1-Manuel Alegre não está contente com o governo nem com o partido socialista. O governo não escuta os professores nem os sindicatos e não tem na devida conta as manifestações de rua. Dos milhares de pessoas que protestam há com certeza também socialistas que não estão contentes com a situação e procuram por este meio ser ouvidas. Todos concordamos que há quem esteja no limiar da pobreza e reclame medidas urgentes do governo. Ninguém pode ficar indiferente a estes problemas e o Estado tem a obrigação e o dever de ajudar, directamente ou através das instituições de assistência social, todos os que necessitam de apoio.
2-Manuel Alegre também não gosta como é encarada a sua actuação dentro do Partido Socialista pois é visto por alguns militantes como inimigo. Situado na ala mais radical e de esquerda do partido tem mais afinidades com o Bloco de Esquerda ou com o Partido Comunista. Para ele o Partido Socialista está a ter uma conduta seguidista em relação ao governo e a ser contagiado pelas ideias neoliberais e pela economia de mercado. Só que hoje os partidos sociais democratas e socialistas há muito que abandonaram as suas raízes marxistas ficando as nacionalizações e o controle da economia pelo Estado reduzidas ao mínimo. Não me parece que as nacionalizações sejam a solução para resolver os problemas do nosso país. No entanto, no caso da Galp, se esta empresa estivesse nacionalizada talvez permitisse ao Estado baixar os preços dos combustíveis atendendo aos lucros fabulosos que apresenta no fim de cada ano e que beneficiam exclusivamente os gestores e accionistas.
3-Dizer o que está mal e fazer diagnósticos não é difícil. Manuel Alegre retrata muito bem a situação do país mas aponta muito poucas soluções ou vias para resolver a crise. Se tivéssemos o nível de desenvolvimento da maioria dos países europeus, o esforço que está a ser pedido às classes mais débeis não seria tão penoso. Assim, para que haja uma justa redistribuição da riqueza, o Estado teria pela via dos impostos que ir buscar o dinheiro aos que ganham altos vencimentos. É o que se faz nos países nórdicos onde os impostos chegam a atingir 30% do PIB. Nesses países a rede de assistência do Estado funciona a sério e não há situações de carência como em Portugal.
Seria necessário e recomendável também reduzir os custos com as prebendas dos ex-presidentes da república pois não faz sentido que estejam a usufruir de carro do Estado, motorista privativo, assessores, secretários e instalações próprias para trabalharem. Os vencimentos que ganham já por si são elevados e não se justificam outros privilégios. Deveria também haver uma redução substancial do número de deputados uma vez que muitos se limitam a votar quando é necessário e poucas ou nenhumas vezes intervêm durante a legislatura.
4-Para concluir diria que Manuel Alegre tem toda a razão nas críticas que faz. No entanto as suas palavras teriam outra força se também ele prescindisse de algumas regalias como a subvenção de 3000 € que lhe foi atribuída por trabalhar uns meses na RTP. As suas palavras teriam também outra acuidade se desafiasse todos os políticos que ganham acima de um certo patamar a descontarem uma percentagem do seus vencimentos em favor dos que têm pensões e ordenados de miséria.Por outro lado não me parece correcto que esteja com um pé dentro e outro fora do partido. Não tem sentido ser socialista e alinhar com os partidos da oposição contra o partido a que pertence.
Francisco Martins
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