1-Ao ler a revista” Visão “deparei com uma excelente crónica do escritor António Lobo Antunes. Sensibilizou-me e tocou-me bastante a maneira como ele sente a morte de pessoas amigas ou que lhe são próximas. Lobo Antunes queixa-se a Deus e desabafa com Ele sobre as coisas más que lhe acontecem e não consegue compreender. A sua crónica começa assim : “ Deus, estou zangado contigo. Suponho que já Te habituaste às minhas zangas como Te habituaste às minhas dúvidas, aos meus afastamentos, aos meus regressos a fingir que não venho, aos momentos de harmonia que de vez em quando existem entre nós, à minha incompreensão de tanta coisa que fazes ou não fazes, aos meus ralhetes, aos meus amuos, ao que considero as Tuas injustiças, a Tua crueldade e se calhar não é injustiça, se calhar não é crueldade, sou parvo, não ligues, não consigo entender as Tuas profundezas e os Teus caminhos, o significado dos teus gestos. Só que ultimamente tens exagerado. E termina fazendo um aviso solene, uma ameaça, uma ordem : “ Livra-Te de tornares a meter-Te com a família do Rui. Ouviste bem ? Livra-Te de tornares a meter-Te com a família porque, se o fizeres, vais ter-me à perna a Eternidade inteira e não sou um osso fácil de roer. “
O sofrimento e morte são questões que todos nós colocamos e sobre as quais ninguém tem uma resposta convincente.
2- É curioso que na missa de hoje ( 5º domingo do tempo comum-Ano B ), uma das leituras é sobre o Livro de Job. Creio que todos os cristãos e até os não crentes conhecem bem a figura que dá o nome a este livro da Bíblia. Mas afinal quem é Job ? Um homem bom e justo que passou pelas piores provações que é possível imaginar : perdeu todos os seus haveres, morreram-lhe todos os filhos e por fim acabou chagado pela lepra. Começou por aceitar os seus infortúnios mas depois revoltou-se contra Deus que o castigou implacavelmente. Os seus amigos em vez de o confortarem lembram-lhe que a doença é um castigo de Deus a que não pode fugir. Job, que sempre foi justo, não pode admitir semelhante hipótese. E não se conforma com a situação degradante e miserável a que chegou. Mas Deus fala-lhe e lembra-lhe as Maravilhas do Universo e da Criação. Finalmente Job reconhece a sua pequenez, rende-se a Deus e diz: “ Os meus ouvidos tinham ouvido falar em Ti, mas agora vêem-Te os meus próprios olhos. Por isso, retracto-me e faço penitência, cobrindo-me de pó e cinza. “ Diz ainda a Bíblia que enquanto Job rezava pelos seus amigos, o Senhor restituiu-o ao seu primeiro estado e aumentou no dobro, tudo o que possuía. “
3-Nos dias de hoje ,e em vários países do globo, a morte e o sofrimento afectam milhares de pessoas impedindo-as de serem felizes e de terem uma vida normal: crianças que morrem à fome, mulheres que são violadas e escravizadas, adultos e crianças que são ceifados na flor da vida por doenças incuráveis. É todo um rol de desgraças que é impossível enumerar em toda a sua amplitude. E perante tanta miséria ocorre perguntar: Porquê tudo isto meu Deus ? Por que razão o inocente morreu e ficou o perverso ? Por que razão morreu o que fazia falta e ficou o inútil ou parasita ? Todas estas perguntas são pertinentes mas não encontramos resposta satisfatória para elas. Sabemos sim, pois faz parte da sua essência, que Deus é Amor e é infinitamente Bom e por isso não pode desejar o mal a ninguém. Deste modo temos que pôr de lado a ideia de um Deus castigador , vingativo ou de um Deus que permeia segundo o mérito de cada um segundo o princípio da justiça distributiva. Todos são filhos de Deus- bons e maus. Outra pergunta que se coloca é se Deus, sendo Deus omnipotente, não poderia evitar o mal no Mundo, ou seja, o sofrimento desencadeado pelo próprio homem. Isto só seria possível se Deus retirasse ao homem aquilo que ele tem de mais sagrado , a liberdade de poder fazer o bem ou o mal. No que diz respeito ao sofrimento físico causado pela doença não há resposta nem explicação possível. Apenas sabemos que somos finitos e que a morte a todos toca, a uns mais cedo e a outros mais tarde. Mas para nós crentes consola-nos a ideia de que a vida não acaba aqui na Terra e como diz São Paulo, se Cristo ressuscitou também nós havemos de ressuscitar um dia.
FRANCISCO MARTINS
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