A Ucrânia está há três anos em guerra. Tudo começou quando a Crimeia foi invadida e anexada pela Rússia em 2014. Como a Europa não reagiu as tropas russas avançaram e detêm hoje 20% da Ucrânia. Tudo isto se deve às ambições imperialistas de Putin que violou as leis do direito internacional invadindo um país autónomo e independente. E como se isto não bastasse, através de bombardeamentos vai destruindo habitações, hospitais e escolas. Em vez de lutar contra as tropas ucranianas mata adultos e crianças indiscriminadamente cometendo um genocídio. Durante o tempo em que Biden foi presidente dos EUA as ajudas em material de guerra foram importantes para impedir o avanço das tropas russas. Com a eleição do presidente Trump tudo mudou pois é um imperialista que apenas se preocupa em fazer a América Grande. Por outro lado só aceita ajudar a Ucrânia se puder tirar benefícios da exploração da riqueza mineral da Ucrânia.
Na revista VISÃO de 27 de Fevereiro vinha um artigo muito elucidativo com o título Europa Ataque à Defesa escrito por Filipe Fialho do qual passo a citar algumas passagens : « Com Trump e Putin amancebados sobre a Ucrânia e uma nova ordem imperial, os Europeus unem esforços para reforçar a segurança conjunta e não depender dos EUA. » E mais à frente acrescenta o seguinte: « Como escreveria Tucídides, o historiador que nos relatou a Guerra do Peloponeso, há 25 séculos entre Esparta e Atenas. « Os fortes fazem o que podem e os fracos suportam o que devem». Francis Fukuyama o politólogo americano que escreveu há três décadas O Fim da História e o Último Homem, acusa Donald Trump de ter cometido algo que classificou de traição, relativamente ao conflito da Ucrânia. Na plataforma digital Persuasion apresentou um argumento simples: « Encontramo-nos a meio de um combate global entre as democracias liberais e os governos autoritários; e nesta luta, os EUA mudaram de lado e juntaram-se ao campo autoritário». O tempo encarregou-se de lhe dar razão porque o seu artigo , publicado a 20 de Fevereiro antecedeu um momento histórico na Assembleia Geral da ONU. Na mesma data em que se cumpria o terceiro aniversário da invasão, na sede da organização em Manhattan , a Ucrânia apresentou uma Resolução de três páginas a condenar a agressão russa e a solicitar uma paz justa e duradoura. O resultado foi o seguinte: 93 votos a favor ( quase todo o Ocidente, com excepção de Israel, Hungria e Eslováquia e 18 contra, com os EUA a colocarem-se ao lado da Rússia, da Bielorrússia, do Irão, da Coreia do Norte e de outros regimes autocráticos De tudo isto Francis Fukuyama e Laurance Nordon investigadora do Instituto Francês de Relações Internacionais concluem que os EUA de Donald Trump são hoje adversários estratégicos e ideológicos da Europa e defendem o regresso das esferas de influência e do regresso do imperialismo colonial e Stephen M. Walt professor em Havard é ainda mais radical: «Sim a América é agora a inimiga da Europa » título do seu artigo na Foreign Policy
Como ao longo de muitos anos a Europa não se preparou para uma possível guerra vai ser difícil agora ajudar a Ucrânia a vencer as forças russas. Segundo dados técnicos de algumas prestigiadas instituições seriam necessários 300 000 homens para conter as tropas russas e muitos países têm baixos níveis de equipamento para cumprir as suas tarefas. Alguns países como o reino Unido já manifestaram interesse em juntar-se à União Europeia para ajudar a Ucrânia. E como vai sempre haver guerras é melhor seguir o adágio latino que nos diz: « si vis pacem para bellum ( se queres paz prepara-te para a guerra )
Este é um livro escrito pelo Papa Francisco em que relata as memórias desde a infância até ao momento actual.
A esperança é um dos elementos da trilogia ( Fé, esperança e caridade ) ou seja o verdadeiro caminho que nos pode conduzir a Deus. Todos podemos saber muita doutrina e ir muitas vezes à missa mas isso de nada vale se ficarmos indiferentes e insensíveis ao que se passa à nossa volta como a fome, a guerra e a discriminação. O Papa Francisco é filho de pais Italianos que devido à instabilidade económica e política tiveram de emigrar para a Argentina. Esta viagem não era nada fácil pois muitas pessoas morriam durante a viagem e antes de chegar ao destino. O Papa teve ainda conhecimento do horror e da tragédia da 2ª Guerra Mundial através dos migrantes que nessa altura chegaram da Itália. Sabemos também que o Papa Francisco frequentou o Colégio Salesiano na área metropolitana de Buenos Aires onde fez o sexto ano em 1949. Pensava ser médico mas aconselhado pelo tio Luigi e pelo tio Vicente escolheu entrar para a escola técnica e frequentar o curso de química. Em 1950 iniciou os seus estudos na Escola Técnica Especializada em Indústria Química. Também teve uma paixão infantil por uma rapariguinha de Flores que foi colega dele na escola primária. Mas um dia ao passar perto da Igreja de São José apercebeu-se que alguma coisa o impelia a entrar. E aqui surgiu a sua vocação religiosa. E Deus não se limita a tranquilizar ao nível psicológica nem é um ansiolítico. Faz muito mais: oferece-nos esperança de uma vida nova. E em 1956 entrou no seminário diocesano da Imaculada Conceição de Vila Devoto. Gostava do Seminário mas devido ao surto da gripe asiática tiveram de o tirar do seminário numa maca quase a morrer. Retiraram-lhe um litro e meio de água da pleura. E para fazer a endoscopia aos pulmões sedaram-no com morfina. Mas pouco a pouco, as febres decidiram abandoná-lo e a luz começou a regressar. Quando saiu do hospital a decisão estava tomada : entrou como noviço na Companhia de Jesus. Depois da ordenação em 1990 enviaram-no para Espanha para o Colégio Santo Inácio em Alcalá de Henares, a cidade natal de Cervantes. Professaria os seus últimos votos perpétuos a 22 de Abril de 1973 em São Miguel quando já era professor dos noviços. A 31 de Julho de1973 era já superior provincial da Ordem. Tinha 36 anos e era o mais jovem a ocupar aquele cargo na Argentina. Em 1992 tinha acabado de ser nomeado bispo vigário de Flores. Diz-nos o Papa que sonha com uma Igreja cada vez mais mãe e pastora cujos ministros saibam ser misericordiosos, cuidar das pessoas, acompanhando-as como um bom samaritano. Uma Igreja que procure novos caminhos e que é capaz de sair de si mesma. A Igreja é de Cristo. E Cristo é de todos e para todos. Todos são chamados. Todos. Bons e maus, jovens e velhos, sãos e doentes. Não existem duas crises separadas: uma ambiental e outra social mas uma única e complexa crise socio ambiental. É preciso restituir a dignidade aos excluídos, combater a pobreza e a exploração, cuidar do ambiente e salvaguardar as nossas próprias vidas. Acrescenta também que se não se fabricarem armas durante um ano, a fome no mundo acabaria por completo num só dia e sem despesas militares salvar-se-iam 34 milhões de pessoas, mas em vez disso escolhe-se aumentar as despesas militares tal como nunca aconteceu e ….fabricar a fome. Devemos opor-nos aos ladrões do futuro com a crença de que o único futuro possível pertence a mulheres e a homens solidários e a povos irmãos e também que a única autoridade legítima é a que representa serviço a esta causa, pois a autoridade que não é serviço é ditadura. Nós cristãos, devemos viver na consciência de que os nossos melhores dias estão para vir.
Mais de três milhões e meio de pessoas vivem hoje em regiões sensíveis às devastações das mudanças climáticas. É preciso deixar para trás as divisões entre fãs , entre catastrofistas e indiferentes, entre radicais e negacionistas e unir forças para sair progressiva e resolutamente da noite escuríssima das devastações ambientais.
E no último capítulo que tem por título « Eu sou apenas um passo » o Papa Francisco diz-nos o seguinte: A Igreja tem raízes no passado , em Cristo vivo, vivo durante o seu tempo, na sua Ressurreição e raízes no futuro e na promessa de Cristo, que permanece até ao fim dos séculos. No mundo contemporâneo fala-se muito em secularização. A Igreja sempre teve momentos de secularização nas primeiras heresias, o arianismo, por exemplo, com os bispos cortesãos para quem a política religiosa do imperador era a norma suprema a seguir e com os imperadores que perseguiam os bispos católicos não arianos. A Igreja tem a necessidade de todos, de cada homem e de cada mulher e todos temos necessidade uns dos outros. A indiferença pode matar. O amor não tolera a indiferença. Não podemos ficar de braços cruzados, indiferentes nem de braços caídos., fatalistas. O Cristão estende a mão. Para nós cristãos o futuro tem um nome e esse nome é esperança. A felicidade é sempre um encontro e os outros são uma ocasião concreta para encontrar o próprio Cristo. A ternura não é senão isto: o amor que se torna próximo e concreto. É usar os olhos para ver o outro, usar os ouvidos para ouvir o outro, para ouvir o grito dos pequenos, dos pobres que temem o futuro. É necessário sermos humildes, deixar espaço ao Senhor, não às nossas fingidas seguranças. A ternura não é fraqueza é verdadeira força. É a estrada que os homens e as mulheres mais fortes e corajosas percorreram. Percorrei-a, lutai com ternura e com coragem. Eu sou apenas um passo. E para terminar diria que todos nós deveríamos ser capazes de também dar um passo em frente.
Este é o título de um livro escrito por Josep Maria Esquirol, professor da Universidade de Barcelona
O homem é diferente de todos os outros animais pois tem uma alma, ou para os que não são crentes, tem uma consciência ou espírito reflexivo. E é esta alma que deve ser iniciada e formada na Escola, com bons Mestres, e atingir a maturidade na experiência da vida.
Ao longo do livro o filósofo diz-nos que há situações que podem tornar as pessoas felizes. E passo a citar nove. Assim, são felizes:
1-Os que vão à Escola. A Escola é também um lugar, aquele onde se cultiva a alma mediante atenção às coisas do mundo. Skolé ( em grego ) significa ócio, tempo liberto das exigências do trabalho e da produção. Ócium em grego significa descanso e tempo livre e afasta-se do negotium , isto é do emprego e do trabalho.
2-Os que encontram bons Mestres Não há escola sem Mestres, sem bons mestres. O encontro com o mestre acontece na Escola. O mestre leva consigo um propósito: acompanhar o aluno na descoberta do mundo. Se tiver um bom mestre vai recordá-lo e lembrar-se dele com frequência.
3- Os que vão contra o destino. Estes são os que derrotaram o destino porque para eles não existe destino. Não somos escravos de um poder metafísico supremo, nem de um poder imanente ( matéria, natureza, sociedade). Cada um de nós é um início. Não foi o resultado de determinada circunstância, mas do confronto com determinada circunstância.
4-Os que prestam atenção e treinam o seu espírito para receber. A atenção é a disposição que permite que algo de bom chegue até nós. Prestar atenção conduz-nos á interrogação e ao diálogo. Quem treina a atenção torna-se uma pessoa atenta, que respeita as coisas do mundo, os outros e a si mesmo.
5-Os que fazem amigos de traços, números, palavras ou gestos. São fortes. Sem uma forma de ser, nada seria. Ora o ser humano é uma forma de ser capaz de adquirir ainda mais forma e capaz de gerar ainda mais formas. A formação é o processo que leva à aquisição de uma determinada forma. A maturidade humana é uma vida reflexiva que gera. As boas formas do mundo geram reflexividade ( alimenta a alma ) que por sua vez é fonte de boas formas.
6-Os que não fazem mal aos outros : fazem já muito bem Toda a Terra devia ser uma Terra de paz. Mas não é assim e provavelmente nunca o foi. A Escola deve educar respeitando três regimes éticos e morais : o de não fazer mal, o da igualdade e o da generosidade. E o autor cita Santo Agostinho quando diz “ Ama e faz o que quiseres »
7-Os que seguem atentos ao mundo verão o caminho A maturidade, a vida espiritual é o horizonte da educação. A maturidade expressa-se na maneira de viver. Existem dias sombrios, e abissais no mundo. A vida está ameaçada pela morte. O sentido pelo sem sentido.. A bondade pela maldade .A paz pela guerra. A saúde pela doença. A alegria pela desolação. A maturidade e a vida espiritual expressam-se em três reiterações: a contemplativa juntamente com a beleza e a profundidade do mundo; a médica diante da doença e da profundidade do mundo ; a cosmopoética no envio do mundo , tornando o mundo mais mundo.
8-Os que permanecem atentos à vida verão a maneira de viver a forma de vida A melhor transformação é muitas vezes a transformação da vida quotidiana numa vida quotidiana melhor. Há tempo para agir, e tempo para repousar e é como se o repouso da alma se realizasse em sintonia com o repouso do mundo. Na vida reflexiva e madura não nos limitamos a viver, mas testemunhamos a vida.
9-Os que regressam à Escola da Alma tomarão nota num caderno .Todas as Escolas da Alma, aquelas que realmente o são, entenderam que a alma devia ser cultivada, porque pode perder-se. Tanto o mundo como a alma pedem amor. Sem amor tudo se retrai. Todos somos educadores, porque nos orientamos uns aos outros. A viver aprendemos uns com os outros. Mas morremos e não teremos ainda aprendido o suficiente a viver. A esperança não anula o desespero, mas não deixa que ele tome conta de tudo e mantem uma brecha aberta. Cada vida humana traz consigo o impulso da criação e o desejo da salvação. O mestre ensina-nos a ser criadores do mundo e irmãos de tudo, de forma vinculada. As pessoas têm necessidade de poesia e de mística para não enlouquecerem. Para os nihilistas não há nada que realmente valha a pena. O auge da geração- da criação- é a generosidade- O mundo não se explica a si mesmo. O homem transcende os factos e é metafísico e religioso. As pessoas com bom senso, são pessoas místicas porque sabem que vivem no mistério da vida e do mundo
No final do livro o autor termina dizendo o seguinte sobre o último dia de aulas: À maneira reflexiva e madura de viver opõe-se o fechamento. E é nesta situação que aparecem o fundamentalismo religioso, o totalitarismo político. O fundamentalismo transforma-se em dogmatismo, imposição e até de violência O totalitarismo leva a movimentos de extrema-direita e não está ao serviço da justiça ou da democracia. O caminho da vida é o caminho da busca do sentido da vida. Quem realmente pensa deseja que o sem-sentido, o absurdo, a injustiça e a escuridão não tenha a última palavra. A paixão do principiante deve fazer frente e resistir ao diletantismo académico, à cultura nihilista de baixo tom , à sonolência consumista, ao cientifismo convertido em ideologia e sobretudo a todas as formas de fundamentalismo e de totalitarismo.
E para finalizar J.M. Esquirol diz-nos que no último dia de aulas reza-se a última oração filosófica pela paz e dedica-se um tempito à meditação sobre a vida. A oração é um pedido e também uma intenção de acção. E a meditação serve para que o pensamento nunca deixe de ser um pensamento vivo.
LIBERDADE E IGUALDADE
O QUE SERÁ UMA SOCIEDADE JUSTA ?
Este é o título de um livro escrito por Daniel Chandler formado em Filosofia, Economia e História em Cambridge. Tem como tema base a Teoria da Justiça, livro escrito por John Rawls. Sobre este último livro já escrevi em 5 de Outubro de 2013 um texto que publiquei no meu blog pontodemira.
O livro de Daniel Chandler divide-se em duas partes. Na primeira faz uma análise dos aspectos mais importantes da Teoria da Justiça: 1- O que é justo; 2-Um novo contrato social, 3- Rawls e os seus críticos.
A política é cada vez mais volátil dando origem a um populismo autoritário com ameaças aos valores democráticos liberais. Temos como exemplo Donald Trump nos Estados Unidos, Maria Le Pen em França, Jair Bolsonaro no Brasil e Naranda Modi na Índia. O objectivo do livro é esboçar uma visão do que poderia ser uma sociedade justa e convencer o leitor de que isto é normalmente desejável e praticamente viável mas exige determinação e empenho na acção.
O que é justo- Para Rawls há dois princípios de justiça a considerar: Primeiro princípio . Liberdades básicas Cada pessoa deverá ter um direito igual ao mais amplo sistema de liberdades básicas iguais que sejam compatível com um sistema semelhante de liberdades para todos; e neste sistema as liberdades políticas iguais, e apenas estas devem ter garantido o seu valor equitativo.; Segundo princípio: Igualdade equitativa de oportunidades. As desigualdades económicas e sociais devem satisfazer duas condições: em primeiro lugar, que estejam ligadas a posições e funções abertas a todos nas condições de igualdade equitativa de oportunidades; em segundo, que redundem nos maiores benefícios possíveis para os mesmos, beneficiando, de uma forma que seja compatível com o princípio da poupança justa .As liberdades básicas podem ser agrupadas em três categorias: pessoais, políticas e processuais. As liberdades pessoais incluem a liberdade de consciência, de pensamento, expressão, de associação e os direitos à integridade física e a não sofrer coerção, liberdade de movimento, escolha livre de ocupação, direito a uma vida familiar privada, liberdade de escolha em questões de sexualidade, reprodução, direito a deter propriedade pessoal como roupa e habitação. Na liberdade política inclui-se o direito de votar e de se recandidatar a cargos públicos. As liberdades processuais sustentam as proteções vitais como a liberdade contra a detenção arbitrária e o direito a um julgamento justo.
Igualdade equitativa de oportunidade Rawls defendia a igualdade «equitativa » de oportunidades, em que todos teriam a mesma hipótese de desenvolver as suas aptidões e capacidades naturais, independentemente da classe, raça e do género.
Na 2ª parte do livro o autor faz uma análise detalhada dos seguintes temas : 1-Liberdade, 2-Democracia; 3-Igualdade de oportunidades, 4- Democracia no local do trabalho. Para cada tema vou citar algumas sugestões indicadas por Daniel Chandler.
1-Liberdade- Devemos promover uma cultura de tolerância e de respeito mútuo e proteger a dignidade e segurança das minorias oprimidas . O mecanismo institucional mais importante para garantir as nossas liberdades básicas é de longe uma constituição e um poder judicial independente. Devemos acolher os refugiados que fogem da perseguição ou da privação extrema. 2-Democracia- O sistema de representação proporcional é mais representativo que o sistema de escrutínio maioritário uninominal. As doações das empresas a partidos devia ser totalmente banido. 3- Igualdade de oportunidades. É uma igualdade equitativa que depende de duas coisas: em primeiro lugar os empregos e os cargos devem ser atribuídos com base no talento e não no nepotismo ou no preconceito; em segundo lugar, todas as pessoas devem ter oportunidades igual de desenvolver os seus talentos e as suas capacidades. Não deve haver discriminação de raça nem de género. 4-Prosperidade partilhada. Segundo o princípio da diferença, as desigualdades só são justificadas se todas as pessoas beneficiarem delas- por exemplo, porque providenciam incentivos que, por sua vez encorajam a inovação e o crescimento económico. Na maioria dos países ricos, a desigualdade excede em muito o nível que pode ser justificado segundo o princípio da diferença.. Para satisfação das necessidades básicas o autor propõe a defesa de um rendimento básico universal e incondicional ou RBU. Trta-se de um pagamento regular em dinheiro a todos os cidadãos. É universal no sentido em que seria pago a todas as pessoas, ricas e pobres e é incondicional porque seria pago sem qualquer obrigação de trabalho ou de procurar trabalho. Na minha opinião este rendimento só seria aceitável se um grande número de pessoas não fosse capaz de satisfazer as suas necessidades básicas com o trabalho. Este rendimento implica grandes custos e por isso teria que ser limitado no tempo e atribuído por exemplo durante 5 anos. O autor propõe ainda um imposto progressivo sobre a riqueza que seria uma fonte de rendimento para a despesa geral do Estado. Outra proposta seria um imposto sucessório mais progressivo ou até um imposto anual sobre as maiores fortunas.5- Democracia no local do trabalho Deve haver leis que garantam um nível mínimo de segurança, decência e de dignidade para todos. A lei do trabalho deve assegurar o direito das pessoas ao lazer e a uma vida decente fora do local do trabalho. Sugere ainda uma cogestão das empresas. Na Alemanha os trabalhadores têm direito de eleger um terço de do Conselho e Administração em todas as empresas com mais de 500 empregados. Uma outra ideia seria substituir os acionista pelos trabalhadores organizando Cooperativas de trabalhadores.
COMCLUSÃO FINAL A Democracia fez grandes progressos ao longo dos anos. Foi abolida em muitos países a escravatura, estabelecido o sufrágio universal e o Estado Providência. Mas hoje a democracia está a degenerar-se e a caminhar para regimes ditatoriais e autocráticos. É necessário fortalecer a democracia instituindo as liberdades básicas propostas por Rawls através de uma constituição escrita e pelo reforço da independência dos Tribunais e adaptando um sistema de representação proporcional. Tem também de se lidar com a emergência climática e ecológica reduzindo as emissões de carbono e proteger os ecossistemas. Fazer esforços para lutar contra as desigualdades de raça e de género.. É preciso também romper com o neoliberalismo e colocar a sociedade na rota da justiça, da equidade e da igualdade. Daniel Chandler termina dizendo que as nossas sociedades só mudarão quando nós, o povo, o exigirmos. Cada um de nós tem a responsabilidade de fazer isto acontecer, não só através do voto, mas também pela adesão e pela candidatura a eleições, ir para a rua e juntar as pessoas para construir um movimento social mais amplo. Mas cabe-nos a nós , individual e coletivamente, construir uma sociedade em que sejamos, por fim, verdadeiramente livres e iguais.
Desmasculinizar a Igreja ?
Este é o título do livro em que o padre e teólogo Luca Castiglioni e as teólogas Lucia Vantini e Linda Pocher fazem uma análise crítica do « princípio mariano-petrino de Hans Urs Balthasar ( 1905-1988 ) onde há uma marginalização das mulheres.
Recordo-me quando era mais novo que as mulheres e os homens estavam separados na Igreja. Os homens ficavam à frente e as mulheres atrás. O Papa Francisco na Introdução ao livro diz que « é necessário que nos escutemos reciprocamente para «desmasculinizar a Igreja pois ela é a comunhão de homens e mulheres que partilham a mesma fé e a mesma dignidade batismal. Que não nos cansemos de caminhar juntos pois só quando caminhamos é que somos aquilo que devemos ser. »
De uma maneira geral diria que o princípio-mariano compara a Igreja à família e é aqui o lugar da mulher cuidando dos filhos e do governo da casa. O princípio-petrino diz-nos que a autoridade pertence ao homem pois foi a ele( São Pedro) que foram dadas as chaves da Igreja. Ao homem pertence o espaço da praça, a tarefa da justiça e da produção, a força da autonomia, a razão, a transcendência, a teologia. Para a teóloga Lucia Vantini o princípio de Balthasar é problemático não apenas porque interpreta o princípio petrino-masculino como exclusivamente ministerial-institucional. A isto se opõe São Paulo que na Epístola aos Gálatas( 3,28) nos diz que « não há judeus nem Gregos, não há servo nem homem livre, não há macho e fêmea, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus »
Para o padre e teólogo Luca Castiglioni são precisos outros princípios, outros padres para uma masculinidade evangélica. É necessário que os ministros ordenados estimulem e apoiem as dinâmicas virtuosas a que todos somos chamados. Durante milénios no Ocidente predominou um sistema «androcêntrico» , «patriarcal » e de masculinidade hegemónica. Hoje o sistema patriarcal já não subsiste ou não encontra legitimação institucional e cultural.
No fim do livro a teóloga Linda Pocher esclarece que no tempo de Jesus não havia apenas discípulos. E refere-se a Maria e outras discípulas mitagogas. Maria junta-se como discípula exemplar à companhia de suas irmãs , a Samaritana, Marta de Betânia, Maria de Betânia e Maria de Magdala. Não se trata de mulheres solteiras, mas mulheres adultas, livres de obrigações familiares: podiam ser viúvas com filhos adultos ou então mulheres casadas que já tinham criado- ou não tinham tido –filhos a quem os maridos permitiam que deixassem o lar ; ou ainda quem sabe, poderia tratar-se de casais cujos membros seguiam Jesus. Na comunidade dos ressuscitados com Cristo as mulheres são bem-aventuradas porque acreditaram, oferecendo assim o próprio corpo e o próprio coração a Deus para que Ele possa realizar grandes coisas nelas e através delas.
Para terminar diria em resumo que desmasculinizar a Igreja será acabar com certos estereótipos e preconceitos em relação às mulheres pois todos os batizados são filhos de Deus sem qualquer descriminação.
Este é um livro escrito por Stephen Marche , canadiano e articulista da revista Esquire e colabora também nas publicações de língua inglesa como New York Times e Guardian.
Os regimes democráticos estão a entrar em decadência. A polarização partidária e o populismo estão a alastrar em muitos países. A História diz-nos que os EUA tiveram a sua origem numa guerra de Secessão ou Guerra Civil que decorreu entre 1861 e 1865. Foi uma guerra entre Unionistas e Confederados devido a uma longa controvérsia sobre a escravização dos negros. O conflito eclodiu em Abril de 1861 quando os separatistas atacaram o Fort Sumter na Carolina do Sul pouco depois de Abraham Lincoln ter tomado posse como presidente dos Estados Unidos. E passo a transcrever as passagens mais importantes do livro
Hoje tudo se encaminha para uma guerra civil. As causas que podem desencadear esta situação são as desigualdades económicas e ambientais que aumentam a cada ano que passa levando a que a riqueza produzida se encaminhe para os que estão no topo. Por outro lado há também um híper- partidarismo entre Republicanos e Democratas que não têm compromisso com uma política específica e os eleitores votam neles como se pertencessem a uma tribo. O ódio partidário é também evidente. Segundo o autor do livro, neste preciso momento há xerifes eleitos a promoverem abertamente a resistência à autoridade federal. Há também milícias a armarem-se e a treinarem-se em preparação para a queda da República. Na internet, na rádio, na televisão por cabo, nos centros comerciais disseminam-se doutrinas que defendem uma liberdade radical, inatingível, messiânica. A fé na democracia está estilhaçada. No rescaldo da eleição de Biden uma sondagem revelou que 88% dos Republicano não acreditavam que a sua vitória fosse legítima. Os governos estrangeiros têm de se preparar para uma América fragmentada com diferentes centros de poder. Têm de se preparar para uma América sem rumo. A próxima guerra civil deixou de se ser ficção científica.
Na conclusão final o autor não deixa de ter esperança na América. É bom não esquecer que durante a maior parte dos séculos XIX e XX, a América foi sinónimo de esperança. E dá como exemplo a generosidade do Plano Marshall na Europa que ajudou a reconstituir a economia de um inimigo que a tinha tentado aniquilar. A esperança no futuro é possível se os EUA puserem em prática um sistema eleitoral moderno, restaurarem a legitimidade dos tribunais, reformarem as forças policiais, alterarem o código fiscal de modo a atacar as desigualdades prepararem as suas cidades e a sua agricultura para os efeitos das alterações climáticas, regularem e controlarem os mecanismos da violência. É necessária uma política que sirva o povo e não o contrário. Os EUA precisam de inventar uma política para uma nova era. Precisam também de uma nova Convenção Constitucional. Na América estão a emergir identidades étnicas distintas: a América enquanto república de colonos brancos e a América enquanto democracia multicultura .Pode ter-se uma ou outra. Não é possível que ambas sobrevivam a não ser enquanto países distintos.
Este é o título de um livro escrito por Martin Moore , director do Centro de Estudos de Media e professor catedrático no Departamento de Economia Política no King´s College de Londres.
Há muito que a democracia entrou em crise e se encontra a colapsar. Os regimes democráticos não só na Europa mas de uma maneira geral em todos os Continentes estão a resvalar e a transformar-se em autocracias ou ditaduras. Nas campanhas políticas e oficiais o eleitorado é influenciado por mensagens específicas que vão orientar os votos a favor de um determinado partido. Nas campanhas não oficiais levadas a cabo por indivíduos abastados , organizações e por grupos de pressão as decisões e os resultados alteram-se ainda mais. Em 2014 na Índia Narenda Modi é eleito com maioria absoluta e em 2016 nas Flipinas Rodrigo Duarte tem também uma vitória chocante. Na Itália em 2018 ascendeu ao poder o Movimento Cinco Estrelas em Itália.
A revolução nas comunicações digitais, Google, Facebook ou Twitter, vão ter um peso importante nas eleições, derrubando os candidatos tradicionais e apagando os partidos centristas. Na Rússia, Vladimir Putin tentou impor a soberania digital, obrigando a um controle dos dados oficiais dos cidadãos e exigiu que todos os blogues com uma audiência de mais de três mil visitantes por dia se registassem como organizações de comunicação regulada. No Irão e na China havia também meios para controlar e policiar a Internet.
No ano de 2016 os velhos sistemas democráticos estavam já sujeitos a manipulações por três tipos de « piratas informáticos » : 1- indivíduos ; 2- plutocratas ; 3-estados estrangeiros. No primeiro grupo há a salientar movimentos extremistas radicais como o AFD na Alemanha. Dele faziam parte neonazis, tecno libertários, anarquistas nacionais. Havia uma destruição deliberada das normas democráticas na esfera digital colocando a liberdade, a soberania on line acima de tudo o resto. No segundo grupo os multimilionários tendem a perverter a política democrática usando a sua riqueza para sabotar o sistema político existente. Estes plutocratas procuram subverter os meios de comunicação social mainstream . A família Mercer doou 11 milhões de dólares a um fundo eleitoral que apoiava Ted Cruz, o candidato republicano mais odiado pelo partido. Os extremistas da liberdade representam o maior perigo evidente para a democracia. As plataformas digitais nomeadamente a Internet e a Google contribuíram para a maior experiência de anarquia que alguma vez tiveram. No terceiro grupo estão os Estados Estrangeiros. O KGB investiu enormes quantidades de tempo, energia e esforço na recolha, produção e disseminação de propaganda e desinformação. Em 2013 o jornal Russo independente Novaya Gazeta descobriu uma empresa criada nos arredores de São Petesburgo que contratava pessoas para comutar, publicar e escrever blogues online a favor do governo Russo e para desacreditar os políticos da oposição e os inimigos da Rússia.
Que caminhos irá seguir a democracia no futuro ? Muitos países estão já a utilizar plataformas digitais que vão ajudar a facilitar os serviços na área da saúde e da educação. A outra opção é a democracia da vigilância utilizada pela China, a Índia, Singapura, Malásia, Sri Lanka e Indonésia para controlar a vida dos cidadãos. Mas aqui põe-se em causa várias das liberdades que os cidadãos gozam e que passam a ser mais restritas. Existe ainda uma terceira direcção que é a de uma democracia remanipulada para a era digital. Muitas pessoas estão a reconhecer que os nossos sistemas políticos democráticos já não estão a funcionar como deviam. As plataformas digitais podem melhorar esses sistemas mas estão também a debilitá-los e a remodelá-los. Há provas de abusos políticos das plataformas. Estamos pois a caminhar para uma nova era que poderá ser mais eficiente e conveniente mas que será também menos tolerante, compassiva e menos livre. É possível no entanto seguir um caminho diferente e permitir que a democracia evolua de forma a beneficiar da tecnologia digital sem ser dirigida por ela e renovando a confiança das pessoas, na eficácia dos sistemas políticos democráticos mas só seguindo regras adequadamente.
NENHUM CAMINHO SERÁ LONGO
Este é o título de um livro escrito pelo cardeal José Tolentino de Mendonça que actualmente desempenha o cargo de Arquivista e Bibliotecário da Santa Sé. É especialista em estudos bíblicos e tem-se distinguido também como poeta e ensaísta.
O tema que serviu de base ao livro e desenvolveu ao longo de 21 capítulos é o da Amizade. Logo nas primeiras páginas esclarece que hoje se fala mais em Amor do que em Amizade. Mas o termo mais apropriado nas relações pessoais e práticas afectivas será o de Amizade. A grande diferença entre amor e amizade reside no facto do amor tender sempre para o ilimitado, para a perfeição que nem sempre conseguimos. Mesmo a nossa relação com Deus devia ser organizada em termos de amizade. No fundo persistimos numa imagem de Deus que exige de nós sacrifícios, quando o Deus de Jesus Cristo quer uma vida justa, plena, levada à sua alegria. Na amizade, aceitamos do outro o que ele dá ou pode dar, e fazemos disso um ponto de partida alegre. Também é preciso amar a Deus sem ser por nada. O cardeal Tolentino diz-nos também que temos de ultrapassar uma determinada concepção do cristianismo como máquina de fabricar castigos e recompensas. Os santos ensinaram-nos o mistério da amizade divina : aceitar o que Deus me quer dar, aceitar a morte e o nada, o silêncio e a demora, aceitar a graça e a fraqueza. O que a experiência da amizade traz de iluminante para estruturar a nossa relação com Deus é o seguinte: aceitação do outro, o reconhecimento sereno dos limites, a ausência de domínio, a liberdade, a gratuitidade. Como figuras bíblicas da amizade destaca : Abraão, Moisés, Lázaro e São Paulo.
Na filosofia é importante referir Aristótoles que na Ética a Nicómano distingue várias formas de amizade : 1- A amizade útil fundada no interesse que nos pode abrir a uma relação onde existe partilha mútua ; 2-A amizade aprazível estabelecida sobretudo no prazer que a companhia nos dá ; 3-A amizade virtuosa que procura antes de tudo o bem do outro. No Evangelho de São João ( 15, 12-15 ) Jesus faz um discurso-chave « Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei . Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos se fizerdes o que Eu vos mando. A vós chamei-vos amigos porque vos dei a conhecer o que ouvi a meu Pai. » No momento em que assistimos a um enfraquecimento institucional das Igrejas é fundamental que se dê testemunho de uma vida com simplicidade e alegria no seguimento de Cristo.
Passando para a Amizade Espiritual podemos dizer que a Amizade é antes o próprio lugar de encontro entre o homem e o divino ou seja um lugar “teofânico “. A amizade coloca-nos dentro de Deus.« Basta que um ser humano se torne amigo de outro para se tornar imediatamente amigo de Deus ». Devemos amar um amigo não pelo que ele possui ou pelo que ele nos pode dar, mas pelo que ele é. A amizade é também uma fonte de alegria. A alegria nasce do acolhimento. A alegria nasce quando eu aceito construir a minha vida numa cultura de hospitalidade. A alegria é um dom de amizade acolhida. São Paulo é também considerado o « teólogo da alegria » . Das 326 vezes que o vocabulário da Alegria aparece no Novo Testamento, 131 vezes é em textos do Apóstolo. Na Epístola aos Romanos São Paulo diz: Que o Deus da Esperança vos encha de toda a alegria e paz( R15,13 ). Há no entanto casos em que debaixo da capa da amizade se encontra a traição. Temos como exemplo Judas que em hebraico significa « Predilecto » e que acabou por trair Jesus.
Todos nós na nossa vida passamos por momentos de solidão. A solidão pode ter origem em situações de sofrimento ou humilhação, mas também pode ser provocada por nós para meditação e encontro com outros e com Deus. Para o Mestre EcKart, a perfeição depende somente de acolher a pobreza, a miséria, as durezas, os desapontamentos e tudo o que couber no deserto de uma vida, livremente, avidamente até à morte, como se a pessoa estivesse preparada para tal. Em silêncio e sem perguntar porquê. Quem sabe usar o silêncio sabe usar o tempo. É importante não perder o tempo com trivialidades e banalidades.
E o cardeal Tolentino termina dizendo que a despedida talvez seja a parte mais difícil da amizade. A dor da separação é maior do que qualquer palavra, mas as palavras como que nos seguram enquanto certas despedidas desprendem o seu vazio lentíssimo.
Este é um livro escrito pelo padre Jesuíta Francisco Martins, professor de literatura bíblica na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Neste livro o autor faz uma análise crítica, literária e teológica dos vários livros que compõem o Antigo Testamento. É um facto que a Bíblia não pode ser interpretada de forma literal. É necessário um estudo heurístico dos vários textos. Nela vamos encontrar vários géneros literários. O padre Carreira das Neves no livro intitulado « A Bíblia – O Livro dos Livros » indica mesmo 6 géneros : 1- O Mito da Criação ( Génesis ); 2-Grandes Sagas ( Saga de Moisés ) , 3-Grandes Provações ( O dilúvio ) ;4-Grandes Sacrifícios ( Os sacrifícios no Levítico ), 5. Os Grandes Poemas ( Cântico dos Cânticos e Salmos ) ;6- Grandes Profetas ( Livro de Isaías, Livro de Emmanuel )
E depois desta breve introdução passo a citar os aspectos mais relevantes do livro atrás citado. As três fontes que servem de base ao estudo científico da História de Israel Antigo são: a Bíblia, as descobertas arqueológicas e os achados epigráficos. Os mais antigos documentos bíblicos datam do século VII a.c. e são os chamados manuscritos de Qumram. Há também a referir os códices mais antigos do século IV, V d.c. contendo juntamente com o Novo Testamento, a tradução grega dos livros do Antigo Testamento em hebraico e arameu e a chamada Bíblia do Setenta ou Septuaginta em Latim que data do período helenístico ( século III a.c. )
-O Livro do Génesis diz.nos que Jacob teve 12 filhos que segundo o relato bíblico dão origem às doze tribos de Israel. Os ciclos de Abraão e de Isac parece ter como pano de fundo a zona Sul da terra de Canaã ( o futuro território de Judá ao passo que o ciclo de Jacob se desenrola principalmente na zona de Efraim ( centro geográfico e político do futuro reino de Israel )
- O Êxodo. A fome em Canaã forçou o patriarca Abraão e a sua família a descer ao Egipto pouco tempo depois de terem chegado à terra prometida. Jacob enviou os filhos ao Egipto em busca de trigo num período de carestia. Depois de muitos anos de opressão, Moisés torna-se o escolhido de Yahvé para enfrentar o faraó do Egipto e libertar o povo da escravidão. As dez « pragas do Egipto » e a « separação das águas do Mar Vermelho », irão facilitar a fuga. O Êxodo acabará por vir a ocupar um lugar de destaque na Bíblia, que enquanto « história de histórias», é um produto do trabalho dos escribas do Sul, o reino de Judá.
- O Deus da Biblia- A História de Yahvé. A divindade chamada Yahvé começou por se apresentar com outro nome : « El Chadai ». Ambos são uma e a mesma divindade. A PALAVRA « Israel » contém o elemento teofórico « El ». El tornou-se em hebraico o nome genérico de « deus ». No fundo El era equivalente, no Levante, de Zeus na Grécia e Júpiter em Roma. Yahvé provém da região ( Seir, Edom ) na qual este grupo étnico lançou as suas raízes e emergiu como entidade étnica durante o século XIII a.c.. Na transição para o primeiro milénio já se começa a anunciar a emergência do que viria a ser os dois« reinos irmãos » de Israel ao Norte e de Judá ao Sul. O monoteísmo ( bíblico ) tem na figura de Moisés o seu primeiro e, de alguma forma, o seu máximo expoente. O monoteísmo bíblico, na sua expressão mais estrita ( rejeição da existência de outros deuses além de yahvé) só terá emergido a partir do século VI a.c.) O exílio da Babilónia terá desempenhado um papel importante na reformulação da teoria local.
-Israel em Canaã: os livros de Josué e Juízes. Moisés morre às portas da terra prometida propriamente dita. E cabe ao seu sucessor Josué, liderar o povo na conquista. Josué dá início à repartição do país pelas nove tribos e meio restantes. O livro de Josué refere-se repetidas vezes à prática de exterminar( herém) os habitantes das cidades cananeias conquistadas. O herém ou « anátema » bíblico que era aplicado em Jericó. Josué tomou também todas essas cidades e respectivos reis e passou-os ao fio da espada. O facto do herém muito provavelmente, nunca ter sido verdadeiramente praticado por Israel não invalida que se levantem questões de ordem teológica e ética a respeito do carácter de Deus da bíblia. Yahvé é uma divindade ciumenta e não olha a meios para garantir a fidelidade do povo que escolheu.
- O início da monarquia em Israel: Saul, David e Salomão. Saul assegurou a monarquia em Israel e combateu contra todos os inimigos: Moabitas,Amonitas, Edomeus, reis de Sabá e Filisteus. David vai destacar-se sobretudo como guerreiro num combate singular contra o gigante filisteu Golias e depois como comandante do exército do rei . Salomão herda o império de seu pai e consolida o seu estatuto como grande rei, tornando-se genro do faraó do Egipto, A Bíblia atribui-lhe uma sabedoria e uma inteligência proverbiais.
-Israel : O reino esquecido ? Vítima do império assírio o reino de Israel desaparece da História após dois séculos de existência. Muitos Israelitas foram exilados para a a Assíria e outros emigraram para o reino do Sul.
-Judá: História do reino do Sul. O século IX a.c parece ter sido uma época de recuperação ou expansão territorial para o reino de Judá. Em 701 a.c. o rei Senaqueribe chega ao Levante à cabeça do terrível exército assírio para impor uma vez mais a Pax Assyriaca ( pax Assíria ). A campanha culmina com a invasão de Judá e o rei Ezequias encerrado em Jerusalém « como um pássaro numa gaiola ». Manassés, o filho e sucessor de Ezequias, gozou do mais longo reinado foi i«o rei de Judá: 55 anos. Em 586 a.c. os Babilónios invadem Jerusalém e devastam a cidade levando os habitantes para o exílio
-A morte e a lenta ressurreição de Jerusalém ( séculos VI- IV a.c. ) Para a maioria dos investigadores as deportações para a Babilónia em 597 como em 586 a.c., foram mais selectivas do que os relatos deixam a duvidar. Aos Babilónios interessava mais privar Judá da capacidade para se reorganizar politicamente e suster o movimento de se reorganizarem politicamente e de suster um movimento de revolta. As elites políticas, religiosas e económicas foram por isso, com toda a probabilidade as principais vítimas. Com a queda do império neobabilónico em 539 a.c. e a subida ao poder do rei Ciro da Pérsia foi permitido aos judeus exilados na Babilónia regressar a Jerusalém. Durante o longo período persa foi permitida a a reconstrução do templo Yahvista, a reedificação das muralhas de Jerusalém e a proclamação da Torá ( Pentateuco ) , sobretudo as suas partes legislativas, como Lei local.. Um dos heróis da restauração de Judá foi Neemias que terá chegado a Jerusalém com o beneplácito do rei persa para exercer as funções de governador de Judá/ Yehud. Esdras parte também para Jerusalém com o encargo de verificar se os habitantes da província de Yehud estavam efectivamente a cumprir a Lei de Deus ( Torá ). Judá só recuperaria a independência nos séculos II a I a.c. mas os séculos VI a V a.c. foram absolutamentre decisivos para o nascimento da Bíblia como livro Sagrado
-O início do Judaísmo. O fim da História do Israel Antigo (no sentido estrito do termo) e o início do Judaísmo Antigo. O termo «Israel » que tinha uma acepção fundamentalmente poltico-social ( reino de Israel ), adquiriu no seio do reino de Judá e da tradição Bíblica, o significado teológico que ainda hoje conserva como designação da totalidade do povo eleito por Yahvé . Com a transformação da pertença étnico-geográfica numa pertença étnico-religiosa, o « Israel bíblico » enquanto família de tribos e o Yahvismo enquanto culto herdado dão lugar a uma nova entidade – o Judaismo- que combina aspectos de estirpe e de nação com características de estilo e religião
A pergunta que se coloca no fim do livro é: A Bíblia tinha mesmo razão ? Há muitos textos na Bíblia que têm características lendárias como o Livro o Génesis. Não há dúvidas que as invasões de Assírios e Babilónios aconteceram mesmo. O culto exclusivo a Yahvé e a proclamação da unicidade divina resultaram de um longo processo histórico que só culminou depois do exílio. Quanto ao Êxodo não se sabe ao certo se este acontecimento pertenceu ao primeiro milénio ou se é mais remoto e tem de ser localizado no segundo milénio. Nele provavelmente podemos ler histórias como as dez pragas do Egipto e a separação das águas do mar morto.
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