Quinta-feira, 18 de Novembro de 2010

EM TEMPO DE CRISE NÃO FALTAM SUGESTÕES,DESABAFOS E QUEIXAS

1-Ao lermos a imprensa diária deparamos com uma catadupa de propostas para resolver a crise. A maior parte provém de políticos influentes que sugerem as mais diversas soluções : realização de um congresso do PS para substituir José Sócrates , governo de salvação nacional, acordo parlamentar ou governo de coligação.

Numa entrevista ao semanário Expresso, o ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado diz que o país está a viver uma”situação política aberrante”. Depois em jeito de desabafo sugere “ uma grande coligação que permita ultrapassar a actual situação” Adiantou ainda que uma alternativa para superar a crise, a prazo , seria a saída do euro.

Ninguém duvida que um governo minoritário não consegue governar sem um acordo parlamentar ou de um governo de coligação. É isso que se faz na Alemanha e em outros países democráticos da Europa. Mas em Portugal tal solução é quase impossível. Houve um Bloco Central no tempo em que Mário Soares foi primeiro-ministro e pouco tempo se aguentou. A explicação para isso está no facto de se querer colocar o interesse partidário acima dos interesses do país. No actual momento sabemos que o P.S.D, cujas sondagens lhe são favoráveis , procura atingir o poder no mais curto espaço de tempo. Assim, não tem qualquer interesse em viabilizar o governo nem comprometer-se em acções impopulares que lhe façam perder votos. O CDS espera que o PSD ganhe as eleições sem maioria absoluta e lhe estenda a mão para poder governar. Os partidos mais à esquerda do PS, de forma alguma aceitariam governar em clima de contenção , os seja , reduzindo salários e aumentando impostos como o IVA e o IRS. A propósito das coligações estou totalmente de acordo com o Prof. Freitas do Amaral quando diz na revista Visão que “  hoje nem pagos com os Euromilhões os partidos da oposição quereriam ajudar o actual governo.”

Quanto à saída de Portugal da zona euro, outra das medidas propostas por Luís Amado, não me parece uma alternativa credível pois isso seria dar um passo atrás e poria em causa a coesão da Europa.

A crise resolve-se não a falar muito, mas definindo estratégias e planos para implementar a médio e a longo prazo. Para isso o Presidente da República teria de sentar à mesa os responsáveis dos partidos políticos e levá-los a estabelecer um consenso quanto às linhas de orientação a seguir nos próximos anos. Esse programa teria de ser rigorosamente cumprido independentemente do partido que viesse a ganhar as eleições. Deveriam também ser responsabilizados os ministros que ultrapassem as dotações orçamentais sem que aconteçam circunstâncias extraordinárias que o justifiquem. A nossa dívida pública não teria atingido um nível tão elevado se não estivéssemos a viver há longos anos acima das nossas possibilidades. Quanto não terá custado a cedência às reivindicações dos professores que permitiram a todos, sem imposição de quotas, chegar ao topo da carreira ?  Quais serão os custos da construção do TGV, investimento que segundo os entendidos irá dar prejuízo ao Estado ?  Para não ficarmos isolados da Europa iremos agravar ainda mais a dívida pública.

 

2-O candidato a Presidente da República Manuel Alegre queixou-se em Mangualde que “ há dirigentes do PS, que têm a sua responsabilidade, têm de falar, têm de se comprometer, porque este combate é de todos, não é só meu “.

Nunca cheguei a perceber como é que dois partidos como o PS e o BE que se atacam mutuamente ou têm políticas tão diferentes, apoiam o mesmo candidato. Para os militantes e simpatizantes do PS é muito difícil perceber por que é que devem votar num candidato que por várias vezes esteve contra o governo e se candidatou contra o dr. Mário Soares nas últimas eleições presidenciais.

De qualquer forma não devemos ter ilusões. O Presidente da República não tem uma varinha mágica que resolva os problemas do país. Seja de direita ou de esquerda, o presidente terá que ser o garante da estabilidade democrática. A competência para demitir o governo ou dissolver a Assembleia da República não são arbitrárias mas rigorosamente fixadas na Constituição. O papel do presidente poderá , no entanto, ser  determinante nos casos em que haja governos minoritários, procurando acordos que viabilizem a governação do país.

 

Francisco Martins

publicado por pontodemira às 21:35
link | comentar | favorito
Sexta-feira, 5 de Novembro de 2010

O MAIS DIFÍCIL ESTÁ PARA VIR

As negociações do PSD com o Governo para a viabilização do Orçamento foram complicadas mas concluíram com êxito. O Orçamento do Estado já foi aprovado na Assembleia da República e a discussão na especialidade não irá certamente impedir a sua execução. As críticas entre deputados e as dúvidas quanto à eficácia das medidas propostas só nos podem prejudicar perante as instâncias internacionais que nos concedem o crédito necessário para tapar o buraco orçamental e sanar a dívida pública. A reunião do Conselho do Estado numa fase já adiantada das negociações pecou por tardia. O Presidente da República, no fim da reunião,   veio à televisão dizer o que era óbvio para toda a gente, ou seja,  a necessidade de um acordo inter-partidário para superar a crise.

 

Esperamos que as previsões orçamentais estejam correctas e não seja necessário no  futuro proceder aos habituais ajustamentos. Parece-me, no entanto, que um verdadeiro equilíbrio orçamental só será atingido se houver um corte mais radical nas despesas públicas. A título de exemplo apontaria o seguinte: redução do número de deputados, extinção dos governos civis e de uma grande parte das empresas públicas e municipais. Há ainda que rever as parcerias público-privadas ou seja, as empresas privadas que fazem obras públicas para o Estado e cobram mais tarde as despesas directamente ou através de contrapartidas. Tem -se verificado que na maioria dos casos estas parcerias são altamente ruinosas para o Estado, pois quase nunca cumprem com os preços fixados nos contratos. Por outro lado permitem a desorçamentação dos investimentos que só vêm a ter reflexos  na despesa pública anos mais tarde.

 

Mas o mais difícil está para vir se não houver crescimento económico. É que não basta cortar nas despesas. As receitas terão de aumentar, não pela via dos impostos mas pelo incremento das exportações e pela competitividade das empresas. É preciso apostar na inovação e na qualidade dos nossos produtos. E não vai ser tarefa fácil. Primeiro porque o défice das contas públicas de alguns países ricos conduz à retracção económica e ao desemprego. Depois, numa economia de mercado teremos que contar ainda com os países emergentes como a China e a Índia que conseguem produzir tudo mais barato. Enquanto a economia estiver predominantemente marcada pelo lucro fácil e não forem respeitados os direitos dos trabalhadores a um salário justo e a uma reforma condigna, a concorrência será sempre desleal  e desumana..  Numa entrevista à revista “ Visão “, o Prof. Bruto da Costa diz que tem de se alterar o padrão de riqueza e acrescentou : “ essa mudança não se faz com políticas sociais. Começa pela repartição primária do que resulta da actividade económica: salários e lucros. As medidas redistributivas- o fisco, a segurança social- podem atenuar mas nunca anulam os graves desequilíbrios. E mais à frente interroga-se : Por que é que só um dos lados há-de ser o dono da empresa ? O trabalhador faz parte da empresa não é só o capital. Seria uma revolução ; mas hoje há novas formas de organização empresarial que já reflectem essas práticas. Não é a responsabilidade social, em que se faz não sei o quê com uns pozinhos dos lucros. O que está em causa é o próprio sistema económico. “

 

Estas palavras são elucidativas e deveriam fazer reflectir muita gente. Enquanto não se alterarem os padrões de vida da sociedade capitalista e  consumista em que vivemos não se conseguirá arrancar milhões de pessoas do estado de pobreza em que se encontram Portugal não foge à regra, pois é dos países europeus onde esse desequilíbrio é maior.

 

Francisco  Martins

publicado por pontodemira às 19:47
link | comentar | favorito

.mais sobre mim

.pesquisar

 

.Setembro 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6
7

8
9
10
11
12
13
14

15
16
17
18
19
20
21

22
23
24
25
26
27
28

29


.posts recentes

. LIBERDADE E IGUALDADE- O ...

. DESMASCULINIZAR A IGREJA ...

. A PRÓXIMA GUERRA CIVIL- ...

. A DEMOCRACIA MANIPULADA

. NENHUM CAMINHO SERÁ LONGO

. A BÍBLIA TINHA RAZÃO

. QUEM GOVERNA O MUNDO

. O QUE VOS PEÇO EM NOME DE...

. A ECONOMIA PODE SALVAR O ...

. NENHUM HOMEM É UMA ILHA

.arquivos

. Setembro 2024

. Julho 2024

. Maio 2024

. Abril 2024

. Março 2024

. Fevereiro 2024

. Janeiro 2024

. Novembro 2023

. Outubro 2023

. Setembro 2023

. Agosto 2023

. Julho 2023

. Junho 2023

. Maio 2023

. Abril 2023

. Março 2023

. Fevereiro 2023

. Janeiro 2023

. Dezembro 2022

. Novembro 2022

. Outubro 2022

. Setembro 2022

. Agosto 2022

. Julho 2022

. Junho 2022

. Maio 2022

. Abril 2022

. Março 2022

. Fevereiro 2022

. Janeiro 2022

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Outubro 2021

. Setembro 2021

. Agosto 2021

. Julho 2021

. Junho 2021

. Maio 2021

. Abril 2021

. Fevereiro 2021

. Janeiro 2021

. Dezembro 2020

. Novembro 2020

. Outubro 2020

. Setembro 2020

. Agosto 2020

. Julho 2020

. Junho 2020

. Abril 2020

. Janeiro 2020

. Dezembro 2019

. Novembro 2019

. Outubro 2019

. Setembro 2019

. Agosto 2019

. Julho 2019

. Junho 2019

. Maio 2019

. Março 2019

. Fevereiro 2019

. Janeiro 2019

. Dezembro 2018

. Novembro 2018

. Outubro 2018

. Setembro 2018

. Agosto 2018

. Julho 2018

. Junho 2018

. Abril 2018

. Março 2018

. Fevereiro 2018

. Janeiro 2018

. Dezembro 2017

. Outubro 2017

. Julho 2017

. Junho 2017

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2016

. Janeiro 2016

. Setembro 2015

. Julho 2015

. Junho 2015

. Janeiro 2015

. Dezembro 2014

. Outubro 2014

. Julho 2014

. Maio 2014

. Março 2014

. Fevereiro 2014

. Janeiro 2014

. Dezembro 2013

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

. Fevereiro 2008

. Janeiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Outubro 2007

blogs SAPO

.subscrever feeds

Em destaque no SAPO Blogs
pub