1-Em momentos de crise, no futebol ou na política, há sempre portugueses que acreditam num homem providencial que resolva todos os problemas. Aconteceu assim recentemente quando o seleccionador nacional Carlos Queirós foi despedido. Houve quem pensasse que a melhor estratégia seria contratar, apenas por dois jogos , o treinador José Mourinho do Real Madrid. As coisas não correram bem e enveredou-se pela solução mais sensata de nomear um treinador a tempo inteiro. A escolha incidiu sobre Paulo Bento e o futuro dirá se a decisão foi ou não acertada.
É certo que Carlos Queirós não ficou bem na fotografia ao receber de forma agressiva a equipa médica que ia fazer uma análise anti-dopping. Só não compreendo que a comissão disciplinar e o tribunal demorassem tanto tempo a tomar uma decisão. Na minha opinião, e não havendo outros antecedentes a ter em conta, o treinador Carlos Queirós deveria ser punido de imediato com uma repreensão por escrito e o caso ficaria desde logo sancionado. Cortava-se o mal pela raiz evitando-se que a situação de mal- estar e de intranquilidade do treinador se reflectisse no comportamento da selecção. De qualquer forma a mudança do treinador, caso fosse considerada aconselhável e necessária, deveria sempre ocorrer antes de iniciados os trabalhos de preparação para o apuramento do Campeonato da Europa.
Estamos, porém , perante um facto consumado e espera-se agora que Paulo Bento consiga incutir ânimo aos jogadores e inverter os resultados negativos da selecção. Temos bons jogadores mas isso de nada vale se não houver uma equipa coesa que acredite nas suas potencialidades. Ao treinador compete estudar as tácticas a seguir de forma a tirar o melhor rendimento dos seus jogadores.
2-Na política o tema que está na ordem do dia é sem dúvida a aprovação do Orçamento do Estado. O facto do governo ser minoritário obriga necessariamente a negociar com os outros partidos. Só que um acordo implica como é óbvio cedências de parte e a parte. O PC e o BE sendo partidos de esquerda radical e tendo que agradar ao seu eleitorado não podem aprovar medidas que se traduzam no agravamento das condições de vida dos portugueses.. O CDS entende que não se deve mexer nas deduções fiscais porque isso seria um ataque à classe média. Para o PSD é um ponto de honra, e uma medida “ sine qua non “ para o aprovação do Orçamento, não subir os impostos. O Governo pensa que para equilibrar o próximo Orçamento terá que se recorrer inevitavelmente à subida dos impostos. A OCDE vem agora acolher as medidas do Governo e deixar Passos Coelho numa situação muito frágil.
Mas será mesmo necessário aumentar os impostos ? Não sou economista mas parece-me que só se deveria recorrer a esta medida em último recurso. Há outras formas de obter receitas menos gravosas. Citaria como exemplo os seguintes casos: combate à fraude fiscal, fim dos off-shores, limites ao montante máximo das reformas. Toda a gente sabe que muitas pessoas não passam recibos pelo trabalho que executam para fugir aos impostos. Lembro-me também que um dia me desloquei a um banco para fazer um depósito a prazo e me disseram que se aplicasse o dinheiro num off-shore os juros seriam mais altos porque não pagava impostos.
Além destes há ainda outros meios de reduzir o défice orçamental e diminuir a dívida pública. Para tal seria necessário implementar as seguintes medidas: limitar o número de empresas públicas e municipais ; reduzir o número de assessores ministeriais ; tornar as leis mais claras de forma a diminuir os pareceres jurídicos ;acabar com as regalias fiscais das fundações ; reduzir as parcerias público-privadas etc etc
Como se vê há muitas despesas que poderiam ser cortadas antes de aumentar os impostos. O IVA é um imposto cego que vai afectar de maneira muito penalizante as camadas mais pobres. Por isso devia haver um escalão mais baixo para os bens essenciais como o pão e o leite e outro mais alto para os artigos supérfluos ou de luxo. Mas o IVA é também uma árvore de dois gumes : pode reduzir o consumo dos bens importados mas também tem influência negativa no consumo interno afectando o poder de compra e complicando ainda mais a situação já difícil em que vivem muitas empresas nacionais. Ou seja, o aumento dos impostos irá manter ou aumentar o actual clima de recessão. O crescimento económico tão necessário para aumentar as receitas irá estagnar. Com estas medidas podemos calar por mais algum tempo as agências de rating internacional mas o desenvolvimento de que o país precisa irá ser adiado “ sine die “. Por outro lado não é justo pedir mais sacrifícios às famílias mais desprotegidas quando há 700 000 desempregados e situações dramáticas a atingir o limiar da pobreza. Era bom que os partidos se entendessem no essencial, encontrando as soluções mais realistas, justas e adequadas para tirar o país da crise em que mergulhou.
FRANCISCO MARTINS
Durante muitos anos li a Bíblia, sobretudo o Antigo Testamento, e confesso que muitas coisas fugiam à minha compreensão ou eram para mim obscuras. Expressões como “ passar ao fio da espada e incitamentos à guerra e à violência não se coadunavam com a ideia de um Deus bondoso e cheio de misericórdia ou da doutrina de Jesus que mandava perdoar setenta vezes sete. Também não compreendia a criação do Mundo em sete dias como vem no Génesis quando a Ciência nos diz que tanto a Terra como o Homem foram o resultado de milhões de anos de evolução. Como era possível Josué mandar parar o Sol, para vencer o inimigo, quando a teoria heliocêntrica nos diz que o Sol está parado e é a Terra que gira à volta do Sol.
Tudo isto espicaçava a minha curiosidade de saber mais e por isso dediquei algum tempo a ler os comentários à Bíblia do prestigiado teólogo Padre Carreira das Neves e a análise de temas religiosos escritos por Frei Bento Domingues e pelo Padre e professor de filosofia Anselmo Borges. Comecei então a ver tudo mais claro e a minha fé ficou também mais esclarecida. Compreendi, então, que a Bíblia não pode ser interpretada à letra e os textos têm de ser lidos dentro do contexto histórico e cultural da época em que foram escritos. Fiquei a saber que para o povo hebraico a doença era uma consequência do pecado e de um castigo de Deus. Aprendi ainda que a Bíblia não é um livro de ciência nem um relato fotográfico de acontecimentos históricos. Se os autores foram inspirados por Deus isto não quer dizer que os textos tenham sido ditados à letra para serem escritos. O que a Bíblia nos transmite é que Deus acompanhou sempre o seu povo ao longo da História , nos bons e nos maus momentos.
No Antigo Testamento Deus é exclusivo do povo judeu. Mas com Jesus Cristo ninguém é excluído do Reino de Deus : os pagãos ( não judeus ) e os pecadores que se arrependessem. Também no Novo Testamento, e aqui passo a citar o Padre Carreira das Neves , aparecem textos que “ não foram pronunciados por Jesus mas pela Igreja de Jesus . Isto não significa que tais textos deixem de ser palavra de Deus, significa apenas que devem ser entendidos à luz da intenção do próprio texto, a intenção do narrador. “ Os evangelistas não foram testemunhas presenciais de Jesus e escreveram os textos com base na tradição oral e de pequenos fragmentos escritos que certamente circulavam de mão em mão. Para concluir diria que a Bíblia é um livro em que Deus está presente na História desde o começo do Mundo até ao Juízo Final. Ele é o alfa e o ómega
Ao longo dos anos e à medida que aprofundei os meus conhecimentos e a minha fé tornou-se mais esclarecida. A razão também deu uma boa ajuda. Pensar nas maravilhas do Universo, apreciar um concerto musical ou olhar deslumbrado para uma bela pintura tudo isto me encaminha inevitavelmente para o Supremo artista que é Deus.
A este propósito queria aqui referir um livro que apareceu recentemente nas livrarias : “ Deus ( não ) existe , do filósofo inglês Antony Flew. Este autor foi durante 50 anos ateu, escrevendo e argumentando contra a existência de Deus. Uma das razões que o conduziu ao ateísmo foi o problema do mal. Assim, não entendia que um deus omnipotente e perfeitamente bom fosse compatível com os males e imperfeições do mundo. Por outro lado a defesa do livre-arbítrio não desresponsabilizava o Criador dos óbvios defeitos da criação. Mas os avanços da ciência e acreditando nos progressos da filosofia e no princípio que Platão no livro República pôs na boca de Sócrates, segundo o qual devemos seguir a razão para onde quer que ela nos leve, Antony Flew mudou de opinião e passou a admitir a existência de Deus.
Quais foram os avanços da Ciência que o levaram à descoberta de Deus ? É o que passaremos a analisar.
Em primeiro lugar o material sobre o ADN mostra uma complexidade inacreditável de combinações necessárias para produzir vida. Isso leva a considerar que uma inteligência teve de estar envolvida para que todos esses elementos funcionassem em conjunto. A forma com esses elementos interagem leva a essa conclusão. A possibilidade de uma combinação casual é mínima. Por outro lado a selecção natural de Darwin não produz seja o que for. Apenas elimina ou tende a eliminar o que não é competitivo. Em relação à teoria do gene egoísta de Dawkin, o filósofo Antony Flew diz que os genes não governam nem podem governar a nossa conduta, não são capazes de cálculo e discernimento necessário para arquitectar qualquer conduta.
Para explicar a origem do Universo a Ciência aponta para a teoria do Big Bang ou seja de uma grande explosão. Se tudo começou assim há que admitir um “ princípio antrópico “ segundo o qual as leis da natureza foram cuidadosamente desenhadas para o aparecimento e a manutenção da vida. É que se a velocidade da luz ou massa de um electrão fosse ligeiramente diferente, nenhum planeta capaz de dar lugar à evolução humana poderia ter-se formado. Ainda relativamente à Ciência, Antony Flew põe em destaque três dimensões da natureza que apontam para Deus :a primeira é o facto da natureza obedecer a leis ; a segunda é a existência de seres vivos organizados e com propósito que surgem da matéria ; a terceira tem a ver com a existência da própria natureza. Estas questões suscitam três tipos de perguntas :
1-Como surgiram as leis da natureza ?
2-Como é que o fenómeno da vida surge da não vida ?
3-Como é que o Universo ou a Natureza física começou a existir ?
Na sua argumentação cita outros cientistas um dos quais Gerard Schroder que diz o seguinte “ a existência de condições favoráveis à vida não chegam para implicar a origem da vida. A vida só consegue sobreviver dadas as condições favoráveis do nosso planeta ; mas não há lei da natureza que dê instruções à matéria para produzir entidades dirigidas para fins e que se auto-reproduzem “
Na parte final do seu livro Antony Flew chega às seguintes conclusões : “ as leis da natureza, a vida e a sua organização teleológica ( orientada para fins ) e a existência do Universo podem apenas ser explicados à luz de uma Inteligência que explica tanto a sua própria existência como a do mundo. Uma tal descoberta do Divino não provém de experiências científicas ou de equações , mas de uma compreensão das estruturas que elas revelam e mapeiam. Volto a dizer que a viagem da minha descoberta do Divino foi até aqui uma peregrinação da razão. Segui a razão até onde ela me levou. E levou-me a aceitar a existência de um Ser auto-existente ,imutável ,imaterial, omnipotente e omnisciente.
Também para mim a Fé não é superstição nem crendice. É pela razão que chego ao transcendente. Deus é para mim uma questão racional.
Francisco Martins
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