1-Há homens e mulheres que a História consagrou e imortalizou. Nas artes, nas ciências, na música, na literatura ficaram nomes que o tempo jamais conseguiu apagar. Não é fácil esquecer os que dedicaram a sua vida a Deus e por ele morreram - santos e mártires.. Na memória ficaram também os que deixaram tudo para ajudar os pobres e excluídos da sociedade. É neste último grupo que vamos encontrar uma figura bem conhecida de todos os portugueses - O Padre Américo.
2-Américo Monteiro Aguiar, mais conhecido por Padre Américo, nasceu em 23 de Outubro de 1887, há precisamente 121 anos,na freguesiadeGalegos concelho de Penafiel. Trabalhou no comércio no Porto e em 1906 seguiu para Moçambique. Aos 36 anos voltou para a Metrópole e sentindo o apelo de Deus decidiu seguir a vida religiosa ingressando no convento Franciscano de Vilariño de Ramallosa em Espanha e tomou o hábito em 14 de Agosto de 1924. Mas a sua verdadeira vocação não estava na clausura. Depois de lhe ter sido negada a entrada no Seminário do Porto é ordenado padre aos 41 anos
3-A actividade pastoral do Padre Américo desdobra-se por 3 tipos de obras : Casas do Gaiato, Património dos Pobres e Calvário.
As Casas do Gaiato tinham como objectivo educar e preparar para a vida os rapazes da rua, aqueles que os pais e a sociedade abandonaram e marginalizaram. São comunidades onde todos colaboram e se interajudam. Autênticas escolas de preparação para a vida onde cada um aprende a fazer aquilo que mais gosta. Existem hoje Casas do Gaiato em vários sítios do país e até em Angola e Moçambique. A mais conhecida é a de Paços de Sousa onde é também publicado o jornal “ O Gaiato “. Este jornal , um quinzenário designado por obra de rapazes, para rapazes pelos rapazes, traça um panorama das diferentes casas do gaiato e reflecte a doutrina e o pensamento do seu fundador, o Padre Américo.
A obra Património dos Pobres iniciada em 1951 tem como objectivo ajudar as pessoas de fracos recursos, a construírem as suas próprias casa. Existem um pouco por todo o país casas construídas no âmbito deste programa. Em Trancoso, na estrada do São Marcos há também 2 casas que se devem à iniciativa do Padre Américo.
Finalmente a obra “ O Calvário que teve o seu início em 1957 tinha como finalidade o tratamento de doentes incuráveis e abandonados.
4-O comboniano Vítor Dias , na revista Além-mar de Novembro, diz o seguinte: “ Missão e oração não podem existir separadamente….Oração e missão são como que os dois remos que fazem que o “barco” da Igreja flutue e avance pelos mares do mundo de hoje. Sem um ou o outro nem a Igreja será fiel à sua missão no mundo nem a sua missão evangelizadora produzirá frutos. “ Ora, o Padre Américo foi sem dúvida um missionário no mais profundo e autêntico significado do termo. Proclamou o Evangelho fazendo o bem e dedicando-se exclusivamente aos mais desprotegidos e carenciados da sociedade. No seu perfil podemos ainda incluir a sua faceta de pedagogo que sabia educar através dos princípios da liberdade, da responsabilidade, da colaboração mútua, ensinando os rapazes a praticar o bem e a serem solidários. Se houvesse mais homens como este e se muitas pessoas prescindissem de coisas supérfluas e dessem o dinheiro aos pobres, o mundo seria bem melhor.
Francisco Martins
1-A crise financeira que começou nos Estados Unidos depressa se propagou a toda a Europa. Portugal não fugiu à regra embora se queira camuflar e atenuar a situação. Os banqueiros são unânimes em afirmar que tudo vai bem e não há motivos para alarme. O ministro da economia, o primeiro –ministro e até o Presidente da República garantem que as poupanças dos portugueses não correm perigo. Se realmente é assim por que razão foi assinado rapidamente e publicado um diploma que permite ao Estado injectar na Banca 200 mil milhões de euros. Parece-me óbvio que os Bancos não têm liquidez e poderiam de um momento para o outro entrar em ruptura financeira se não fosse tomada essa medida. Esperemos que os pequenos depositantes, aqueles que colocaram as suas economias na banca não as vejam drasticamente reduzidas ou fiquem mesmo sem elas. Recordo-me que há uns anos atrás, na Argentina, os bancos faliram e os pequenos aforradores ficaram sem nada. O que é certo é que a crise está aí e infelizmente para durar. Quem são os culpados e quais as causas que estão subjacentes a esta situação? Para uns a culpa está no capitalismo desregulado que não olha a meios para atingir os fins ; outros entendem que a culpa está do lado dos consumidores que não são capazes de resistir à oferta do crédito fácil e se endividam desnecessariamente. É um facto que nem todos têm uma situação económica que lhes permita ter casa. Portugal é dos países, penso não estar a dizer um disparate, que mais casas tem per capita. As pessoas devem, por isso, ser muito cautelosas nas opções que fazem. Mas a verdade é que os bancos têm também muita culpa no endividamento das famílias, pois através de publicidade enganosa incentivam as pessoas ao consumo. Se houvesse um pouco mais de realismo não seria difícil dissuadir os que recorrem ao crédito de enveredarem por situações que os poderão conduzir à ruína. Os créditos malparados, que por vezes afundam os bancos, poderiam ser evitados se tivesse havido um aconselhamento adequado.
2-Um outro assunto que de vez em quando é abordado pelos políticos e jornalistas é o chamado Rendimento Social de Inserção ( RSI ). Criado pelo Engenheiro Guterres e conhecido por Rendimento Mínimo tem vindo a ser adaptado às circunstâncias para poder servir melhor a quem dele mais precisa. Penso que ninguém põe em causa este subsídio mas a forma como ele por vezes é atribuído. Dizem algumas vozes críticas que há pessoas que podem trabalhar e beneficiam deste subsídio. Essas situações, a existirem , deviam ser fiscalizadas e denunciadas para evitar abusos. Constou-me que alcoólicos e obesos estão a receber o subsídio porque não podem trabalhar. Nestes casos deveria primeiramente proceder-se a tratamento médico de forma a inseri-los o mais rapidamente possível no mercado de trabalho. Há também quem diga que o RSI leva por vezes as pessoas a acomodarem-se e a não procurar emprego. Aqui, estou em desacordo pois não acredito que uma prestação máxima de 180 € possa levar alguém a a desmotivar-se de trabalhar e a não melhorar as suas condições de vida. É claro que pode haver casos, sobretudo no meio rural, em que as propriedades agrícolas dêem o rendimento suficiente para poderem viver. Nesta situação específica talvez a ajuda não fosse necessária. Mas de uma maneira geral podemos dizer que este subsídio é absolutamente indispensável em situações de pobreza extrema e enquanto não for possível um regresso ao trabalho que permita outros rendimentos.
3-Segundo um relatório da OCDE intitulado : “ Crescimento e Desigualdades “, ficámos a saber que Portugal é dos países onde é maior o fosso entre os mais ricos e os mais pobres. Abaixo de Portugal estão apenas a Turquia e o México.. Quais as causas que estão na origem deste descalabro ? Em primeiro lugar o número de desempregados tem vindo a aumentar de ano para ano no nosso país e tem sido muito difícil inverter a situação. A globalização leva a que empresas fechem as suas portas para as abrirem noutros locais de mão de obra mais barata. Portugal tem muito a fazer nos próximos anos na educação e na formação de trabalho especializado, pois este objectivo é imprescindível para sairmos do impasse em que caímos. A agricultura apesar dos progressos que foram feitos nos últimos anos ainda não é competitiva e vemos um pouco por todo o lado produtos estrangeiros a preços que se torna difícil praticar cá.
Uma questão que se coloca é a de saber se não será possível corrigir os desequilíbrios sociais nas condições pouco favoráveis que a economia atravessa. Na minha modesta opinião muito se poderia ainda fazer: cortar as despesas supérfluas do Estado e das Autarquias ; aumentar os impostos aos que ganham fortunas ou reduzir os seus vencimentos para níveis aceitáveis ; actualizar anualmente os ordenados aumentando na proporção inversa ao que cada um ganha. Não sei se isto seria suficiente, mas não tenho dúvidas que seria um bom contributo para minorar a situação.
4- Segundo notícia divulgada por alguns jornais o Fundo de Segurança Social perdeu 200 milhões de Euros desde que se declarou a crise financeira de mercados. Nunca me passou pela cabeça que estes fundos fossem canalizados para investimentos de risco. Imagino como se sentirão neste momento os trabalhadores que descontam para uma reforma tranquila. Será que a garantia de Segurança do Estado é melhor do que a subscrição de PPRs nas Companhias Seguradoras ? Provavelmente nem uma nem outra serão seguras a 100 % . Que venha o diabo e escolha !
5-Dos quatro canais de televisão que possuo, os que vejo normalmente são o canal 1 e 2 da RTP. Nos telejornais detesto ver relatos de crimes, assaltos e misérias de toda a espécie. As opções culturais são poucas e estão quase todas nos dois canais que citei. Mas quando não há nada que se aproveite dou uma espreitadela pela SIC e pela TVI. E na SIC dei com um programa que se chama “ A Hora da Verdade “. E pensei para mim : não é possível o que estou a ver. Isto não é realidade mas sim ficção. Como é que uma estação de televisão pode explorar de forma tão execrável o direito à intimidade e á dignidade das pessoas. Como é que há quem esteja disposto a vender em público e por dinheiro a sua dignidade. E os canais de televisão, sobretudo os privados, fazem tudo para manter as suas audiências mesmo que tenham de recorrer aos métodos mais abjectos.
Francisco Martins
1-O próximo dia 19 de Outubro é dedicado pela Igreja às Missões. Missão é uma palavra derivada do latim ( missio,onis) e que se traduz por acção de enviar. Todo aquele que transmite o Evangelho e dá testemunho de Jesus é “ lato sensu “ um missionário. Jesus depois de ressuscitar despediu-se dos discípulos dizendo : “ Ide pelo mundo inteiro , proclamai o Evangelho a toda a criatura ( Mc 16,15 ) ; Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”( M 28,19 ). Ao longo dos séculos e durante a História do Cristianismo, surgiram inúmeros missionários , homens e mulheres, que responderam ao chamamento de Jesus e proclamaram o Evangelho por todos os continentes.
2-O primeiro e maior de todos os missionários foi sem dúvida São Paulo. O perseguidor de cristãos transformou-se após a visão-revelação de Jesus num fervoroso e incondicional apóstolo. São Paulo diz com convicção :” Se eu anuncio o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta , ai de mim, se eu não evangelizar “ ( 1Cor 9,16 ) Nas suas viagens percorreu quase todo o território da actual Turquia e passou através da Macedónia para a Grécia. Fundou comunidades cristãs em Éfeso, Filipos, Tessalónica e Corinto. Foi preso várias vezes mas não desanimou nem sucumbiu. Através das suas Cartas incutia ânimo e força às comunidades por ele criadas: corrigiu erros e desvios ; divulgou normas pastorais ; apresentou a doutrina e a teologia a seguir.
O Concílio de Trento no século XVI e a Reforma da Igreja Católica incrementaram de forma significativa os movimentos missionários. Da Companhia de Jesus, fundada por Santo Inácio de Laiola vai sair um grupo de notáveis missionários. De todos eles, permito-me destacar São Francisco de Xavier, natural de Navarra, que veio para Portugal no reinado de D.João III. Entendendo muito cedo que a sua verdadeira vocação seria levar o Evangelho aos gentios, parte com os navegadores portugueses e desenvolve um trabalho importantíssimo na Índia e no Japão onde converteu muita gente ao cristianismo. Chegou ainda às portas da China onde veio a falecer exausto e doente. São Francisco Xavier ainda hoje é venerado em Goa onde se encontra sepultado.
Um outro missionário da Companhia de Jesus, este português, que merece um destaque especial é sem dúvida o Padre António Vieira. Tendo embarcado para o Brasil em 1614, aí desenvolveu durante largos anos, uma acção evangelizadora de grande mérito. A sua oratória empolgava toda a gente que o ouvia, com respeito e admiração. Como missionário foi ainda um defensor dos direitos dos índios e denunciou implacavelmente os tratos desumanos a que eram submetidos os escravos. Isso trouxe-lhe algumas inimizades por parte dos colonizadores que não o viam com bons olhos.
3-Apesar de nos últimos anos terem escasseado as vocações, a acção missionária continua viva por todos os continentes. Leigos, religiosos e voluntários dão generosamente o seu melhor na divulgação do Evangelho. E há muito a fazer, um pouco por todo o lado, pois ainda existem povos que não conhecem Cristo. Na Ásia, continente onde Jesus nasceu, o número de cristão é muito reduzido.
Uma questão que hoje se coloca é a de saber se a Europa não precisa também de missionários dado que se tem verificado nos últimos anos uma tendência para a secularização e laicização da sociedade. Esta é uma matéria a exigir a reflexão e o empenhamento de todos os cristãos.
4-Tenho pelos Missionários a mais profunda admiração. Não é fácil deixarem uma vida tranquila e segura para se colocarem generosamente ao serviço dos que mais precisam de ajuda e de apoio. Embora a proclamação do Evangelho seja importante é bom não esquecer que muitos missionários são também enfermeiros, médicos e professores que ensinam e preparam para actividades de carácter prático e laboral. Em certos países o ambiente não é o mais favorável e são alvo de perseguições que dificultam o seu ministério . Por tudo isto rendo as minhas homenagens a estes heróis que tudo fazem por amor a Cristo.
Francisco Martins
1-A crise financeira tem sido o tema dominante nos órgãos de comunicação social. O espectro da falência de alguns bancos norte-americanos parece ter-se propagado também à Europa pois já houve intervenções do Estado nos seguintes bancos: Dexia (França,Bélgica ) ; Bradford & Bingley ( Reino Unido 9 ; Hypo Real Estate ( Alemanha ) e Glitnir (Islândia) . Por cá o governo e os banqueiros apelam à serenidade e dizem que as poupanças dos portugueses não correm perigo. Será que falam verdade ? No semanário Expresso li que no caso de falência de um banco o Estado garante apenas 20000 € a cada titular de um depósito. No jornal de Notícias de hoje o ministro das Finanças declarava que a garantia era de 50000 €. Isto significa que apenas estão seguros os que tiverem quantias iguais ou inferiores a esse montante .Os outros verão as suas poupanças ir por água abaixo. A vida nunca esteve melhor para os banqueiros e especuladores que ganham e gastam quanto querem e ainda conseguem sair a tempo do barco antes de ele se afundar. Lembro-me que há muito tempo atrás e ainda não se falava em crise financeira, um gerente bancário me dizia em jeito de desabafo : “ imagine o senhor que todos os depositantes se dirigiam a este banco a resgatar as suas poupanças. Se tal acontecesse o banco não tinha liquidez para o fazer e teria de recorrer ao crédito interbancário. Naturalmente que não é muito vulgar um gerente dizer a verdade aos seus clientes. Isto levou-me a pensar que nem sempre a poupança é a melhor solução. Provavelmente haverá outras - gastar, investir, adquirir ouro- mas todas elas têm os seus riscos e ninguém pode fugir a eles.
2-No discurso proferido no pavilhão Multiusos de Guimarães no passado dia 20 de Setembro e subordinado ao título “ A força da mudança “, o primeiro-ministro José Sócrates aproveitou para afirmar que a governação socialista nunca permitirá que as pensões dos portugueses sejam jogadas na Bolsa. A este respeito um colunista do JN foi investigar qual o destino do dinheiro que os pensionistas descontam para a Segurança Social e verificou que são aplicados em fundos de investimento, que pela sua natureza não estão isentos de risco. Será que os portugueses que descontam para as suas reformas poderão dormir tranquilos e esperar com confiança o futuro ? Se os PPR poderão não ser a melhor solução no caso da falência das Companhias Seguradoras, tal como aconteceu com a AIG nos EU, terá que ser o Estado a garantir a tranquilidade através de uma gestão cuidada dos fundos de reforma.
3-Toda a gente sabe que há políticos corruptos e que eles existem também de forma particular nas autarquias locais. Os jornais deram conta que na Câmara de Lisboa, durante a presidência de Santana Lopes, foram atribuídas casas de renda económica, de forma discricionária e arbitrária. Nestes casos deveria haver normas rígidas e critérios transparentes de forma a atribuir as casas a pessoas de baixos rendimentos e às mais carenciadas. Parece que não foi isso que se verificou. A chamada “ cunha “ tem ainda muito peso em Portugal e foi certamente um factor determinante na atribuição das casas. Nas Câmaras Municipais há ainda outros casos onde o factor cunha ainda tem um grande peso. Nos concursos para o preenchimento de lugares, e ainda antes de se efectuarem, já se sabe antecipadamente quem vai ficar. Outras vezes são os presidentes que criam lugares para os familiares. O argumento de que tudo é feito dentro da mais estrita legalidade não cola. É que em política o que parece é e a ética devia ser um ponto de honra a não esquecer. Um outro cancro são as empresas municipais , um meio fácil de colocar pessoas a ganhar bons ordenados e a trabalhar pouco, que irão contribuir de forma significativa para o endividamento das autarquias.
4-Um outro aspecto polémico é o da liberdade de voto dos deputados. A propósito de um Projecto de Lei que vai ser apresentado pelo BE e pelos Verdes que pretendem consagrar o casamento de homossexuais, as opiniões dividem-se entre a disciplina de voto- posição do Partido Socialista- e a liberdade de voto. Pessoalmente penso que em aspectos fracturantes como este que envolvem juízos de valor ou problemas de consciência, se deve dar a possibilidade aos deputados de votar livremente. Esta é também a posição do Prof.Marcelo Rebelo de Sousa. Concordo igualmente com António José Seguro quando diz que a liberdade de voto deve ser a regra e não a excepção. Só nos casos que constam de programas eleitorais, sufragados pelo voto popular, se deverá exigir a disciplina partidária. As questões orçamentais são também outro aspecto a ter em conta na disciplina de voto, pois sem isso não haverá estabilidade governativa. No que respeita aos casamentos gay, com os quais não concordo, não me parece que seja um assunto prioritário quando há tanta coisa importante para resolver na sociedade portuguesa: protecção à família, combate à criminalidade e à corrupção, medidas que ajudem à criação de empregos e à reanimação da ecomomia, etc, etc..
5-A Revista” Visão “do dia 25 de Setembro , trazia uma reportagem muito completa sobre o panorama médico
Francisco Martins
1-No início do Outono começam as vindimas. É um trabalho alegre que se faz com gosto. Miguel Torga nas suas poesias dedica um soneto às vindimas e não fujo à tentação de o transcrever:
Vindimas
Mosto, descantes, e um rumor de passos
Na terra recalcada dos vinhedos.
Um fermento de forças e cansaços
Em altas confidências e segredos.
Laivos de sangue nos poentes baços
Doçura quente em corações azedos.
E sobretudo, pés, olhos e braços
Alegres como peças de brinquedos.
Fim de parto ou de vida, ninguém sabe
A medida precisa que lhe cabe
No tempo, na alegria e na tristeza.
Rasgam-se os véus do sonho e da desgraça.
Ergue-se em cheio a taça
À própria confusão da natureza.
Na minha meninice, pela década de 50, as vindimas sendo como hoje uma actividade agradável, eram um trabalho mais duro sobretudo para os homens que tinham de transportar as uvas aos ombros e percorrer grandes distâncias como se faz ainda hoje nos socalcos do Douro. Como não havia baldes de plástico as uvas eram lançadas em cestos de vime e transportados em burros ou em carros de bois para os lagares. À tardinha o pessoal que comparecia em massa, alguns vinham apenas para ajudar, despedia-se satisfeito e regressava a casa depois de cumprida a sua missão.
2-Terminada esta tarefa seguia-se outra não menos importante- a pisa das uvas. Hoje há toda uma parafernália de máquinas que executam todo o tipo de trabalhos e que deixam pouco para ser feito pelo esforço humano. Naquela época as coisas eram bem diferentes. Pela tardinha um grupo de 4 ou 5 homens entrava no lagar e à luz do gasómetro e à cadência das cantigas, que entoavam, percorriam o espaço em todas as direcções pisando e esmagando as uvas para delas extrair o mosto. Trabalho árduo e difícil mas que os homens faziam com gosto. Para retemperar as energias e dar um pouco mais de ânimo lá ia um copo de vinho ou um cálice de água-ardente. Ao fim de algumas horas acabava o trabalho e era servido a todos uma pequena ceia. E a festa terminava aqui coroando em beleza um ano de canseiras e de trabalho na vinhas. Como não havia como hoje tractores, a terra era cavada palmo a palmo e praticamente tudo era feito manualmente. A mão de obra era abundante e facilmente se encontravam homens e mulheres para as diferentes tarefas.
3-Noite adentro era o regresso a casa na carroça de meu pai. Por vezes surgia o imprevisto. A égua também tinha as suas manias e quando teimava em não andar não andava mesmo. Se o meu pai insistia e lhe batia as coisas ainda se complicavam mais. Recordo-me de uma vez se ter virado a carroça e sermos projectados para a valeta da estrada mas sem consequências, pois saímos ilesos. Chegados a casa já de madrugada não nos custava a adormecer pois em breve caíamos nos braços de Morfeu. Oh ,que saudades eu tenho da vida pura e simples da minha meninice.
Francisco Martins
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