveria tantos corte e rectificações a fazer como aconteceu este ano. É um facto que as Receitas são muito difíceis de prever e de calcular. O mesmo não se passa com as Despesas que devem ser rigorosamente controladas de forma a não excederem as dotações orçamentais. Eu diria mesmo que deviam ser responsabilizados os ministérios que ultrapassem os limites fixados na Lei Orçamental.
Quanto à dívida pública ficámos a saber que são muitos os países que nos querem emprestar o dinheiro que precisamos: China, Venezuela Líbia, Brasil e até Timor. Resta saber quais são as contrapartidas que cada um vai exigir em particular a China e a Líbia de Kadafi. Da China já sabemos que invadiu o país de lojas e se prepara certamente para se apoderar de outras riquezas como a exploração do Porto de Sines. Podemos não precisar do FMI mas ficamos muito dependentes dos países que nos querem ajudar.
2-Wikileaks
Outra notícia que deu que falar foi a divulgação através da Wikileaks de telegramas enviados por embaixadores para os seus países, abordando assuntos de natureza confidencial. Como foi possível ter acesso a esses documentos é matéria que dá que pensar. Hoje a globalização torna o Mundo pequeno e as notícias correm céleres de um lado para o outro podendo gerar conflitos entre Estados ou até guerras. Há muita gente a espreitar escândalos e os órgãos de comunicação social aproveitam-se muitas vezes dessas notícias para fazer dinheiro e ganhar audiências. Se é bom denunciar os casos de corrupção e a violação dos direitos humanos por outro lado há que respeitar em muitos casos o sigilo e a privacidade para não se cair no” vale tudo”.
As revelações do Wikileaks podem no entanto ser vantajosas se obrigarem os Governos e os políticos a serem mais transparentes com o que afirmam ou divulgam em público para depois não serem apanhados em contradição. De qualquer forma ninguém quer ver o Estado como o imaginou George Orwell onde em cada esquina há um espião a controlar tudo. Embora eu não seja um” voyeurista “ acredito que haja pessoas que gostem de mexeriquices e de Big-brothers .
3-As entrevistas do cardeal D.José Policarpo e do bispo D.Carlos Azevedo
Confesso que fiquei um pouco desapontado com a entrevista que deu à revista Visão o senhor cardeal patriarca D.José Policarpo. Quando o jornalista lhe perguntou o que achava da atribuição do Prémio Fernando Pessoa a D. Manuel Clemente disse que se fosse ele não o aceitaria porque desconfiava da intenção de quem o atribuiu. Fui consultar a decisão do Júri e verifiquei que o prémio foi atribuído tendo em conta “ a postura de defesa do diálogo e da tolerância, de combate à exclusão e da intervenção social da Igreja. O júri referiu ainda a vasta obra historiográfica de D. Manuel Clemente.
Ponderando todas estas razões não vejo motivos para recusa na aceitação do prémio. Penso que a intenção do júri foi tão só premiar o mérito e as qualidades pessoais de D. Manuel Clemente. Se os membros do Júri são agnósticos ou ateus isso é irrelevante até por que a Igreja se deve relacionar com todos..
Em relação a uma nota da Conferência Episcopal D.José Policarpo diz que “ ela roça muito a crítica política “ e que ele prefere o “ anúncio “ em vez da denúncia.. Concordo que a missão fundamental da Igreja seja o anúncio do Evangelho. Mas isto não quer dizer que os casos de injustiça social, os cortes salariais e dos abonos de família não possam ser criticados e denunciados pela Igreja.
Na mesma entrevista o senhor cardeal patriarca confessou que ficou desiludido quando Cavaco Silva promulgou a Lei do casamento dos homossexuais pois poderia ter levado até ao fim os mecanismos constitucionais de que dispunha, ou seja, o direito ao veto. Como católico devia ter tomado essa posição. Aqui concordo inteiramente com D. José Policarpo. Se Cavaco Silva não concordava com a Lei e a promulgou não estava a ser coerente com si próprio e com os princípios que pratica.
Quanto à entrevista de D. Carlos Azevedo ao Semanário Expresso confesso sinceramente que me agradou. É um homem sem papas na língua e que não tem medo de dizer o que pensa.. D. Carlos diz que” é preciso actuar no concreto e que às vezes o estar calado ou não intervir pode ser pecado”. Acrescentou ainda que é preciso não ter medo que as intervenções da Igreja sejam apelidadas de políticas. O que não devem ser é partidárias. E mais à frente afirma: “ Alguém que reza ao Deus vivo tem de se comprometer nas situações políticas. Se não, não é verdadeiro cristão “
Estas palavras são elucidativas e devem interpelar todos os que se dizem cristãos. Jesus também não teve medo de denunciar os fariseus ,os saduceus e toda a classe política do seu tempo,
Francisco José Santiago Martins
Numa viagem para África, Camarões e Angola, o Papa Bento XVI ao ser interpelado pelos jornalistas disse que o preservativo não era uma solução ou o caminho mais seguro para conter a propagação da sida. Choveram logo as críticas e os protestos pois de uma maneira geral toda a gente pensava o contrário.
Recentemente está a ser publicado em várias línguas o livro “ Luz do Mundo “ no qual o Papa em conversa com o jornalista alemão Peter Seewald fala de si, da Igreja e dos sinais dos tempos. Através da Internet tive acesso a um extracto dessa entrevista onde são abordados entre outros assuntos, a intolerância religiosa, os casos de abuso na Igreja e ainda o uso do preservativo. Os media deram mais realce ao uso do preservativo fazendo crer que Bento XVI tinha mudado radicalmente a sua posição a este respeito. Mas o Papa continua , no entanto a afirmar que o preservativo não é uma solução para a sida, embora o admita em certos casos. Diz ainda que é preciso estar próximo das pessoas, orientá-las, ajudá-las , e isso quer antes quer depois de uma doença. Depois para não se cair na banalização da sexualidade o caminho a seguir seria o da teoria secular do ABC ( Abstinence, Be faithfull, Condom ) ou seja Abstinência, Fidelidade e preservativo. Deste modo é fácil concluir que o preservativo seria a última alternativa, quando as outras duas já não funcionam. Continuando o seu raciocínio o Papa diz que “a sexualidade deve ser vista como expressão de amor entre pessoas e não como uma espécie de droga que se administra a si próprio. O que está em causa é que a sexualidade se possa valorizar positivamente e se desenvolva no todo de ser pessoa “. Bento XVI admite ainda algumas situações pontuais em que a utilização do preservativo se justifica como são os casos de prostituição. De qualquer forma terá que “ser feito um esforço e terão que ser dados passos para desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que se não pode fazer tudo o que se quer. O verdadeiro caminho terá que ser sempre o da humanização da sexualidade. “
Compreendo e concordo perfeitamente com o pensamento de Bento XVI. Nesta matéria há que ter em conta a máxima prudência. O aconselhamento do preservativo “ tout court “ poderia criar nas pessoas e sobretudo nos jovens o sentimento de libertinagem e de banalização da sexualidade. Há que dignificar a pessoa e valorizar o acto sexual evitando a prostituição e a promiscuidade. Só pela moralização do comportamento sexual se conseguirá o uso indiscriminado do preservativo. E para um cristão não se está a pedir demais. É que o verdadeiro caminho, como diz o evangelho, é o da entrada pela porta estreita ou seja não é o das facilidades mas o que se consegue pela superação das dificuldades do dia a dia. Um cristão tem de contar sempre com níveis ou patamares de exigência elevados.
Há, no entanto alguns aspectos da doutrina da Igreja com os quais não concordo. Diz o catecismo da Igreja católica que a regulação da natalidade tem de ser feita através de métodos naturais como por exemplo a utilização dos períodos infecundos da mulher. Deste modo não há lugar para a pílula ou para o preservativo.. Mas, ou a procriação é obrigatória para os casais e a utilização do período infecundo seria um desvio ou “ batota “ ou não é obrigatória e então não vejo qualquer mal se forem utilizados processos mais seguros como a pílula ou o preservativo. Como a vida de hoje não permite aos casais terem muitos filhos é importante a regulação da natalidade de forma que não haja recurso, esse condenável, ao aborto.
FRANCISCO MARTINS
A crise económica que o país está a viver e o elevado número de desempregados faz com que haja cada vez mais pessoas que precisam de recorrer aos institutos de solidariedade social. Os cortes nos abonos de família e nos salários são um verdadeiro pesadelo para quem tem de comer e educar os filhos. Muitos dos que trabalhavam e tinham um nível de vida razoável vêem-se agora reduzidos à miséria e por vezes com vergonha de pedir ajuda. E a situação não tem tendência para melhorar nos tempos mais próximos. A nossa economia bateu no fundo e a recuperação poderá levar anos a reanimar. Por outro lado e como diz Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar, “o modelo de Estado social que estava instituído faliu” . E a razão é fácil de explicar. Sabemos que são cada vez menos os trabalhadores no activo a descontar para a Segurança Social e que aumentam exponencialmente todos os dias os beneficiários de subsídios de desemprego e de pensões de reforma. Sendo assim é inevitável que o sistema tenha mesmo que rebentar.
Face ao drama que está a atingir muitas famílias portuguesas, o arcebispo de Braga D. Jorge Ortiga lançou um apelo aos padres da sua diocese sugerindo para doarem um mês de ordenado em favor das obras de assistência social. Como o Estado não tem meios que cheguem para socorrer a todas as necessidades só a ajuda solidária de um grande número de cidadãos poderá minorar as carências de toda a ordem que irão surgir de norte a sul do país. O povo português é generoso e certamente não vai faltar à chamada. Segundo dados fornecidos pelo Banco Alimentar as ajudas recebidas até ao momento já suplantaram em muito as do ano passado.
Infelizmente as situações de pobreza extrema não são exclusivas do nosso país. Na revista “ Visão “ li um artigo intitulado “ A terceira idade do crime “ , que me deixou impressionado e perplexo. Fiquei a saber que no Japão em cada cinco habitantes um tem mais que 65 anos. A população é vítima da sociedade liberal que atira cada vez mais pessoas para o desemprego. Os idosos vivem na mais completa solidão pois há poucos lares ou abrigos para os recolher. Passam fome e à noite dormem em caixotes de cartão ou nas estações do metro. Quando o stress e o desespero é grande muitos acabam por matar e escolhem os crimes mais sangrentos pois preferem acabar os seus dias na prisão onde têm um tecto e refeições. A pobreza é de tal ordem que por vezes as pessoas são levadas a cometer fraudes aberrantes. A reportagem cita como exemplo o caso de ocultação de um cadáver em casa para a família continuar a receber a sua reforma. Estas situações são preocupantes e são a prova de uma sociedade desumanizada e decadente.
No nosso país, se a crise se agravar e nada for feito para que haja uma mais justa redistribuição da riqueza acabando com os ordenados e reformas escandalosos, poderão surgir casos explosivos e difíceis de controlar. Há que investir para criar empregos. Mas é bom perceber que o Estado não pode fazer tudo. Os nossos empresários têm de ser criativos e tirar proveito das riquezas que temos e de produtos de grande qualidade. Só com o trabalho, a cooperação e a solidariedade de todos os portugueses se poderá tirar o país do fosso em que caiu.
Francisco Martins
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