Um outro legado que a administração Bush nos deixou foi a crise financeira internacional que abalou e fez tremer a credibilidade das instituições financeiras e bancárias um pouco por todo o mundo. O lado mais negativo do neoliberalismo veio assim ao de cima. A filosofia do lucro fácil que norteia a maioria dos bancos não olha aos meios para atingir os fins. A regulação e a fiscalização bancária ou não existe, ou fecha os olhos aos investimentos mais arriscados, e os aforradores são sempre as principais vítimas se não houver uma intervenção atempada do Estado. Nos Estados Unidos facilitou-se de tal maneira o crédito e os investimentos de risco que até os cidadãos que subscreveram PPRs estiveram na iminência de ficar sem nada.
2-As expectativas neste momento estão viradas para o Presidente Obama. Nos Estados Unidos espera-se um forte investimento público que seja capaz de revitalizar a economia e criar mais empregos. As prioridades irão para as energias renováveis , para as ferrovias e barragens de forma a preservar o ambiente, evitando assim a poluição e o consumo exagerado de combustíveis. Uma outra prioridade será a implantação de um serviço nacional de saúde, tornando os serviços médicos e hospitalares acessíveis a todos os cidadãos e não apenas aos que possuem seguros de saúde. Dizem os economistas que tudo isto só será possível se houver uma redução das despesas militares. Veremos se os lobbies não irão dificultar a acção do presidente.
3-No que diz respeito às relações internacionais é de esperar uma nova atitude de Obama. Com o fim da guerra fria, os E.U têm vindo a assumir o papel de mandões da política internacional. Converteram-se em polícias do mundo e tomaram decisões sem aprovação da ONU, como aconteceu na invasão do Iraque e do Kosovo. Espera-se também que os E.U. sejam capazes de reduzir as emissões de CO2 , dando assim um exemplo a outros países industrializados que mais poluem o meio ambiente. A ajuda tecnológica e alimentar aos países subdesenvolvidos seria outra prioridade importante a ter em conta, pois só assim se reduziriam os fluxos migratórios provocados pela fome e pelo desemprego. É preciso pôr um freio na globalização capitalista impedindo que os pobres sejam cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos. Como diz o teólogo dominicano Albert Nolan, no livro “ Jesus, Hoje (1 )“ é necessário que a globalização do Império Americano dê lugar a outra globalização a partir de baixo, ou seja a globalização da paz e da luta pela justiça.
4-Um outro assunto que tem estado na ordem do dia tem sido a situação financeira do BPN. Como é possível que o Banco de Portugal não se tenha apercebido de nada. O simples facto de o BPN praticar juros mais altos, nos depósitos, que qualquer outro banco, só isso seria razão suficiente para levantar suspeitas. Por outro lado, também não se compreende que o dr. Dias Loureiro tenha notado irregularidades nas Contas do Banco, pois nelas não figurava um negócio efectuado
Os burlões, especuladores e corruptos podem ficar descansados pois com um pouco de “engenho e arte “ saberão sempre contornar o controle do BdP. O mesmo não acontece com os aforradores, pois ,a partir de agora, passam a olhar com desconfiança a instituição bancária onde depositam as suas economias.
(1) Albert Nolan, Jesus Hoje, edições Paulinas
Francisco Martins
1-Um conhecido colunista de um jornal diário referia o facto insólito de um senador do Nebraska ,nos E.U, ter movido um processo crime contra Deus, acusando-o de ser responsável por milhões de mortes, catástrofes naturais, inundações, furacões, tornados, etc…Acusava ainda Deus de provocar pragas pestilentas, fomes e secas devastadoras. O colunista, ateu confesso, dizia ironicamente, que, nestes casos, a responsabilidade não se devia atribuir a Deus mas aos homens, pois são estes que constantemente desafiam a Natureza e põem em risco o equilíbrio ecológico. Esta é uma verdade com a qual qualquer pessoa sensata concorda.
2-O sofrimento e o mal no Mundo leva-me a tecer algumas considerações, uma vez que é um tema sobre o qual muitas pessoas se questionam. Como é que os filósofos e algumas religiões vêem o sofrimento ? Há quem seja indiferente ao sofrimento e também quem o procure como forma de catarse ou de purificação espiritual. Para a corrente filosófica estóica o sofrimento, a dor e a morte são absolutamente determinados pela ordem e pela lei da Natureza e é impossível e fugir a eles. A felicidade do homem está em viver segundo a razão e em não se preocupar com o sofrimento. Para os budistas só evitamos o sofrimento se nos libertarmos do mundo exterior e dos nossos desejos. A paz e a tranquilidade ( Nirvana ) obtém-se pela contemplação e pela meditação. Os hinduístas entendem que os homens só conseguem escapar às reencarnações e à Lei do carma ( balanço no final da vida, das acções boas e más ) através da ligação à força Universal ( Brahman divino ). A separação do divino ( Absoluto) é que provoca todo o sofrimento. Para os judeus o sofrimento era um castigo de Deus que aceitavam naturalmente e que levava muitas vezes à reflexão e à mudança
de vida. O islamismo também vê o sofrimento como um possível castigo de Deus em relação ao qual não há nada a fazer. A norma é a da aceitação da vontade de Deus.
3-Os crentes e por vezes os não crentes não compreendem por que é que Deus permite o sofrimento. O raciocínio assenta na velha questão: Se Deus é omnipotente então não é bom porque permite o sofrimento; se é bom não é omnipotente porque não consegue eliminar o sofrimento. O filósofo Leibniz na sua Teodiceia ( justificação de Deus ) diz que tudo tem uma razão suficiente, uma explicação. Deus quando criou o Universo ponderou todas as hipóteses e escolheu a melhor. Por isso vivemos no melhor dos mundos possíveis. Voltaire no livro Cândido aborda o terramoto de Lisboa de 1755 para ridicularizar Leibniz. Assim,perante a morte e a desolação provocada pela catástrofe, Pangloss como consolo dizia:« tudo isto é o que há de melhor; porque se existe um vulcão em Lisboa, não podia estar noutra parte; porque é impossível que as coisas não estejam onde estão ; porque tudo está bem. » E mais tarde quando Pangloss cai nas garras da Inquisição e é enforcado, Cândido, aterrado comentava de si para si :« Se este é o melhor dos mundos possíveis, como serão os outros ? »
Para a corrente gnóstica, nos primeiros séculos do cristianismo, o mundo e a matéria são maus e foram criados por um deus intermédio ( demiurgo ) O homem só pela ascese e pela iniciação esotérica se libertaria do corpo ( soma ) para chegar ao verdadeiro deus ( Pneuma). A corrente designada por monaquismo que surgiu no século IV leva as pessoas a fugir ao mundo, não por este ser mau em si mas para permitir a meditação e uma maior aproximação de Deus. É, digamos, uma reacção à mundanização da Igreja e às relações promíscuas com o Império, a partir de Constantino.
4-A Teodiceia de Leibniz conduz-nos a uma outra questão que é a de saber se o sofrimento tem alguma explicação. É muito difícil argumentar sobre uma matéria tão complexa, a não ser através de hipóteses em relação às quais haja uma certa racionalidade. Aqui, vou servir-me de teses de especialistas na matéria. O psicólogo Richard Swinburne ,professor de Filosofia da Religião da Universidade de Oxford ( 1), divide o sofrimento e o mal em dois grupos : o mal moral e o mal natural. Por mal moral entende-se o que é causado deliberadamente por seres humanos ou constituído por faltas negligentes: tratamentos desumanos, agressões físicas, injúrias, fome existente em muitos países pobres e que podia ser evitada; o mal natural inclui o que não é causado deliberadamente por seres humanos ao fazer o que não deviam: desastres naturais, doenças, acidentes,etc..
No que diz respeito ao mal moral há uma hipótese de peso que devemos ter
Quanto ao sofrimento provocado por causas naturais, a situação é mais difícil de explicar. Neste caso inclino-me para a hipótese sugerida pelo professor de teologia da Universidade de Oxford , Keit Ward ( 2 ) que passo a citar: “ Uma grande parte do problema está, creio eu, no que se chamou a “ falácia da omnipotência “. Pensamos em Deus como detentor de poder ilimitado, de modo a que Deus pudesse criar qualquer mundo logicamente possível, qualquer mundo que pudéssemos descrever sem autocontradição” E mais à frente acrescenta : “Falando sem rodeios, Deus não poderia criar-nos num Universo melhor, ou num Universo com menos possibilidades de sofrermos nele. A escolha de Deus não é entre criar-nos neste Universo ou num outro melhor. Não existiríamos num Universo melhor .”
5-Como é que nós cristãos devemos encarar o sofrimento. Sabemos que a doença e a morte são inevitáveis porque somos seres finitos e limitados. Depois temos o exemplo de Jesus que ,sendo Deus, não se eximiu ao sofrimento e morreu na cruz por Amor dos homens. Também Jesus perante a dor reagiu com qualquer sofredor, reclamando a ajuda de Deus: Pai se é possível afasta de mim este cálice ; ou sentindo-se só e abandonado, clama : “ Meu Deus , meu Deus porque me abandonaste “. Mas o maior consolo perante o sofrimento é que Jesus vence a morte e ressuscita. Assim, também nós ,crentes, sabemos que por mais amargurada que tenha sido a nossa existência há sempre a esperança de uma vida de felicidade ilimitada.
Um outro exemplo que devemos ter por modelo é o de Job. Apesar de ser um homem justo e bom não há mal que não lhe aconteça: perde todos os bens, os filhos e é atingido pela lepra maligna. Job sente-se abandonado e diz: «se eu for a oriente Ele não está lá; e se for ao ocidente não o encontrarei; se o procuro no norte, não o vejo; se me volto para o meio dia não o descubro. » Mais adiante invectiva e censura Deus quando afirma: «Ele exterminou tanto o inocente como o malvado. Ele riu-se do desespero dos inocentes. »
Finalmente quando Deus lhe lembra todas as maravilhas da criação, Job cai em si e arrependido diz: « Os meus ouvidos tinham ouvido falar de ti, mas agora vêem-te os meus olhos. Por isso retracto-me e faço penitência, cobrindo-me de pó e de cinza»
Para terminar nada melhor do que transcrever as palavras do beneditino Anselm Grun (3):« Na incompreensibilidade do sofrimento, o melhor é entregarmo-nos cada vez mais ao Deus incompreensível. Não nos resta outra possibilidade que não a de nos entregarmos ao Deus completamente diferente e reconhecer que Ele não tem que se justificar perante qualquer instância humana ».
1-Richard Swinburne, Será que Deus existe-Gradiva
2-Keith Ward,Deus Fé e o Novo Milénio-Europa –América
3-Anselm Grun,Que fiz eu para merecer isto?-Paulinas
Francisco Martins
1-A manifestação-protesto que concentrou em Lisboa mais de cem mil professores, é uma prova evidente que há um descontentamento generalizado com o processo de avaliação de desempenho que lhes é imposto pela ministra da educação. Antes, qualquer professor podia chegar ao topo da carreira pelo decurso do tempo, desde que frequentasse periodicamente cursos de formação ministrados por especialistas na matéria. Hoje, o que se pretende é um sistema que premeie o mérito de cada um de forma a permitir uma progressão mais rápida aos que trabalham mais e melhor. É sabido que nem todos os professores são iguais: uns gastam mais tempo na preparação das aulas e outros são mais absentistas e faltam por tudo e por nada. Em todas as actividades há bons e maus profissionais e é preciso ter tudo isso em conta numa avaliação que se quer justa. Se na carreira militar nem todos chegam ao posto máximo, o generalato, não faz sentido que para os professores se crie um regime especial.
2-Parece óbvio que a avaliação é absolutamente necessária e indispensável para que haja justiça e se permeiem os melhores. Resta saber se ela é feita da maneira mais adequada. Os professores queixam-se de excesso de burocracia e do tempo gasto a preencher papeis. Infelizmente, e pelo que me chegou aos ouvidos, este é um mal que se generalizou a outros serviços públicos. Se assim é têm razão. É preciso chegar a um consenso sobre os critérios mais fáceis de aplicar e que dêem uma imagem quanto possível correcta do trabalho desenvolvido por cada professor. Um indicador a ter em conta seria as notas obtidas por cada aluno e pela turma em geral desde que a aferição se baseasse em testes a nível nacional feitos com rigor. Seria também aconselhável estudar o processo avaliativo dos países mais desenvolvidos para adaptar aquilo que for possível ao nosso sistema educativo. O que me parece errado é que a senhora ministra da educação esteja mais preocupada com os números para efeitos estatísticos do que com a qualidade do ensino.
3-O número expressivo de professores que tomaram parte nas manifestações de protesto não deixam dúvidas que é preciso mexer na avaliação de desempenho. O que está em causa não é a avaliação em si mas o modo como é feita. Não se pode ser insensível ao problema e pensar que a razão está exclusivamente de um lado. Dialogar com os sindicatos não é nenhuma prova de fraqueza. A abertura à sociedade civil é muito importante
4-Os órgãos de comunicação social noticiaram que os militares não estão satisfeitos com o governo pois pretendem uma melhoria nos vencimentos e mais regalias no sistema de saúde. Alegam que pertencem a uma profissão de alto risco e que por isso se justifica um tratamento especial. Pessoalmente entendo que o risco só existe em situações de guerra ou em operações internacionais de paz. Nestes casos em que está em jogo a integridade física dos militares é justo que ganhem mais. Fora disso são cidadãos iguais aos outros e não vejo razão para serem privilegiados. De resto quem opta pela carreira militar fá-lo de livre vontade.
P.S. A televisão divulgou hoje que o governo fez uma nova proposta ao sindicato dos professores: a avaliação de desempenho só terá efeitos na colocação de professores daqui a quatro anos e não no próximo concurso, como o Ministério da Educação tinha anunciado.
Francisco Martins
1-Os contra-sensos da Política
A Pobreza e as desigualdades sociais existem um pouco por todo o lado embora de forma mais acentuada nos países do Sul. Os mais conformistas encaram a pobreza como um mal inevitável e sem solução. Mas se não é fácil erradicá-la de vez muito se pode fazer para a sua redução, desde que haja boa vontade e espírito solidário. Os bens que Deus criou não são nem deveriam ser propriedade exclusiva de ninguém. É precisamente o que diz a Constituição Pastoral “ Gaudium et Spes (Secção II-69 ) :” Deus destinou a terra e tudo o que ela contém para uso de todos os homens e de todos os povos, de sorte que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos, segundo as regras da justiça, inseparável da caridade. “ E mais à frente acrescenta : “ De resto, todos os homens têm o direito de possuir uma parte dos bens suficientes para si e para as suas famílias. É este o sentir dos Padres e Doutores da Igreja, que se é obrigado a auxiliar os pobres e não só com o supérfluo . “ Alimenta o que morre de fome, porque, se não o alimentaste, mataste-o “
Cabe ao Estado uma melhor redistribuição da riqueza e uma aplicação correcta dos dinheiros dos contribuintes. Mas infelizmente a realidade é bem diferente. Respigando os jornais e revistas, diários e semanários, deparei com alguns casos que dão que pensar.
Vamos aos factos:
A Índia vai gastar no lançamento da sua primeira nave espacial ( Candrayaan-1 ) cerca de 62 milhões de euros. Ninguém teria nada a apontar, só que 800 milhões dos mil milhões de indianos vivem com menos de um euro e meio por dia.
A China por sua vez vai gastar 2 biliões de dólares por ano no seu programa espacial. Por outro lado o orçamento militar chinês de 2007 foi de 40 biliões de dólares ou seja o terceiro maior do mundo atrás da Rússia e dos Estados Unidos. No entanto segundo o Banco Mundial existem 300 milhões de pobres na China.
Em Portugal há também casos de uma má aplicação dos dinheiros públicos. A Câmara de Gondomar gastou em serviços de restauração 67 742 € e 32 250 € em aluguer de autocarros ; As Câmaras de Elvas, de Lagos e Gondomar gastaram quantias superiores a 20 000 € na contratação de artistas para espectáculos ( dados extraídos do Jornal “ Público “ de 12 de Outubro ). Três administradores da empresa municipal GEBALIS da Câmara de Lisboa, gastaram cerca de 200 000 € em despesas sumptuárias: almoços em restaurantes de preço elevado, viagens ao estrangeiro e objectos de luxo. Este dinheiro mal gasto daria imenso jeito se fosse canalizado para obras de assistência social como o Banco Alimentar contra a Fome ou para compra de livros e material escolar aos alunos das famílias mais carenciadas.
2- Ler para crer
Numa entrevista concedida pela Senhora Ministra da Educação li que durante o período da escolaridade obrigatória ( até ao 9º Ano ) não deve haver retenções ( forma eufemística de dizer reprovações ) Assim, todos os alunos terão aproveitamento obrigatório. Os que se atrasarem ou não acompanharem os mais adiantados terão de ir para turmas de recuperação. Quer atinjam ou não os objectivos propostos, no final do ano todos terão aproveitamento. Segundo as normas da “boa pedagogia “ deve ser considerado como um trauma para o aluno sempre que este abandona o seu grupo de trabalho. Ora, a verdade é que nem todos os alunos têm o mesmo QI ( quociente intelectual ) e por isso é muito difícil, senão impossível, exigir que todos tenham o mesmo rendimento. Nivelar os bons e os maus alunos parece-me desmotivante para quem trabalha e não é certamente a melhor solução. Esta pedagogia do “ facilitismo “ pode ser muito boa para as estatísticas mas não me parece que contribua para elevar o nível educativo do nosso país. O que me consta é que muitos alunos chegam à Universidade sem saber falar correctamente o português ou sem dominar elementos básicos, de matérias, que deviam estar consolidados.
Francisco Martins
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