O partido Socialista ganhou as eleições legislativas e tem toda a legitimidade para governar. O Governo que tomou posse no dia 26 tem 8 novos ministros, dos quais 5 são mulheres. Não são nomes sonantes, nem seria de esperar, num governo minoritário, mas a escolha de alguns ministros indicia o propósito de uma mudança à esquerda ou de alteração nas políticas seguidas como é o caso da Educação.
Teixeira dos Santos e Vieira da Silva que deram provas de grande competência continuam no novo governo embora o segundo tenha transitado para a pasta da Economia. Estes nomes tranquilizam e dão à partida uma certa garantia de qualidade em áreas sensíveis e de grande importância como as Finanças e a Economia.
Os tempos que aí vêm são difíceis e com um governo fragilizado por não ter uma maioria no Parlamento a situação complica-se ainda mais. Não sabemos como é que o Ministro das Finanças vai diminuir o déficit orçamental que se situa em 6% do PIB e ao mesmo tempo libertar o dinheiro para investir e para pôr a funcionar a economia. Aumentar os impostos não é uma solução em tempo de crise pois vai reduzir ainda mais os rendimentos das classes mais desfavorecidas. Baixar as despesas só se for em gastos sumptuários e nunca na saúde ou na educação. A única saída que resta é atacar ainda mais a fraude fiscal pois poderá estar aqui a chave para um aumento substancial das receitas do Estado. O Ministro da Economia tem também um trabalho importante a desenvolver pois segundo os dados estatísticos há cerca de 700 000 pessoas desempregadas. É preciso apostar na formação de trabalhadores e na inovação tecnológica dado que a competitividade em mão de obra barata não faz qualquer sentido, hoje, face à com concorrência chinesa. O investimento em obras públicas e no apoio às PMEs é absolutamente necessário para reanimar a economia.
Uma outra reforma que tem de ser feita e a incluir na lista das prioridades é a da Justiça que tem de ser célere e eficiente. Se o ratio de magistrados por habitante está ao nível dos outros países europeus não se percebe por que é que os tribunais são tão lentos. Penso que a Justiça poderia melhorar se fossem tomadas entre ouras as seguintes medidas:
a) dar aos juízes um período curto para tomar decisões
b) conceder apenas um recurso na maioria dos processos
c) retirar dos tribunais os casos mais simples transferindo-os para tribunais arbitrais ou para julgados de paz.
É uma vergonha que muitos processos se arrastem por tempo indeterminado acabando mesmo nalguns casos por prescrever. Nos Estados Unidos o principal responsável pela falência da Banca, Madoff foi rapidamente julgado e condenado a 150 nanos de cadeia. Se isto se passasse em Portugal iria aguardar julgamento em prisão domiciliária e quem sabe se com o tempo não acabaria por ser libertado por não se encontrarem provas suficientes para o condenar.
A Ministra da Educação vai ter de negociar com os sindicatos dos professores que pedem desde já a suspensão da avaliação . Quanto a mim os professores não querem é ser avaliados e acabar com as quotas que os impeçam de chegar ao topo da carreira, caso não atinjam a classificação exigida para o efeito. Espero que a avaliação não vá parar ao cesto dos papeis pois os professores não são, nem podem ser ,uma classe privilegiada ou uma excepção à regra no conjunto dos funcionários da administração pública.
Mas nem tudo são espinhos para o Governo. Alguns diplomas que foram vetados pelo senhor Presidente da República, os seja concretamente, a nova lei do divórcio , as uniões de facto e o casamento dos homossexuais, vão ser facilmente aprovados no Parlamento com a ajuda do bloco de Esquerda e do Partido Comunista. O Primeiro-Ministro José Sócrates irá ficar na História, como tudo leva a crer, como o político que instituiu em Portugal o casamento dos homossexuais. Essa proeza ninguém lha poderá tirar. A construção do TGV que divide muitos economistas, também vai passar com facilidade no Parlamento. Se é certo que Portugal não pode ficar como um país periférico da Europa a verdade é que este empreendimento irá aumentar de forma considerável o nosso endividamento externo e a sua rentabilidade pode não compensar o esforço financeiro que terá de ser feito.
Quanto tempo se irá aguentar este governo. Durante pelo menos 2 anos nenhum partido terá coragem de o derrubar pois se o fizesse arriscar-se-iam a ser penalizados nas próximas eleições. José Sócrates terá de dialogar muito e obter consensos pontuais para sobreviver. E as grandes reformas, provavelmente, irão ser sucessivamente adiadas. É um facto que o governo do Eng. Guterres se aguentou durante 6 anos em minoria. Mas hoje a situação económica e financeira do país é diferente e qualquer súbito agravamento poderá ditar a queda do executivo. Esperemos que prevaleça o sentido de Estado e que surja um consenso de todos os partidos naquilo que é fundamental para o desenvolvimento do país.
FRANCISCO MARTINS
A RELIGIÃO EM FOCO
1-Num texto publicado no jornal “ Público “, Frei Bento Domingues dá conta que os casamentos católicos estão a baixar para números alarmantes, segundo dados estatísticos recolhidos nos meios de comunicação social. A situação é tão grave que avança para uma pergunta inevitável : Casamentos católicos em vias de extinção ?
O número reduzido de casamentos pela Igreja não é novidade para ninguém. A legislação que o Partido Socialista pretende aprovar no Parlamento parte da instabilidade da vida familiar como um facto real, facilitando os divórcios e dando às uniões de facto o estatuto de verdadeiro casamento. Pelo rumo que as coisas estão a tomar não me admiro nada que muito em breve até os casamentos civis sejam cada vez em menor número. Sinais dos tempos !
Na Igreja católica não são só os casamentos que estão a diminuir. O número de pessoas que frequentam as missas dominicais tem vindo também a baixar e a juventude quase não frequenta a igreja. Conviria analisar as causas que conduziram a esta situação. Penso que nas famílias de hoje há pouco tempo para dialogar e muito menos para falar de Deus. Se os pais que se dizem católicos não levam os filhos à igreja não estão a contribuir para uma educação integral nem a ser coerentes com a sua fé. Quando os pais que foram baptizados se afastam da Igreja não é de admirar que os filhos façam o mesmo. Depois, como já anteriormente referi é necessário que os padres saiam da sacristia e contactem e convivam com os jovens, incutindo-lhes os valores cristãos do amor, da solidariedade e da inter-ajuda por forma a cativá-los para a catequese e para o conhecimento de Deus. Vejo com agrado que há muitos jovens que voluntariamente colaboram nas instituições de solidariedade social. Este é um bom exemplo que conduz a um verdadeiro cristianismo, que não deve ficar apenas nas palavras mas se deve concretizar em acções.
Voltando ao casamento católico, infelizmente, há pessoas que o fazem por mera fachada, para parecer bem e dar nas vistas. Ora, ou as pessoas acreditam e assumem aquilo que fazem ou então é preferível não recorrerem ao matrimónio como sacramento. Isso será um mau exemplo que apenas serve para salvar as aparências.
Frei Bento Domingues levanta ainda uma questão muito pertinente. Se a celebração do matrimónio pode e deve ser uma festa isso não implica que se converta numa exibição de riqueza real ou aparente. Seria pois uma boa ocasião para a Igreja propor aos ricos a partilha com os pobres dos gastos exagerados. Os Encontros de Preparação Para o matrimónio deviam pois fazer uma pedagogia nesse sentido. Aqui está uma sugestão a ter em conta e a seguir pelos casais que se dizem cristãos.
2-A figura da semana foi Saramago pela polémica que levantou na apresentação do livro “ CAIM “ . O escritor declarou entre outras coisas que a bíblia é um “ manual de maus costumes “ e um” catálogo de crueldades” . A reacção da Igreja foi frouxa e merecia um esclarecimento mais completo para não deixar ficar as pessoas na dúvida.
José Saramago tem com certeza algum mérito literário como escritor pois não é a qualquer um que é atribuído o prémio Nobel. Dos livros que escreveu li apenas o “ Memorial do Convento “ mas não me agradou a forma como escreve. Gosto de um português bem pontuado com vírgulas, pontos finais e parágrafos. Aprecio Eça de Queirós, Aquilino Ribeiro, Miguel Torga e os clássicos universais- Dostoievski, Tolstoi, Tomas Man, Hemingway- mas detesto as novas modernices literárias. Quando um escritor ateu, como Saramago, se mete a criticar temas que ultrapassam a sua esfera de competênciem, só pode sair asneira.
A bíblia é um conjunto de 73 livros escritos por vários autores em épocas diferentes e nela vamos encontrar quase todos os géneros literários: mito, saga, poesia, romance, carta , evangelho e história. Há dois modos de ler a bíblia : a literalista, fundamentalista e a que procura descobrir o verdadeiro significado do texto através da sua interpretação ( hermenêutica ) e da contextualização. Para as Testemunhas de Jeová e de certos movimentos Pentecostais norte-americanos tudo o que está na bíblia deve ser lido à letra. Ora, a criação que vem no Génesis não se compagina com os dados da ciência que nos diz que o Mundo e o Homem são o produto de uma longa evolução. Sendo assim muitos dirão que a bíblia está a mentir. Só que o autor do Génesis utiliza uma linguagem simbólica que podemos classificar de mito. Deste modo o que se pretende mostrar é que Deus está na origem de tudo o que foi criado. Ele é o criador de todas as maravilhas do Universo. A bíblia não é um livro de ciência mas de fé. Frei Bernardo Ventura ( 1) no seu livro “ Roteiro da Bíblia “ ( pag.55 ) diz o seguinte: “ A ciência tem o dever de continuar a sua investigação acerca do “ cosmos “ da criação; a fé tem o dever de continuar a afirmar e aprofundar a sua reflexão acerca de “quem” é o criador ; só isto. E mais à frente acrescenta : “ Se algum dia a ciência chegar a identificar o momento da zero da criação, a fé poderá então, também ela, identificar o momento “ zero menos um “ da intervenção de Deus.” À pergunta, quem somos, donde vimos e para onde vamos , a bíblia responde que somos de Deus, vimos de Deus e vamos para Deus. “
Quando Saramago diz que o Deus do Antigo Testamento é rancoroso, vingativo e cruel, está a fazer uma interpretação literalista e fundamentalista da bíblia. Esquece que a cultura judaica vê em Deus a causa e origem do bem e do mal. A doença era considerada um castigo de Deus quando alguém pecava. Todas essas pessoas eram segregadas da sociedade e não podiam entrar no Templo. Jesus com o mandamento do Amor veio inverter essa lógica do pecado-castigo e pôs as coisas no seu devido lugar. Depois é preciso não esquecer que a bíblia é a História do povo de Israel e das suas vicissitudes, com momentos de glória (chegada à Terra Prometida ) e de provações ( exílio da Babilónia ). O Antigo Testamento deve pois ser visto como uma interpretação teológica da História. Deus está com o seu povo nos bons e maus momentos e nunca o abandona. Pena é que Saramago descontextualize a narrativa para atacar despudoradamente Deus. O Padre Carreira das Neves compara-o a um Gato Fedorento pronto a fazer humor com coisas sérias. Só que com essa atitude está a agredir e a afrontar cristãos e católicos.
Tendo a bíblia páginas de rara beleza onde Deus se afirma na História com compaixão e misericórdia por que é que Saramago vai explorar precisamente aquilo que é contra a essência de Deus, ou seja a vingança, o rancor e a crueldade ? Por que é que tantas vezes se vai inspirar na bíblia para escrever os seus livros ? Diria que Saramago é um Dan Brown ( do Código Da Vinci ) à portuguesa.. Sabe que este filão lhe dá dinheiro e explora-o até ao tutano. Depois prepara meticulosamente as apresentações dos livros e debita frases provocatórias que as televisões sabem muito bem tirar partido nos seus programas.. E com isto está a fazer publicidade gratuita e a acirrar a curiosidade das pessoas que desta forma sentem necessidade de ler o livro. Trata-se pois de uma técnica para fazer dinheiro.
Costumo dividir os ateus em dois grupos: do primeiro fazem parte aqueles que encaram a religião com indiferença e não se preocupam com ela ; ao segundo pertencem os que passam a vida a atacar Deus e a fazer prosélitos, como se eles, ateus ,fossem inteligentes e os outros estúpidos. É neste grupo que se encaixa Saramago. Para mim é mais inteligente dar um sentido à vida do que cair no pântano do nada e do absurdo.
FRANCISCO MARTINS
1- Roteiro de Leitura da Bíblia- Frei Fernando Ventura, Editorial Presença
FRANCISCO MARTINS
1-O Dia Mundial das Missões foi marcado este ano para 18 deste mês. O Papa Bento XVI na mensagem que escreveu para este dia, intitulada “ As Nações caminharão à sua luz “, diz o seguinte: “ A Igreja não age para ampliar o seu poder ou reforçar o seu domínio mas para levar a todos Cristo, salvação do mundo ; o compromisso de anunciar o Evangelho aos homens do nosso tempo é sem dúvida alguma um serviço prestado à comunidade cristã, mas também a toda a humanidade que, apesar de conhecer realizações maravilhosas, parece ter perdido o sentido último das coisas e da sua própria existência “ O Papa refere ainda que o Reino de Deus está também neste mundo e é força de justiça, paz, verdadeira liberdade e respeito pela dignidade de todo o ser humano.
A Igreja, da qual fazem parte religiosos e leigos , homens e mulheres, tem um papel importante mas difícil a realizar na acção missionária em todos os continentes. Em muitos países africanos e asiáticos o trabalho dos missionários é árduo pois têm de lutar contra todo o tipo de adversidades : guerras, perseguições, fome, escravatura infantil e prostituição. Os recursos materiais são escassos e não chegam para as necessidades mais prementes. É por isso extremamente importante uma globalização da solidariedade. Sem a ajuda internacional dos países ricos,e da partilha dos que têm mais rendimentos, muitos povos irão sucumbir à fome e à doença.
A revista “ Além Mar “ dos missionários Combonianos relativa ao mês de Outubro aborda alguns temas relacionados com a Missão Cristã e transcreve os depoimentos de alguns missionários. De tudo o que li vou salientar alguns aspectos importantes que subscrevo inteiramente. Nos tempos que correm a Igreja não pode limitar-se a divulgar a Boa Nova e a revelar os ensinamentos de Jesus. Este aspecto, que é essencial, tem de estar indissociavelmente ligado a uma praxis social. Isso implica um empenhamento na resolução dos problemas sociais aos quais não pode ficar indiferente. O amor a Deus tem de começar pelo amor ao próximo.
Um outro aspecto a destacar é que na construção do Reino de Deus todas as pessoas fazem falta incluindo os membros de outras religiões. A Igreja não deve preocupar-se com o proselitismo, convertendo e trazendo para o seu séquito pessoas de outros credos religiosos. A verdadeira conversão está na renúncia ao egoísmo e ao poder do dinheiro. Deste modo, são bem –vindos todos que queiram empenhar-se numa sociedade mais justa e mais fraterna. Por isso é fundamental que a Igreja consiga transmitir o espírito de missão às comunidades cristãs e ao povo de Deus em geral.
2- O fenómeno da globalização veio trazer problemas novos e acrescidos aos missionários. A crise económica criou, como se sabe, desemprego e precariedade no trabalho. Segundo dados estatísticos fornecidos pela FAO estimam-se em mil milhões as pessoas que passam fome no mundo. Por isso não admira que muitos africanos deixem as suas terras e procurem emprego na Europa. Os movimentos migratórios são pois uma constante nos dias de hoje originando instabilidade e insegurança nos países destinatários. Nos povos onde há guerra como no Darfur surgem os refugiados que têm de deixar as suas terras e procurar outras paragens onde possam refazer as suas vidas. Isto provoca sofrimento, fome e miséria para os quais tem de haver um movimento de solidariedade e de inter-ajuda.
Há ainda o tráfico de mulheres em muitos continentes, as crianças –soldados, os meninos e meninas de rua que exigem dos missionários uma atenção especial. Para todos é preciso uma palavra de conforto, de apoio e de esperança. Todas estas situações exigem um esforço conjunto da Igreja e de leigos devidamente preparados para as múltiplas e complexas tarefas que têm de desempenhar. As carências na saúde, educação e nas infra-estruturas são muitas e os recursos são escassos. Só com uma globalização da solidariedade se poderão encontrar soluções para estes problemas.
O Papa Bento XVI diz na sua mensagem que é preciso “ contagiar de esperança todos os povos “ Essa esperança renasce sempre que os pobres, os oprimidos, os excluídos, os marginais têm alguém a seu lado a apoiá-los e a transmitir-lhes confiança no futuro. A caridade e o amor cristão têm de ser uma praxis ( acção ) e não apenas mera teoria. Para terminar vou citar São Paulo , o primeiro e o mais importante de todos os missionários, que na 1ª Carta aos Coríntios, capítulo 13 diz o seguinte: ainda que tenha o dom da profecia/ e conheça todos os mistérios e toda a ciência / ainda que eu tenha tão grande fé / que transporte montanhas, / se não tiver amor nada sou “
FRANCISCO MARTINS
1-O Partido Socialista esteve muito bem nas eleições autárquicas. Foi o partido mais votado e o que obteve o maior número de mandatos. Conquistou 22 novas autarquias conseguindo o melhor resultado de sempre em eleições locais.
O PSD ganhou as eleições porque tem o maior número de presidências de Câmaras ( mais sete do que o PS ). Apesar da vitória o PSD perdeu terreno em relação ao PS ,pois comparando os resultados com as eleições de 2005 tem menos 19 câmaras. A drª Manuela Ferreira Leite esperava talvez uma vitória retumbante nas autárquicas para se redimir do mau resultado obtido nas legislativas. Tal não aconteceu e o seu futuro político está seriamente comprometido. As lutas internas no partido irão prosseguir até à sua deposição final.
O dr. António Costa ganhou a Câmara de Lisboa, como já se esperava, e até conseguiu a maioria absoluta o que é um facto notável atendendo a que o PSD concorreu coligado com o CDS.
O dr. Rui Rio ganhou facilmente as eleições no Porto e atingiu também a maioria absoluta prosseguindo imparavelmente o seu terceiro mandato. O facto de Elisa Ferreira estar nas listas para o Parlamento Europeu pode ter influenciado o eleitorado que via a sua candidatura à Câmara com uma segunda hipótese.
O Bloco de Esquerda embora tenha mantido a Câmara de Salvaterra de Magos não conseguiu eleger vereadores para as Câmaras de Lisboa e Porto.
A CDU perdeu quatro câmaras algumas delas emblemáticas como Beja e a Marinha Grande.
O CDS manteve a Câmara de Ponte do Lima e consegue através da coligação com o PSD, garantir a liderança em 22 municípios.
Nestas eleições o eleitorado foi capaz de punir alguns autarcas com um passado pouco transparente como é o caso de Avelino Ferreira Torres e Fátima Felgueiras. Houve no entanto dois – Isaltino Morais e Valentim Loureiro – que apesar de estarem envolvidos em actividades criminosas passaram incólumes. Se nuns casos o eleitorado reconhece o que está mal e actua em consonância noutros prefere os corruptos a pessoas honestas deixando assim a triste imagem de que em política vale tudo e que o crime compensa.
2-As eleições no distrito da Guarda constituíram para mim uma grande surpresa e também uma grande desilusão. A surpresa vem da Meda onde o PS conseguiu pela primeira vez conquistar a Câmara. Trata-se de um concelho conservador e que tem sido há longos anos um feudo do PSD. O que terá levado o eleitorado a inverter o sentido de voto ? Não conheço o candidato vencedor mas é possível que seja uma pessoa com forte personalidade e que tenha colhido a simpatia da maioria do eleitorado. O facto do actual presidente, como é do domínio público , ter utilizado empregados do município em obras de uma casa de que é proprietário e ainda o de ter arranjado colocação para a filha na Câmara , pode ter influenciado o resultado final.
A grande desilusão foi o PS não ter ganho a Câmara de Trancoso. O candidato empenhou-se com força e determinação e tudo foi preparado e programado meticulosamente. Sem exagerar posso dizer que foi a melhor campanha autárquica a que assisti. Conviria ,por isso , analisar os resultados obtidos em cada freguesia para ver o que falhou. Parece-me, no entanto , que o facto de o PSD ter instalado uma rede de clientelismo parasitário criando empregos na Câmara e em instituições satélites é , e será sempre, e cada vez mais, um factor de desequilíbrio. Por cada pessoa que obtém emprego são mais quatro ou cinco votos do agregado familiar que vão parar ao PSD. Como se tem de respeitar a decisão do eleitorado o PS terá de esperar mais quatro anos para conseguir dar a volta à situação.
FRANCISCO MARTINS
1-Quando falamos em “ maquiavelismo político temos inevitavelmente de fazer uma referência a Nicolau Maquiavel, para melhor compreender o significado desta expressão. Quem foi esta figura que muitos políticos ainda hoje tentam imitar ?
Maquiavel nasceu em Florença, Itália , em 1469 vindo a falecer em 1537 com 58 anos de idade. Viveu no período do Renascimento, uma época em que a Itália se encontrava dividida em pequenas cidades-estado, semelhantes à“ polis “ da Grécia Antiga. As maiores cidades da Itália eram Roma ( sede do papado ) , Veneza , Nápoles e Milão. Em 1498 Maquiavel foi nomeado Secretário da segunda chancelaria de Florença logo a seguir à queda do frade beneditino Savanarola, que quis levar o cristianismo à sua expressão mais pura, combatendo a corrupção e os poderosos do seu tempo. Devido aos excessos que cometeu e aos ódios que suscitou, acabou por ser preso e executado. Com a subida dos Médicis ao poder, Maquiavel foi deposto mas voltou a cair em graça e regressou ao seu posto de trabalho , embora por pouco tempo , retirando-se finalmente da vida pública. Durante operíodo em que exerceu a sua actividade política foi incumbido de várias embaixadas : ao reino da França, ao Imperador da Alemanha e ao Papa.
Dos livros que escreveu o mais lido e conhecido é sem dúvida “ O Príncipe “ dedicado a Lourenço de Médicis. Trata-se de um verdadeiro manual político sobre a arte de conquistar o poder e dos meios para o conservar. Foi Maquiavel o primeiro a utilizar a palavra Estado. Para ele “ todos os estados, todos os poderes que tiveram ou têm autoridade sobre os homens, foram ou são repúblicas ou principados “ (1). Como nacionalista que era quis fazer da Itália um Estado-Nação sob a tutela de um príncipe forte e bem armado. As sucessivas invasões da Itália por franceses, espanhóis, suíços e alemães tinham-na desagregado e enfraquecido. Para garantir a unidade era necessário um exército nacional bem armado e comandado por um príncipe com a autoridade e a força suficiente para ser respeitada. A sua divisa e bandeira política era a de uma” Itália unida, armada e despadrada. “ . O Estado devia ser laico e secular, respeitando a religião, mas indiferente ou repudiando mesmo os valores cristãos.
A amoralidade política é ainda outra característica importante do Estado. Os fins justificam sempre os meios utilizados. É legítimo usar a força, o medo, a mentira para obter ou conservar o poder. O que interessa fundamentalmente é a “ razão de Estado “ e não os princípios éticos e morais. Desde que o príncipe alcance o resultado pretendido todos os meios são tidos como honrosos.
Chegados aqui, importa saber qual é o ideal do Príncipe, quais as qualidades que deve possuir e os princípios por que se deve guiar. Em primeiro lugar o príncipe deve dedicar-se exclusivamente ao exército ( “ um príncipe que não seja devotado ao seu exército, para além de outros males, como já se disse, não pode ser estimado pelos seus soldados nem confiar na sua lealdade pag.88 ). Depois, e de acordo com a teoria de Maquiavel, as características do Príncipe são as seguintes :
O calculismo-Não podendo o Príncipe ser simultaneamente amado e temido é preferível ser temido. ( “ de tudo isto resulta um dilema: se mais vale ser amado do que temido ou se o contrário. O ideal é ser as duas coisas, mas como é difícil reunir as duas coisas, é muito mais seguro - quando uma delas tiver que faltar - ser temido do que amado. ( pag 102 ).
A manha e a força ( o príncipe deve procurar imitar a raposa e o leão, porque o leão não sabe defender-se das armadilhas e a raposa não consegue defender-se dos lobos. O que precisa, portanto, é ser raposa para saber esquivar-se das armadilhas e ser leão para aterrorizar os lobos. “ ( pag. 108 )
Tomar sempre o partido de alguém e evitar a neutralidade ( Os príncipes irresolutos, para fugirem aos perigos do presente, seguem, na maioria dos casos, a via da neutralidade, e, na maioria das situações, encontram nessa atitude a sua perdição. “ ( pag.140 )
Evitar os aduladores ( “um príncipe, portanto, deve sempre tomar conselho, mas apenas quando é sua vontade e não vontade de outros. Deste modo, deve desencorajar quem quer que seja de, por iniciativa própria, lhe dar conselhos. A menos que para tal seja solicitado “ ( pag. 149 )
Reservar só para si as tarefas boas (“ os príncipes devem atribuir a outrem a execução de tarefas punitivas, reservando para si próprios as que envolvem a concessão de graças. De novo concluo que um príncipe deve estimar os grandes, mas sem se fazer odiar pelo povo . “ ( pag.118 )
Ser indiferente ao bem e ao mal ( “ e por aqui se deve ver que o ódio tanto se concita através das boas obras como das mais funestas. Por conseguinte, como atrás referi, se um príncipe quiser conservar o seu estado, é , muitas vezes forçado a não ser bondoso, porque, quando a generalidade dos cidadãos de que julgueis necessitar para essa conservação - sejam eles populares, soldados ou grandes senhores - são corruptos, convém agir de maneira conforme aos seus anseios para os contentar. E quando assim for os actos de bondade passam a ser-vos hostis. ( pag121 )
Como se pode facilmente concluir a filosofia política de Maquiavel aponta claramente para o totalitarismo. Não admira que alguns políticos como Mussolini, Hitler, Estaline e Lenine o tenham lido e apreciado.
2-Nos dias de hoje ainda aparecem muitos políticos que se deixam seduzir pelas ideias de Maquiavel. Na caça ao voto, sobretudo nas eleições autárquicas, vale tudo : ofertas em dinheiro e /ou géneros, intimidações, ameaças e chantagem Tenho a maior consideração pelos políticos honestos que se servem de meios lícitos para alcançar ou conservar o poder : inteligência, oratória, apresentação de obras feitas ou programas políticos bem elaborados e exequíveis. Pelo contrário metem-me nojo os que infelizmente pondo em jogo a sua dignidade e honestidade, não olham a meios para atingir os fins. E para finalizar passo a referir o que pensa a este respeito o Prof. Freitas do Amaral que no livro História das Ideias Políticas diz o seguinte: “ Não é aceite, sobretudo no nosso tempo, que um governante use o assassinato, o roubo, a fraude, para se manter no poder ou para conduzir os negócios políticos do seu país. Uma coisa é a habilidade política, que é indispensável a qualquer governante, outra coisa é o crime, que mesmo em nome da razão de Estado não pode deixar de ser condenado em qualquer político “ ( pag.220 )
1- As citações foram extraídas do livro “ O Príncipe “ Maquiavel colecção grandes filósofos- Edições Silabo.
FRANCISCO MARTINS
. A TARDE DO CRISTIANISMO- ...
. LIBERALISMO E SEUS DESCON...
. UMA TEORIA DA DEMOCRACIA ...
. O REGRESSO DA HIPÓTESE DE...
. ATÉ QUANDO IRÁ DURAR A GU...