Quarta-feira, 30 de Setembro de 2009

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS 2009 ( Balanço )

 

1-As eleições legislativas 2009 deixaram desiludidos os militantes e simpatizantes do PSD. Embalados pelo êxito das Eleições Europeias pensaram que não seria difícil repetir a proeza e tomar conta dos destinos do país. Mas em política as previsões nem sempre saem certas pois o eleitorado tem” razões que a razão desconhece”.

Pessoalmente sempre acreditei que o PS iria ganhar as eleições. O meu raciocínio assentava em dois pontos: em primeiro lugar as eleições legislativas nada tinham a ver com as Eleições Europeias. A  abstenção nestas eleições foi elevada e os que votaram quiseram inequivocamente dar um aviso ao primeiro-ministro José Sócrates ; em segundo lugar a afluência às urnas nas legislativas iria ser maior e os indecisos acabariam por dar o voto ao partido do governo e ao líder que se mostrou mais forte e convincente nos debates televisivos.

O Partido Socialista ganhou as eleições mas perdeu a maioria absoluta. Em relação às eleições de 2005 ficou com menos 24 deputados.  Para este resultado menos positivo contribuiu não só a crise económica, mas também o descontentamento de algumas reformas que o Governo implementou como é o caso da avaliação dos professores. O PS foi o mais votado e a ele compete governar se esse for entendimento do senhor Presidente da República.

O PSD embora tivesse conseguido mais votos e deputados do que nas legislativas anteriores ficou aquém da expectativas e desiludiu os seus apoiantes. Ninguém duvida que a drª Manuela Ferreira Leite tem bons conhecimentos de Economia e de Finanças, condição necessária mas não suficiente para ganhar eleições e poder governar. Falta-lhe, no entanto, a capacidade oratória para atrair e galvanizar pessoas e sem isso torna-se mais difícil credibilizar um projecto ou programa político. Ora, em política, é tão importante a ciência como a arte. Acontece que a arte é um dom que não está ao alcance de todos. De qualquer forma a direita não tem ainda peso suficiente para governar Portugal. Em tempo de crise o eleitorado confia mais nos partidos de esquerda pois vêm neles mais sensibilidade para a resolução dos problemas sociais.

O CDS mais uma vez surpreendeu pois conseguiu duplicar o número de deputados no Parlamento. Paulo Portas esteve muito bem nos debates e conseguiu os votos que em outra eleições terão ido provavelmente par o PSD. O seu plano de apoio a PMEs e a estratégia de retirar o rendimento mínimo aos que podem trabalhar para reforçar as pensões de reforma mais baixas, parece ter tido alguns resultados.

A quarta força política que também conseguiu duplicar o número de deputados foi o BE. Este partido tem vindo a crescer e a roubar votos à CDU.  Para o BE a raiz de todos os males está no Código de Trabalho que facilita e torna possível a precarização do emprego. Mas o desemprego não é apenas nosso mas é fruto da crise económica que se vive um pouco por todo o mundo. Francisco Louça não tem nenhuma varinha mágica para resolver este problema e tudo o mais é pura demagogia.

A CDU ficou em último lugar nas legislativas mas também cresceu em número de votos e de deputados. Jerónimo de Sousa é um homem simpático mas a ideologia marxista não consegue convencer muita gente e o comunismo é uma miragem que apenas subsiste em poucos países porque é imposto à força. As nacionalizações e a planificação da economia pelo Estado não são de maneira alguma o melhor processo para resolver a crise.

 

2-Feito este balanço ocorre inevitavelmente perguntar quem vai governar o País. Em princípio teremos um Governo minoritário do PS se o senhor Presidente da República indigitar, como tudo leva a crer, o actual primeiro-ministro José Sócrates para formar governo. Para haver uma coligação à esquerda teria que englobar o BE e a CDU e não vejo que isso seja possível. Um acordo ou entendimento com o CDS e com o PSD também não acho provável e desagradaria à ala mais à esquerda do PS. Sendo assim o PS terá que governar sozinho tal como aconteceu quando foi primeiro-ministro o Eng. Guterres. Para que os Orçamentos possam passar é necessária a abstenção do PSD e do CDS. Não me acredito que todos os partidos votem contra porque isso significaria a queda do Governo. Como não há alternativas à direita do PS o presidente da República teria que demitir o governo e convocar outra vez eleições. Isso não irá certamente acontecer. De qualquer forma um governo minoritário tem sempre as suas limitações pois não pode fazer as reformas de fundo que o país tanto necessita. A menos que consiga fazer acordos pontuais com outros partidos. Os tempos mais próximos são pois uma verdadeira incógnita e a situação pode ainda piorar se as relações institucionais entre o Presidente da República e o Primeiro-ministro se agravarem.  Há diplomas que foram vetados anteriormente -  lei do divórcio, uniões de facto e casamento de homossexuais -  e que vão ser agora aprovados facilmente pelos partidos de esquerda. O casamento de homossexuais já podia ter sido aprovado nesta legislatura quando o BE apresentou a sua proposta. Mas o PS quis puxar dos seus galões para não deixar ir os seus créditos por mãos alheias.

Vamos ver se nas medidas mais duras que é preciso tomar, os partidos de esquerda se vão todos entender. Não acredito, mas há que esperar para ver.

 

 

FRANCISCO MARTINS

 

publicado por pontodemira às 22:02
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Quarta-feira, 23 de Setembro de 2009

A POLÍTICA COMO FAIT-DIVERS

 

1-Considero que José Sócrates foi um dos melhores primeiro-ministros do Portugal democrático que teve lugar a partir  do 25 de Abril. É um homem forte, corajoso e determinado, que não hesita nas reformas que tem de fazer mesmo as mais difíceis e controversas. Depois tem a vantagem de ser um bom orador e de transmitir e passar bem a suas mensagens. Talvez por isso os seus opositores  não lhe perdoem e vão criando nos órgãos de comunicação social uma onda de intriga e de ódio para o derrubar. Ora, uma coisa é um político ter ideias e bater-se por elas, outra é  a de não ter argumentos e enveredar pelo ataque pessoal.

 

2-Ao longo de meses foram muitos os factos que tiveram como objectivo criar um clima de suspeição à volta do primeiro-ministro José Sócrates: o diploma do curso, o caso Freeport e por último as suspeitas de escuta por parte dos assessores de Cavaco Silva.

Ainda há pessoas que pensam que para se fazer uma carreira política é necessário um diploma ( canudo ) universitário. Esquecem-se que Winston Churchil, um grande político inglês de que muitos já ouviram falar, não frequentou a Universidade. Neste grupo se situam ainda Jim Callagham ( Labour ) e John Major ( conservador ) que foram também primeiro -ministros em Inglaterra. As qualidades de cada um para a política estão na  capacidade intelectual e não no diploma académico.

 

O caso Freeport foi explorado nos jornais , revistas e televisões até à exaustão. A TVI no Jornal Nacional da responsabilidade de Manuela Moura Guedes envenenou a opinião pública com comentários e reportagens procurando sempre denegrir a imagem de Sócrates. Nunca vi o noticiário da TVI e por isso falo pelo que tenho ouvido e lido. De qualquer forma através do You Toube e de um email que me enviaram pude apreciar a entrevista que fez ao Bastonário da Ordem dos Advogados e fiquei siderado. Como é possível transformar uma entrevista no julgamento sumário de  uma pessoa como se a televisão fosse um tribunal. Se Manuela Moura Guedes é jornalista ( quando começou a carreira na RTP era uma simples apresentadora ) então não sabe respeitar os seus deveres deontológicos. Dizem os entendidos na matéria que a suspensão do programa foi ilegal pois o Conselho de Administração não tinha capacidade para a demitir.  A demissão de Manuela Moura Guedes até acabou por ser prejudicial ao Governo pois terá levado muita gente a pensar que tal aconteceu devido às críticas de Sócrates ao programa dessa jornalista. Se é certo que a liberdade de informação é fundamental em democracia também não podemos esquecer que um jornalista tem deveres que não pode alienar. Um deles é o de informar com rigor e isenção. Quem ataca despudoradamente pessoas ,sem provas fundamentadas, está a assassiná-las na sua dignidade e a prestar um mau serviço ao jornalismo.

 

Sobre as  suspeitas de escuta  aos serviços do Presidente da República apareceu recentemente um email enviado pelo assessor Fernando Lima ao director do jornal “ Público “. Esse email, não se sabe como, foi parar ao Diário de Notícias que o divulgou. E aqui rebentou a bomba do que parecia estar em segredo à espera de uma oportunidade  para publicação. A primeira decisão do Presidente da República foi de só falar depois das eleições.. Mas ao demitir há dias o assessor Fernando Dias veio criar um facto novo que PS e PSD interpretaram e exploraram cada um à sua maneira. Ambos se sentiram prejudicados e reclamaram uma justificação rápida do Prof. Cavaco Silva. E há razões para isso. Esta decisão foi extemporânea e vem acicatar mais as dúvidas que já existiam. É preciso esclarecer quanto antes os motivos que levaram à demissão do assessor para evitar especulações que só podem prejudicar o acto eleitoral.

 

3-Apesar de todos estes incidentes penso que o primeiro-ministro José Sócrates irá mesmo ganhar as próximas eleições que se vão realizar no dia 27. Se não fosse a avaliação dos professores, o descontentamento de alguns funcionários públicos e o número considerável de desempregados poderia mesmo obter uma maioria absoluta. As medidas legislativas que há pouco tempo foram vetadas pelo Presidente da República e que põem em causa os valores  tradicionais da família talvez não tenham tanta repercussão pois os princípios éticos deixaram de ter grande importância para muita gente, inclusivamente para os cristãos ou católicos não praticantes.

Não havendo maioria absoluta vai ser difícil governar partindo do pressuposto que não serão possíveis coligações, entendimentos ou acordos entre partidos. Sendo assim, as reformas e as medidas de fundo vão ser adiadas ,numa altura em que é preciso agir rápido para combater a crise. Se os partidos não fizerem cedências recíprocas para chegarem a um acordo, o país irá mergulhar num fundo sem saída. Esperemos que haja o bom senso para negociar e que os interesses do país sejam postos acima dos interesses partidários. É isso que todos desejamos.

 

 

FRANCISCO MARTINS

 

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Quinta-feira, 17 de Setembro de 2009

Eleições Legislativas- os debates televisivos

 

 Os debates televisivos entre os principais líderes partidários pautou-se pelo equilíbrio.  Nenhum deles enviou o seu opositor ao tapete.  Todos levaram a lição bem estudada procurando através de dados estatísticos e de gráficos defender os seus pontos de vista ou baralhar o adversário.

Sócrates de uma maneira geral esteve bem em frente das câmaras de televisão. É capaz de transmitir e passar a sua mensagem de forma clara e compreensiva.  Consegue facilmente criar empatia com as pessoas que o estão a ver e a ouvir.  Nos debates televisivos procurou salientar os pontos positivos da sua governação e mencionou o que tenciona fazer nos próximos anos.  O aspecto mais negativo e que quase todos os partidos aproveitaram para  atacar, foi sem dúvida a avaliação dos professores. A fragilidade de Sócrates penso que está aqui.  E se juntarmos ao descontentamento dos professores o dos funcionários públicos, massacrados com objectivos que por vezes ultrapassam o que é humanamente exigível, as coisas agravam-se ainda mais.  Veremos se,o que vai pesar mais, são os aspectos positivos ou os negativos da sua governação.

 

Manuela Ferreira Leite é uma pessoa séria e competente que sabe muito de economia mas falta-lhe o carisma que um político deve possuir para convencer o eleitorado.   As imagens de televisão dão-nos uma pessoa rígida, tensa e incapaz de sorrir.  Como não tem facilidade de expressão é mais difícil passar a sua mensagem. De qualquer forma defende bem os seus pontos de vista e explora como pode as fraquezas do seus adversários.  Como ponto negativo há que salientar a inclusão na lista de deputados do dr. António Preto e os elogios que fez a Alberto João Jardim.  Quanto ao primeiro caso se é certo que enquanto não houver sentença com trânsito em julgado se deve presumir a inocência, manda a ética que sempre que haja fortes suspeitas de crime os candidatos devem ser os primeiros a retirar as candidaturas. Como se costuma dizer “ em política o que parece é. “   E passemos agora ao segundo caso polémico.  Ninguém nega que o dr. Alberto João Jardim fez obra na Madeira e foi eleito por sufrágio democrático. Mas os meios que utiliza não são os mais honestos.  Há jornais na Madeira que são pagos pelo governo para dizerem bem do PSD e do seu líder. Há também toda uma rede de caciques e uma clientela política a apoiar e a sustentar o governo. Se alguém não concordar com a política do dr. Jardim certamente que vai ser descriminado no acesso aos cargos públicos . Ora, sem liberdade de expressão não pode haver uma verdadeira democracia. Quando se diz que há uma asfixia democrática na Madeira não se está a inventar nada. Toda a gente vê isso menos a drª Manuela Ferreira Leite.

O Programa que Manuela Ferreira Leite apresenta ao eleitorado é muito vago e não dá para entusiasmar ninguém. As parcerias privadas na Saúde podem ter alguma utilidade como solução provisória mas o que realmente interessa é melhorar os hospitais públicos e dotá-los de todas as valências de forma que os mais pobres não sejam descriminados.

Como irá ser a avaliação dos professores se o PSD ganhar as eleições ?  Só sei que quando Manuela Ferreira Leite foi ministra da educação, no governo de Cavaco Silva,  a contestação dos alunos universitários subiu ao rubro devido à discordância em relação às propinas. Por isso a experiência que tem no domínio da educação não abona nada a seu favor.

 

Francisco Louçã procurou tirar partido do descontentamento de milhares de trabalhadores que estão desempregados. Atacou o Código do Trabalho e a precariedade do emprego como causa da situação que se vive nas empresas. Só que por melhor que seja o Código de Trabalho não consegue evitar a deslocalização das empresas. Infelizmente a flexibilidade do trabalho não se verifica só em Portugal mas um pouco por todos os países europeus.  A nacionalização da GALP e da EDP poderiam ser uma vantagem se os lucros fossem aproveitados para baixar os preços dos combustíveis e da electricidade. Só que a economia não é nenhuma ciência exacta e ninguém nos garante que as coisas se iriam passar desta maneira. O corte nas despesas de saúde e de educação para efeitos de IRS, que Louçã recomenda,  parece-me altamente gravoso para a classe média. A menos que queira nivelar por baixo o rendimento de  todas as pessoas. Para isso devia dar o exemplo e  começar por propor uma redução do seu ordenado.

 

Jerónimo de Sousa esteve mais calmo e sereno na televisão do que nos comícios onde a sua agressividade é maior. Tal como Louçã o seu cavalo de batalha é o Código de Trabalho. Propõe ainda a nacionalização da Banca Comercial e das Seguradoras. Sendo marxista aposta numa economia planificada e provavelmente numa sociedade sem classes.  A ideia de tributação dos prémios e indemnizações milionárias seria uma medida boa que o próximo governo deveria acolher.

 

Paulo Portas procurou demarcar-se do PSD e mostrar que é diferente. A fiscalização do rendimento mínimo, retirando do sistema os que têm capacidade para trabalhar pode não ter grande aplicabilidade dado que as ofertas de trabalho são escassas e ninguém vai ficar agarrado a um subsídio de miséria se puder ganhar mais. Defendeu também a criação de mais polícias para garantir a segurança dos cidadãos. Ao contrário do PSD entende que devem ser reduzidos os impostos, introduzindo um coeficiente familiar no IRS e simplificando os escalões.

 

Os debates televisivos foram importantes para clarificar ideias e saber com que podemos contar se o PS ou o PSD formarem governo.  Mas a experiência diz-nos que raramente os políticos honram os seus compromissos eleitorais. Por isso a drª Manuela Ferreira Leite apresenta um programa vago que lhe permita mais campo de manobra sem trair o que prometeu. De qualquer forma o que vai decidir as eleições não são os debates televisivos nem os cartazes que abundam por todo o lado.  O que vai decidir tudo é o juízo e a avaliação que os eleitores fizerem do governo de José Sócrates.  Se entenderem que governou bem irá certamente ser reeleito. Caso contrário será a drª Ferreira Leite a assumir a governação. A ver vamos.

 

FRANCISCO  MARTINS

 

 

publicado por pontodemira às 18:50
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Sábado, 12 de Setembro de 2009

DE SÁBIOS E DE LOUCOS TODOS TEMOS UM POUCO

1-Desde sempre que houve homens sábios e prudentes à mistura com loucos.  Nos dias de hoje verificamos que há pessoas e organizações que se preocupam em preservar o meio ambiente. Há também, felizmente, voluntários que dão a sua ajuda desinteressada aos países mais pobres e subdesenvolvidos. Este é o lado positivo. Mas há também pessoas que fomentam a guerra e o terrorismo. Lançando milhares de pessoas na miséria e no sofrimento.  Vemos ainda agricultores que destroem os produtos agrícolas que têm em excesso e não conseguem escoar, quando há povos a morrer à fome e que precisam deles para sobreviver. Este é o aspecto mais negro a que podemos designar de loucura.

Vem isto a propósito do livro “ Elogio da Loucura “ de Erasmo ( 1).  Quase todos já ouviram falar do programa Erasmo que permite aos estudantes universitários o intercâmbio e a mobilidade com outras universidades europeias. Acredito, porém, que poucas saibam quem foi a figura que deu o nome a esse programa.

 

2- Erasmo nasceu em Roterdão na Holanda em 1496 e morreu em 1536 na Basileia, Suiça, com 70 anos de idade. Foi frade dos cónegos regrantes de Santo Agostinho e obteve o grau de doutor pela Universidade de Bolonha. Distinguiu-se ainda como filósofo, pedagogo e moralista. Viveu no período agitado da Reforma protestante e foi uma grande figura do humanismo cristão e do renascimento. É contemporâneo de Maquiavel e de Tomás Morus de quem era amigo e a quem dedica o livro “ Elogio da Loucura “. Sabe-se também que manteve contactos com os portugueses André de Resende e Damião de Góis.

Da leitura das suas obras podemos concluir que era um crítico dos métodos escolásticos e que rejeitava a filosofia e teologia medievais. Tal como Lutero advogava a reforma da Igreja mas nunca entrou em ruptura com Roma. Entendia que  tudo se devia resolver por meios pacíficos e nunca através de revoluções. A Igreja para se reformar teria tão só de  seguir um cristianismo simples, autêntico e de acordo com o Evangelho. O seu intuito reformador mereceu de alguns críticos do século XVI, o seguinte comentário :  "Erasmo pôs os ovos que Lutero chocou. “ Mais tarde chegou mesmo a ser designado de  “erasmismo “ à corrente que seguiu o pensamento de Erasmo

 

3-De todas as obras de Erasmo a mais popular e talvez a mais lida foi sem dúvida  “ O Elogio da Loucura “ Erasmo elogia ironicamente a loucura dos que se sentem bem na ignorância e na estupidez ou na exploração dos mais fracos. A Loucura manifesta-se em todas as classes da sociedade. As críticas abarcam um leque muito variado de temas: a guerra que é “ feita de parasitas, infames, ladrões, assassinos, imbecis, devedores , escroques em suma pela escória da sociedade “  ; as superstições dos que rezam ,fazem votos e acendem velas pelas intenções e promessas mais absurdas ; os maus teólogos  que se interessam  por mesquinhices e formalidades sem sentido ; os sermões de alguns frades em que “ a erudição é tanta que os Apóstolos precisariam de outro Espírito Santo para discutirem esses assuntos com os novos teólogos “ .  Erasmo critica ainda os jurisconsultos (“ que pretendem o primeiro lugar, pois são os mais vaidosos dos homens “ ; os filósofos (“  não sabem nada e gabam-se de que tudo sabem  e nem se conhecem a si próprios “ ) ;  os reis e príncipes ( “ julgam cumprir plenamente a função real indo assiduamente à caça, criando belos cavalos, traficando a seu grado cargos e magistraturas, inventando todos os dias novos processos de o seu fisco se apoderar das fortunas dos súbditos .. “ )

Tal como Gil Vicente , fustigou os grandes do seu tempo ( meirinhos, juízes, corregedores ) e foi mesmo acusado de  “erasmismo “ devido ao seu espírito crítico e reformador, também Erasmo não poupou ninguém, chegando mesmo a criticar os soberanos pontífices, cardeais e bispos ( “ hoje em dia os bispos apenas se preocupam em apascentar-se a si próprios, deixando o cuidado do rebanho a Cristo e aos que chamam irmãos e seus vigários “ )

Mais para o fim do livro, Erasmo refere outro tipo de loucura, ou seja , a dos que se deixaram arrebatar pela piedade cristã e desprezando as coisas do mundo se orientam para a vida espiritual que conduz à eternidade.

 

4-O Elogio da Loucura é um tema ainda hoje actual.  Na sociedade em que vivemos encontramos, como no século XVI, um pouco de tudo :  os que se dedicam à fraude e à corrupção ; os bobos da política ou que fazem da política um espectáculo ; os servidores subservientes que procuram agradar para daí colher os seus frutos e os políticos com intuitos modernizadores que mandam às malvas a ética e a moral.

Mas no mundo nem tudo é mau. Felizmente também ainda há os que se deixam apoderar de uma sã loucura. Estão neste caso os que se dedicam a actividades humanitárias e filantrópicas ; os que ajudam com dinheiro ou em géneros os pobres e necessitados e também os que procuram por todos os meios assegurar a Paz no Mundo.

 

1- As citações foram extraídas do livro “ Elogio da Loucura- Erasmo, publicações Europa-América .

 

 

 

FRANCISCO  MARTINS

 

publicado por pontodemira às 20:57
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Quarta-feira, 2 de Setembro de 2009

A POLÍTICA EM DESTAQUE

1-Deu que falar o veto do senhor presidente da República ao diploma do Governo que visava atribuir às uniões de facto um estatuto semelhante ao do casamento. Não é a primeira vez que um governo em fim de mandato se põe a legislar em alta velocidade ou para recuperar o tempo que não foi suficientemente aproveitado ou talvez com receio de o partido a que pertence não ser reeleito. Acontece que os diplomas feitos à pressa saem quase sempre com imperfeições e têm de ser corrigidos já depois de publicados ou se há mudança de governo são muitas vezes revogados ou sujeitos a profundas alterações. No caso vertente - as uniões de facto – tem ainda o contra de ser um tema fracturante e que divide os portugueses. Como é possível impor a pessoas que não querem casar um regime semelhante ao do casamento !

O primeiro-ministro José Sócrates diz , repete e insiste que o casamento não tem como objectivo a procriação. Embora ninguém conteste que tem outros objectivos a procriação é sem dúvida o principal . São inúmeros os casais que desgostosos por não terem filhos recorrem à fertilização “ in vítro “.  Por outro lado, haja ou não procriação, penso que o casamento  tem como fim primordial defender a família. E quando se fala em família ela inclui normalmente pai, mãe  e filhos.

José Sócrates quer realmente provar que o governo a que preside é realmente de esquerda. Para isso começa precisamente pelos casos mais controversos e que se resolvem facilmente através de leis e decretos-leis : divórcios, casamento de homossexuais e agora as uniões de facto. Ora o país tem na realidade assuntos bem mais importantes para resolver: o combate à pobreza e às desigualdades sociais  ; o combate ao desemprego ; o direito a serviços de saúde e de justiça rápidos e iguais para todos os cidadãos.

Infelizmente estamos a atravessar uns tempos em que não há princípios éticos e onde vale tudo. O que é mau para uns é bom para outros. É o que se costuma designar por relativismo moral. Se José Sócrates fosse ministro do Engenheiro Guterres certamente não conseguiria levar por diante reformas tão polémicas. Diz o Eng. Sócrates que é cristão mas não católico. Só que os verdadeiros cristãos seguem os ensinamentos de Jesus Cristo que embora soubesse perdoar também foi capaz de condenar o que estava mal na sociedade do seu tempo, inclusive o divórcio ( a acreditar no que nos dizem os evangelistas sinópticos). Não pode haver cristianismo de meias tintas e ao gosto de cada um.

 

2-Manuela Ferreira Leite apresentou recentemente o seu programa. Algumas medidas já eram esperadas como a suspensão do TGV e das chamas obras megalómanas como lhes chamou. Como novidade registo o seguinte:

- alargamento, temporário e excepcional, da concessão do subsídio de desemprego.

- reforço do financiamento das PME exportadoras.

- reforço do crédito fiscal ao investimento pelas PME

- redução da taxa social única suportada pelos empregadores.

- fim das taxas moderadoras para internamento cirúrgico.

- suspensão da actual avaliação dos professores substituindo-a por outra segundo padrões internacionais ( avaliação externa )

- criar limites para a duração dos processos judiciais e estabelecer um regime remuneratório segundo critérios qualitativos e quantitativos.

- reforço da prisão preventiva para certos crimes.

 

Como se vê as intenções são boas, resta é saber se são cumpridas. Para criticar e lamentar o facto de Manuela Ferreira Leite ter incluído nas listas para deputados, António Preto que foi pronunciado pela Justiça por falsificação e fraude fiscal. Manda a ética que em política não se deve contemporizar com situações destas sob pena de a mesma se desacreditar aos olhos dos cidadãos. A honra, o bom nome e a transparência são valores que se devem ter em boa conta em partidos democráticos.

 

3-Segundo os dados que recolhi as eleições de 2009 são as mais dispendiosas de sempre. Em relação a 2005  houve um aumento de 20,5 por cento. Nas legislativas prevê-se um gasto de 13 milhões de euros e nas autárquicas 78 milhões ou seja um total de 91 milhões de euros. Para um país que está em crise e com tanta gente a passar mal é um verdadeiro escândalo. Será que é com cartazes, out-doors, T-shirts, canetas , bonés e outra bugigangas que se ganham eleições ? Não será possível limitar o número de cartazes ou acabar mesmo com eles ?

Nos gastos todos os partidos (de esquerda ou de direita ) são iguais. Só não gastam mais porque não podem. Seria bom que os partidos de esquerda dessem o exemplo e limitassem as suas despesas com a propaganda. Toda a gente aplaudiria que propusessem ao Parlamento legislação que limitasse as campanhas aos meios de comunicação social ( televisão , rádio, imprensa ) ou à distribuição de panfletos pela população. Prestariam assim um grande serviço ao país libertando o dinheiro que faz falta para outras coisas mais necessárias e importantes.

 

FRANCISCO  MARTINS

 

publicado por pontodemira às 19:46
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