Sexta-feira, 13 de Fevereiro de 2009

NOTAS DISPERSAS

 

 

 

O senhor Presidente da República declarou recentemente que a melhor maneira de vencer a crise económica seria incrementar as exportações. Todos sabemos que a nossa balança de pagamentos sempre foi deficitária e que dependemos muito dos bens e serviços que vendemos ao estrangeiro. A situação actual agravou-se ainda mais devido ao clima de recessão generalizada a que estamos a assistir. Não sei, e penso que muita gente pensará o mesmo, como é que iremos aumentar as nossas exportações se o consumo e a procura diminuíram. Aliás foi tudo isso que criou a situação que estamos a viver. Havendo muitas pessoas no desemprego os rendimentos baixaram significativa- mente e portanto menos dinheiro para gastar. Por outro lado não é  fácil obter crédito junto  dos Bancos pois estes são mais exigentes e rigorosos nos empréstimos que fazem. Sendo assim não vejo que seja possível aumentar as exportações e concretizar , a curto prazo , a solução  apontada pelo senhor Presidente da República. Penso que um dos caminhos a seguir seria fazer acordos recíprocos com outros países, nomeadamente com os PALOPs, de forma a trocar os bens e serviços que possuímos por outros de que somos deficitários. Outra medida, que o Governo podia  desde já tomar, seria a de promover no estrangeiro, os produtos portugueses- agrícolas e artesanais- através de publicidade ou de exposições.

As soluções para sair da crise podem revestir múltiplos aspectos que terão de ser estudados de parceria com agricultores e empresários. O esforço a desenvolver terá de ser conjunto e  não apenas do Estado do qual se espera uma forte ajuda não só na formação de mão de obra especializada mas também na concessão de créditos a quem apresente projectos com pernas para andar.

 

Fazendo um balanço da guerra na faixa de Gaza verificamos que teve aspectos trágicos e dramáticos sobretudo para os árabes palestinianos. Os números divulgados pela comunicação social apontam para 1334 mortos, 5 mil feridos e 30 mil desalojados. Um povo que é agredido tem todo o direito de se defender. Só que Israel exagerou e usou meios desproporcionados, arrasando povoações e matando indiscriminadamente mulheres e crianças inocentes. De cada um dos lados, palestino e israelita, há elementos radicais que pensam ter o direito exclusivo do território. Ora a Paz só se consegue na base do respeito mútuo e da convivência pacífica. No território cabem perfeitamente uns e outros se houver um acordo de boa vontade com fronteiras bem definidas.

Na revista Visão li umas declarações do rabino Arik Ascherman que me surpreenderam pela positiva e que pelo seu  interesse passo a transcrever: “ Uns entendem que é imoral não lutarmos por cada pedaço da terra prometida, outros, como eu, que é imoral fazê-lo a qualquer custo. Na tradição judaica, somos ensinados a oferecer a paz antes de declarar a guerra, a usar a mínima força necessária para nos defendermos e absolutamente proibidos de fazer mal a terceiros que sejam inocentes. Somos também obrigados a deixar um corredor, quando cercamos uma cidade ( Torah, Leis dos reis, 6,7 ). Não fizemos isso em Gaza. “     Estas declarações são espantosas quando ditas por um judeu.

Se todos pensassem assim, palestinianos e judeus, não seria difícil encontrar uma solução para a Palestina

 

O terreno privilegiado para Vasco Pulido Valente quando escreve as suas crónicas é sem dúvida a política. Quando não tem assunto nesta área qualquer tema lhe serve para lançar as suas setas venenosas. No jornal “ Público “ de domingo passado, V.P.V. decidiu ocupar-se da Igreja Católica que segundo os seus cálculos já é minoritária em Portugal. Diz ele que a pouco e pouco vai desaparecendo do terreno no interior do país. Para um ateu que provavelmente  pensa que a Religião não tem futuro, e irá desaparecer com o tempo, esta é com certeza uma notícia reconfortante. Pulido Valente deve ter saltado e rejubilado pois se calhar também é dos que acredita que os crentes são ignorantes e supersticiosos. Só que a verdadeira Fé assenta na Razão e apesar de hoje em dia haver profetas a declarar a morte da Religião isso ainda não aconteceu. Por outro lado não é só a Igreja que vai desaparecendo do interior do País mas a população em geral.  Toda a gente sabe que há muitos lugares que se estão a desertificar e onde  apenas existem pessoas idosas.  Desapareceram os padres e também os professores.

Vasco Pulido Valente associa ainda a crise de vocações com “ a nova riqueza “ que começou a chegar a partir de 1960 e também com a tolerância democrática que se estabeleceu no nosso País.  Ora, é um facto que muitos dos que iam para o Seminário eram  de famílias pobres e não tinham recursos para estudar. Mas a crise de vocações não passa só por aí.  Hoje o tempo corre mais depressa e as pessoas quase não têm tempo para meditar e reflectir. A vida materialista e imediatista não deixa grande espaço para pensar em Deus.  De qualquer forma podemos dizer que as vocações são mais sólidas pois  os que abraçam a vida religiosa fazem-no numa fase adiantada da vida e muitos deles possuem cursos médios ou superiores.

Para terminar VPV refere ainda que, pelo que se passa em Portugal, o grande exílio da Igreja não está longe. Assim, ficámos a saber que além da sua sapiência tem ainda a arte de adivinhar ou da bruxaria. Se tal for verdade, poderá abrir um consultório pois, com toda a certeza , não lhe vai faltar clientela.

 

FRANCISCO MARTINS

 

publicado por pontodemira às 20:05
link | comentar | favorito
Domingo, 8 de Fevereiro de 2009

O sofrimento e o mal no mundo

 

1-Ao ler a revista” Visão “deparei com uma excelente crónica do escritor António Lobo Antunes. Sensibilizou-me e tocou-me bastante a maneira como ele sente a morte de pessoas amigas ou que lhe são próximas. Lobo Antunes queixa-se a Deus e desabafa com Ele sobre as coisas más que lhe acontecem e não consegue compreender.  A sua crónica começa assim : “  Deus, estou zangado contigo. Suponho que já Te habituaste às minhas zangas como Te habituaste às minhas dúvidas, aos meus afastamentos, aos meus regressos a fingir que não venho, aos momentos de harmonia que de vez em quando existem entre nós, à minha incompreensão de tanta coisa que fazes ou não fazes, aos meus ralhetes, aos meus amuos, ao que considero as Tuas injustiças, a Tua crueldade e se calhar não é injustiça, se calhar não é crueldade, sou parvo, não ligues, não consigo entender as Tuas profundezas e os Teus caminhos, o significado dos teus gestos. Só que ultimamente tens exagerado.   E termina fazendo um aviso solene, uma ameaça, uma ordem : “  Livra-Te de tornares a meter-Te com a família do Rui. Ouviste bem ? Livra-Te de tornares a meter-Te com a família porque, se o fizeres, vais ter-me à perna a Eternidade inteira e não sou um osso fácil de roer. “

O sofrimento e  morte são  questões que todos nós colocamos e sobre as quais ninguém tem uma resposta convincente.

 

2- É curioso que na missa de hoje ( 5º domingo do tempo comum-Ano B ), uma das leituras é sobre o Livro de Job. Creio que todos os cristãos e até os não crentes conhecem bem a figura  que dá o nome a este livro da Bíblia. Mas afinal quem é Job ?  Um homem bom e justo que passou pelas piores provações que é possível imaginar : perdeu todos os seus haveres, morreram-lhe todos os filhos e por fim acabou chagado pela lepra. Começou por aceitar os seus infortúnios mas depois revoltou-se contra Deus que o castigou implacavelmente. Os seus amigos em vez de o confortarem lembram-lhe que a doença é um castigo de Deus a que não pode fugir. Job, que sempre foi justo, não pode admitir semelhante hipótese. E não se conforma com a situação degradante e miserável a que chegou. Mas Deus fala-lhe e lembra-lhe as Maravilhas do Universo e da Criação. Finalmente Job reconhece a sua pequenez, rende-se a Deus e diz: “  Os meus ouvidos tinham ouvido falar em Ti, mas agora vêem-Te os meus próprios olhos. Por isso, retracto-me e faço penitência, cobrindo-me de pó e cinza. “   Diz ainda a Bíblia que enquanto Job rezava pelos seus amigos, o Senhor restituiu-o ao seu primeiro estado e aumentou no dobro, tudo o que possuía. “

 

3-Nos dias de hoje ,e em vários países do globo, a morte e o sofrimento afectam milhares de pessoas impedindo-as de serem felizes e de terem uma vida normal: crianças que morrem à fome, mulheres que são violadas e escravizadas, adultos e crianças que são ceifados na flor da vida por doenças incuráveis. É todo um rol de desgraças que é impossível enumerar em toda a sua amplitude. E perante tanta miséria ocorre perguntar: Porquê tudo isto meu Deus ? Por que razão o inocente morreu e ficou o perverso ? Por que razão morreu o que fazia falta e ficou o inútil ou parasita ? Todas estas perguntas são pertinentes mas não encontramos resposta satisfatória para elas. Sabemos sim, pois faz parte da sua essência, que Deus é Amor e é infinitamente Bom e por isso não pode desejar o mal a ninguém. Deste modo temos que pôr de lado a ideia de um Deus castigador , vingativo ou de um Deus que permeia segundo o mérito de cada um segundo o princípio da justiça distributiva.  Todos são filhos de Deus- bons e maus. Outra pergunta que se coloca é se Deus, sendo Deus omnipotente, não poderia evitar o mal no Mundo, ou seja, o sofrimento desencadeado pelo próprio homem. Isto só seria possível se Deus retirasse ao homem aquilo que ele tem de mais sagrado , a liberdade de poder fazer o bem ou o mal. No que diz respeito ao sofrimento físico causado pela doença não há resposta nem explicação possível.  Apenas sabemos que somos finitos e  que a morte a todos toca, a uns mais cedo e  a outros mais tarde. Mas para nós crentes consola-nos a ideia de que a vida não acaba aqui na Terra e como diz São Paulo, se Cristo ressuscitou também nós havemos de ressuscitar um dia.

 

FRANCISCO MARTINS

 

publicado por pontodemira às 22:49
link | comentar | favorito

.mais sobre mim

.pesquisar

 

.Abril 2025

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5

6
7
8
9
10
11
12

13
14
15
16
17
18
19

20
21
22
23
24
25
26

27
28
29


.posts recentes

. O TEMPO VOA ( Tempus fugi...

. UCRÂNIA EM GUERRA E EUROP...

. ESPERANÇA -Autobiografia...

. DEUS , A CIÊNCIA, AS PROV...

. A ESCOLA DA ALMA- Da form...

. LIBERDADE E IGUALDADE- O ...

. DESMASCULINIZAR A IGREJA ...

. A PRÓXIMA GUERRA CIVIL- ...

. A DEMOCRACIA MANIPULADA

. NENHUM CAMINHO SERÁ LONGO

.arquivos

. Abril 2025

. Março 2025

. Fevereiro 2025

. Dezembro 2024

. Outubro 2024

. Setembro 2024

. Julho 2024

. Maio 2024

. Abril 2024

. Março 2024

. Fevereiro 2024

. Janeiro 2024

. Novembro 2023

. Outubro 2023

. Setembro 2023

. Agosto 2023

. Julho 2023

. Junho 2023

. Maio 2023

. Abril 2023

. Março 2023

. Fevereiro 2023

. Janeiro 2023

. Dezembro 2022

. Novembro 2022

. Outubro 2022

. Setembro 2022

. Agosto 2022

. Julho 2022

. Junho 2022

. Maio 2022

. Abril 2022

. Março 2022

. Fevereiro 2022

. Janeiro 2022

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Outubro 2021

. Setembro 2021

. Agosto 2021

. Julho 2021

. Junho 2021

. Maio 2021

. Abril 2021

. Fevereiro 2021

. Janeiro 2021

. Dezembro 2020

. Novembro 2020

. Outubro 2020

. Setembro 2020

. Agosto 2020

. Julho 2020

. Junho 2020

. Abril 2020

. Janeiro 2020

. Dezembro 2019

. Novembro 2019

. Outubro 2019

. Setembro 2019

. Agosto 2019

. Julho 2019

. Junho 2019

. Maio 2019

. Março 2019

. Fevereiro 2019

. Janeiro 2019

. Dezembro 2018

. Novembro 2018

. Outubro 2018

. Setembro 2018

. Agosto 2018

. Julho 2018

. Junho 2018

. Abril 2018

. Março 2018

. Fevereiro 2018

. Janeiro 2018

. Dezembro 2017

. Outubro 2017

. Julho 2017

. Junho 2017

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2016

. Janeiro 2016

. Setembro 2015

. Julho 2015

. Junho 2015

. Janeiro 2015

. Dezembro 2014

. Outubro 2014

. Julho 2014

. Maio 2014

. Março 2014

. Fevereiro 2014

. Janeiro 2014

. Dezembro 2013

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

. Fevereiro 2008

. Janeiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Outubro 2007

blogs SAPO

.subscrever feeds

Em destaque no SAPO Blogs
pub